quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Eça & Outras

Ano do Centenário do “Vencido da Vida” e diplomata Luís Maria Pinto de Soveral, Marquês de Soveral (1851-1922)

Património Régio gaiense em 1346, por José Marques

No passado dia 14 de outubro, na abertura do 31.º curso livre no Solar Condes de Resende comemorativo dos 40 anos das 1.as Jornadas de História Local e Regional organizadas entre 19 e 23 de novembro de 1983 pelo então Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, foi lançado o livro Património Régio nos Julgados de Gaia e Vila Nova, em 1346, da autoria do já falecido Professor Doutor José Marques, antigo docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e da Universidade Portucalense Infante D. Henrique, trabalho inicialmente apresentado naquelas jornadas, mas nunca publicado, conforme se conta no posfácio.

Tendo a Idade Média sido a época histórica que aqui começou por interessar três estudantes daquela faculdade que viriam a fundar em 1982 aquele grupo de trabalho coordenado pelo Professor Doutor Humberto Baquero Moreno, e que então escreveram um trabalho sobre O Foral de Gaia de 1255. Um texto e a sua época, publicado em 1983, bem depressa o exercício profissional os chamou para outras especializações e esses estudos foram rareando ou tendo por aqui pouco impacto académico e cultural. Mesmo assim a medievalidade local teve entretanto textos fundamentais daquele catedrático sobre O Julgado de Gaia e os seus homens no reinado de D. João I (1984), mas também com grandes contributos de outros jovens professores, como Luís Carlos Amaral (São Salvador de Grijó na segunda metade do século XIV, 1994); José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (Os Patronos do Mosteiro de Grijó, 1995, depois desenvolvido na tese de doutoramento Linhagens Medievais Portuguesas. Genealogias e Estratégias (1279-1325), publicada em 1999; Mário Jorge Barroca, na sua Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), publicada em 2000, e mais recentemente em As Quatro Faces de Rodrigo Sanches (2013) sobre o monumental sarcófago existente também neste mosteiro, estudos esses que muito contribuíram para que seja um dos mais conhecidos cenóbios do País. Enquanto J. A. Gonçalves Guimarães na sua dissertação de mestrado em Arueologia teimava em tentar compreender o povoamento de Gaia e Vila Nova na Idade Média. Arqueologia de uma área ribeirinha (1995), em demanda do Castelo de Gaia e do seu atual Centro Histórico, o Município de Santa Maria da Feira patrocinava estudos sistemáticos sobre a região, convidando o Professor Doutor José Mattoso e a sua equipa a publicar O Castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos séculos XI a XIII (1989), que originaria depois clarificações como A Terra de Santa Maria na Idade Média. Limites Geográficos e Identidade Peculiar (MATTOSO, 1993) e de novo com a sua equipa A Terra de Santa Maria no Século XIII. Problemas e Documentos (1993), tendo J. A. Gonçalves Guimarães entretanto apresentado uma Introdução ao Estudo do Povoamento Medieval da Terra de Santa Maria (1991-1992, atualizado em 2009) e sido publicados alguns outros trabalhos de diversos investigadores. Se é certo que a Feira daí tirou lição e proveito para a reabilitação do seu castelo e a realização anual de uma reconstituição medieval, também o é que deixou de patrocinar os estudos académicos sobre a Idade-Média no município e na região. Mas Vila Nova de Gaia permaneceu-lhes alheia: ainda recentemente as “comemorações dos 1100 anos do Mosteiro de Grijó” passaram sem qualquer impacto e a única atividade cultural que tiveram foi a realização de um concerto pela orquestra do Conservatório de Gaia.

Se é certo que sobre a Idade Média local se tinha começado muito bem em 1971 com a publicação da obra Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó (XI.e-XIII.e siècles), por Robert Durand, a última fonte medieval aqui publicada antes desta obra agora apresentada foi o Livro das Campainhas (códice da segunda metade do século XVI). Mosteiro de São Salvador de Grijó, de Jorge de Alarcão e Luís Carlos Amaral, editada em 1986 também pelo Gabinete de História e Arqueologia.  Passados estes anos todos, o primeiro destes autores, mais conhecido pelos estudos de Arqueologia Romana, trouxe-nos ainda outras importantes contribuições como O nome e os lugares de Portucale e  Do Douro ao Mondego. De Afonso Magno a Almançor, ambos publicados em 2019.

Este livro que ora se publica vem assim dar uma importantíssima retoma ao que atrás se elencou. Dos 51 documentos transcritos, 47 são referentes a propriedades nos julgados de Gaia e de Vila Nova, terrenos localizados nos arredores do Castelo de Gaia, Coimbrões, Maravedi, Mafamude, Trancoso, Laborim e outros lugares na sua vizinhança, deixando adivinhar uma paisagem agrária, balizada pelo Monte Grande, sulcada por ribeiros e com várias fontes, semeada de casais e lugares, mas onde ainda havia maninhos de matos, tojais, devesas e salgueirais, além de agros, campos, gândaras, leiras, lavrados ou a romper para deles se colher o pão e o vinho, com searas de trigo e mesmo de milho, o cultivo do linho, a colheita de figos. As vinhas, os bacelos, são muitas vezes referidos e havia vários moinhos e azenhas. A pesca, certamente de rio e de mar, e a criação de gado e o comércio local, a construção naval e o comércio à distância estão igualmente presentes. Território percorrido por vários caminhos, carreiras e estradas, com estatutos diversos (defesas, publicas), mas já com algum urbanismo até institucional, pois aí se fala de um «Paço del Rey em Gaia» e um outro «que estaa a par de Coymbraaos», para além do castelo e do «celeyro de nosso senhor el rei», as igrejas paroquiais referidas pelos seus abades, mas também o lugar da forca e o dos gafos, a gafaria, num dos documentos é mesmo mencionado um monumento pré-histórico, a Mamoa de Cama em Coymbraos, um dos vários existentes nas imediações e que outros registos de várias épocas referem, mas que entretanto terão sido destruídos. Muitos destes documentos deixam perceber uma íntima relação entre pessoas e interesses em ambas as margens do Baixo Douro, entre Gaia, Vila Nova e a cidade do Porto.

Conheci o Professor Doutor José Marques na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e a partir de 1991 passamos a encontrar-nos na Universidade Portucalense Infante D. Henrique, onde lecionávamos como professores convidados. Perguntava-me sempre pelos meus projetos e pelas atividades do Gabinete e ouvia-os com atenção. E volta e meia falava sobre este trabalho. Não obstante a sua grande atividade de investigação e de docência de elevada exigência era um homem afável que convivia com colegas e antigos alunos sempre que a ocasião se proporcionava. Certa vez, vindos de Lisboa, encontramo-nos no comboio e a conversa só terminou, com pesar meu, quando tive de sair em Vila Nova de Gaia, continuando o Professor José Marques para a sua cidade de Braga. Explicada assim a razão da minha presença no contexto da edição deste livro pelo facto de o autor mo ter confiado para publicação e me ter pedido colaboração para o ajudar com a toponímia, os índices e outros dados sobre a Idade Média local, ao importante estudo e documentos que agora se publicam tomei a liberdade de acrescentar algumas palavras, lembrando-me que os estudos medievais foram a minha primeira opção como jovem historiador, mas sem grande sequência, como atrás referi, pelo que ainda hoje o território carece de uma boa síntese medieval. E é também por isso que esta obra se vai tornar de consulta imprescindível.

Meu Caro e saudoso Professor Doutor José Marques, ainda que canhestras, tome como homenagem estas linhas de um seu antigo aluno e admirador.

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador 

Palestras e Colóquios

No passado dia 28 de setembro, pelas18,30 horas no Solar Condes de Resende, na habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, J. A. Gonçalves Guimarães falou sobre os 40 anos passados desde «As Primeiras Jornadas de História Local e Regional em 1983 e o seu legado», que decorreram em novembro daquele ano em Vila Nova de Gaia organizadas pelo Gabinete de História e Arqueologia, fundado em 1982 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e depois acolhido como grupo de trabalho autárquico pela Câmara Municipal nesse mesmo ano. Esta realização, que reuniu então 98 participantes, dos quais 41 conferencistas, sendo 26 deles profissionais da História, da Arqueologia e da História da Arte, marcou a vida cultural do município até aos dias de hoje. O curso livre deste ano letivo no Solar procurará fazer um balanço destes 40 anos de evolução do conhecimento nestas áreas.

    No próximo dia 26 de outubro, também na habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês do Solar Condes de Resende promovidas pelos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, presenciais e por videoconferência, o Dr. João  Luís Fernandes, mestre em Historia da Arte, Património e Cultura Visual pela FLUP vai falar sobre «Doadores da Coleção Marciano Azuaga».

    No próximo sábado, dia 28 de outubro, decorre no Porto na Casa do Infante o Colóquio evocativo dos 900 anos do primeiro foral portuense “O Porto Medieval: do burgo do bispo à cidade dos mercadores”, coordenado por António Manuel Silva e Luís Carlos Amaral e organizado pela Divisão Municipal de Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Porto com a colaboração do CITCEM/ FLUP. Entretanto nesse mesmo dia decorre no Solar Condes de Resende a 2.ª sessão do 31.º curso livre (2022/2023) sobre o tema «40 anos depois: História Local e Regional» em que será conferencista a Professora Doutora Maria Assunção Araújo catedrática aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde lecionou diversas unidades curriculares, geralmente na área de Geografia Física e onde em 1991 defendeu uma tese de doutoramento intitulada «Evolução geomorfológica da plataforma litoral da região do Porto». Os seus interesses científicos englobam a Geomorfologia e o estudo do Quaternário, tendo uma especial predileção pelo estudo dos terraços marinhos e da sua possível afetação pela tetónica recente (neotetónica). Tem anda desenvolvido trabalhos sobre o património geomorfológico e também sobre as variações recentes do nível do mar.

Prémios

No passado dia 19 de outubro pelas 17h decorreu no Auditório III da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, no âmbito do V Congresso de História da Arte que ali decorreu entre os dias 18 a 20, a atribuição dos Prémios Associação Portuguesa de Historiadores da Arte (APHA)/ Millennium bcp José-Augusto França, que se destinam a distinguir anualmente a melhor dissertação de mestrado e a melhor tese de doutoramento em História da Arte. Na ocasião foram apresentados os dois trabalhos vencedores e publicados em formato de e-book.

Esta iniciativa teve como finalidade também homenagear José-Augusto França, Professor Catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa, historiador e crítico de arte, e um dos que mais contribuiram para a renovação e afirmação do campo disciplinar da História da Arte no nosso país e além-fronteiras, falecido em 18 de setembro de 2021.

         O prémio Melhor Dissertação de Mestrado 2020/2021 foi atribuído a João Luís da Mota Torres Fernandes, com o título «A procissão de Cinzas da Venerável Ordem Terceira de São Francisco doi Porto – da fundação da Ordem a 1905», apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O autor é o atual responsável pelo Solar Condes de Resende e sócio da Confraria Queirosiana. Link para descarregar o ebook: https: //aha.pt/archives/6558

José Vaz

            O escritor e historiador José Vaz foi oficialmente nomeado na Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha, como um dos candidatos ao prémio Astrid Lindgren Memorial Award 2024 (“Pipi das Meias Altas”), galardão sueco para a literatura infanto-juvenil. A decisão final do Conselho Sueco das Artes será anunciada a 9 de abril de 2024. Este autor gaiense é autor de muitos títulos nesta área da Literatura, mas também de obras de caráter historiográfico. Mas a sua obra prima é a novela Alzira, a Santa Suplente: Porto: Campo das Letras, 1999.

Livros

     No passado dia 14 de outubro, como acima se comenta no editorial, foi lançado no Solar Condes de Resende o livro Património Régio, nos Julgados de Gaia e Vila Nova, em 1346, da autoria do Professor Doutor José Marques. Editado pela ASCR-CQ, com índices e um pós-fácio de J. A. Gonçalves Guimarães a quem o autor confiou a edição antes de falecer a 29 de janeiro de 2021, a coletânea de documentos agora publicada é uma preciosa fonte para o estudo de Vila Nova de Gaia no tempo de D. Afonso IV e as suas relações com o vizinho concelho do Porto, referindo os proprietários, as atividades e a estratificação social de Gaia, Vila Nova, Coimbrões, Mafamude, Maravedi, Laborim, Trancoso e outros lugares antigos do município. O preço de capa é de 15€ podendo ser pedido por e-mail e pago por transferência bancária.

Mário Cláudio

No passado dia 6 de setembro na Casa das Artes no Porto e no dia 21 de outubro na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, foi apresentado o novo livro do escritor Mário Cláudio intitulado Teoria das Nuvens. O autor informou os seus leitores: «Continuo a pastorear de lugar em lugar as minhas "nuvens"».

Charters d’Azevedo


        No passado dia 28 de outubro, pelas 15 horas, no Celeiro da Casa do Terreiro (Fundação Caixa Agrícola) em Leiria, foi apresentado o novo livro de Ricardo Charters d’Azevedo intitulado Vozes sobre o Passado. Cronistas e Historiadores na Construção e Identidade de Leiria.

Convívios

         Chegam-nos ecos da participação de confrades queirosianos em vários convívios, a saber:

   No dia 9 de outubro o Dr. Ricardo Haddad presentemente em Portugal reuniu um grupo de seus familiares e amigos num restaurante em Matosinhos para degustarem um notável bacalhau de cura amarela, gentileza do dono do restaurante que o mandou preparar de acordo com as melhores normas da Gastronomia Portuguesa. De entre os qualificados vinhos presentes à mesa, a garrafeira do anfitrião brindou os comensais com um Madeira 1894 ainda na pujança de todas as suas excelsas qualidades.

   No dia 14 de outubro o Dr. António Pinto Bernardo reuniu um numeroso grupo de familiares e amigos no Palácio da Bolsa no Porto para lhe festejarem os seus oitenta anos, alguns dos quais atravessaram o Atlântico para lhe darem o seu abraço, nomeadamente os seus amigos e confrades de Alagoas, Brasil, mas também vindos de Barcelona, de Lisboa, de Baião e de outras longitudes e latitudes. A direção da Confraria Queirosiana esteve representada por vários membros da direção e corpos gerentes e muitos confrades.

        No dia 16 de outubro o bar do Solar Condes de Resende administrado pela Confraria Queirosiana viu reunirem-se ali num jantar diversos confrades que festejaram o aniversário da historiadora Maria de Fátima Teixeira que diligenciou não só um prato de tradicional bacalhau islandês de cura amarela, mas também um glorioso tacho de queirosianas favas, acompanhas por Vale Meão 2019, gentileza do seu criador Francisco de Olazabal, que foi um dos comensais, a que se juntaram Paula Carvalhal, Ricardo Haddad, José Manuel Tedim, Ilda Tedim, João Fernandes, Inês Vinagre, António Silva e Amélia Cabral. De recordação em recordação, de brinde em brinde, saudaram-se a aniversariante, os presentes, o ausente em Amsterdam confrade J. Rentes de Carvalho, os 20 anos da Confraria Queirosiana e os 40 anos das 1.as Jornadas de História Local e Regional de Vila Nova de Gaia organizadas em 1983 pelo Gabinete de História e Arqueologia, de que estavam também presentes dois dos fundadores, J. A. Gonçalves Guimarães e José António Martin Moreno Afonso.

         No dia 21 de outubro reuniram-se em convívio anual num restaurante do Porto os antigos alunos do Curso de História (variantes História, Arqueologia e História da Arte) finalistas em 1982 da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, entre os quais alguns confrades queirosianos dos corpos gerentes da ASCR-CQ e que através desta associação desenvolvem projetos nas áreas profissionais do Gabinete de História, Arqueologia e Património, como é o caso dos dois últimos historiadores acima nomeados.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 182, quarta-feira, 25 de outubro de 2023; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública); C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: João Fernandes