segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Eça e Outras

Terça-feira, 25 de Dezembro de 2012

Vínculos Quebrantáveis

Passada a euforia esperançada do golpe militar de 25 de Abril de 1974, talvez consciente dos seus previsíveis falhanços, a sociedade portuguesa com alguma cultura foi à História buscar alguns porquês e procurar um fio condutor para o devir do qual, felizmente, não desiste.
Creio ser este fenómeno, obviamente merecedor de maior explanação, que, desde os anos oitenta do século passado, justifica o afã editorial de várias e múltiplas histórias de Portugal produzidas, na maior parte dos seus capítulos, por historiadores profissionais. Mas nestes trinta anos assistiu-se também à chegada de jovens historiadores à História Local e Regional até aí, e salvo raras excepções, quase domínio exclusivo dos memorialistas locais e de profissionais de outras artes, os quais, desprezando o saber das profissões que lhes deram status e largueza de bolsa, descobrem-se na senectude vocacionados para as estórias, tirando as mais das vezes o ganha-pão àqueles novos operários da memória, pois a classe dominante que os acalenta, protege e paga não distingue a História das fantasias literárias e, assim como assim, prefere estas por mais inofensivas, pois que a memória escrita, se quando colectiva é glória, quando se aproxima do diário pessoal é para eles preocupação séria que só as mitologias dos grupos e instituições mitigam, abafam ou escondem.
No caso do presente livro do Doutor Nuno Resende resultante da sua tese de mestrado, agora editado pela Palimage com a colaboração da Confraria Queirosiana, estamos perante uma obra cujo rigor científico não desmerece da bondade evocativa que a História deverá ter, aquele sorriso generosamente humano que o historiador oferece àqueles que nos precederam na estrada larga da vida. Aqui documentalmente se conta como um clérigo do século XVI, morador no Porto, se preocupou com o futuro de seu filho deixando-lhe um morgadio em Cinfães, o qual deveria ter serenamente passado de geração em geração, através de filhos legítimos, segundo a lei e a moral social vigente. Mas o homem põe e a vida dispõe e, mais uma vez, temos aqui um exemplo de que as estratégias matrimoniais, que os românticos europeus tanto ridicularizaram noutras civilizações, nem sempre funcionaram, e que a família nem sempre foi o bom espelho da ordem social, sendo antes, bem pelo contrário, um palco de conflitos, uma feira de ganâncias, uma mina permanente para a raposisse de causídicos.
Tendo esta obra resultado da generosidade esclarecida que permitiu a salvaguarda de um arquivo de família tratado por um jovem historiador já com obra sólida, este livro mostra como a história, por mais particular e localizada que seja, pode ser um capital para os viventes, escola de tolerância e compreensão para com as humanas misérias dos que já partiram, para que a sociedade, se não já a de agora pelo menos a de amanhã, venha a tornar-se a utopia dos paraísos que a humanidade tem ardentemente desejado.
A obra Vínculos Quebrantáveis tem, além do mais, um felicíssimo título: a sua irreconciliável contradição é afinal a história de Jorge Vaz Campelo e a dos seus descendentes e herdeiros nestes últimos quatro séculos e meio: por ela perpassam todos os defeitos e virtudes que se exibiram numa terra e numa paisagem concretas, mas ao mesmo tempo tão cheios de universalidades que oscilam entre os dogmas das instituições e as quotidianas velhacarias dos que pensam viver à custa da fazenda alheia, neste caso dos parentes, dos chegados, dos do mesmo sangue e do mesmo afecto matricial. Leiam-no e vejam do que é que a sociedade portuguesa tem sido feita e onde o povo tem ido buscar os exemplos desde quinhentos até aos dias de hoje, com tanto vínculo desatado e com quebrantos que nos têm tolhido. Lendo os de outros tempos e pessoas talvez possamos esconjurar os nossos, os de agora. Útil tarefa a do historiador.

J. A. Gonçalves Guimarães

Congresso, colóquios e jornadas

Para além da já divulgada Jornada Queirosiana de Sintra (16 de Fevereiro) e do Fórum Internacional de Sinologia em Leiria (21 a 23 de Fevereiro), vai decorrer na Golegã e Chamusca entre 15 e 19 de Maio o “I Congresso Internacional O Cavalo e o Touro na Pré-História e na História” e, entre 27 e 29 de Junho no Parque Biológico de Gaia, “Suevos e Visigodos no Noroeste Peninsular – Colóquio Arqueológico do Castelo de Crestuma”, este último em colaboração com o Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR-CQ. Em todos eles estarão presentes sócios e confrades queirosianos.




Cursos e palestras

Prossegue no Solar Condes de Resende o curso livre “Esplendor da Arqueologia: Ciência Cultura e Turismo”, com aulas de Joel Cleto (5 de Janeiro), Armando Coelho Ferreira da Silva (19 de Janeiro) e Manuel Real (2 de Fevereiro) e seguintes.
Continua igualmente o curso de Pintura pela Professora Paula Alves e a iniciação ao bridge pelo Juiz Desembargador Calheiros Lobo.
Às 5.as feiras, tertúlias queirosianas às 21 horas com diversos temas e palestrantes.

Livros e revistas

No próximo dia 28 de Dezembro, pelas 17 horas, será lançado na Casa da Cultura de Cinfães o livro “Vínculos quebrantáveis. O Morgadio de Boassas e suas relações, séculos XVI-XVIII”, da autoria de Nuno Resende, Doutor em História da Arte e nosso confrade, editado pela Palimage, o qual estará à venda na loja on-line da Confraria a partir de Janeiro próximo.

No passado dia 14 de Dezembro no edifício dos Congregados em Braga foi lançada a obra colectiva “Escolas de Formação de Professores em Portugal” que teve como colaborador o nosso sócio Prof. Doutor José António Martin Moreno Afonso, professor na Universidade do Minho, publicado por Edições Colibri, com o apoio da Universidade de Lisboa e da Fundação Ciência e Tecnologia.




Em Outubro passado foi publicado o n.º 5 da 2.ª série da revista “Telheiras - cadernos culturais” publicada pelo Centro Cultural Eça de Queiroz/Escola Secundária Eça de Queirós/Centro Cultural de Telheiras e dirigida pelo nosso confrade Fernando Andrade Lemos, desta vez com o busto de Eça de Queirós da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro na capa. Colaboraram neste número, entre muitos outros articulistas, o nosso confrade director, com vários artigos, um deles intitulado «Eça de Queiroz e o Fado», e António Eça de Queirós com «Eça visto por outros».



O Jornal As Artes entre as Letras, publicado no Porto sob a direcção da nossa confreira Nassalete Miranda, dedicou o seu número 86 de 14 de Novembro à edição de “Mazagran” de J. Rentes de Carvalho, com o busto do escritor de Helder de Carvalho na capa e dentro o texto de apresentação do livro de J. A. Gonçalves Guimarães, e o número 88 de 12 de Dezembro, que apresenta no interior a entrevista que o redator deste blogue lhe fez na ocasião e em que o celebrado escritor reafirma, mais uma vez, a importância de Eça de Queirós desde a sua formação até aos dias de hoje. Uma produtora de documentários irá rodar um filme sobre a sua vida e obra em Gaia, Viana, Paris, Amsterdam e Trás-os-Montes, devendo sair outra obra sua em Portugal no próximo mês de Maio.

Entretanto a Caminho reeditou agora a obra “Eça de Queiroz entre os seus apresentado por sua filha. Cartas Íntimas” publicado pela primeira vez em 1949 e com reedição em 1987. O seu interesse, depois da edição de “Eça de Queiroz Correspondência”, organizada por A. Campos Matos, deve-se apenas ao fato de aquelas duas edições serem já difíceis de encontrar no mercado.

Novo blogue queirosiano

O Professor Doutor Carlos Reis, nosso confrade e director do Departamento de Línguas, Literatura e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, criou um novo blogue queirosiano, com o seguinte endereço electrónico: www.queirosiana.wordpress.com, ao qual os interessados poderão ser adicionados como seguidores e assim ficarem a par das mais recentes novidades sobre os textos de Eça.

Convívios de Natal

O Solar Condes de Resende e o seu bar gerido pela Confraria foram escolhidos para a realização de convívios de Natal, como foi o caso dos antigos Jovens do Torne, famoso grupo gaiense dos anos sessenta que hoje percorre a vida e o mundo; pessoal da Cerâmica do Douro e também os Corpos Gerentes e pessoal do Solar, entre outros.
E já que estamos no Natal, lembremo-nos que Eça escreveu o seguinte: «a presença angustiosa das misérias humanas, tanto velho sem lar, tanta criancinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de monarquias e repúblicas para realizar a única obra urgente do mundo – a “casa para todos, o pão para todos”, lentamente me tem tornado um vago anarquista entristecido, idealizador, humilde, inofensivo…» (A Rainha, in Revista Moderna, 1898).
A todos os seus sócios, confrades, leitores e homens e mulheres de boa vontade a direcção dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e do blogue Eça & Outras deseja um ano de 2013 mais fraterno, esperançoso e realizador.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 52 – Terça-feira, 25 de Dezembro de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Eça & Outras

Domingo, 25 de novembro de 2012

É a Cultura que temos

Volta e meia tropeçamos em conceitos que nos parecem óbvios, mas não são. A banalização da sua designação é que nos faz crer em tal, mas não é verdade. É o que se passa com aquilo que comummente designamos por Cultura. Toda a gente fala dela, mas poucos saberão do que realmente se trata. Talvez não fosse mal regressarmos aos dicionários, essa espécie de congeladores de pensamento sob a forma de palavras que representam o ponto de chegada de séculos de reflexão e sabedoria. O Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo, de 1949 (14ª edição) diz, entre outras coisas, que Cultura é o «estado de quem tem desenvolvimento intelectual… estudo… elegância, esmero» (vol. I, p. 776, b), o que nos parece uma definição mais linguística do que antropológica. O da Porto Editora, 5.ª edição, anos 60 do século passado, para além do cultivo da lavoura, etimológico, refere aquela mesma definição geral do anterior dicionário mas acrescenta domínios particulares literários, artísticos, das ciências exatas, filosofia, etc. Considera aspetos da herança social dos indivíduos e das coletividades e, por fim lá volta à sabedoria, ao apuro, à elegância (pag. 401, b). Por sua vez a Lexicoteca, Moderna Enciclopédia Universal, Lisboa Círculo de Leitores, 1985, no seu 6º volume pag.ª 165/166, apresenta-nos conceitos de filosofia da Cultura, história da Cultura, elementos, estratos, e ainda de Cultura física, popular e superior, além de expressões similares de outras áreas que não a que agora nos interessa. Poderíamos dar a referência de outras obras mais atuais e profundas, mas que apenas complicariam o que nos propomos aqui analisar de forma simples e direta. Cultura, no sentido erudito, é o conjunto de atividades que estão para além da sobrevivência do individuo e da sociedade e que contribuem para a preservação da memória, da sua interpretação, da sua divulgação agora e da sua transmissão no futuro. A Cultura é pois um bem imaterial, supérfluo, mas o único, perante os valores humanos, capaz de acrescentar mais valia às sociedades. Entendamo-nos: os egípcios não ficaram na história por produzirem muito trigo; os chineses por comerem muito arroz; os americanos por matarem índios; os portugueses por estarem sempre a fugir da sua terra; a Suécia por ter loiras esbeltas; os suíços por guardarem muito dinheiro nos bancos, etc. etc.. Ficam na memória sua e dos outros povos por realizarem atos de cultura materializados em obras filosóficas, peças de Arte, edifícios, e até hábitos de culinária, elegância e de higiene.
Em todas as civilizações a Cultura esteve sempre dependente de produtores (criadores), comentadores (investigadores), e de divulgadores (professores), às vezes aglutinando estas três funções numa só pessoa, tendo como público, mais ou menos interessado, os consumidores, aqueles que depois dos bens essenciais se podem dar ao luxo de despender tempo e dinheiro com a Cultura. Repare-se que, mesmo nas culturas primitivas, só há actividade cultural quando existe alguma acumulação de bens que possibilitem a existência de criadores, de divulgadores e de consumidores, e da materialização dessa atividade cultural em gravura, pintura, escrita, ritualidade, através da possibilidade de ócio de uns e outros para a sua produção e o seu usufruto. Nas sociedades contemporâneas os criadores, os investigadores e os divulgadores profissionalizaram-se mas, ao mesmo tempo, viram-se prejudicados nas suas atividades pela banalização da informações, ainda que ela normalmente corra sem critérios de exigência, de veracidade ou de qualidade.
Temos visto acontecer que, enquanto nas áreas das ciências exatas, económicas, da natureza e da técnica o exercício profissional é fortemente condicionado pela obtenção de títulos académicos fortemente vigiados, não apenas pelas universidades mas também pelas associações profissionais (ordens), nas ciências humanas tal não acontece e o setor está invadido por amadores vindos de outras áreas que não só puxam para baixo a qualidade do produto final apresentado, como descredibilizam o exercício profissional daqueles que fizeram destas áreas o seu ganha-pão. Se refletirmos que a maior parte das universidades, embora prepare investigadores nestas áreas, não lhes indica para a sua sobrevivência qualquer “saída profissional” a não ser como divulgadores (professores), se atentarmos que o próprio sistema de ensino descredibilizou o ensino das Ciências Humanas, se pensarmos que não há qualquer prémio internacional que se veja, nem Nobel nem nada que se pareça para premiar os grandes obreiros da Memória a nível internacional, então perceberemos porque é que os profissionais desta área estão a pensar em mudar de vida. E aqueles que tiverem mais artes divinatórias sempre poderão ir para economistas e fazerem gala pública de adivinharem o futuro… à posteriori.

J. A. Gonçalves Guimarães

Capítulo queirosiano


Aspeto geral do capítulo


Ontem, 24 de Novembro, véspera de aniversário de Eça de Queirós, realizou-se no Solar Condes de Resende o 10.º Capítulo anual da Confraria Queirosiana, comemorativo do decénio da associação.
A sessão foi presidida por César de Oliveira presidente da mesa de assembleia geral, ladeado pela Dr.ª Amélia Traça, vereadora da Câmara de Gaia em representação do presidente Dr. Luís Filipe Meneses, pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim, presidente da direcção, pelo Eng.º Leite da Silva, em representação da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas e por Gonçalves Guimarães, mesário-mor da Confraria.
Com o salão nobre repleto, a sessão foi abrilhantada com um trio de flautas e clavinova da Escola de Música de Perosinho.
Através do lançamento do n.º 9 da nova série da Revista de Portugal foi prestada homenagem aos confrades já falecidos, Joaquim Ferreira Gomes, François Guichard, Maria Madalena de Assunção Gonçalves da Silva, Nelson Cardoso, D. Maria das Dores de Castro d’Eça de Queiroz (Marquesa de Ficalho), Manuel Lopes, Fernando Peixoto, António Ferreira Gomes, D. Emília Cabral, Raul Ferreira da Silva e Manuel Soares Gonçalves, estando presentes alguns dos seus familiares e descendentes. Luís Manuel de Araújo, seu director, entregou também a revista aos autores presentes. Seguidamente foram apresentados os novos confrades de honra e de número, tendo na ocasião sido proclamados confrades honorários o Comendador Fernando Fernandes, representado por suas filhas Susana e Elsa Fernandes, e o Dr. António Gomes da Costa, presidente da direcção do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro.
Foram depois insigniados os confrades de número, Eng.º Amílcar Barata-Salgueiro; Dr. António Pinto Bernardo; Dr. Lícinio Manuel Moreira Santos; Dr. Manuel Guimarães da Fonseca Nogueira e Eng.º Manuel Pereira Névoa.
Seguidamente foi assinado um protocolo entre os ASCR-Confraria Queirosiana e a Associação da Casa dos professores e Educadores de Gaia, representados no ato pelos professores José Manuel Ribeiro e Pedro Almiro Neves. Após o discurso de encerramento proferido pelo presidente da direção, os presentes foram colocar uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós existente no Jardim das Camélias.
O habitual jantar realizado no pavilhão do Solar, servido pela empresa Gertal e que muito agradou aos presentes pela qualidade da confecção verdadeiramente queirosiana, foi abrilhantado pelo barítono António Rua, que cantou o Hino da Confraria, a melodia popular Rosa Tirana celebrizado pelos “Vencidos da Vida”, com a letra adaptada para a ocasião, e algumas “canções confrádicas” dedicadas às Confrarias do Vinho do Porto, das Tripas, da Doçaria Conventual de Tentúgal, aos queirosianos brasileiros e à Casa Ramos Pinto, acompanhado pela pianista Maria João Ventura.
De seguida atuaram os bailarinos Alexandra Baldaque e Fernando Jorge, campeões da Europa e 16.os do Mundo em Tango Argentino (2012) que se exibiram em tango, milonga e fado dançado.
A noite terminou com o Baile das Camélias que se prolongou até ao novo dia.
Eça de Queirós foi assim condignamente recordado pela sua Confraria.

Rentes de Carvalho no Brasil

J. Rentes de Carvalho com Dagoberto Carvalho
J.or, Cristina Carvalho e Zuleide Duarte.















Entre 15 e 18 de Novembro J. Rentes de Carvalho esteve n Brasil na FLIPORTO, a 8ª Festa Literária Internacional de Pernambuco, que decorreu em Olinda, com a presença de outros escritores portugueses, como Mia Couto e José Eduardo Agualusa, brasileiros como Adriano Suassuna e ainda outros de expressão castelhana e inglesa.
No sábado dia 17 foi recebido por Dagoberto Carvalho J.or presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife e pelos directores Cristina Carvalho e Zuleide Duarte, que lhe entregaram o diploma de sócio honorário daquela prestimosa instituição pernambucana.

Em 2011 a FLIPORTO recebeu mais de 80 mil visitantes, estimando-se que este número tenha sido largamente ultrapassado no corrente certame já incontornável no panorama cultural do Atlântico Sul e que a cada edição mais se internacionaliza.
Do Brasil recebemos o seguinte texto, que aqui publicamos com autorização do autor:

J. Rentes de Carvalho na FLIPORTO

Já os bons ventos do FESTLATINO haviam trazido ao Recife a professora doutora Isabel Pires de Lima, da Universidade do Porto – confreira, no quadro de honorários da Confraria Queirosiana de Vila Nova de Gaia, ex-deputada à Assembléia da República Portuguesa e ex-ministra da Cultura do país irmão –, quando a FLIPORTO convida para sua versão olindense de 2012, outro grande referencial da literatura lusa contemporânea: José Rentes de Carvalho. A consagrada autora de “As Máscaras do Desengano” (para uma abordagem sociológica de “Os Maias” de Eça de Queirós), falou aos ecianos do Recife, no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, evento organizado pela Associação de Estudos Portugueses Jordão Emerenciano, Sociedade Eça de Queiroz e UFPE / Belvidera – Núcleo de Estudos Oitocentistas. Tema: “A paleta de Eça de Queiroz e as artes visuais contemporâneas”.
Vem-nos agora, a oportunidade de conhecer pessoalmente, Rentes de Carvalho, outro integrante do mesmo quadro de honorários, da confraria gaiense que, não por acaso, lhe dedicou – através da admiração e senso de justiça do mesário-mor J. A. Gonçalves Guimarães – o 4º número da Revista de Portugal (2007), em sua terceira fase, contada a história da publicação vitoriosa, a partir da pioneira e parisiense criação de Eça de Queiroz. Eça que ajudou como ninguém, a divulgar na Holanda –, onde Rentes residiu e fez vida acadêmica, como professor de Literatura Portuguesa, da Universidade de Amsterdã – publicando-lhe cinco grandes romances.
Não lhe podendo comentar os livros que apenas conheço por referências de Gonçalves Guimarães – entre os quais “Holandeses” (“Onde vive o outro Deus”, na tradução nederlandesa); “A ira de Deus sobre a Holanda”; “Portugal: um guia para amigos” e “Ernestina” – julgo suficiente, para a admiração que se declara a extraordinária qualidade literária do cronista, depreendida das páginas memorialísticas de “O desaparecer de Lisboa”; bela crônica estampada na mencionada Revista. A outras boas conclusões, quanto ao mérito intelectual do escritor homenageado, chega-se através de muito inteligente – também, pela ótica das oportunas e perspicazes perguntas –, entrevista por ele, recentemente, concedida ao bom condutor da referida Confraria. Vale ouvi-lo em mesa-redonda da FLIPORTO. Os ecianos, o receberemos como Honorário de nossa Sociedade.
De confessada influência eciana, o português de Santa Marinha – encantado reino cultural porto-gaiense – J. Rentes de Carvalho, soma em seu roteiro de vida e conquistas, um tempo brasileiro que o reencontro literário pernambucano resgata e consagra.

Dagoberto Carvalho Jr.
Escritor
Diario de Pernambuco, 17 de novembro de 2012

Congressos e colóquios

No próximo dia 16 de Fevereiro decorrerá em Sintra a Jornada Queirosiana intitulada “O ensino de Eça e o gosto pela leitura”, organizada pela respectiva Câmara Municipal, em que serão oradores J. A. Gonçalves Guimarães, Maria João Simões, A. Campos Matos, Edviges Ferreira e Isabel Alçada. Esta realização tem o apoio de: Centro Cultural Eça de Queirós (Olivais); Centro de Estudos Literários e Literacia; Círculo Eça de Queiroz; Confraria Queirosiana; Fundação Eça de Queiroz; Grémio Literário e Doutor José Rodrigues dos Santos, escritor, jornalista e professor.
Inscrições em: roteiros@cm-sintra.pt.
Nos dias 21 a 23 de Fevereiro decorrerá em Leiria, no Instituto Politécnico, o VIII Forum Internacional de Sinologia no qual serão conferencistas, entre outros, J. A. Gonçalves Guimarães em representação da Academia Eça de Queirós, que irá falar sobre “Macau na Exposição Colonial Portuguesa de 1934: uma viagem à China ao pé da porta”.
Inscrições: ipsinologia@gmail.com

Livros
Vários são os confrades queirosianos que nos últimos tempos têm lançado no mercado livros sobre os mais diversos temas. Assim, Dagoberto Carvalho J.or apresenta-nos “Tempo da Farmácia” lançado a 8 de Novembro no centro de Convenções de Pernambuco; a 11 de Novembro Joaquim Santos lançou em Leiria, na Casa Museu João Soares em Cortes, “Imagens com foco - A cidade e a aldeia”; também nesse mesmo dia no Solar de Louredo em Geraz do Lima, a APHVIN/GEHVID lançou as “Actas do Congresso Internacional Vinhas e Vinhos”, o qual apresenta, entre muitos outros artigos, os dos confrades Francisco Ribeiro da Silva, sobre “Vinha e paisagem nos concelhos de Amarante e Valpaços nos meados do séc. XVIII” e J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães sobre “Vinhos do Douro na Casa dos Condes de Resende”.
No dia 24 de Novembro foi a vez de Beatriz Pacheco Pereira lançar no Palacete dos Viscondes de Balsemão no Porto, o seu último livro intitulado “ O homem que trazia instruções e outras estórias”.

Exposições

Enquanto continua exposto no Solar Condes de Resende o Salon d’Automne queirosiano 2012 até 2 de Dezembro, com pinturas, desenhos, fotografias e cerâmicas dos sócios artistas e outros convidados, no passado dia 10 de Novembro Beatriz Pacheco Pereira apresentou no Espaço REM, no Porto, a sua exposição de esculturas em bronze intitulada “ O olhar e o gesto”.

Conferências e palestras

No passado dia 8 de Novembro Maria Isabel Queiroz Silva de Lacerda proferiu no Arquivo Municipal de Gaia uma conferência intitulada “O traje de outros tempos na freguesia de Mafamude”.
No dia 14 de Novembro e para a associação cultural Amigos de Gaia, J. A. Gonçalves Guimarães falou no Quartel da Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia sobre “A batalha de 14 de Outubro de 1832, acontecimento maior do Ceco do Porto”, a propósito dos 130 anos daquela vitória dos liberais.
A equipa das escavações arqueológicas de Crestuma, representada pelo arqueólogo António Manuel Silva e outros colaboradores, esteve recentemente na Universidade de Zamora, Espanha, a 22 de Novembro, e na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa a 24 num colóquio organizado pela Associação dos Arqueólogos Portugueses a apresentar os mais recentes estudos sobre este sítio arqueológico em estudo pelos arqueólogos do Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana.
Prosseguem entretanto as palestras de quinta-feira à noite no Solar Condes de Resende em Vila Nova de Gaia, em que têm sido oradores J. A. Gonçalves Guimarães, António Manuel Silva e, a 6 de Dezembro, José Manuel Tedim, bem assim como o curso livre “Esplendor da Arqueologia: Ciência, Cultura e Turismo” cuja próxima sessão será a 15 de Dezembro, proferida por Fernando Coimbra sobre “Arte Rupestre Europeia e Arqueologia”.
No dia 27 de Novembro J. A. Gonçalves Guimarães participará numa tertúlia sobre “Cultura e Património”, com Germano Silva, Helder Pacheco e Ilda Figueiredo no atelier de Agostinho Santos, às 21.30 horas.

Federação

A Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal foi eleita no passado dia 26 de Outubro para a direcção da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, culminando assim um trabalho de anos na divulgação de produtos de excelência da doçaria portuguesa.

Cônsul do México

No próximo dia 10 de Dezembro no Solar Condes de Resende em Vila Nova de Gaia, será oficialmente empossado como cônsul honorário do México pelo embaixador Dr. Benito Andrion o nosso confrade Silva Fernandes. Para o ato está convidado todo o corpo consular da Área Metropolitana do Porto.

Revista de Portugal
No passado dia 24 foi lançado o n.º 9 da nova série da Revista de Portugal apresentado no capítulo da Confraria Queirosiana pelo seu diretor Luís Manuel de Araújo. Este número apresenta uma homenagem e a curta biografia dos confrades que já partiram e ainda artigos de Susana Guimarães, J. A. Gonçalves Guimarães, Anabela Mimoso, Jaime Milheiro, Luís Manuel de Araújo e Adélio Martins. Como habitualmente apresenta ainda a bibliografia dos confrades publicada em 2011 e o relatório de atividades da associação entre 2001 e 2005, que não estava publicado, e o daquele último ano.
A impressão deste número da revista foi patrocinada pela Junta de Freguesia de Canelas, onde se localiza o Solar Condes de Resende. Para além dos associados, esta publicação é distribuída em regime de permuta com cento e vinte instituições em Portugal, restante Europa e Brasil.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 51 – Domingo, 25 de Novembro de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email:queirosiana@gmail.com; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página; www.queirosiana.pt
J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral. Colaboração: Dagoberto Carvalho Júnior.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Eça & Outras


Mazagran

Temos entre mãos um novo livro de J. Rentes de Carvalho que a Quetzal acaba de publicar no meritório propósito de continuar a dar ao público português este seu escritor e a sua obra tão conhecidos na Holanda, mas entre nós, até à pouco, só coletados por atentos leitores que não apreciam capelinhas dos fumos bentos da fama e se vão à procura das melhores colheitas de pensamento e arte em prosa, de literatura que nos espelhe o tempo em que vivemos com uma boa dose de eternidade que se adivinhe. Tal é o caso de mais este livro, editado pela primeira vez em 1992 com o mesmo título pela editora De Arbeiderspers de Amsterdam e só agora em português, embora algumas das peças que o compõem já tivessem sido apresentadas no famoso blogue do autor intitulado Tempo Contado, cuja falta tornou os dias presentes mais tristes e inconsoláveis muitos dos seus leitores. Quanto ao título, normal entre nós para os frequentadores dos cafés nos anos sessenta do século passado, eu próprio fiquei contente por ter encontrado recentemente uma jovem morena que sabia o que era um mazagran e como se preparava. Temendo que tal não seja frequente o autor encarrega-se de nos dizer o que é e deixa adivinhar os prazeres de o saborear, o mesmo se podendo aplicar a estas suas cartas agora reunidas neste volume, escritas para pessoas concretas e para ninguém em especial, cartas para si próprio e para o leitor de quem não sabe a morada e a quem, mesmo assim, escreve.
Nesta era dos emails estes textos epistolares são pois duplamente preciosos, quase sempre short stories de duas páginas e meia onde haverá sempre uma carta, ou várias, ou muitas para cada um de nós, estejamos certos. Nestas páginas nos encontraremos com certeza com este autor que nos confronta permanentemente com espelhos onde nos refletimos sem muita possibilidade de retocar a imagem, mas onde também nos podemos deliciar com as molduras. E é isso esta sua prosa; e é isto a sua arte literária.
Do género epistolográfico em literatura sabemos todos nós: é possível que alguém ainda leia as “Cartas Familiares” ou a “Carta de guia de casados” de D. Francisco Manuel de Melo, pois não mudamos assim tanto em mais de trezentos anos. Duvido é que alguém leia hoje as “Cartas a uma noiva” de Maria Amália Vaz de Carvalho, enquanto que as “Lèttres de mon moulin” de Alfonse Daudet lá vão aparecendo nas “literaturas universais” à venda nas tabacarias. Entretanto publicam-se as cartas dos escritores e dos personagens célebres da História para descobrir o seu quotidiano e o seu “verdadeiro pensamento”, às vezes um desespero de banalidades domésticas ou uma pieguice insuportável, como as Cartas de Amor de Fernando Pessoa a uma meninota lisboeta.
Eça de Queirós, de quem J. Rentes de Carvalho se reclama devoto discípulo, já tinha avisado; «Eis aí uma maneira de perpetuar as ideias de um homem que eu afoitamente aprovo – publicar-lhe a correspondência! … Além disso uma Correspondência revela melhor que uma obra a individualidade, o homem; e isto é inestimável para aqueles que na Terra valeram mais pelo caráter do que pelo talento. Acresce ainda que, se uma obra nem sempre aumenta o pecúlio do saber humano, uma Correspondência, reproduzindo necessariamente os costumes, os modos de sentir, os gostos, o pensar contemporâneo e o ambiente, enriquece sempre o tesouro da documentação histórica. Temos depois que as cartas de um homem, sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contém mais ensino que a sua filosofia – que é apenas a criação impessoal do seu espírito. Uma filosofia oferece meramente uma conjetura mais, que se vai juntar ao imenso montão das conjeturas: uma vida que se confessa constitui o estudo duma realidade humana, que, posta ao lado de outros estudos, alarga o nosso conhecimento do Homem, único objecto acessível ao esforço intelectual. E finalmente como cartas são palestras escritas (assim afirma não sei que clássico), elas dispensam o revestimento sacramental de tal prosa como não há…» (A Correspondência de Fradique Mendes).
Deixemos também dito que esta coletânea de cartas que J. Rentes de Carvalho escreveu a muitas e diversas pessoas, a si próprio, a todos, a ninguém em especial e até a Deus, não são exatamente as mesmas da edição holandesa, que apresenta um número muito inferior de textos. Umas são as mesmas, outras não. E qual o seu encanto, qual o seu interesse, qual a sua validade? Aqui, meus amigos, permitam que fale eu próprio, eu que não sou pessoa de literaturas. É certo que li os clássicos, li os contemporâneos até aos anos setenta e a partir daí passei-me para a História convicto que às fantasias reunidas pelos escritores preferia de longe a busca da “clara certidom da verdade”, seja lá isso o que for, mas em todo o caso muito mais interessante do que as banalidades domésticas de algumas escritoras por aí muito famosas, ou a deprimente prosa indutora de aumento do consumo de anti depressivos praticada por ex-médicos de malucos quando lhes deu para a escrita. Não, não há pachorra para tal: a sonolência ou o tédio atacam-me logo à segunda página. Ou o sentimento de estar a perder tempo sem gosto algum. Defeito meu. Irreparável. Definitivo. Incapaz de convalescença ou cura. Pronto a subir ao cadafalso do insulto dos intelectuais que abundam por aí. Não gosto e pronto. Tenho o meu direito.
Com a prosa de J. Rentes de Carvalho é diferente. Há muitos anos que o li sem o conhecer e com uma imediata identificação em tudo que dele me aparecia. Lembro-me, quando li Montedor e O Rebate no princípio dos anos setenta do século passado, ter pensado que a fotografia do escritor na badana devia ser treta do editor, talvez até disfarce para iludir a censura da época. Aquilo era prosa fresca demais para ser escrita por um caixa d’óculos de fato e gravata. Eu nessa altura era cabeludo e quase hippie. E aquela prosa era diferentíssima e não lhe fiquei indiferente.
Anos mais tarde, nas aulas na Universidade, oferecia à leitura dos meus alunos dois textos seus: “A procissão”, para perceberem numa “fotografia de família” como era a sociedade portuguesa atual, e “A praga” (incluído no presente livro) para perceberem como seria a maioria dos clientes de Cultura e Património que iriam ter de aturar como profissionais da área. Depois li Ernestina e confirmei então que a sua literatura podia ser a historia possível da gente comum «desses homens e mulheres que apenas nasceram, viveram, procriaram e morreram, mais ou menos felizes, sem que deles tenha ficado especial memória» (J. A. Gonçalves Guimarães, «Da arte de viver pobre ao oficio de morrer rica: história de uma mulher de Avintes no século XIX», in Fórum V, 2006, p. 76), gente normal de quem quase todos descendemos e que, se o historiador lhes pode interpretar o percurso biográfico possível, ao escritor interessarão muito mais, e com mais arte, a caterva de alegrias e tristezas que distribuíram ou sofreram e que a Ciência Histórica terá sérias dificuldades em contabilizar. E entender.
Para esta análise de Mazagran comecei por cair na tentação de selecionar cartas, temas, cronologias biográficas de J. Rentes de Carvalho. Chatices; banalidades. Isto é livro parecido com uma garrafeira de bons vinhos: não é possível bebê-los todos de uma só vez (ler todas estas cartas e depois arrumá-las), mas o mais certo é que se abram várias garrafas das quais se bebam um copo, voltando tempos depois a saborear outro copo (perdão, outra leitura, e outra, e outra) da mesma garrafa (perdão, da mesma carta ou do livro todo), desta garrafeira de humanas situações e descrições locais, do recanto do pátio, mas ao mesmo tempo universais do seu bairro gaiense do Monte dos Judeus e da beira-rio; das suas cidades do Porto e de Amsterdam, da sua Lisboa e do seu Brasil, das suas andanças na procura impossível de aquietar a curiosidade de um puto que nasceu num porto ainda com navios e se descobriu a ver a humanidade por uns binóculos e que, passados estes anos e o seu inegável sucesso literário, despede-se de nós, por agora, escrevendo: «O meu medo é notar que com os anos me vou tornando razoável em excesso, quase doentiamente tolerante. É disso que quero que me guardeis, Senhor». A que acrescenta esta oração: «Dai-me raivas. Mantende em mim a capacidade de me enfurecer. Deixai que continue a chamar às coisas pelo seu nome, a criticar sem medo, a rir de mim próprio, e livrai-me até ao último momento das aceitações que crescem com a idade».
Oxalá esta carta nos acompanhe per omnia saeculae saeculorlum. Ámen. Estão convidados para daqui irmos todos tomar um Mazagran enquanto saboreamos este prazer literário na esplanada da vida. Enquanto já desejamos a próxima obra de J. Rentes de Carvalho.

J. A. Gonçalves Guimarães

História dos Vinhos

Entre os dias 12 e 19 de Outubro decorreu no Porto, Marco de Canaveses, Barcelos e Ponte de Lima o 2.º Congresso Internacional do Vinho Verde – Economia, Sociedade e Património, organizado pela Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/GEVID) no qual participaram alguns confrades queirosianos com comunicações sobre o tema, nomeadamente J. A. Gonçalves Guimarães e Graça Nicolau de Almeida sobre “A comercialização de Vinho Verde por empresas de Vinho do Porto: o caso da Casa Ramos Pinto” e Francisco Ribeiro da Silva sobre “Vinha, paisagem e economia do concelho de Ponte de Lima nos meados do século XVIII”.
Entretanto no próximo dia 10 de Novembro serão lançadas em Viana do Castelo as Atas do Congresso Vinhas e Vinhos – I Congresso Internacional, realizado em Outubro de 2010, também pela mesma associação, onde igualmente estiveram presentes alguns investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana.

Eça no Brasil

Ontem, dia 24 de Outubro, a Prof. Doutora Isabel Pires de Lima em visita ao Recife como delegada da Fundação Eça de Queirós, Baião, proferiu no auditório do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco uma conferência intitulada “ A paleta de Eça de Queiroz e as artes visuais contemporâneas”. Esta apresentação teve o apoio e a presença da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, de que é presidente o nosso confrade Dr. Dagoberto Carvalho J.or, distinto médico, historiador de Arte e militante queirosianista.

Dois livros queirosianos

A. Campos Matos acaba de dar à estampa mais duas obras suas, como sempre de temática queirosiana, como é o caso de “Silêncios, Sombras e Ocultações”, publicado por Edições Colibri, e de “Um caso insensato da cultura nacional. Querela inútil mas inevitável”, pela mesma editora.
No primeiro caso trata-se de um tema que inicialmente foi publicado com o mesmo título no Boletim Cultural Póvoa de Varzim, vol. 42 em 2008 e depois, muito bem acompanhado de mais dezoito temas queirosianos e onze sobre diversos outros escritores, publicado no Brasil pela editora Movimento com o patrocínio do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro em 2011.
A presente 2.ª edição tem mais oito artigos do que a edição brasileira, vindo assim enriquecer a sua já vasta e imprescindível bibliografia queirosana e, além do mais, agora com estampas a cores que muito a valorizam.
O segundo trabalho deste incansável autor é uma brochura de meia centena de páginas nas quais reúne a sua querela recente com a Fundação Eça de Queiroz de Baião, a propósito desta entidade não ceder peças aí depositadas que pertenceram ao escritor para figurarem na exposição internacional que vai decorrer em S. Paulo, no Brasil, em 2013.
Para além da querela, que justificou a A. Campos Matos o título, junta-lhe o artigo já publicado no seu “Suplemento ao Dicionário de Eça de Queiroz”, Lisboa, Caminho, 2000, com o título “Relações da família de Eça de Queiroz com os críticos”, complementado com uma “actualização” sobre o tema.
Ambas as obras foram lançadas em Lisboa na Livraria Ferin no passado dia 12 de Outubro, apresentados pelo Prof. Doutor Eugénio Lisboa.

Os Ourives

Através da Associação dos Amigos de Pereiros, Alberto Júlio da Silva Fernandes acaba de publicar um livro sobre ourives prateiros que é também ele próprio uma obra de Arte graças ao seu grafismo, e por ser também um belo catálogo da melhor produção de António do Nascimento Fernandes & Irmão, e de Joaquim do Nascimento Bastardo Lda.
Nascido de um desafio de gerações familiares que não querem que se perca esta memória, já materializada num núcleo museológico na aldeia de Pereiros, S. João da Pesqueira, o livro apresenta ainda imprescindíveis dados históricos sobre a Confraria de Santo Elói e dados técnicos sobre como se fazia, por exemplo, uma taça a partir de uma moeda de prata, entre muitas outras sabedorias de uma profissão que deixou por instituições, monumentos e particulares uma das mais ricas evidências da arte nacional: as pratas cinzeladas.
À venda na Loja on-line da Confraria.

Atividades da Confraria

Prosseguem no Solar Condes de Resende as actividades locais da Confraria Queirosiana: assim, para além do curso de Pintura e expressão plástica, que passou para as 4ªs feiras às 18 horas, prosseguem as 5.ªs de Cultura com iniciação ao bridge às 18.30 h e palestra às 21 horas com entrada livre.

No próximo dia 3 de Novembro, sábado, pelas 17 horas, decorrerá a abertura ao público do Salon d’Automne queirosiano 2012, a exposição anual de artes plásticas da Confraria, este ano comemorativa do seu 10.º aniversário e, por esse motivo, alargada a não sócios.


Feira de S. Martinho, 2011









Nos dias, 9, 10 e 11 decorrerá, também no Solar, a tradicional Feira de S. Martinho de produtos do Douro, em colaboração com a Gaianima e a Junta de Freguesia de Canelas, com animação e também entrada livre.

No dia 24 de Novembro, sábado, terá lugar o Capítulo anual durante o qual será homenageado o Comendador Fernando Fernandes, livreiro do Porto, e insigniados os nossos confrades.


Colóquio dos Olivais

Nos próximos dias 24 a 30 de Novembro decorrerá na Escola Secundária Eça de Queirós, em Olivais, Lisboa o XVIII Colóquio dos Olivais organizado pelo nosso confrade Fernando Andrade Lemos, que no dia 27 apresentará a comunicação “Ensaio sobre a possível mitogenia da freguesia de Santa Maria dos Olivais”, em colaboração com José António Silva; no dia 28 será a vez de Luís Manuel de Araújo apresentar “Eça de Queirós e o Museu Egípcio do Cairo” e o lançamento do n.º 5 dos “Cadernos Culturais de Telheiras, Lumiar, Olivais” dirigidos também por aquele director do Centro Cultural Eça de Queirós.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 50 – Quinta-feira, 25 de Outubro de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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 redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Eça & Outras


Os caminhos da História recente

Nos meses de Verão, num dos poucos diários portugueses que ainda subsistem, fomos lendo uma polémica entre os historiadores Rui Ramos e Manuel Loff a propósito dos capítulos sobre o Estado Novo publicados pelo primeiro na sua História de Portugal, polémica essa a que se juntaram alguns outros historiadores, juristas, sociólogos e não sei mais quem. Tem sido uma bela polémica, com alguns exageros à mistura que não interessam para o caso.
Mas quero desde já sossegá-los: não sou mais um historiador a querer dirimir razões entre aqueles dois historiadores e professores universitários, embora sobre cada um deles e a sua obra tenha opinião feita obviamente pessoal. Para mim a questão é outra: será possível e aceitável haver já uma História do Estado Novo a tão curta distância da sua existência cronológica, escrita por historiadores criados nas suas estruturas, ainda que em derrocada após o golpe militar de 25 de Abril e a reorganização social e económica consequente, que na realidade, tratou de compor a outra face da “moeda única” que o tal Estado Novo criou?
Será tal possível quando ainda estão vivos e opinativos dirigentes, ministros, militares, clérigos e simples cidadãos que viveram, suportaram ou repudiaram o Estado Novo e que foram pais e avós da geração que hoje terá 30/40 anos, incluindo aqueles dois historiadores que se acusaram mutuamente de terem uma visão ideológica daquele período da História Contemporânea portuguesa, europeia e mundial? Creio bem que não: as glórias e as chagas ainda estão vivas e a poeira do tempo ainda não assentou. Basta ver a toleima, para não dizer infantilidade ou inconsciência, com que alguns comparam o que não é possível comparar, até por impossibilidade cronológica, os tempos de agora com «os tempos de Salazar». Compreende-se que a geração que nasceu depois de 74, ou que então era criança, não tenha uma noção real dos tempos estúpidos e cinzentos do «orgulhosamente sós». E então, para de tal saberem, terão de recorrer ou à memória dos vivos com cinquenta e mais anos e aos seus relatos forçosamente pessoais e parcelares ou aos documentos da época. Mas todos nós sabemos, mesmo sem sermos historiadores, que um documento pode ser verdadeiro e o seu conteúdo falseado, propositadamente ou não. A História não é uma questão de fé, mas ciência em busca da possível verdade. Mas a sociedade prefere-lhe o mito, a fantasia.
Todos nós conhecemos a história mitológica do passado, difundida pelas crenças. Ouvimos frequentemente alguém dizer que gostaria de ter vivido noutra época, com certeza na situação de privilegiado e não na de cavador de enxada. Há pessoas com o ar mais sério deste mundo que divulgam mitos, ou os seus relatos, como se de História se tratasse. A maior parte do público não distingue as fantasias históricas dos literatos e memorialistas da serena procura da possível descrição do passado. Por outro lado há situações e personagens do passado que são sistematicamente retiradas do seu contexto épocal e vilipendiadas ao longo dos séculos. De Herodes o Grande saberemos que mandava matar criancinhas, mas pouco sabemos da construção do grande porto de Cesareia que mandou fazer e que deu pão e abrigo a milhares de navegantes. E quanto a governantes responsáveis pela morte de criancinhas ao longo do nosso século XX, temos um extenso rol para vos apresentar que deixaria Herodes muito para trás.
Uma mitomania recente é aquela que os serviços de Turismo entre nós difundem fazendo crer que, no passado, havia multidões de peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, como se fosse possível, até finais do século XIX, o povo andar a passear por esses caminhos fora. A efabulação está pois na ordem do dia e a preguiça mental encaixilha-a, aplaude-a e vende-a como ouro, quando não passa de latão. Ainda em anos recentes um livreco cheio de erros históricos crassos, que o pudor me impede de nomear, uma coisa que pretendia “por a nu” a vida de rainhas e princesas de Portugal, e que se vendia nos hipermercados ao lado dos sabonetes, esgotou pelo menos duas edições. O povinho gostou da coisa e mandou às malvas o lavor dos historiadores.
Eça de Queirós, que o não era, escreveu que «as ciências históricas são a base fecunda das ciências sociais (Prosas Bárbaras). O que se pede aos historiadores é pois mais ciência e menos ideologia. Ou talvez, seguindo Voltaire. «trabalhemos sem filosofar… porque é o único meio de tornar a vida suportável»(Cândido).
Mas então não será possível ir já estudando o século XX português? Creio bem que sim, mas com cuidado, com a vontade de não esquecer os mitos e seus mitómanos que assim se pretendem perpetuar, e sem ajudar a erguer novos mitos retroativos. Vamos a fatos; vamos a datas; vamos a números. E, mesmo esses, interroguemo-los sempre sem acreditar nas lombadas ou encadernações com que se apresentam. Então, talvez, tenhamos História, mesmo sendo a do historiador A ou a do historiador B. E, pelo sim pelo não, a dos historiadores será sempre melhor daquela que é feita pelos que o não são.

J. A. Gonçalves Guimarães

Arqueologia
Estrutura portuária em Crestuma

No passado dia 22 de Setembro concluiu-se a 3.a campanha de escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma que ali têm vindo a ser realizadas pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património (GHAP) da Confraria Queirosiana, patrocinadas pela empresa Águas e Parque Biológico de Gaia EEM.
Depois dos períodos de intervenção em Julho e Agosto, na vertente leste, no topo do castelo e na praia de Favaios, os trabalhos deste dia tiveram como objetivo encontrar as estruturas portuárias romanas que se suspeitava existirem neste último lugar, dedução essa apoiada na exumação de importante espólio vindo de portos distantes, de cantarias de bom porte por ali dispersas e, mais recentemente, pelas indicações do levantamento geofísico ali realizado por georadar, que indiciou a existência de estruturas enterradas na areia, e também a compreensão do sítio que o estudo do complexo arqueológico de Crestuma tem vindo a proporcionar
Para tal foram mobilizados diversos meios técnicos e uma equipa com núcleos de aptidões diversas: assim, enquanto na praia junto à linha de água, conjugada com a maré, foi colocada a operar um máquina escavadora, eram cheios sacos de areia para entivar a área escavada e acionado um grupo de motobombas das Águas de Gaia, no Rio Douro uma equipa de mergulhadores da Companhia de Sapadores Bombeiros de Gaia efetuava o reconhecimento subaquático da zona sob a indicação dos arqueólogos. Todas estas ações foram devidamente registadas em terra, e também na água através da colaboração da Junta de Freguesia de Crestuma, que para o efeito disponibilizou um barco e tripulação.
Para além dos coordenadores, dos arqueólogos, das equipas do GHAP, e do pessoal das instituições referidas, estiveram igualmente presentes vários professores e investigadores das faculdades de Letras e de Ciências da Universidade do Porto, e de outras instituições, de Portugal e da Galiza, que quiseram acompanhar esta intervenção.
Por volta das 15,30 h da tarde começaram a aparecer na área escavada da praia algumas cantarias em granito aparelhadas à maneira romana, estruturadas entre si. Procedeu-se de imediato à sua limpeza e registo, até porque a subida da maré condicionava a continuação dos trabalhos.
Entretanto em meio subaquático os mergulhadores registaram diversas existências de espólio e outros elementos que valorizam o conhecimento do sítio.
No final dos trabalhos foi reposta a paisagem, pois não era possível, nas atuais circunstâncias, manter à vista as estruturas descobertas.
Os estudos sobre o Castelo de Crestuma serão divulgados já nos dias 24 a 29 de Setembro em Catânia, Sicília, Itália, no Congresso Internacional de Cerâmica Romana, e no dia 29 no Solar Condes de Resende nas Jornadas Europeias de Património.
Os trabalhos desta campanha passam agora à fase de estudo, devendo prosseguir no terreno no próximo ano no Verão.


Em busca dos vestígios da Ibéria

O arqueólogo esloveno Mitja Guštin, natural de Pirán na costa adriática,quando era criança descobriu a Península Ibérica na biblioteca de seu pai e no Verão de 1970, ainda como estudante, participou numa viagem de fim de curso que o trouxe até aos confins da Europa ocidental. No outono de 1996 voltou já como professor e arqueólogo, não só para observar as diferenças operadas entretanto pela democratização de Portugal e de Espanha, mas também em consequência «da nostalgia daquela estupenda experiencia anterior». E também “Em busca dos vestígios da Ibéria” para os comparar com os da sua região natal, bem perto do centro de onde irradiou a celtização da Europa.
Ao passar por Portugal, o Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia organizou então no Solar Condes de Resende uma mesa redonda intitulada “A Idade do Ferro na Europa”, onde participou conjuntamente com Armando Coelho Ferreira da Silva e António Manuel Silva.
Este livro não é um livro de Arqueologia, embora esta esteja presente em todas as suas páginas. É sobretudo um livro do afeto e das recordações que permaneceram na memória deste nosso colega e amigo que em 1994 conhecemos na Faculdade de Letras da Universidade de Ljubljana aquando do encontro inaugural da European Association of Archaeologists.
Para nós ibéricos, portugueses e espanhóis, é um livro que nos mostra através do olhar atento de um europeu de leste os vestígios que existem do nosso passado remoto, mas também do que era a Arqueologia e a sociedade nos finais dos tempos de Marcelo e de Franco e aquelas outras, bem diferentes, que vigoravam nos meados da década de noventa do século passado.
Tendo-me solicitado que traduzisse esta sua interessante memória, ela concretizou-se num belo livro em esloveno, castelhano e português, cujo lançamento ocorrerá no próximo dia 16 de Outubro, e que em breve poderá ser adquirido entre nós através da Loja on-line da Confraria Queirosiana.

Esplendor da Arqueologia:
Ciência, Cultura, Turismo

A partir de 27 de Outubro, duas tardes de sábado por mês, entre as 15 e as 17 horas, num total de 12 sessões, vai decorrer no Solar Condes de Resende um curso livre com o título em epígrafe, destinado a todos os géneros de público, mas em especial aos estudantes e profissionais de Arqueologia, Património, Turismo, Ensino e dirigentes e ativistas de instituições culturais e recreativas.
Os temas a abordar irão desde o Grand Tour e as grandes descobertas arqueológicas dos séculos XVIII e XIX, passando pelo Egito e pela Europa celta, até às estações arqueológicas emblemáticas do Entre Douro e Minho e Vale do Douro, como a Citânia de Sanfins, Tongóbriga, Crestuma, Ervamoira, Castelo de Gaia e muitas outras, até à arqueologia de sítios contemporâneos.
Serão conferencistas alguns dos mais conhecidos investigadores que já publicaram trabalhos sobre estes locais e que são igualmente conhecidos pela sua grande capacidade de comunicação, de entre os quais, António Lima, António Manuel Silva, Armando Coelho, Fernando Coimbra, Gonçalves Guimarães, Joel Cleto, José Manuel Tedim, Laura Peixoto, Lino Tavares Dias, Luís Manuel de Araújo e Manuel Real.
O programa definitivo poderá ser visto em breve em confrariaqueirosiana.blogspot.com
A todos os participantes será entregue no final do Curso um certificado de frequência e um CD com textos dos professores.
A sua frequência implica a inscrição prévia.

Jornadas e Colóquios

Dia do Património

No próximo dia 29 de Setembro, a partir das 15 horas, em associação com o IGESPAR que assinala em Portugal as Jornadas Europeias do Património sob o lema “O Futuro da Memória”, o Solar Condes de Resende vai ser palco de uma “Maratona do Património”. Em colaboração com a Câmara Municipal de Gaia e a Gaianima, a Academia Eça de Queirós vai apresenta publicamente os projectos de Património em execução no Solar da autoria de Eva Batista, Joana Brito, Joana Ribeiro, Licínio Santos, Margarida Pereira, Maria de Fátima Teixeira, Maria da Graça Nicolau de Almeida, Sílvia Santos, Susana Guimarães, Susana Moncóvio e Teresa Santos. O debate em volta dos projectos apresentados será moderado pelos professores António Manuel Silva, Francisco Ribeiro da Silva, J. A. Gonçalves Guimarãe e José Manuel Tedim.

Quintas de Cultura

No Solar Condes de Resende, a partir de 4 de Outubro, vai reinicia-se o curso de Pintura, orientado pela Prof. Paula Alves. Decorrerá igualmente em paralelo um curso de iniciação ao Bridge, orientado pelo juiz desembargador Calheiros Lobo. Os frequentadores poderão ainda tomar uma refeição frugal no Bar do Solar e ficar para as palestras da noite que versarão sempre temas de História da região proferidas por historiadores profissionais. O curso de Pintura, o curso de bridge e o jantar implicam inscrição prévia; a palestra é de entrada livre.

Jornadas de Balsamão

Nos próximos dias 4 a 7 de Outubro vão decorrer no Convento de Balsamão, Macedo de Cavaleiros, as XV Jornadas Culturais, dinamizadas, entre outros, pelo nosso confrade Andrade Lemos, que irá falar sobre “Santa Brigida e as terras lusitanas” em colaboração com Fernando Casqueiro, Rosa Trindade Ferreira e José António Silva.

Jornadas do Lumiar

No dia 20 de Outubro próximo, vão decorrer na Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, Lisboa, as Jornadas Culturais do Lumiar, igualmente dinamizadas por aquele nosso confrade.

Exposições

Valença Cabral

Desde o dia 15 até 28 de Setembro estará patente ao público na Biblioteca Prof. Machado Vilela em Vila Verde uma exposição de quadros a óleo de Valença Cabral subordinada ao tema Paisagens, na qual o pintor tem desenvolvido uma linguagem muito própria sobretudo no que diz respeito às paisagens durienses e transmontanas.


Edição: Alguns textos deste blogue são republicados na página queirosiana do jornal “As Artes entre as Letras” do mês seguinte, por protocolo celebrado com a Confraria Queirosiana.


Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 49 – terça-feira, 25 de Setembro de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

sábado, 25 de agosto de 2012

Eça & Outras


Eça de Queirós pela mão de
Helena Cidade Moura

 
Correndo o risco da notícia já ter caído no olvido nesta época em que tudo é efémero, e até talvez por isso valer a pena reavivá-la, escrevo hoje apenas para lembrar que no passado dia 21 de Julho em Lisboa faleceu Helena Cidade Moura, ali nascida em 1924, filha do Professor Hernâni Cidade, formada em Línguas Românicas na Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa na geração de Lindley Cintra, David Mourão Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues e outros. Ao longo da sua vida dedicou-se às questões da educação, nomeadamente da alfabetização de adultos, militou no MDP/CDE com José Manuel Tengarrinha, foi deputada à Assembleia da Republica e em 1989, com o coronel Vítor Alves, criou a Associação para a Defesa e Promoção dos Direitos dos Cidadãos (Civitas). Mas foi talvez como investigadora, prefaciadora, comentadora e divulgadora da obra de Eça de Queirós que ficou mais conhecida desde 1961, através das sucessivas edições da editora Livros do Brasil com as “Três versões do Crime do Padre Amaro” a que se seguiu a edição de 1964, e em 1969 “O Primo Basílio”, “A Cidade e as Serras”, “A Relíquia”, “Os Maias”, “A Correspondência de Fradique Mendes”, “Cartas”, “Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres”, “O Mandarim” e “A Ilustre Casa de Ramires”, continuadas nas décadas de 70 e seguintes até à atualidade com várias reedições.
Foi pois Helena Cidade Moura a queirosianista discreta e persistente que todos nós temos nas nossas estantes e a quem as instituições se esqueceram de agradecer porque não se lembram que as pessoas não são eternas mas tão só a sua memória nas obras que vão deixando. Aqui fica pois este registo a destempo, vago, insuficiente e melancólico, um gesto individual de gratidão como se plantara na sua campa um cipreste que fique a verdejar na lembrança dos que sabem estas coisas.
Na sua bibliografia encontramos ainda as traduções de Jungk “O futuro já começou” (1945), de Sartre “As Troianas” (1973), alguma poesia pessoal, a edição de “O que fazem mulheres” de Camilo (1967) e os seus “Manual de Alfabetização” (1979) e “Literacia em Português” (2008), além de numerosos artigos sobre a criança, os adolescentes, a juventude, a solidão e outros temas de candente atualidade publicados nas revistas “Análise Social” e “Informação Social”. Mas este pouco aqui lembrado não é, nem podia ser, a sua biografia. Apenas a recordação de quem, cumprida a sua vida maior, estará agora na república das grandes almas: «Doce deve ser esse lugar: lagos calados como a neve; alamedas de mirtos, tranquilas como as vegetações dos sonhos, regatos mudos, que vão com a tranquilidade rítmica de um verso de Virgílio; sombras profundas como túmulos; e em tudo um repouso augusto e inefável» (Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre). E em lugar de destaque, as suas “Obras de Eça de Queirós”, com aquela perdurável capa do Pintor Lima de Freitas.

J. A. Gonçalves Guimarães

 
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GRANDE PRÉMIO

J. Rentes de Carvalho
A Associação Portuguesa de Escritores (APE) atribuiu o Grande Prémio de Literatura Biográfica 2010/2011 ao escritor e nosso confrade J. Rentes de Carvalho pelo seu livro “Tempo Contado” editado pela Quetzal. Nascido em Vila Nova de Gaia em 1930 a sua obra vem sendo justamente aplaudida e reconhecida no seu país natal, «O país da suavidade, do desespero, dos sonhos infantis, das mãos pobres que um nada enche, do sofrimento envergonhado e amanhãs que nunca chegam» (blogue Tempo Contado, 2012.04.20), depois de há muito o ter sido na Holanda, onde foi professor na Universidade de Amdterdam.
Refira-se, a propósito, que a Confraria Queirosiana possui um núcleo documental e bibliográfico J. Rentes de Carvalho por doação do escritor (ver confrariaqueirosiana.blogspot.com).
O prémio anterior igualmente patrocinado pela Câmara Municipal de Castelo Branco, foi atribuído ao nosso confrade A. Campos Matos pela sua biografia de Eça de Queirós, de quem J. Rentes de Carvalho se considera discípulo.
 

EÇA DE QUEIRÓS EM LEIRIA

A partir de Setembro estará aberto ao público em Leiria um Centro Cívico na Rua Barão de Viamonte, no centro histórico, dedicado a Eça de Queirós, gerido pela Câmara Municipal e pela associação Sempreaudaz, o qual terá como finalidade principal, segundo Gonçalo Lopes, vereador do pelouro da Cultura «a afirmação de Leiria como terra de escritores» e ajudar «a interpretar a presença de Eça em Leiria, a sua obra e, em especial, O Crime do Padre Amaro». Aquela associação, dirigida pela professora aposentada Helena Carvalhão, comprometeu-se a desenvolver ali ações de caráter formativo «pelo menos dois dias por semana, sendo o sábado um dos dias obrigatórios».

(a partir de uma noticia da autoria de Alexandra Barata).
 

GASTRONOMIA EM VILA DO CONDE
 

No passado dia 17 de Agosto abriu ao público a 14ª edição da “Cozinha à Portuguesa – Feira de Gastronomia de Vila do Conde” organizada pela Câmara Municipal desta terra queirosiana, a qual apresenta uma variadíssima mostra das iguarias nacionais desde o bom pão e o bom vinho até aos mais apurados bolos, fumeiros e queijos. Presentes, para além da Confraria Queirosiana que foi saudar a terra onde Eça de Queiróz foi amamentado e baptizado, algumas outras Confrarias que com a sua presença abrilhantaram o certame que estará aberto até ao dia 26 de agosto.
 

MESTRADO SOBRE JOAQUIM LOPES
 

No passado dia 31 de Julho na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Teresa Campos dos Santos, aluna daquela instituição e investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana defendeu a sua tese de Mestrado intitulada “Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da obra do pintor”, sobre a vida e obra deste notável pintor, professor e diretor da Escola de Belas Artes do Porto, a qual foi classificada com 19 valores.
Nascido a 23 de Abril de 1886 em Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia, em 2009 o Museu do Douro dedicou-lhe uma exposição e um catálogo, mas não existia até à data uma obra de análise da sua produção e do seu enquadramento artístico nas correntes estéticas da primeira metade do século XX.
 

CASTELO DE CRESTUMA
 
Durante a segunda quinzena de Julho e até 24 de Agosto decorreu no Parque Botânico do Castelo de Crestuma a terceira campanha de escavações arqueológicas organizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o patrocínio da empresa Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM e a colaboração do Solar Condes de Resende no apoio técnico e estudo, tratamento e divulgação do espólio exumado, e ainda o apoio logístico da Junta de Freguesia e do Centro Náutico de Crestuma.
Na presente campanha os trabalhos abriram uma nova frente que pôs a descoberto a implantação da torre nascente desta construção da Alta Idade Média, pondo em evidência o assentamento das estruturas defensivas em madeira cobertas por telhados cerâmicos.
Refira-se, a propósito, que têm sido relativamente raras as intervenções em castelos deste tipo no território português, razão que leva a equipa a procurar paralelos noutras áreas da Península e um pouco por toda a Europa onde existem estruturas semelhantes da mesma época.
Os trabalhos prosseguiram no topo da colina, onde se multiplicam as estruturas talhadas na rocha para assentamento de antigas estruturas já desaparecidas, e na praia de Favaios onde tudo leva a crer ter existindo um fundeadouro no período Tardo-romano e  Alta Idade Média.
A equipa é coordenada pelos arqueólogos J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva e dela fazem parte os arqueólogo Laura Peixoto, Pedro Pereira, Paulo Lima, Paulo Lemos e Filipe Pinto e a patrimonióloga Fátima Teixeira, além de outros licenciados e estudantes de Arqueologia. Como complemento dos trabalhos, ou mesmo precedendo-os, têm sido realizadas sondagens eletromagnéticas para deteção de possíveis estruturas enterradas na praia de Favaios e recolha de sedimentos e ecofactos para análises paleoambientais, bem assim como o registo das variações dos níveis fluviais do Rio Douro, para a integral compreensão do monumento e da sua envolvência.
A apresentação dos resultados da presente campanha irá ser feita em diversos fóruns internacionais já no presente ano, nomeadamente em Portugal, Itália e Espanha e a equipa prepara, com a colaboração do Parque Biológico, a realização de um colóquio internacional sobre este tipo de construções que terá lugar em Maio do próximo ano em Vila Nova de Gaia.
 

Cursos
 

No novo ano letivo, já a partir da primeira semana de Setembro, vai reabrir o Curso de Pintura orientado pela professora Pintora Paula Alves, cujos alunos do ano transato vão expor no Sdalon d’Automne queirosiano de Novembro próximo.
No próximo mês de Outubro terá inicio o Curso “O esplendor da Arqueologia: Ciência, Cultura, Turismo”, que decorrerá ao longo de doze sessões aos sábados à tarde, entre as 15 e as 17 horas, dois sábados por mês até Abril.
Ambos os cursos são organizados pela Confraria queirosiana e o segundo conta com a colaboração da Academia Eça de Queirós e dos seus professores que irão falar da arqueologia em Portugal, no Egipto e na Europa na perspetiva dos seus profissionais e dos agentes sociais e económicos.
 

Exposições
 

CARTOONS NA PÓVOA
 

Na Biblioteca Diana-Bar da Póvoa de Varzim, entre 1 e 19 de Agosto decorreu a “Exposição de Cartoons Eça e Portugal” de Ricardo Campus, baseada em citações do escritor «extravagantes ou até utópicas, mas muito atuais nos dias que correm». O autor é natural da Póvoa de Varzim e formado em desenho técnico industrial, tendo já uma apreciável obra publicada em diversas publicações e meios de comunicação social, além de diversas exposições individuais.

 

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 48 – Sábado, 25 de Agosto de 2012
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redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral. Colaboração: Joaquim Santos.