domingo, 25 de junho de 2017

Eça & Outras, domingo, 25 de junho de 2017

Trás-os-Montes é já ali
J. Rentes de Carvalho
            No passado dia 30 de maio a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Câmara Municipal de Mogadouro homenagearam J. Rentes de Carvalho na Biblioteca Municipal Trindade Coelho, onde uma sala repleta ouviu o escritor apresentar o seu mais recente livro intitulado Trás-os-Montes, o Nordeste, apresentado por Francisco José Mateus Albuquerque Guimarães, presidente da edilidade, David Lopes, administrador e diretor-geral da fundação e Francisco José Viegas, escritor e editor. Para além dos referidos e de jornalistas vindos de Lisboa que aterrados aterraram no aeródromo local, viam-se muitos conterrâneos, amigos e admiradores da sua escrita vertical e limpa, singular na azáfama editorial deste país. Com a frontalidade habitual apresentou o seu maior pequeno grande livro, feito de pedaços de vida, amarguras, afeições e ilusões transmontanas entendidas e explicadas por quem as sente visceralmente e nessas vísceras inclui o cérebro bem sovado na masseira do pão da inteligência, o que nunca é fácil nem se espere como resultado de inspirações. Por isso cada página lhe deve ter custado horas de luta consigo próprio, jogando entre a memória, a devoção à terra e às gentes, a lealdade aos amigos da estrada percorrida entre o cais de Vila Nova de Gaia, onde nasceu, Viana do Castelo, onde se fez homem, Amsterdam onde criou profissão de professor da língua e da arte de ser português e família holandesa, Estevais do Mogadouro onde se reencontrou consigo próprio e com gerações infindáveis de gente que esgadanhou no quotidiano uma razão de existir e o conforto dos minguados sete prazeres da vida, nestas berças sempre muito contadas pelo agreste do ser e do ter. Desde então que não quer esse mundo e aflições só pra si, mas quer partilhá-lo com os outros, como quem corta generosa fatia do pão centeio para matar fomes que andam para aí disfarçadas de comezainas intelectuais.
            Começando por definir a sua geografia transmontana, que não é a histórica, nem a administrativa e muito menos a folclórica, deu conta o autor que mais fácil lhe seria escrever sobre o Portugal parido pelos decretos lisboetas do que pôr-se a litigar nesta causa própria, onde é juiz, testemunha, guarda, oficial de diligências, réu e público que assiste e comenta, tudo numa pessoa só. Este livro não é um auto-de-fé masoquista, mas um processo inacabado que não conduz a sentenças nem a condenações. Flui como o Douro, depois dos apertos das arribas, a que seguemos meandros que o hão de levar ao mar onde o sol se esconde nos horizontes adivinhados. Não tivesse J. Rentes de Carvalho nascido junto à sua foz e das ondas desse mar, que desde tamanhinho o levaram a querer saber para onde iam os barcos que via partir, e certamente seria mais um daqueles escritores que dissertam sobre pescadinhas de rabo na boca pessoais e sobre a casticidade dos que não conhecem, pois os inventam à revelia das suas evidências para sucessos de literaturas digestivas, ainda que quase sempre chatas. E este facto, que na realidade o impediu de ser mais um daqueles pastores transmontanos que guardam académicas e estéreis cabras sonhando com estrangeiras amantes, não deixa ele próprio de o referir neste livro: «Sim, sou de Gaia, com orgulho e afeição. Nela nasci, me criei, descobri mundos, o largo do Monte (dos) Judeus foi para mim alma mater, janela que me proporcionou o maravilhoso e mais caleidoscópico panorama que qualquer um pode desejar: toda uma cidade defronte como em gigantesco ecrã, a sarabanda do rio a espicaçar uma fantasia que ainda tudo desconhecia de navegações, heroísmos, agruras da vida, batalhas ou Índias, mas lhe deixava pressentir que, para lá do bulício, ficava um mundo que só podia ser de alegria, beleza e maravilhas.
            À escola que Gaia foi para mim continuo grato e nunca pagarei a dívida, mas sentimento igual merece-me a paisagem rude, majestosa, estática, sofrida, em que nasceram, viveram, amarguraram, foram a enterrar, aqueles de quem sou o último da linha.» (pág. 32).
            Mas também em terra alguma do litoral se entendem estes túneis do marão bem sofridos entre o lugar onde se nasce e aquele de onde herdamos uma infinita saudade nunca vencida mas a haver pelo que poderia ou deveria ter sido e não foi. Por isso a maior parte dos gaienses – mais de 300.000 transmontanos, minhotos, beirões, peritejanos, britânicos, brasileiros ou outros – estão sempre a pensar na terra do avô ou da bisavó e quando filosofam, escrevem, musicam, esculpem, modelam, pintam, realizam filmes, concretizam teorias e máquinas ou fazem outras obras onde acrescentam como ingredientes uns pozinhos de futuro, sabem bem de que paraísos perdidos ou a haver estão a falar. São eles assim e J. Rentes de Carvalho um dos que melhor os define.
            Neste livro o autor abriu o peito, mas não garante «que este Nordeste Transmontano seja o genuíno, corresponda por inteiro a uma realidade, ou encaixe na visão e no sentimento que outros têm dele» (pág. 75). Mas é com certeza um tributo leal à sua gente «toda de extremos, tão pronta para uma ingenuidade infantil como para a cegueira fatal». E com a leitura deste livro podemos agora bem dizer que Trás-os-Montes é já ali. 

J. A Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Eventos comemorativos


           

 No dia 3 de junho a Escola Secundária de Canelas promoveu no Solar Condes de Resende um Sarau Queirosiano entre as 16 e as 23 horas, por onde passaram danças de salão do séc. XIX, dramatização de quadros da época, jantar queirosiano, leitura de excertos de As Farpas, recital de poesia, soirèe musical, exposição temática; muitos alunos, professores e familiares.




Dia de Itália

            No dia 4 decorreram, como habitualmente no Palácio do Freixo no Porto, as comemorações da Festa Nazionale d’ Italia, organizadas pelo ConsolatoOnorario d’Italia e pela Associazione Socio-Culturale Italiana dellPortogallo Dante Alighieri, nas quais estiveram presentes diversos amigos e confrades queirosianos, estando a direção representada pelo presidente José Manuel Tedim, J. A. Gonçalves Guimarães,António Pinto Bernardo  e Susana Moncóvio.

Monumento

        No passado dia 3 de junho foi inaugurado em Vila Nova de Gaia um Monumento ao Associativismo promovido pela Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, de que é presidente César Oliveira e da qual a Confraria Queirosiana é associada. Da autoria da escultora Helena Fortunato, apresenta-se com notável dimensão e implantado numa zona de expansão da cidade. Constituído por uma sólida coluna central em granito, tem inseridos nas laterais elementos giratórios em aço que simbolizam as diversas áreas do movimento associativo e as suas dinâmicas. Foi inaugurado pelo presidente da Câmara Municipal, Eduardo Vitor Rodrigues, tendo estado presentes associações internacionais, nacionais, regionais e locais.

Livros & Revistas

O Melhor Jornal escolar

No dia 27 de maio decorreu no Pavilhão Municipal de Gaia a Gala do concurso “Melhor Escola” destinado a galardoar os melhores jornais escolares promovidos pelo jornal O Gaiense, nos quais estiveram envolvidos diversos amigos e confrades queirosianos, nomeadamente nos jornais das escolas Secundária de Canelas (1.º Melhor Jornal e Melhor Reportagem) e Diogo de Macedo, Olival (3.ª Melhor Jornal e Prémio Online). Esta produção ficou perpetuada na edição de um livro com reprodução da totalidade dos jornais produzidos, entregue a cada um dos participantes, professores e alunos da escola vencedora pelo presidente da Junta de Freguesia de Canelas e pelo diretor daquele semanário no passado dia 22 de junho no Solar Condes de Resende.

             
No dia 9 de junho foi lançado no Arquivo Municipal Alberto Sampaio em Vila Nova de Famalicão o número 2 da revista Vinho Verde. História e Património. HistoryandHeritage, publicada pela Associação Portuguesa da história da Vinha e do Vinho (APHVIN/GEHVID), dedicada aos 175 anos do nascimento de Alberto Sampaio com artigos de, entre outros, Francisco Ribeiro da Silva sobre “Alberto Sampaio e Oliveira Martins. Notas de leitura da correspondência recíproca (1884-1894)” e J. A. Gonçalves Guimarães “Alberto Sampaio e a Revista de Portugal”.


            No passado dia 17 de junho no auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, José António Afonso lançou o seu mais recente livro, intitulado Escolas Rurais na 1.ª República Portuguesa 1910-1926. Discursos e representações sobre aperiferia, editado pela Whitebooks. A mesa esteve composta por Albino Almeida, presidente daquele órgão autárquico, J. A. Gonçalves Guimarães pela Confraria Queirosiana e pelo solar Condes de Resende, pelo autor, professor na Universidade do Minh, e pela Prof.ª Doutora Margarida Louro Felgueiras da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que fez a apresentação da obra, salientando o seu contributo para a compreensão da problemática da escolaridade e oportunidades sociais das crianças do mundo ruralizado da 1.ª República, cuja realidade se estendeu muito para além desta baliza cronológica e histórica.

Palestras e visitas culturais
No Solar Condes de Resende prosseguem as palestras das últimas quintas-feiras do mês. Assim no passado dia 25 de Maio, Maria de Fátima Teixeira apresentou o tema “ Os acionistas da Companhia de Fiação de Crestuma” e no próximo dia 29 de junho, J. A. Gonçalves Guimarães falará sobre “O Museu Viking de Roskilde e uma proposta para o Museu do Barco Rabelo de Gaia”.
            Diversos confrades queirosianos têm feito também várias palestras e visitas guiadas comentadas noutras instituições cujas notícias nos vão chegando: assim, no passado dia 18 de junho, José Manuel Tedim, realizou uma “visita d’ autor” no MMIPO – Museu e Igreja da Misericórdia do Porto, sob o tema “Benfeitores da SCMP – António Bessa Leite”. No próximo dia 30 de junho decorrerá no forte de São João Baptista da Foz do Douro, Porto, o I Encontro Nacional de Literaturismo - Roteiros Literários, Turismo e Gastronomia, organizado por José Valle de Figueiredo e promovido pela União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, no qual participarão, entre outros, pelas 10 horas, o organizador e J. A. Gonçalves Guimarães num painel sobre “Pelos caminhos de Camilo – Roteiros camilianos de Ribeira de Pena, Famalicão, Gaia, Porto e Beiras”. Pelas 15 horas haverá um painel sobre Literatura, Turismo e Gastronomia em que participarão, entre outros, Manuel de Novaes Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, e Olga Cavaleiro, presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas; no dia 31 de julho pelas 10 horas, José Augusto Maia Marques falará sobre “Geografia de Mulheres da Beira de abel Botelho” e às 12,30, José Valle de Figueiredo sobre “Jardim da Europa à Beira-mar plantado (Tomás Ribeiro e a Geografia Cultural de Parada de Gonta)”. Nesse mesmo dia, mas às 15,30 apresentará, em colaboração, a “A Foz Literária” com uma visita aos lugares mais emblemáticos.

Exposições

                 

No próximo dia 1 de julho, pelas 18 horas, será inaugurada no Museu de Olaria em Barcelos a exposição de cerâmica contemporânea de José Ramos “ Buscando o Simples”. Autor de inconfundível obra onde os esmaltes contrastam com as terras, o autor apresentará as suas mais recentes criações neste museu encantatório que exibe a arte popular de trabalhar o barro sem prejuízo das mais avançadas propostas artísticas. Haverá uma performance de dança contemporânea.


 
Prémios

No passado dia 16 de junho a Associação Portuguesa de Museologia atribuiu os prémios APOM 2017, tendo sido distinguido com uma menção honrosa o Catálogo da exposição temporária realizada na Casa Museu Marta Ortigão Sampaio (CMP) e Museu da Quinta de Santiago (CMM) intitulada Aurélia, mulher artista (1866-1922), que contou com a colaboração de Susana Moncóvio,investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ, autora do texto “Mulheres artistas antes de Aurélia de Sousa: a lenta metamorfose de uma condição no espaço da Academia Portuense de Belas-Artes”, ali publicado.
A biografia romanceada de Mário Cláudio «Astronomia», publicado em Outubro de 2015 foi declarada vencedora do XXII Grande Prémio de LiteraturaDSTGroup, devendo o galardão ser entregue no próximo dia 30 de junho no Teatro Circo no decorrer da Feira do Livro de Braga.
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Eça & Outras, III.ª série, n.º 103 – domingo, 25 de junho de 2017; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685 ; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Susana Moncóvio