sábado, 25 de setembro de 2010

Eça & Outras

O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

Decorrem no presente ano de 2010, por imperativo do calendário e decisão política, as evocações do centenário da República, ocasião excelente para Portugal inteiro reflectir sobre o que se passou há cem anos, o regime que vigorou entre 1910 e 1926, o que se impôs até 1974, e finalmente o que temos tido desde aquela data até pouco depois de amanhã.

Não é possível inverter a marcha da História e muito menos julgar o passado ou aqueles que o fizeram ou viveram; mas é possível sobre tal fazer uma reflexão sem muitos preconceitos ideológicos, tentando saber mais sobre os acontecimentos, tanto quanto o exercício histórico o permite, sabendo-se de antemão que qualquer juízo sobre qualquer pessoa, sociedade ou regime político é sempre parcial, oscilando entre a glorificação e o denegrir, quando a vida não é a preto e branco.

Não sendo de todo possível a isenção ideológica completamente asséptica, mesmo assim, como historiador, entendi dar o meu pequeno contributo para esta reflexão no livro “Republicanos, monárquicos e outros: as vereações gaienses durante a 1.ª República (1910 – 1926)”, que a Confraria Queirosiana decidiu editar e por à disposição do publico ledor. Não me competindo a análise das suas eventuais qualidades e possíveis defeitos, direi que comecei por reanalisar o que Eça de Queirós pensava sobre a República, depois recordar o que têm sido as repúblicas, monarquias e outros regimes políticos ao longo dos tempos nas diversas latitudes, regressando em seguida a Vila Nova de Gaia, como caso em análise, e recordar o que foi a sua administração antes e depois de 5 de Outubro de 1910, geralmente muito pouco conhecida neste município monárquico, republicano, socialista e anarquista (estas últimas correntes como a terceira via que não vingou), descrevendo as vereações entre 1910 e 1926, formadas por homens concretos, entre os quais encontramos sábios como Maximiano Lemos, além de médicos, industriais, comerciantes e escritores hoje pouco lembrados, e outros nomes que se esfumaram no olvido da História, que também o pratica, e nem sempre justo.

Tudo isto enquadrado nos factos mais relevantes da época, a nível mundial, europeu e nacional, como a I Grande Guerra e a 1.ª Travessia Aérea Lisboa–Rio de Janeiro. O livro termina com uma síntese sobre o que ficou daqueles desgraçados tempos, pois a 1.ª República foi um monumental falhanço da classe média, absolutamente incapaz para dirigir com sucesso os destinos do país e não há como negá-lo ou escondê-lo. O facto de ter tido a servi-la homens e mulheres inteligentes, generosos e com visão de futuro, não invalida que muitos deles tivessem sido ingénuos, ou se tivessem deixado engolir pelos interesses em presença, ou se bandeassem com as correntes políticas dominantes, o que, só por si, não transformou a quimera política em bem estar social. Eça de Queirós escreveu em 1898 que «a única obra urgente do mundo – a casa para todos, o pão para todos» não tinha até então sido realizada quer pelas monarquias quer pelas repúblicas e tal continua a ser desgraçadamente verdade. O bem, ou o mal, não estará pois nos regimes políticos.

Nos últimos tempos temos assistido à publicação de muitos livros e textos sobre a 1.ª Republica, alguns ainda, estranhamente, sob a forma de Vivas! e Morras! o que é, no mínimo, absurdo. A maior parte deles volta a reescrever a história oficial já conhecida. Poucos são os que falam com desenvoltura e isenção sobre os assaltos às mercearias pelos que morriam de fome, os que açambarcavam bens alimentares e faziam candongas, negociatas e cambalachos em nome do “povo e dos interesses da Pátria”, os que fugiram ou se esconderam para não serem mobilizados para uma guerra entre ingleses, franceses e alemães em luta pela supremacia na Europa e no mundo, os que tiveram morte lenta e inglória nas colónias portuguesas de África, os perseguidos e agredidos por questões ideológicas ou confessionais, os que minaram as instituições públicas em detrimento dos interesses de seita ou corporação, os espoliados pelo “interesse público”, os que enriqueceram com a República enquanto o país se miseriabilizava a todos os níveis. Ainda não será neste centenário que se fará a História da 1.ª República, até porque são os netos e os bisnetos dos que a fizeram que estão hoje no poder. E família… é família. Mas podemos ir tentando aclarar as questões que estão por esclarecer.

Este livro é apenas uma pequena abordagem, que pretende ser concreta e factual, sobre os homens que no município de Vila Nova de Gaia estiveram à frente dos destinos colectivos num dado momento histórico. Conhecê-los, saber quem realmente eles eram, ajudará a compreender o que ficou e o que não ficou para o futuro que é hoje o nosso quotidiano.

É literariamente interessante o dito de que a República se espalhou pelo país através do telégrafo; mas convém que procuremos saber quem eram os telegrafistas em cada estação. Para não se repetir sempre a mesma coisa até ao próximo centenário.

Desculpem esta auto-apresentação de um livro que eu próprio escrevi. Podia ter pedido a um amigo para o fazer, mas prefiro antes que o comentem e critiquem depois de o lerem.

Eça de Queirós tinha sérias reservas sobre a República. Infelizmente, e como quase sempre, a História confirmou as suas preocupações.
J. A. Gonçalves Guimarães
historiador
SALON D’AUTOMNE 2010

Hoje, pelas 17,30 horas decorrerá no Solar Condes de Resende a abertura da 5.ª edição do Salon d’Automne queirosiano 2010 o qual reúne obras de artistas profissionais e amadores que são sócios dos ASCR – Confraria Queirosiana, nomeadamente Alexandre Rufo, Amélia Traça, António Pinto, António Rua, Ariosto Madureira, Carolina Calheiros Lobo, Fernando Coimbra, Glória Nunes, Ilda Gomes, Rosalina Pinto, Rosário Sousa, Rui Soares, Simões Duarte e Valença Cabral, alguns dos quais expõem pela primeira vez e outros são já consagrados, mostrando estes assim um gesto de camaradagem para com os
praticantes iniciados e amadores, alguns dos quais alunos do curso livre de Pintura do Solar.

Depois da inauguração decorrerá no Solar um jantar de confraternização entre os artistas participantes. Como habitualmente, foi editado um artístico catálogo organizado por Fátima Teixeira, com o patrocínio da Gaianima e prefácio de Mário Dorminsky, vereador da Cultura da Câmara de Gaia.

SOCIEDADE EÇA DE QUEIRÓS DO RIO DE JANEIRO

Pela mão amiga e sempre presente de Dagoberto Carvalho J.or chegou-nos do “lado di lá” a brochura de Luiz de Castro Souza intitulada “Evolução da Sociedade Eça de Queiroz: 1997-2009” recentemente editada e que descreve a vida e actividade desta sociedade irmã, que realiza encontros mensais na Sala Miami do Hotel Flórida no Rio de Janeiro, e que sucedeu a um efémero Clube do Eça fundado em 1955.

Nestes encontros, após o almoço de confraternização, é sempre proferida uma palestra sobre um tema eciano, nomeadamente a evocação do escritor no país irmão e os estudos aí realizados sobre a biografia de amigos de Eça e o apreço pelas suas obras. A própria Sociedade edita estas palestras e possui uma notável galeria de retratos e caricaturas do nosso patrono comum.

A Confraria Queirosiana, que tem como propósito estatutário manter ligação com todas as sociedades queirosianas existentes no mundo, já iniciou os seus contactos com a Sociedade Eça de Queiroz do Rio de Janeiro.

MÚMIAS EGÍPCIAS

As três múmias egípcias da colecção do Museu Nacional de Arqueologia estão a estudadas ser pela primeira vez por uma equipa pluridisciplinar que reúne vários especialistas, entre eles Luís Raposo, Carlos Prates, Álvaro Figueiredo e Luís Manuel de Araújo, este último egiptólogo e vice-presidente da direcção da Confraria Queirosiana.

O Lisbon Mummy Project tem o apoio de Imagens Médicas Associadas (IMI), da Siemens e do Universsity College de Londres, sendo coordenado por Luís Raposo director do Museu Nacional de Arqueologia, o tal museu que querem pôr nos barracões da Cordoaria na margem do Tejo…

Os exames realizados permitirão o estudo integral das três múmias por processos não destrutivos. Entretanto, no passado mês de Agosto, aquele egiptólogo guiou mais uma vez uma admirável visita ao Egipto, desta feita para aos alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No próximo ano, a convite da Comissão do Centenário da Universidade do Porto, irá publicar o estudo da colecção egípcia desta universidade.
VINHAS E VINHOS EM CONGRESSO
Entre 13 e 16 de Outubro próximo decorrerá em Peso da Régua, Viseu, Mangualde, Porto, Ponte de Lima e Viana do Castelo um 1º Congresso Internacional sobre este tema organizado pela Associação Portuguesa de História da Vinha e do Vinho/GEHVID, o qual contará com a presença de especialistas estrangeiros e nacionais de renome.

A Confraria Queirosiana estará presente através do seu mesário-mor na Comissão Organizadora e com uma comunicação que apresentará em colaboração com Susana Guimarães intitulada “Vinho do Douro na Casa dos Condes de Resende”. Para além das sessões científicas o Congresso visitará alguns dos mais emblemáticos sítios vitivinícolas das regiões dos Vinhos Verdes, Dão e Douro.

EXPO 1940 REVISITADA
Acaba de ser reeditado o romance breve de Mário Claudio “Tocata para dois Clarins” pela D. Quixote, um misto de recriação literária sobre um acontecimento real narrado por quem o viu e viveu, no caso os pais do escritor, decorrendo a acção entre 1936 e 1941, o ano do nascimento do escritor.

A “Exposição do Mundo Português” foi uma gigantesca operação de propaganda do regime de Salazar que marcou durante as décadas de quarenta e cinquenta a Cultura, a Arte, o Cinema, a História, a Literatura e outros aspectos da vida portuguesa assentes sobre os arquétipos de “Deus-Pátria-Família” e do Império Português.

Nesta exposição participaram “todos” os artistas portugueses que António Ferro queria anjos estetas para além da teoria e da ideologia. Mas nem mesmo todas as obras da exposição resistiram ao desmontar da feira: quem se lembrará hoje do gigantesco mural em relevo de Raul Xavier a evocar Aljubarrota? Para que servirão os trajos e adereços de opereta do “cortejo histórico” que jaziam meios podres ainda nos finais dos anos oitenta num barracão da Câmara Municipal de Lisboa e que hoje não sei se lá continuam, mais podres e mais inúteis, por certo.

Sem as peias do historiador e com o muito da sua escrita pessoal, Mário Cláudio leva-nos assim de visita ao maior acontecimento efémero português do século XX.

A MORTE DO BARÃO

Prosseguindo na sua azáfama de trazer do olvido à luz actual algumas figuras, factos e locais de Leiria e da região estremenha, no passado dia 18 de Setembro foi apresentada a obra de Ricardo Charters d’Azevedo, “A Morte do Barão de Porto de Mós” na terra que lhe deu título.

Conselheiro do Tribunal de Contas e político de relevo na época de D. Maria II, viria a ser assassinado em Setembro de 1867 perto da Nazaré.

A apresentação da obra esteve a cargo do Prof. Guilherme de Oliveira Martins, actual presidente do Tribunal de Contas e ele próprio biógrafo de figuras oitocentistas.
PRÉMIO MARIA ALBERTA MENÉRES
Maria Alberta Menéres nasceu em 1930 em Vila Nova de Gaia, tendo-se licenciado em Ciências Histórico Filosóficas. Além de professora, chefiou o departamento de programas infantis e juvenis da RTP e tem inúmeras obras publicadas no âmbito da poesia, da antologia e da literatura infanto-juvenil. É mãe da cantora Eugénia Melo e Castro.

O Município de Gaia, através do pelouro da Cultura da Biblioteca Municipal e da Gaianima, EEM criou um prémio com o seu nome para a modalidade de Conto Ilustrado. O regulamento pode ser visto em www.bmgaia.gaianima.pt.

TOMAR CAFÉ OU NÃO COM…

Sim, gostaria de tomar café com: Manuel Maria Carrilho, se possível em Ervamoira; Nuno Cardoso Santos, pelo seu prémio em Astrofísica; Kurt Westergaard porque o humor é divino e a cólera é satânica; Luís de Matos por ser um verdadeiro mágico; Cesária Évora, a maior fadista crioula.

Não, não quero ir tomar café com Carla Bruni, que não foi eleita por ninguém.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 25 – Sábado, 25 de Setembro de 2010
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154; email:queirosiana@gmail.com;
 confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;
colaboração: Dagoberto Carvalho J.or.