Eça de Queirós pela mão
de
Helena Cidade Moura
Correndo o risco da notícia já ter
caído no olvido nesta época em que tudo é efémero, e até talvez por isso valer
a pena reavivá-la, escrevo hoje apenas para lembrar que no passado dia 21 de
Julho em Lisboa faleceu Helena Cidade Moura, ali nascida em 1924, filha do
Professor Hernâni Cidade, formada em Línguas Românicas na Faculdade de Letras
na Universidade de Lisboa na geração de Lindley Cintra, David Mourão Ferreira,
Urbano Tavares Rodrigues e outros. Ao longo da sua vida dedicou-se às questões
da educação, nomeadamente da alfabetização de adultos, militou no MDP/CDE com
José Manuel Tengarrinha, foi deputada à Assembleia da Republica e em 1989, com
o coronel Vítor Alves, criou a Associação para a Defesa e Promoção dos Direitos
dos Cidadãos (Civitas). Mas foi talvez como investigadora, prefaciadora, comentadora
e divulgadora da obra de Eça de Queirós que ficou mais conhecida desde 1961,
através das sucessivas edições da editora Livros do Brasil com as “Três versões
do Crime do Padre Amaro” a que se seguiu a edição de 1964, e em 1969 “O Primo Basílio”,
“A Cidade e as Serras”, “A Relíquia”, “Os Maias”, “A Correspondência de
Fradique Mendes”, “Cartas”, “Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres”, “O
Mandarim” e “A Ilustre Casa de Ramires”, continuadas nas décadas de 70 e
seguintes até à atualidade com várias reedições.
Foi pois Helena Cidade Moura a
queirosianista discreta e persistente que todos nós temos nas nossas estantes e
a quem as instituições se esqueceram de agradecer porque não se lembram que as
pessoas não são eternas mas tão só a sua memória nas obras que vão deixando.
Aqui fica pois este registo a destempo, vago, insuficiente e melancólico, um
gesto individual de gratidão como se plantara na sua campa um cipreste que
fique a verdejar na lembrança dos que sabem estas coisas.
Na sua bibliografia encontramos
ainda as traduções de Jungk “O futuro já começou” (1945), de Sartre “As
Troianas” (1973), alguma poesia pessoal, a edição de “O que fazem mulheres” de
Camilo (1967) e os seus “Manual de Alfabetização” (1979) e “Literacia em
Português” (2008), além de numerosos artigos sobre a criança, os adolescentes,
a juventude, a solidão e outros temas de candente atualidade publicados nas
revistas “Análise Social” e “Informação Social”. Mas este pouco aqui lembrado
não é, nem podia ser, a sua biografia. Apenas a recordação de quem, cumprida a
sua vida maior, estará agora na república das grandes almas: «Doce deve ser
esse lugar: lagos calados como a neve; alamedas de mirtos, tranquilas como as
vegetações dos sonhos, regatos mudos, que vão com a tranquilidade rítmica de um
verso de Virgílio; sombras profundas como túmulos; e em tudo um repouso augusto
e inefável» (Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre). E em lugar de destaque, as
suas “Obras de Eça de Queirós”, com aquela perdurável capa do Pintor Lima de
Freitas.
J. A. Gonçalves Guimarães
Notícias
GRANDE PRÉMIO
J. Rentes de Carvalho |
A Associação Portuguesa de
Escritores (APE) atribuiu o Grande Prémio de Literatura Biográfica 2010/2011 ao
escritor e nosso confrade J. Rentes de Carvalho pelo seu livro “Tempo Contado”
editado pela Quetzal. Nascido em Vila Nova de Gaia em 1930 a sua obra vem sendo
justamente aplaudida e reconhecida no seu país natal, «O país da suavidade, do
desespero, dos sonhos infantis, das mãos pobres que um nada enche, do
sofrimento envergonhado e amanhãs que nunca chegam» (blogue Tempo Contado,
2012.04.20), depois de há muito o ter sido na Holanda, onde foi professor na
Universidade de Amdterdam.
Refira-se, a propósito, que a
Confraria Queirosiana possui um núcleo documental e bibliográfico J. Rentes de
Carvalho por doação do escritor (ver confrariaqueirosiana.blogspot.com).
O prémio anterior igualmente
patrocinado pela Câmara Municipal de Castelo Branco, foi atribuído ao nosso
confrade A. Campos Matos pela sua biografia de Eça de Queirós, de quem J.
Rentes de Carvalho se considera discípulo.
EÇA DE QUEIRÓS EM
LEIRIA
A partir de Setembro estará aberto
ao público em Leiria um Centro Cívico na Rua Barão de Viamonte, no centro
histórico, dedicado a Eça de Queirós, gerido pela Câmara Municipal e pela
associação Sempreaudaz, o qual terá como finalidade principal, segundo Gonçalo
Lopes, vereador do pelouro da Cultura «a afirmação de Leiria como terra de
escritores» e ajudar «a interpretar a presença de Eça em Leiria, a sua obra e,
em especial, O Crime do Padre Amaro». Aquela associação, dirigida pela
professora aposentada Helena Carvalhão, comprometeu-se a desenvolver ali ações
de caráter formativo «pelo menos dois dias por semana, sendo o sábado um dos
dias obrigatórios».
(a partir de uma noticia da autoria
de Alexandra Barata).
GASTRONOMIA EM VILA DO
CONDE
No passado dia 17 de Agosto abriu
ao público a 14ª edição da “Cozinha à Portuguesa – Feira de Gastronomia de Vila
do Conde” organizada pela Câmara Municipal desta terra queirosiana, a qual
apresenta uma variadíssima mostra das iguarias nacionais desde o bom pão e o
bom vinho até aos mais apurados bolos, fumeiros e queijos. Presentes, para além
da Confraria Queirosiana que foi saudar a terra onde Eça de Queiróz foi
amamentado e baptizado, algumas outras Confrarias que com a sua presença
abrilhantaram o certame que estará aberto até ao dia 26 de agosto.
MESTRADO SOBRE JOAQUIM
LOPES
No passado dia 31 de Julho na
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Teresa Campos dos Santos, aluna
daquela instituição e investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e
Património da Confraria Queirosiana defendeu a sua tese de Mestrado intitulada
“Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da obra do pintor”, sobre a vida e
obra deste notável pintor, professor e diretor da Escola de Belas Artes do
Porto, a qual foi classificada com 19 valores.
Nascido a 23 de Abril de 1886 em
Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia, em 2009 o Museu do Douro dedicou-lhe uma
exposição e um catálogo, mas não existia até à data uma obra de análise da sua
produção e do seu enquadramento artístico nas correntes estéticas da primeira
metade do século XX.
Durante a segunda quinzena de Julho
e até 24 de Agosto decorreu no Parque Botânico do Castelo de Crestuma a
terceira campanha de escavações arqueológicas organizada pelo Gabinete de
História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o patrocínio
da empresa Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM e a colaboração do Solar
Condes de Resende no apoio técnico e estudo, tratamento e divulgação do espólio
exumado, e ainda o apoio logístico da Junta de Freguesia e do Centro Náutico de
Crestuma.
Na presente campanha os trabalhos
abriram uma nova frente que pôs a descoberto a implantação da torre nascente
desta construção da Alta Idade Média, pondo em evidência o assentamento das estruturas
defensivas em madeira cobertas por telhados cerâmicos.
Refira-se, a propósito, que têm
sido relativamente raras as intervenções em castelos deste tipo no território
português, razão que leva a equipa a procurar paralelos noutras áreas da
Península e um pouco por toda a Europa onde existem estruturas semelhantes da
mesma época.
Os trabalhos prosseguiram no topo
da colina, onde se multiplicam as estruturas talhadas na rocha para
assentamento de antigas estruturas já desaparecidas, e na praia de Favaios onde
tudo leva a crer ter existindo um fundeadouro no período Tardo-romano e Alta Idade Média.
A equipa é coordenada pelos
arqueólogos J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva e dela fazem parte
os arqueólogo Laura Peixoto, Pedro Pereira, Paulo Lima, Paulo Lemos e Filipe
Pinto e a patrimonióloga Fátima Teixeira, além de outros licenciados e
estudantes de Arqueologia. Como complemento dos trabalhos, ou mesmo
precedendo-os, têm sido realizadas sondagens eletromagnéticas para deteção de
possíveis estruturas enterradas na praia de Favaios e recolha de sedimentos e
ecofactos para análises paleoambientais, bem assim como o registo das variações
dos níveis fluviais do Rio Douro, para a integral compreensão do monumento e da
sua envolvência.
A apresentação dos resultados da
presente campanha irá ser feita em diversos fóruns internacionais já no
presente ano, nomeadamente em Portugal, Itália e Espanha e a equipa prepara,
com a colaboração do Parque Biológico, a realização de um colóquio
internacional sobre este tipo de construções que terá lugar em Maio do próximo
ano em Vila Nova de Gaia.
Cursos
No novo ano letivo, já a partir da
primeira semana de Setembro, vai reabrir o Curso de Pintura orientado pela
professora Pintora Paula Alves, cujos alunos do ano transato vão expor no
Sdalon d’Automne queirosiano de Novembro próximo.
No próximo mês de Outubro terá
inicio o Curso “O esplendor da Arqueologia: Ciência, Cultura, Turismo”, que
decorrerá ao longo de doze sessões aos sábados à tarde, entre as 15 e as 17
horas, dois sábados por mês até Abril.
Ambos os cursos são organizados
pela Confraria queirosiana e o segundo conta com a colaboração da Academia Eça
de Queirós e dos seus professores que irão falar da arqueologia em Portugal, no
Egipto e na Europa na perspetiva dos seus profissionais e dos agentes sociais e
económicos.
Exposições
CARTOONS NA PÓVOA
Na Biblioteca Diana-Bar da Póvoa de
Varzim, entre 1 e 19 de Agosto decorreu a “Exposição de Cartoons Eça e
Portugal” de Ricardo Campus, baseada em citações do escritor «extravagantes ou
até utópicas, mas muito atuais nos dias que correm». O autor é natural da Póvoa
de Varzim e formado em desenho técnico industrial, tendo já uma apreciável obra
publicada em diversas publicações e meios de comunicação social, além de
diversas exposições individuais.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 48 – Sábado, 25 de Agosto
de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB:
001800005536505900154
eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638);
redacção: Fátima
Teixeira; inserção: Amélia Cabral. Colaboração: Joaquim Santos.
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