sábado, 25 de agosto de 2012

Eça & Outras


Eça de Queirós pela mão de
Helena Cidade Moura

 
Correndo o risco da notícia já ter caído no olvido nesta época em que tudo é efémero, e até talvez por isso valer a pena reavivá-la, escrevo hoje apenas para lembrar que no passado dia 21 de Julho em Lisboa faleceu Helena Cidade Moura, ali nascida em 1924, filha do Professor Hernâni Cidade, formada em Línguas Românicas na Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa na geração de Lindley Cintra, David Mourão Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues e outros. Ao longo da sua vida dedicou-se às questões da educação, nomeadamente da alfabetização de adultos, militou no MDP/CDE com José Manuel Tengarrinha, foi deputada à Assembleia da Republica e em 1989, com o coronel Vítor Alves, criou a Associação para a Defesa e Promoção dos Direitos dos Cidadãos (Civitas). Mas foi talvez como investigadora, prefaciadora, comentadora e divulgadora da obra de Eça de Queirós que ficou mais conhecida desde 1961, através das sucessivas edições da editora Livros do Brasil com as “Três versões do Crime do Padre Amaro” a que se seguiu a edição de 1964, e em 1969 “O Primo Basílio”, “A Cidade e as Serras”, “A Relíquia”, “Os Maias”, “A Correspondência de Fradique Mendes”, “Cartas”, “Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres”, “O Mandarim” e “A Ilustre Casa de Ramires”, continuadas nas décadas de 70 e seguintes até à atualidade com várias reedições.
Foi pois Helena Cidade Moura a queirosianista discreta e persistente que todos nós temos nas nossas estantes e a quem as instituições se esqueceram de agradecer porque não se lembram que as pessoas não são eternas mas tão só a sua memória nas obras que vão deixando. Aqui fica pois este registo a destempo, vago, insuficiente e melancólico, um gesto individual de gratidão como se plantara na sua campa um cipreste que fique a verdejar na lembrança dos que sabem estas coisas.
Na sua bibliografia encontramos ainda as traduções de Jungk “O futuro já começou” (1945), de Sartre “As Troianas” (1973), alguma poesia pessoal, a edição de “O que fazem mulheres” de Camilo (1967) e os seus “Manual de Alfabetização” (1979) e “Literacia em Português” (2008), além de numerosos artigos sobre a criança, os adolescentes, a juventude, a solidão e outros temas de candente atualidade publicados nas revistas “Análise Social” e “Informação Social”. Mas este pouco aqui lembrado não é, nem podia ser, a sua biografia. Apenas a recordação de quem, cumprida a sua vida maior, estará agora na república das grandes almas: «Doce deve ser esse lugar: lagos calados como a neve; alamedas de mirtos, tranquilas como as vegetações dos sonhos, regatos mudos, que vão com a tranquilidade rítmica de um verso de Virgílio; sombras profundas como túmulos; e em tudo um repouso augusto e inefável» (Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre). E em lugar de destaque, as suas “Obras de Eça de Queirós”, com aquela perdurável capa do Pintor Lima de Freitas.

J. A. Gonçalves Guimarães

 
Notícias
 

GRANDE PRÉMIO

J. Rentes de Carvalho
A Associação Portuguesa de Escritores (APE) atribuiu o Grande Prémio de Literatura Biográfica 2010/2011 ao escritor e nosso confrade J. Rentes de Carvalho pelo seu livro “Tempo Contado” editado pela Quetzal. Nascido em Vila Nova de Gaia em 1930 a sua obra vem sendo justamente aplaudida e reconhecida no seu país natal, «O país da suavidade, do desespero, dos sonhos infantis, das mãos pobres que um nada enche, do sofrimento envergonhado e amanhãs que nunca chegam» (blogue Tempo Contado, 2012.04.20), depois de há muito o ter sido na Holanda, onde foi professor na Universidade de Amdterdam.
Refira-se, a propósito, que a Confraria Queirosiana possui um núcleo documental e bibliográfico J. Rentes de Carvalho por doação do escritor (ver confrariaqueirosiana.blogspot.com).
O prémio anterior igualmente patrocinado pela Câmara Municipal de Castelo Branco, foi atribuído ao nosso confrade A. Campos Matos pela sua biografia de Eça de Queirós, de quem J. Rentes de Carvalho se considera discípulo.
 

EÇA DE QUEIRÓS EM LEIRIA

A partir de Setembro estará aberto ao público em Leiria um Centro Cívico na Rua Barão de Viamonte, no centro histórico, dedicado a Eça de Queirós, gerido pela Câmara Municipal e pela associação Sempreaudaz, o qual terá como finalidade principal, segundo Gonçalo Lopes, vereador do pelouro da Cultura «a afirmação de Leiria como terra de escritores» e ajudar «a interpretar a presença de Eça em Leiria, a sua obra e, em especial, O Crime do Padre Amaro». Aquela associação, dirigida pela professora aposentada Helena Carvalhão, comprometeu-se a desenvolver ali ações de caráter formativo «pelo menos dois dias por semana, sendo o sábado um dos dias obrigatórios».

(a partir de uma noticia da autoria de Alexandra Barata).
 

GASTRONOMIA EM VILA DO CONDE
 

No passado dia 17 de Agosto abriu ao público a 14ª edição da “Cozinha à Portuguesa – Feira de Gastronomia de Vila do Conde” organizada pela Câmara Municipal desta terra queirosiana, a qual apresenta uma variadíssima mostra das iguarias nacionais desde o bom pão e o bom vinho até aos mais apurados bolos, fumeiros e queijos. Presentes, para além da Confraria Queirosiana que foi saudar a terra onde Eça de Queiróz foi amamentado e baptizado, algumas outras Confrarias que com a sua presença abrilhantaram o certame que estará aberto até ao dia 26 de agosto.
 

MESTRADO SOBRE JOAQUIM LOPES
 

No passado dia 31 de Julho na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Teresa Campos dos Santos, aluna daquela instituição e investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana defendeu a sua tese de Mestrado intitulada “Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da obra do pintor”, sobre a vida e obra deste notável pintor, professor e diretor da Escola de Belas Artes do Porto, a qual foi classificada com 19 valores.
Nascido a 23 de Abril de 1886 em Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia, em 2009 o Museu do Douro dedicou-lhe uma exposição e um catálogo, mas não existia até à data uma obra de análise da sua produção e do seu enquadramento artístico nas correntes estéticas da primeira metade do século XX.
 

CASTELO DE CRESTUMA
 
Durante a segunda quinzena de Julho e até 24 de Agosto decorreu no Parque Botânico do Castelo de Crestuma a terceira campanha de escavações arqueológicas organizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o patrocínio da empresa Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM e a colaboração do Solar Condes de Resende no apoio técnico e estudo, tratamento e divulgação do espólio exumado, e ainda o apoio logístico da Junta de Freguesia e do Centro Náutico de Crestuma.
Na presente campanha os trabalhos abriram uma nova frente que pôs a descoberto a implantação da torre nascente desta construção da Alta Idade Média, pondo em evidência o assentamento das estruturas defensivas em madeira cobertas por telhados cerâmicos.
Refira-se, a propósito, que têm sido relativamente raras as intervenções em castelos deste tipo no território português, razão que leva a equipa a procurar paralelos noutras áreas da Península e um pouco por toda a Europa onde existem estruturas semelhantes da mesma época.
Os trabalhos prosseguiram no topo da colina, onde se multiplicam as estruturas talhadas na rocha para assentamento de antigas estruturas já desaparecidas, e na praia de Favaios onde tudo leva a crer ter existindo um fundeadouro no período Tardo-romano e  Alta Idade Média.
A equipa é coordenada pelos arqueólogos J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva e dela fazem parte os arqueólogo Laura Peixoto, Pedro Pereira, Paulo Lima, Paulo Lemos e Filipe Pinto e a patrimonióloga Fátima Teixeira, além de outros licenciados e estudantes de Arqueologia. Como complemento dos trabalhos, ou mesmo precedendo-os, têm sido realizadas sondagens eletromagnéticas para deteção de possíveis estruturas enterradas na praia de Favaios e recolha de sedimentos e ecofactos para análises paleoambientais, bem assim como o registo das variações dos níveis fluviais do Rio Douro, para a integral compreensão do monumento e da sua envolvência.
A apresentação dos resultados da presente campanha irá ser feita em diversos fóruns internacionais já no presente ano, nomeadamente em Portugal, Itália e Espanha e a equipa prepara, com a colaboração do Parque Biológico, a realização de um colóquio internacional sobre este tipo de construções que terá lugar em Maio do próximo ano em Vila Nova de Gaia.
 

Cursos
 

No novo ano letivo, já a partir da primeira semana de Setembro, vai reabrir o Curso de Pintura orientado pela professora Pintora Paula Alves, cujos alunos do ano transato vão expor no Sdalon d’Automne queirosiano de Novembro próximo.
No próximo mês de Outubro terá inicio o Curso “O esplendor da Arqueologia: Ciência, Cultura, Turismo”, que decorrerá ao longo de doze sessões aos sábados à tarde, entre as 15 e as 17 horas, dois sábados por mês até Abril.
Ambos os cursos são organizados pela Confraria queirosiana e o segundo conta com a colaboração da Academia Eça de Queirós e dos seus professores que irão falar da arqueologia em Portugal, no Egipto e na Europa na perspetiva dos seus profissionais e dos agentes sociais e económicos.
 

Exposições
 

CARTOONS NA PÓVOA
 

Na Biblioteca Diana-Bar da Póvoa de Varzim, entre 1 e 19 de Agosto decorreu a “Exposição de Cartoons Eça e Portugal” de Ricardo Campus, baseada em citações do escritor «extravagantes ou até utópicas, mas muito atuais nos dias que correm». O autor é natural da Póvoa de Varzim e formado em desenho técnico industrial, tendo já uma apreciável obra publicada em diversas publicações e meios de comunicação social, além de diversas exposições individuais.

 

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 48 – Sábado, 25 de Agosto de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email:queirosiana@gmail.com; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638);
redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral. Colaboração: Joaquim Santos.

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