domingo, 25 de dezembro de 2022

Eça & Outras

Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil

Missão comprida…

         No passado dia 31 de outubro terminou a minha carreira de funcionário público em serviço na Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia que exerci desde 1 de setembro de 1983 e desde 1987 como responsável pelo Solar Condes de Resende, aberto ao público a 22 de setembro desse ano para as áreas da História, Arqueologia, Antropologia Cultural e Património, além da história da Casa e da sua íntima ligação à vida e obra de Eça de Queirós. Não vou aqui fazer um balanço destes quase quarenta anos de atividade profissional, pois não é a hora nem o local para tal. O meu curriculum académico e profissional está disponível e creio que lá consta tudo o que importa saber.

Nesta circunstância em primeiro lugar um agradecimento a todos aqueles que têm trabalhado comigo e acreditado nos projetos em que colaborei, implementei ou desenvolvi e que para eles contribuíram com dedicação. Os êxitos foram também dessa equipa pequena, oscilante, mas com persistências abnegadas. Os falhanços, os fracassos, na parte que me cabe, foram da minha inteira responsabilidade.

O meu trajeto como historiador foi uma escolha consciente e assumida. Mas logo na faculdade dei conta da falta de consciência profissional que existia no sector e, ainda como aluno, procurei equacionar as possibilidades do exercício da História também a nível local. Tendo começado por estudar o que havia publicado sobre a minha terra de nascimento, rapidamente conclui que nunca tinha existido aí qualquer exercício de historiografia profissional. As publicações sobre o tema tinham sido escritas por memorialistas com outras profissões que se limitavam à repetição do já sabido sem qualquer aparato crítico. Sabia, pois, o que me esperava.

Tendo sido em 1982, ainda na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, um dos fundadores do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, tudo começou com a publicação do livro O Foral de Gaia de 1255, que escrevi em co-autoria com José Moreno Afonso e Raul Solla Prata, que antecedeu a minha entrada para os serviços da câmara, a qual coincidiu com a assunção por parte da autarquia daquele Gabinete como grupo de trabalho autárquico para a organização das 1.as Jornadas de História Local e Regional em novembro de 1983, a que se seguiram outras ações no âmbito das comemorações dos 150 anos da restauração do município no ano seguinte, até ao 1.º Congresso Internacional sobre o Rio Douro (1986), a organização das 1.as Jornadas de Antropologia Cultural (1987) e outros eventos que ficaram registados em muitas publicações ainda hoje consultadas. Estando os historiadores e arqueólogos gaienses organizados em volta daquele grupo, havia que revelar os que localmente exerciam atividades nas Artes Plásticas, e daí nasceu a Cooperativa Artistas de Gaia então dirigida pelo escultor e professor Jaime Azinheira; os literatos e estudiosos da Literatura, que deram origem à criação de uma efémera Associação de Escritores de Gaia, e também dos que praticavam a arte dos sons.

Já com o serviço instalado no Solar Condes de Resende, adquirido pela autarquia em 1984, mas a precisar de grandes obras de adaptação, aí se realizaram em 1988 as sessões do Congresso Internacional sobre Bartolomeu Dias e a sua Época e em 1990 as do IV Encontro Luso-soviético de Historiadores, ambos em colaboração com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tendo, entretanto, iniciado, em horário pós-laboral, a minha atividade docente na Universidade Portucalense Infante D. Henrique em 1991, também no Solar implementei os cursos livres que até hoje contam já com trinta edições. Nesse mesmo ano saiu a público o Roteiro Camiliano de Vila Nova de Gaia, depois complementado com o Garrettiano (1999) e o Queirosiano (2000). Em 1992 publico o estudo sobre o Núcleo de Cerâmica Esmaltada Peninsular da Baixa Idade Média e em 1993 abre ao público o Núcleo Museológico de Arqueologia durante o 1.º Congresso de Arqueologia Peninsular, enquanto ia selecionando alguns dos meus melhores e capazes alunos para estudarem alguns outros núcleos museológicos aí depositados, como o de Armas de Fogo (Mário Peneda, 1994), Cerâmica Popular (Carla Pinto, 1995), ou dando-os a conhecer para esse fim a especialistas, como o Núcleo Egípcio ao egiptólogo Luís Manuel de Araújo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1994), o Núcleo da Amazónia ao arqueólogo Sérgio Pereira (1995), o Núcleo Chinês a Ana Maria Amaro do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas de Lisboa (2010) a que outros se seguiram até à atualidade, prática essa de que resultou a edição de vários livros e dezenas de artigos científicos. Em 1995 tiveram início as comemorações anuais do aniversário de Eça de Queirós que ainda hoje se realizam. Continuava então o trabalho de investigação e divulgação da História Local e a sua relação com o mundo, o apoio a escavações arqueológicas, como as realizadas no Castelo de Gaia ou no Castelo de Crestuma, e a continuação do levantamento do Património gaiense. Em 1996 o Solar secretariou o 2.º Congresso Internacional Sobre o Rio Douro e organizou uma mesa redonda sobre a Idade do Ferro na Europa. No ano 2000 recebe umas jornadas sobre Cabo Verde e em 2002 acolhe uma exposição de Papeis Recortados Chineses e mais tarde uma outra de Instrumentos Musicais Tradicionais Chineses, enquanto Susana Guimarães fazia a história da Casa a partir do Arquivo Condes de Resende aí depositado, que em 2005 apresentaria como dissertação de mestrado na FLUP (A Quinta da Costa…, 2006).

Em finais de 2002 é criada a associação dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana que passou também a divulgar as atividades e serviços do Solar, bem assim como novas abordagens da vida e obra de Eça de Queirós e da “Geração de 70” em todo o Portugal e Brasil e a concretizar aí diversos projetos e programas, como o dos investigadores-tarefeiros que, entre outros textos publicados na Revista de Portugal ou noutros títulos, escreveram os livros A Companhia de Fiação de Crestuma… (Maria de Fátima Teixeira, 2017); Cultura e lazer. Operários em Gaia… (1893-1914) por Licínio Santos, idem, e Eça de Queirós e o Caminho-de-Ferro (Joana Almeida Ribeiro, 2019), e outros que aguardam publicação. Tendo vindo a receber alguns espólios culturais, como o do escritor J. Rentes de Carvalho em 2011 e a queirosiana de Charters d’Azevedo em 2016, entre outros que vieram enriquecer as coleções depositadas no Solar, a Confraria tem colaborado na realização dos cursos do Solar e na sua certificação oficial, enquanto o seu capítulo anual se transformou na festa de afirmação pública da instituição.

Tendo ao longo destes anos colaborado com peças do seu espólio em exposições nacionais e internacionais, em tempos mais recentes o Solar esteve presente na exposição europeia In Tempore Sueborum em Ourense, Galiza (2017) e tem colaborado com aquela associação na concretização dos volumes do Património Cultural de Gaia, cuja coordenação geral é da minha responsabilidade.

Como escreveu Eça de Queirós, patrono do Solar Condes de Resende onde tem uma estátua, «O homem é um resultado, uma conclusão e um produto de circunstâncias que o envolvem – circunstâncias de clima, de alimentação, de ocupações, de religião, de política, de arte, de cultura» (colaboração no Distrito de Évora – III. Cartas Inéditas a Fradique Mendes). Certamente que o meu trabalho no Solar foi uma importante etapa na minha vida profissional, comprida de quase quatro décadas, e também certamente no futuro, agora como simples cidadão, como sócio da sua associação de Amigos e como o profissional da História que continuarei a ser. 

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção da ASCR-CQ

Falecimento

Doutora Susana Moncóvio

No passado dia 13 de dezembro faleceu a nossa Cara Colega, membro da direção da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, Susana Maria Simões Moncóvio. A ilustre finada era Doutora em História da Arte Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde em 2014 apresentou a tese «O Centro Artístico Portuense (1880-1893). Socialização do ensino da História e da Arte moderna no Portugal de oitocentos», tendo publicado muitos outros ensaios sobre História da Arte e dedicado também o seu labor ao estudo e divulgação da vida e obra de Eça de Queirós, seus familiares e contemporâneos, deixando-nos vários artigos sobre estas matérias na Revista de Portugal e em outros títulos da imprensa académica.

Atividades da Confraria



No passado dia 3 de dezembro, sábado, pelas 21,30 horas, o grupo cantante da Confraria Queirosiana, os “Eça Bem Dito”, atuou numa conferência-concerto de homenagem à memória de Adriano Correia de Oliveira que decorreu no Centro Recreativo de Mafamude em Vila Nova de Gaia. Tendo na ocasião o historiador J. A. Gonçalves Guimarães feito uma abordagem às origens e evoluções da canção coimbrã em Vila Nova de Gaia, sob a direção da pianista Maia João Ventura o grupo composto por Fátima Faria, Cristiana Borges, José Bordelo, Valença Cabral e o conferencista interpretou fados e canções académicas dos finais do século XIX e princípios de XX, nomeadamente a célebre «Samaritana» da autoria do ator e melodista gaiense Álvaro Cabral. Neste programa tiveram a boa companhia do grupo “Musicanto” do Centro Recreativo de Mafamude.

Jantar de Natal

         No passado dia 13 de dezembro decorreu no bar do Solar Condes de Resende o habitual Jantar de Natal dos corpos gerentes da ASCR – Confraria Queirosiana e dos funcionários do Solar Condes de Resende, a que esteve presente a vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal. Para além dos votos próprios da época, usaram da palavra o presidente da direção, José Manuel Tedim, o secretário da direção e ex-responsável pelo Solar, J. A. Gonçalves Guimarães, o atual responsável João Fernandes e a vereadora Paula Carvalhal, tendo todos salientado a excelente colaboração entre ambas as instituições e augurando a continuidade dessa boa relação nos projetos futuros.

Projeto de investigadores-tarefeiros

Na reunião da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia de 19 de dezembro foi renovada a dotação financeira para a continuação do projeto dos investigadores-tarefeiros no Solar Condes de Resende sob a responsabilidade do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-Confraria Queirosiana. Tendo tido início em 2005, desde então e ao longo destes anos, a ASCR-CQ selecionou licenciados em História, História da Arte, Arqueologia e Património desempregados, ou que não tinham emprego fixo a tempo inteiro, com o objetivo de manterem o Solar aberto ao público fora das horas habituais de serviço à semana e também aos sábados, domingos, feriados e dias de tolerância de ponto dos funcionários da autarquia. Nesse horário, para além de manterem o Solar aberto, incluindo o acesso aos jardins e às hortas cultivadas pelos seus comodatários, aqueles investigadores dão informações aos munícipes e grupos de visitantes sobre o Património Cultural de Gaia, anotam os seus pedidos de informações, fazem visitas guiadas e dedicam-se à investigação sobre diversos temas na sua área profissional, produzindo estudos apresentados em público e publicados em diversos títulos da imprensa académica e outra, participando ainda ativamente em diversos acontecimentos culturais locais, regionais e mesmo nacionais e internacionais com os resultados das suas investigações. O trabalho de direção do projeto e da sua rentabilização é feito graciosamente e de forma voluntária pelo membro da direção que o criou. Nos cerca de 17 anos de funcionamento que este projeto já tem, produziu resultados que estão em permanente consulta e que com certeza perdurarão nos anais da Cultura do município. 

Curso no Solar

         Prosseguirá no próximo ano no Solar Condes de Resende o curso livre, presencial e por videoconferência «O Brasil duzentos anos depois», organizado pela Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ), certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente (Ministério da Educação) e com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia (Solar Condes de Resende). Durante o mês de janeiro de 2023 estão agendadas as seguintes sessões: sábado 07 - «A Corte Portuguesa no Brasil» pelo Prof. Doutor José António Oliveira; sábado 21 - «D. Pedro Príncipe, Imperador e Rei» pelo Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva; sábado 28 - «A escravatura africana e o Brasil» pelo Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães. Para frequentar este curso é necessária inscrição prévia respetivo pagamento.

Livros


Na Biblioteca Passos Manuel do Palácio de São Bento (Assembleia da República) decorreu no passado dia 15 de novembro o lançamento do livro A Revolução de 1820. Leituras e Impactos, as Atas do Congresso Internacional do Bicentenário da Revolução de 1820 que decorreu em Lisboa entre 11 e 13 de outubro de 2021 na Assembleia da República e na Fundação Calouste Gulbenkian. O volume foi organizado por Miriam Halpern Pereira, Ana Cristina Araújo, Daniel Alves, Jorge Fernandes Alves, José Luís Cardoso, Maria Alexandra Lousada e Zília Osório de Castro e é uma edição conjunta da Assembleia da República e da Imprensa de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, tendo sido apresentado por Isabel Corrêa da Silva e Pedro Tavares de Almeida, sendo também uma edição comemorativa do bicentenário do Constitucionalismo Português. Entre os vários textos aí publicados contam-se os dos investigadores J. A. Gonçalves Guimarães sobre «Os negociantes da praça do Porto e a Revolução de 1820», p. 429-443. O livro, com 844 páginas e a participação de mais de cinquenta autores de vários países, abre com textos alusivos ao evento de Eduardo Ferro Rodrigues, à data presidente da Assembleia da República; Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian; Miriam Alpern Pereira, presidente da comissão organizadora do Congresso; e de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa.


Neste ano em que se celebram os 450 anos da 1.ª impressão de Os Lusíadas de Luís de Camões, a efeméride é um bom pretexto para a releitura da obra-mãe das Letras pátrias, como tem grandes hipóteses de voltar a suscitar alguma curiosidade sobre o autor e a génese da sua obra, o seu ordenamento e significantes, as emulações, e até as desencontradas interpretações e críticas ao longo dos tempos. Ricardo Charters d’ Azevedo, na sua incansável “cruzada” de divulgação das gentes e fastos leirienses, através da editora Hora de Ler, colocou à disposição dos interessados uma edição fac-similada da obra Análise dos Lusíadas de Luís de Camões do «filósofo, humanista e latinista» Jerónimo Soares Barbosa, que teve primeira edição pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 1859. Uma revisitação oitocentista da obra maior de Camões.

Palestras, Colóquios e Congressos

Escola do Palheirinho, Avintes

         Entre 4 de novembro e 6 de dezembro decorreram em Avintes as comemorações dos 125 anos da fundação da Escola do Palheirinho celebrados na Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior. Foram palestrantes no Fórum «O Ensino e a Escola do Palheirinho», entre outros, os historiadores, Abel Barros, António Conde e Paulo Costa. Ente outras iniciativas, a efeméride ficou ainda assinalada com a emissão de um selo postal.

Estudos Museológicos

Nos passados dias 24 e 25 de novembro decorreu na Universidade de Évora o VI Fórum Ibérico de Estudos Museológicos, subordinado ao tema «Novas Perspetivas de Investigação», organizado desde 2017 pelo CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de História, Cultura e Sociedades da Universidade de Évora e o IHA – Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Entre os muitos investigadores presentes, a Confraria Queirosiana e a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia estiveram representadas pelo Dr. João Luís Fernandes do Solar Condes de Resende que apresentou a comunicação «Coleção Marciano Azuaga – Gaia e Porto na segunda metade do século XIX e primeira década do século XX», uma análise do enquadramento social, familiar, cultural, geográfico e intelectual do colecionador, procurando explicitar de que forma essa mesma tessitura social propiciou o surgimento da coleção e a sua preponderância no contexto da sociedade mais ilustrada e socialmente empenhada dos finais do século XIX e inícios do seguinte em Vila Nova de Gaia e Porto.


No dia 7 de dezembro em Ponte de Lima decorreram no Auditório Municipal as 1.as Jornadas «Pela Rota do Loureiro. Vinho, Turismo, Economia, História e Património» organizadas pela Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/ GEHVID), sob a direção do Prof. Doutor António Barros Cardoso, e patrocinadas pela câmara municipal, onde estiveram presentes investigadores de diversos centros de investigação de várias universidades e institutos. Representando o Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) esteve presente J. A. Gonçalves Guimarães que apresentou a comunicação «O culto de São Gonçalo no Alto Minho. Vinho na cultura popular».

História e Folclore

         No próximo dia 26 de dezembro, segunda-feira, pelas 21,15, na sede da coletividade, o historiador Dr. Henrique Guedes fará uma conferência sobre o «Rancho Regional de Gulpilhares: o Folclore ao Encontro da História» integrada nas comemorações do 86.º aniversário da coletividade.

Os santos de nome Gonçalo

         Tendo em conta que a 15 de janeiro próximo ocorre em Vila Nova de Gaia a interessante romaria a São Gonçalo e que J. A. Gonçalves Guimarães fez recentemente uma conferência em Torres Vedras sobre São Gonçalo de Lagos, o padroeiro local, no próximo dia 29 de dezembro, entre as 18,30 e as 19,30 a partir do Solar Condes de Resende, presencialmente e por videoconferência, na rubrica “palestras das últimas quintas-feiras do mês” aquele investigador vai repetir a palestra «O culto popular aos santos de nome Gonçalo em Portugal e Brasil. Uma abordagem histórica, arqueológica e antropológica», com especial incidência na romaria gaiense. A participação não tem custos para os interessados.

Prémios

Prémio Apha/ Millenium José-Augusto França

A APHA – Associação Portuguesa de Historiadores da Arte atribuiu recentemente o prémio APHA/Millennium José-Augusto França 2020/21 que distingue a melhor dissertação e tese de mestrado ou doutoramento do ano no âmbito da História da Arte, tendo concorrido diversos trabalhos de várias universidades portuguesas. O júri foi constituído por Pedro Flor (Presidente da Associação Portuguesa de Historiadores da Arte – Universidade Aberta), António Filipe Pimentel (Museu Calouste Gulbenkian), Begoña Alonso Ruiz (Presidente do Comité Español de Historia del Arte (CEHA), Helena Mantas (Santa Casa da Misericórdia), Maria Teresa Desterro (Instituto Politécnico de Tomar). O prémio foi atribuído a João Luís Fernandes, mestre em História da Arte, Património e Cultura Visual (2020) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, atual responsável pelo Solar Condes de Resende e sócio da ASCR-Confraria Queirosiana.

Intitulada A Procissão de Cinzas da Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Porto: da fundação da Ordem a 1905, a dissertação foi desenvolvida sob a orientação da Prof.ª Doutora Ana Cristina Sousa e do Prof. Doutor Hugo Barreira, aborda a diacronia daquela manifestação em contraponto com o contexto social, religioso e artístico da cidade do Porto, utilizando como fontes principais documentação inédita do Arquivo Histórico daquela instituição.

Prémio Melhor Docente

         A 30 de novembro passado, a Porto Business School, a Escola de Negócios da Universidade do Porto para o ensino pós-graduado e formação avançada em Gestão sediada na Senhora da Hora, Matosinhos, na sua 12.ª edição desta distinção, atribuiu o Prémio Melhor Docente da Pós-Graduação em Marketing Management ao Prof. Doutor Carlos Brito.

Tomada de posse

         No passado dia 20 de dezembro, na sede da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia, tomaram posse os recentemente eleitos Órgãos Sociais desta instituição, que têm como presidente da direção o Dr. Manuel Moreira, membro dos corpos gerentes da ASCR-CQ, e como vogal, entre outros, o Prof. Doutor Salvador Almeida, presidente da direção da Associação Cultural Amigos de Gaia e sócio da ASCRCQ.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 172, domingo, 25 de dezembro de 2022; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154;  email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: João Luís Fernandes

 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Eça & Outras

Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil 

Capítulo da Confraria Queirosiana

XX Capítulo – novos confrades e respetivos padrinhos

            No passado dia 19 de novembro, sábado anterior ao dia de aniversário de Eça de Queirós que ocorre a 25 de novembro, como vem acontecendo desde 2003, e com uma boa aberta neste tempo chuvoso, decorreu no Solar Condes de Resende em Vila Noa de Gaia o XX.º capítulo anual da Confraria Queirosiana com um programa aparentemente sempre igual, mas sempre imprevisto. Desde o auge da pandemia, ou seja, nestes dois últimos anos, a festa passou a decorrer a partir das onze da manhã e não à noite, e parece que esta opção está para ficar. Logo pela manhã os confrades queirosianos e de outras confrarias foram chegando de várias partes do País até que se lhes juntou a numerosa delegação brasileira em representação da Academia Alagoana de Letras, vinda de Maceió, Alagoas. Também presentes a Associação de Amigos Portugal-Egito; a Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/ GEHVID); várias outras confrarias e outras instituições que enquadraram o desfile dos novos confrades até ao salão nobre da casa onde decorreu a sessão. A mesa foi composta pelos confrades José Manuel Tedim, presidente da direção, César Oliveira, da assembleia geral e Gonçalves Guimarães, secretário da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, ladeados pela Engª Paula Carvalhal, vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e pelo Dr. João Fernandes em representação do Solar Condes de Resende.

         Logo no início, e depois durante o programa, atuou o Ensemble Per Soprare da Escola de Música de Perosinho, dirigido pela professora Bruna Carvalho, que interpretou composições de Joe Wolf. José Manuel Tedim começou por saudar os presentes e apresentou uma curta resenha das principais atividades da confraria incluindo as suas edições durante o presente ano; César Oliveira saudou as instituições presentes e Gonçalves Guimarães referiu-se aos confrades distinguidos nas áreas da Cultura, das Letras, das Artes e das Ciências, bem assim como às muitas obras por eles publicadas. Referiu-se também ao facto de este capítulo ser o evento de abertura das comemorações do Centenário do Marquês de Soveral (1851-1922), um dos “Vencidos da Vida” e “chefe” e companheiro de Eça de Queirós que se comemorará ao longo de 2023.

         Seguiu-se uma intervenção do presidente da Academia Alagoana de Letras que aludiu às relações entre ambas as instituições nomeadamente através das suas publicações que divulgam textos dos seus associados e também, este ano, nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil e no Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa-Rio de Janeiro. Procedeu depois à entrega dos diplomas que distinguiram José Manuel Tedim, Gonçalves Guimarães e António Pinto Bernardo como sócios correspondentes daquela academia brasileira.

         Momento alto foi também a apresentação do número 19 desta nova série da Revista de Portugal, pelo seu diretor, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo, tendo sido referida a colaboração de cada autor, alguns dos quais presentes na sala, bem assim como a alusão às visitas ao Egito e outros países do Médio Oriente que tem vindo a orientar, na tradição da viagem que Eça de Queirós e o Conde de Resende realizaram em 1869 àquelas paragens.

         Seguidamente foram aceites como novos confrades de número o escritor e advogado Dr. Arnaldo Pais Filho, de Alagoas, grão louvado; Dr. Fernando António Maciel, advogado e professor universitário, grau leitor e ambos de Alagoas; e o economista Dr. João Oliveira e Costa da Póvoa de Varzim, grau leitor, tendo todos como padrinho o Dr. António Pinto Bernardo da direção da Confraria Queirosiana. Como confrade de honra foi investido o engenheiro Patrocínio Azevedo, atualmente vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, que para além da profissão de engenheiro civil e da atividade política tem-se empenhado em diversas ações em prol do movimento associativo e da solidariedade social, que teve como padrinho César Oliveira. Após o juramento dos novos confrades, repetido em uníssono por todos os presentes, Patrocínio Azevedo proferiu um breve discurso em nome dos insigniados sobre o significado e simbolismo do ato em que acabava de participar e a importância da Confraria Queirosiana no contexto cultural do município gaiense. A sessão encerrou com as palavras da vereadora do Pelouro da Cultura sobre a importância da confraria na programação desenvolvida a partir do Solar Condes de Resende, nomeadamente os seus cursos livres, aludindo ainda ao seu trabalho cultural e social no âmbito gaiense, mas também nacional e internacional.

         Terminada a sessão os novos confrades, seguidos de todos os demais, dirigiram-se ao jardim das camélias onde depuseram uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós e tiraram as fotos memorativas deste acontecimento.

         Seguiu-se o almoço no pavilhão do solar no qual estavam inscritos cerca de noventa comensais que tiveram ocasião de cantar com os “Eça Bem Dito”, o grupo cantante da confraria, canções do período liberal, nomeadamente o Hino D. Pedro IV, bem assim como diversas melodias portuguesas e brasileiras da Belle Époque que foram de especial agrado da delegação brasileira. Seguiu-se a exibição do Grupo de Danças Andinas do Centro Recreativo de Mafamude, completando assim com agrado o caráter internacionalista desta festa queirosiana.

         Esta associação, fundada em dezembro de 2002 e legalizada no ano seguinte, tem vindo a trabalhar e a crescer ao longo dos anos, mas não esquece nunca as palavras e ensinamentos do seu patrono: «Mas a verdade é que numa época tão intelectual, tão crítica, tão científica como a nossa, não se ganha a admiração universal, ou seja, nação ou indivíduo, só com ter propósito nas ruas e pagar lealmente ao padeiro. São qualidades excelentes, mas insuficientes. Requer-se mais: requer-se a forte cultura, a fecunda elevação de espírito, a fina educação do gosto, a base científica, a altura de ideal… que são, na ordem social, a realização de formas superiores de pensamento». (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas, «Brasil e Portugal»)

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção

Livros e Revistas

Pela mão do seu presidente e coordenador, Alberto Rostand Lanverly, chegou-nos o Livro da Academia Alagoana de Letras, edição n.º 26, de Abril deste ano de 2022, com edição de Jorge Tenório, a qual, entre muitos outros artigos, apresenta: de Alberto Rostand Lanverly, «Felicidade é a conquista do sucesso interior»; de Arnaldo Paiva Filho, os poemas «Meteoro», «Momento», «Rota Infinita», «Jardim», «Flor de Gelo», «Tentação» e «Busca»; de Carlos Méro, «A Recompensa»; de J. A. Gonçalves Guimarães, «Domingos Carvalho da Silva: poeta nascido português, viveu e morreu brasileiro»; de Manuel de Novaes Cabral, «Dos estreitos limites do internato, fui salvo pelo mar – O P.e Luís Cabral e Jorge Amado»; de Maria Teresa Girão Osório, o poema «O espelho e a pele». Pelo segundo ano consecutivo que apresenta colaboração de confrades da Confraria Queirosiana. 

Livro da Fábrica das Naus

         No passado dia 4 de novembro na Alfandega Régia de Vila do Conde/ Museu da Construção Naval, com o espaço disponível completamente cheio, decorreu a sessão de apresentação do volume IV da Obra Completa de Fernando Oliveira, o Livro da Fábrica das Naus, apresentado pelo administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Prof. Doutor Guilherme de Oliveira Martins, que na ocasião salientou a excecionalidade da obra deste humanista português do século XVI. Para além das entidades autárquicas estiveram também presentes os diversos especialistas que têm trabalhado nesta edição. A Confraria Queirosiana esteve representada pelo coordenador do seu Gabinete de História, Arqueologia e Património.

         Alberto Silva Fernandes, como autor, co-autor e coordenador, também na qualidade de presidente da Associação dos Amigos de Pereiros, São João da Pesqueira, tem publicado uma já notável série de livros e opúsculos sobre “a sua” aldeia de Pereiros que a dão a conhecer em todos os seus aspetos. Lançou agora, com o apoio de diversas entidades, entre elas a Confraria Queirosiana, o livro Estórias e Lendas da História de Pereiros, S. João da Pesqueira, coletânea de saborosas narrativas sobre aspetos relevantes aí existentes, como os seus majestoso sobreiros e a sua utilidade (p. 44-46), o incontornável “Ernestus – Cozinha Regional” da D. Lídia, e entre estes “monumentos” muitas estórias entre o picaresco e o noticioso de uma cada vez mais pequena comunidade que teima em permanecer bem e prolongar-se no futuro.

Cursos Colóquios e Palestras

Mosteiro de Moreira da Maia        

         No passado dia 16 de novembro decorreu na Igreja do Divino Salvador em Moreira da Maia o Colóquio sobre os 400 anos do atual edifício do Mosteiro de Moreira, sob o tema “Monges, Mosteiros e Territórios” organizado pela Junta de Freguesia de Moreira da Maia, a Câmara Municipal da Maia e a Escola Superior de Educação de Viana do Castelo. Entre os vários oradores presentes falaram Joel Cleto sobre «O(s) caminho(s) de Santiago»; José Augusto Maia Marques sobre «À Mesa no Mosteiro de Moreira»; Sérgio Veludo Coelho sobre «Valor Militar dos Mosteiros» e J.A. Gonçalves Guimarães sobre «Luís de Magalhães subdiretor da Revista de Portugal». As Atas deste colóquio serão lançadas no dia 20 de janeiro de 2023 no Fórum da Maia.

Colóquios do Lumiar, Lisboa

         Entre 21 e 25 de novembro decorreram em Lisboa na Escola Secundária Eça de Queirós e na Junta de Freguesia do Lumiar os VIII CILB: Colóquios Internacionais Luso-Brasileiros subordinados ao tema «Ates & Letras em diálogo global: nos 200 anos da independência do Brasil». Participaram diversos sócios e confrades queirosianos com diversas comunicações, nomeadamente César Veloso (com Laura Bauerlain) sobre «Liberdade e Dor; Pensamento e Escrita»; Annabela Rita «Entre identidades. Em face de Janus»; Alda Salgueiro «Rotary Club de Lisboa»; Luís Manuel de Araújo «A Maldição de Tutankhamon e outras maldições recentes» e Andrade Lemos (com Fernanda Cabrita e José António Silva) «O Vórtice do Número 5». 

Últimas quintas-feiras do mês

No passado dia 24 de novembro, na habitual programação que a Confraria Queirosiana desenvolve no Solar Condes de Resende nas últimas quintas-feiras do mês, a Dr.ª Maria de Fátima Teixeira, investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) proferiu uma palestra presencial e via zoom sobre «De Lever a Crestuma: a indústria metalúrgica em Vila Nova de Gaia». 

Amanhã, dia 26 de novembro, integrada no ciclo de conferências das Comemorações dos 600 anos da morte de São Gonçalo de Lagos promovidas pelo Município de Torres Vedras, J. A. Gonçalves Guimarães falará no Museu Municipal Leonel Trindade pelas 16 horas sobre «O culto popular aos santos de nome Gonçalo em Portugal e Brasil. Uma abordagem histórica, arqueológica e antropológica». Os crentes católicos portugueses têm nos seus devocionários referências desiguais a São Gonçalo de Coimbra, São Pedro Gonçalves, São Gonçalo de Amarante, São Gonçalo de Lagos e São Gonçalo Garcia, festejados em âmbito religioso, mas extravasando significados para devoções populares em várias localidades e santuários do continente, regiões insulares e diáspora das antigas colónias, com especial expressão em algumas cidades e povoações portuguesas e do Brasil. Sendo quase todos santos originários de Portugal, ou criados em ambiente cultural português, nesta abordagem vamos procurar estabelecer linhas de continuidade destas devoções desde as suas raízes pré-cristãs até às atuais manifestações ritualizadas de alguns deles como figuras totémicas das comunidades que os adotaram como padroeiros.

Curso sobre o Brasil

No próximo dia 3 de dezembro, sábado, pelas 15 horas por via presencial e via zoom, organizado pela Academia Eça de Queirós, comissão permanente da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, com a colaboração da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, prosseguirá o 30.º curso livre sobre «O Brasil duzentos anos depois» com uma aula pelo Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães sobre «História do Brasil colonial», prosseguindo no dia 10 de dezembro, com uma aula pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim sobre «António Francisco Lisboa (O Aleijadinho) e Manuel da Costa Ataíde, duas figuras da entidade cultural brasileira», continuando depois em janeiro. 

Arte e Exposições

         O escultor Hélder de Carvalho participou recentemente na Exposição comemorativa do centenário da escritora Agustina-Bessa Luís no Museu Amadeu Sousa Cardoso com um seu retrato, um busto em gesso patinado, tendo também recentemente visto inaugurar na rotunda da Indústria, em Meirinhas, Pombal, um busto de sua autoria do filantropo e empresário Adelino Duarte da Mota. 

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 171, sexta-feira, 25 de novembro de 2022; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

 

 

 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Eça & Outras

Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil

Curricula

         Ao longo da minha vida académica, social e profissional tive de elaborar, rever e atualizar várias vezes o meu curriculum e disponibilizá-lo a diversas entidades ou mesmo a torná-lo público. Nada mais normal. Mas ao longo dos anos fui também constatando a existência de vários modelos ou sugestões para a sua elaboração, até à preponderância do modelo «europeu», uma tentativa de uniformização. Tenho na minha biblioteca vários curricula impressos de pessoas mais ou menos célebres, quase todos professores que desempenharam funções públicas relevantes, alguns dos quais com várias décadas. Quando fui professor de Gestão de Património numa universidade, entre outras matérias, ensinava os meus alunos a elaborarem o seu curriculum, mostrando-lhes vários modelos e ensinando-lhes que, para além dos dados fundamentais relativos à cidadania próprios de cada um, dados pessoais certamente, mas públicos, como o nome, a filiação, a data e local de nascimento, o endereço domiciliário, a entidade empregadora (se fora o caso), e aqueles números que a Administração Publica não tem conseguido reduzir a um só (numero de cidadão, de contribuinte, de utente dos serviços de tratamento das doenças), tudo dados públicos que estão disponíveis em diversos endereços e listagens de fácil e óbvio acesso, mas que alguma legislação e empresas de controlo informático de dados querem tornar «privados» para melhor os manusearem e porem a render em proveito próprio. Mas isso é outra questão. Em tudo o mais, o curriculum devia conter dados verdadeiros, verificáveis, que objectivamente fossem relevantes para o fim a que o documento se destina, sendo diferente se para efeitos académicos, se para obter um emprego, se para prosseguir uma carreira através de concurso público ou avaliação privada. Ensinava-lhes que o curriculum não era a autobiografia de cada um, muito menos um auto-elogio e, muito menos ainda, um chorrilho de banalidades irrelevantes.

         Mas ao longo da vida, e também devido àquelas três situações, tive de ler, analisar e opinar sobre curricula de várias outras pessoas, e nem imaginam o que tenho encontrado, mas que poderei sintetizar em três situações, embora às vezes misturadas. Nuns casos curricula com dados falsos ou “torcidos”, nomeadamente no que diz respeito a habilitações académicas oficiais e seus complementos ou às classificações numéricas ou qualitativas obtidas, embora algumas “atestadas” por diversas entidades que era suposto serem sérias. Ou mesmo cursos e pós-graduações inexistentes ou atribuídas por entidades não avalisadas para tal (o caso de cursos ou formações não reconhecidas pelo Estado ou pelas ordens profissionais, por exemplo). Noutros casos uma hipervalorização e profusão de presenças em supostas ações de especialização profissional, mas onde o curriculado se limitou a ter uma atitude passiva. Se é que esteve nas sessões e não na praia (também conheço casos desses), nunca apresentou sequer um simples paper sobre matéria relevante da sua profissão, pelo que as presenças que atesta, às vezes com vistosos “diplomas”, apenas querem dizer que passeia muito. A entidade X apenas certifica que o senhor Y ou a senhora Z estiveram ali ou foram acolá e, às vezes, nem tal podem garantir. Noutros casos os curricula apresentam uma listagem de dados irrelevantes, ou que funcionam mesmo contra o curriculado, a nível, por exemplo, dos passatempos ou atividades de diversão nos “tempos livres”. Se estamos a falar, por exemplo, do currículo profissional de um engenheiro, será pouco interessante o saber-se se ele gosta, ou não, de fazer sonetos ou de pescar à linha, pois isso, nos dias de hoje o empregador mais “psicológico” poderá facilmente encontrar no facebook, se por aí quiser traçar o perfil do empregado, para além da electromecânica ou da química concretas que ele deverá produzir. Um curriculum profissional deverá sempre conter o que o cidadão a quem o mesmo diz respeito realmente já fez, em vez de apresentar “supônhamos” ou “estados de alma”. Para tal é fundamental que seja complementado com a bibliografia produzida relevante sobre matérias de incidência profissional e não os pequenos nadas publicados no jornal da paróquia.

         Mas um problema maior é a apresentação de curricula para exercício profissional diverso daquele para o qual o curriculado tem habilitações. Sobretudo nos últimos anos em que nos quadros da função pública se têm destruído ou desqualificado muitas profissões, passando tudo ao cinzentismo profissional do “técnico superior”, oriundos, em grande parte, da frequência de cursos superiores generalistas e pelo ingresso de elevado número de “gestores” disto e daquilo, e outros indiferenciados, na realidade administrativos que acabam por burocratizar os serviços até ao infinito para se auto-justificarem. Vemos assim instalarem-se nesse panorama diversos candidatos possuidores de tais currícula em detrimento dos profissionais de diversas áreas, muitas vezes complementados com mestrados e doutoramentos em irrelevâncias várias, por licenciados em outras profissões que nunca as exerceram e que também assim ascendem a “gestores” em áreas onde não conseguem sequer elaborar conteúdos, pois não os dominam. Mas é o que temos e não vejo que tal esteja para mudar, sendo exceção as profissões bem definidas, bem organizadas e com entidades profissionais (ordens, sindicatos) ativas e atentas à sua formação, à sua ação e ao seu estatuto social, como sejam os médicos, os advogados, os militares, e poucas mais, que de modo algum querem ser só, ou que lhes chamem, “técnicos superiores”. Estes querem ser conhecidos e respeitados pelo exercício da sua profissão e é isso, e só isso, que devem ostentar nos seus curricula.

         Com a sua inexcedível ironia já Eça de Queirós previra que a[s] universidade[s] haveria[m] de criar inaptos diplomados: «o país, tendo reconhecido nos últimos anos que há cinquenta indivíduos para cada um dos lugares destinados pelo estado... pede instantemente à[s] universidade[s] que lhe mande[m] bacharéis ignorantes… A[s] universidade[s] responde[m] solicitamente que os seus filhos têm a inaptidão mais cabal para o exercício de qualquer cargo» (Eça de Queirós. As Farpas). Atualizando bacharéis para licenciados e pedindo desculpa aos outros, aos que estudam, aos que se esforçam, aos que valem, aos que não estão obviamente no mesmo saco. É que «a desgraça de Portugal é a falta de gente. Isto é um país sem pessoal. Quer-se um bispo? Não há um bispo. Quer-se um economista? Não há um economista. Tudo assim! Veja Vossa Excelência mesmo nas profissões subalternas. Quer-se um bom estofador? Não há um bom estofador… (Eça de Queirós, Os Maias). E se o houver, é já com certeza um técnico superior pós-graduado em assentos ergonómicos.

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção

Comemorações do Bicentenário

Curso «O Brasil duzentos anos depois»

        



No passado dia 15 de outubro no Solar Condes de Resende pelas 15 horas teve início o 30.º curso livre organizado pela Academia Eça de Queirós, comissão permanente da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, com a colaboração da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Ao ato esteve presente a Eng.ª Paula Carvalhal, vereadora do Pelouro da Cultura da autarquia que referiu a frutuosa colaboração entre as entidades envolvidas, o responsável pelo Solar, Prof. Doutor Gonçalves Guimarães e o presidente da direção da entidade organizadora, Prof. Doutor José Manuel Tedim, que após a entrega dos certificados do curso anterior aos alunos presentes proferiu a lição da primeira aula sobre «Património e Cultura brasileiros ontem e hoje». O curso prosseguirá no próximo dia 29 de março com o tema «O Brasil antes dos Portugueses» pelo arqueólogo Dr. António Sérgio dos Santos Pereira.

         No próximo dia 19 de novembro no capítulo da Confraria Queirosiana que decorrerá, como habitualmente, no Solar Condes de Resende, o diretor da Revista de Portugal, Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, apresentará o número 19 desta nova série, também ela comemorativa daquelas duas efemérides, o que se torna logo evidente na própria capa concebida por António Rua a partir de uma peça brasileira do século XIX existente no Solar Condes de Resende. No interior apresentam-se os seguintes artigos: no editorial J. A. Gonçalves Guimarães escreve sobre «Portugal, Brasil e a esperança», a que se segue «A receção da independência do Brasil no parlamento português», por Francisco Ribeiro da Silva; o «Centenário da 1.ª travessia aérea Lisboa - Rio de Janeiro», por J. A. Gonçalves Guimarães; «Bodegas da minha infância», por Alberto Rostand Lanverly; «Eça de Queirós e Graciliano Ramos: diálogo criativo», por Carlos Méro; «Dasdores» (conto), por Jorge Tenório de Albuquerque;

«As conferências do Casino e A Berlinda: um feliz encontro de Eça e Bordalo», por João Alpuim Botelho; «Eça de Queirós, Jacinto de Tormes e os elevadores e ascensores do 202 dos Campos Elísios», por José António Barreto Nunes; «Villa Portela, Leiria: uma reutilização do património de forma a protegê-lo», por Ricardo Charters-d’Azevedo; «Corpo da Guarda: memória de um património genético da cidade do Porto», por Orquídea do Céu Ferreira Félix; «Recordando as civilizações pré-hispânicas do México», por Luís Manuel de Araújo, seguida de duas recensões pelo mesmo autor; a Bibliografia 2021 dos sócios da ASCR-CQ, organizada por Celeste Pinho; terminando com o «Relatório de atividades em 2021 da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana» aprovado em assembleia geral de sócios.

Palestras e conferências

Arqueologia para que te quero?

         No passado dia 10 de outubro na Escola Básica de Valadares o responsável pelo Solar Condes de Resende e arqueólogo do Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ), J. A. Gonçalves Guimarães, proferiu uma palestra para os seus alunos e professores intitulada «O que é a Arqueologia e para que serve». No final explicou aos interessados como é que se vai para arqueólogo.


No dia 14 de outubro na biblioteca do Quartel da Serra do Pilar, numa organização conjunta do Exército Português (Centro de Recrutamento de Vila Nova de Gaia), da Câmara Municipal (Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner) e com a colaboração do Museu Militar do Porto, do Solar Condes de Resende e da Direção Geral de Cultura do Norte, decorreu um colóquio intitulado «Gaia Villanovense. Gloriosas Ações. Brava Gente», alusivo aos 190 anos da Batalha de 14 de Outubro de 1832, em que foram oradores os investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ), Maria de Fátima Teixeira sobre «Dos arcos de ferro aos canhões: a metalurgia na Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro»; e J. A. Gonçalves Guimarães sobre «Biografias de alguns “Polacos da Serra”», e do Instituto Politécnico do Porto, Sérgio Veludo Coelho (que se apresentou fardado como oficial do Trem do Ouro daquela época), sobre «O teatro de Operações em Vila Nova de Gaia (1832-1833)». No final foi aberta ao público uma exposição sobre esta temática patente no antigo dormitório dos frades.     


No dia 20 de outubro no Arquivo Municipal de Vila Nova de Gaia decorreu uma sessão comemorativa do Centenário da Primeira Travessia Aérea Lisboa - Rio de Janeiro – 100TAAS. Com a presença de distintos oficiais da Marinha e da Força Aérea recebidos pela vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal, que na ocasião saudou os presentes e aludiu ao significado das comemorações para Vila Nova de Gaia, após o que o tenente-general piloto aviador António Mimoso e Carvalho, presidente da Comissão Histórico-Cultural da Força Aérea, dissertou sobre os pormenores técnico-científicos daquela travessia como «Uma Missão Inesquecível», a que se seguiu o historiador do Solar Condes de Resende, J. A. Gonçalves Guimarães sobre «Memórias de Ícaro em Vila Nova de Gaia». Após este colóquio os presentes procederam à abertura da exposição itinerante 100TAAS patente numa das salas do arquivo, tendo-se depois os presentes dirigido para o Largo dos Aviadores onde foi descerrada uma lápide alusiva a este centenário cravada na pedra do monumento mandado erguer por subscrição pública e ali inaugurado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral a 3 de dezembro de 1922.

Cale e os Calaeci

          No próximo dia 27 de outubro, última quinta-feira do mês, na habitual palestra presencial e por vídeo-conferência, o arqueólogo António Manuel S. P. Silva, do Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ), falará sobre «Cale e os Calaeci: um roteiro introdutório» tema da sua tese de doutoramento recentemente apresentada na Universidade de Santiago de Compostela, campus de Lugo. A assistência a esta conferência é livre e não carece de inscrição prévia.

         No dia 12 de novembro, sábado, integrada no IV Ciclo de Conferências com visita guiada do Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave 2022, em Famalicão, denominado «Novos contributos para a História da Indústria Portuguesa», a investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) Maria de Fátima Teixeira falará sobre «A Indústria Metalúrgica em Crestuma: a Fábrica Paiva Freixo». A presença nesta sessão implica inscrição prévia.

Livros

No passado dia 5 de Outubro, no programa comemorativo da República no município de Coimbra, na sala Francisco Sá de Miranda da Casa Municipal da Cultura e apresentado pelo Professor Doutor Fernando Catroga, foi lançado o livro Coimbra e a República. Da propaganda à proclamação, de Carlos Santarém Andrade que aí relata a proclamação do novo regime naquela cidade no dia 5 de Outubro de 1910 a partir de jornais da época e outras fontes coetâneas. Natural de Gouveia, o autor é licenciado em Direito e bibliotecário-arquivista pela Universidade de Coimbra, tendo exercido o cargo de diretor da Biblioteca Municipal daquela cidade. Foi também redator da Vértice e diretor do Arquivo Coimbrão, sendo autor, entre outros títulos, de Coimbra e Eça de Queirós (1995). Na biblioteca de que foi diretor encontra-se patente a exposição «Retalhos da vida de um bibliotecário» que apresenta muito do seu espólio pessoal.

        


No passado dia 20 de outubro na sede da Academia Alagoana de Letras foi lançado o livro Do Mestre com Carinho, da autoria de Alberto Rostand Lanverly, presidente daquela agremiação literária brasileira. Habitual cronista em vários periódicos e autor de vários livros, incluindo de literatura infanto-juvenil, que normalmente partem das suas próprias memórias e vivências desde a meninice, este autor de saborosas crónicas tem também dinamizado a projeção literária de seus confrades.

Confrarias

         No passado dia 19 de outubro, na sede da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, esta entidade promoveu uma primeira reunião informal entre as seguintes associações: Confraria da Broa de Avintes; Confraria da Moamba; Confraria da Pedra; Confraria do Velhote; Confraria do Vinho do Porto; Confraria Queirosiana; e Federação das Confrarias Báquicas de Portugal. Dirigida por César Oliveira, presidente da sua mesa da assembleia geral e com a presença de Paulo Rodrigues, presidente da sua direção, nesta reunião as confrarias presentes deram conta das suas atividades e anseios, tendo sido feita a sugestão de uma maior colaboração entre todas em prol do município onde estão localizadas. Entretanto Albino Jorge, em representação das Confrarias Báquicas de Portugal, aí referiu o ponto da situação do Congresso Mundial de Confrarias que se realizará no nosso país a partir de 27 de maio do próximo ano, com início em Vila Nova de Gaia e cujo programa se desenrolará em várias outras cidades e regiões, trazendo ao nosso país centenas de enófilos dos diversos cantos do mundo. Estas confrarias voltarão a reunir-se no início do próximo ano para nova análise dos seus projetos para 2023.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 170, terça-feira, 25 de outubro de 2022; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Eça & Outras

Eça & Outras, domingo, 25 de setembro de 2022

Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil 

Quadros da História de Portugal

            No átrio da Estação Ferroviária de São Bento no Porto as paredes estão revestidas com painéis de azulejos de Jorge Colaço que representam “quadros da História de Portugal”, além de outras figurações. Produzidos em 1915, estão ali para cumprir uma função decorativa, mas certamente também pedagógica, que leve o espectador a interrogar-se sobre o que representam. Alguns deles são hoje considerados meras invenções, como o que representa Egas Moniz e família com a corda ao pescoço perante o rei de Leão, a resgatar a honra da palavra dada. Estes “quadros históricos” de certo modo são, não apenas coetâneos, mas muito semelhantes aos representados nas aguarelas de Roque Gameiro e Alberto de Sousa reproduzidas nas cromolitografias dos oito «Quadros da História de Portugal» coordenados pelos professores de História Chagas Franco e João Soares, que os serviços de Educação da então jovem República distribuíam pelas escolas do país para serem explicados pelos professores dos alunos do ensino primário. Convém sempre lembrarmo-nos que se trata de recreações artísticas muito distantes da época em que decorreram as ações que representam e das quais nem haverá iconografia coetânea, nem da cena nem dos retratos dos intervenientes, ou seja, o fotógrafo não estava lá (pois só “chegaria” do século XIX…), nem sequer o desenhador, o pintor ou o gravador. São interpretações baseadas, na melhor das hipóteses, na leitura de documentos ou textos da época ou, o mais corrente, em leituras e interpretações muito posteriores. São artísticos, são simbólicos, são didáticos, mas a sua historicidade fica, geralmente, muito a desejar e na mira questionadora da mais recente historiografia. Esta técnica contemporânea de publicar e difundir “quadros” da História de Portugal em diversos suportes e modalidades tem exemplares notáveis que, de um modo geral, ainda não terão merecido a atenção dos historiadores da Educação. Lembro-mo que, quando eu era entre o jovem e o adolescente colecionei os “cromos” da História de Portugal editados pela Agência Portuguesa de Revistas, compilada por António Feio «segundo as Histórias de Portugal oficialmente aprovadas, de António G. Matoso, Chagas Franco e Janeiro Acabado» e ilustrada por Carlos Alberto, num total de 204 imagens coloridas impressas em pequenos retângulos de papel brilhante, legendadas no tardoz, que colávamos numa caderneta que custava quatro escudos e que apresentava na capa uma interpretação da Batalha de Aljubarrota e na contra-capa a do rei D. Dinis a deparar com o “milagre das rosas” da rainha Santa Isabel. Aí se dizia «publicação de interesse pedagógico» e edição do Mundo de Aventuras, uma então regular publicação de Banda Desenhada. A coleção começava com uma figuração da Península Ibérica com a localização de Portugal e terminava com o retrato desenhado do então presidente da República almirante Américo Tomás, destacado na última página. Na penúltima, para além dos retratos de Gomes da Costa, Carmona, Salazar e Craveiro Lopes, um “cromo” alusivo à 1.ª Grande Guerra e à 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro. E mais nada sobre a História portuguesa do século XX.

            Recuando para os anos cinquenta, a Editorial Século publicou um livro com sólida encadernação, capa colorida com o desenho de uma espada quatrocentista e a representação de algumas das sucessivas bandeiras nacionais, intitulado A Nossa Pátria, sem indicação de autor, ilustrado por Eduardo Teixeira Coelho (Angra do Heroísmo 1917 – Florença 2005). O texto ficcionado refere-se à visita a Portugal de um luso-descendente estadunidense e, para cada terra que ele visita, a descrição dos monumentos e acontecimentos mais marcantes da História de Portugal ali ocorridos ou com os quais se relaciona, neste caso ilustrados não tanto como “quadros”, mas mais como imagem-símbolo: Martim Moniz, Vasco da Gama, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Nun’ Álvares, Geraldo Sem Pavor, Mendes da Maia o Lidador, as campanhas da Restauração, Infante D. Henrique, a conquista do Algarve, o alfageme de Santarém, D. Pedro e D. Inês, «vitória em Aljubarrota», Gualdim Paes, Invasões Francesas, Princesa Santa Joana, Viriato «o maior dos Lusitanos», «trágicas lutas civis», D. Pedro IV, e «o berço de Portugal» com D. Afonso Henriques, dezanove imagens ao todo onde D. Nuno Álvares Pereira e Aljubarrota são tema para três delas. Desconhecemos o sucesso do livro que hoje é bastante raro.

Na mesma época os CTT (Correios de Portugal) emitiam uma coleção de bilhetes-postais para correspondência corrente, ao preço de 50 centavos cada, com uma imagem legendada na parte esquerda do observador na face dedicada ao endereço, fazendo parte de uma série intitulada «Conheça a sua História», num total de 86 exemplares diferentes com aspeto de “quadros”, de desenho estilizado, cujo autor ainda não conseguimos determinar, uns impressos a azul, outros a preto, outros a verde, outros a sépia, outros combinando estas cores. O quadro n.º 1 é a «Batalha de S. Mamede» e o n.º 86 a «Reunião em Lisboa do Conselho do Atlântico» (1952), ou seja, apresenta acontecimentos desde «a primeira tarde portuguesa» até um muito mais recente e contemporâneo da emissão da própria coleção. Pelo meio referem-se “quadros” pouco conhecidos, como a participação portuguesa na «Batalha de Matapão» (1717; postal n.º 61), ou controversos como as «Aparições de Fátima» (1917, postal n.º 79), que o regime do Estado Novo queria tornar “histórico”, não apenas na sua fenomenologia social facilmente constatável, mas mesmo na sua improvável génese cosmogónica.

A validade destas Histórias de Portugal em “quadros” ou mesmo em textos que se pretendiam “exemplares”, isto é “verdadeiros”, tinha já sido questionada por Eça de Queirós numa carta enviada ao seu amigo Oliveira Martins, um literato que escrevia sobre História de Portugal, no caso sobre o seu livro A Vida de Nun’Álvares (1893): «Também não me agradam muito certas minudências do detalhe plástico, como a notação dos gestos, etc. Como os sabes tu? Que documento tens para dizer que a rainha, num certo momento, cobriu de beijos o Andeiro, ou que o Mestre passou pensativamente a mão pela face? Estavas lá? Viste? Esses traços, penso eu, não dão mais intensidade de vida, e criam uma vaga desconfiança.» (Eça de Queirós, Correspondência, 26.04.1894). Então para que servirão hoje estes “quadros”, para além dos seus, quantas vezes, logros ilustrativos? Logo mais para nos prevenir que a História é uma interrogação contínua e abolir de vez o «foi assim, foi exatamente assim».

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção

Comemorações do Bicentenário

            Prosseguem em Portugal e no Brasil as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, algumas das quais têm contado com a participação ou a colaboração dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana ou entidades com quem tem protocolos assinados. Assim, no passado dia 1 de setembro a Academia Alagoana de Letras abriu as portas da Casa Jorge de Lima para ouvir o historiador brasileiro Douglas Apratto dissertar sobre «Alagoas e a Independência do Brasil».

Jornadas Europeias de Património 2022

            Ontem, sábado, dia 24 de setembro, decorreu no Solar Condes de Resende entre as 15 e as 17 horas um colóquio integrado nas Jornadas Europeias do Património 2022, que contou com a colaboração de diversos investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e do Solar Condes de Resende enquanto equipamento municipal da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. A sessão foi aberta pelo presidente da direção Prof. Doutor José Manuel Tedim a que se seguiram os oradores de acordo com o programa pré-elaborado. Assim, J. A. Gonçalves Guimarães falou sobre um projeto de estudo intitulado «Águas em Gaia, passado, presente e futuro»; Maria de Fátima Teixeira sobre «O Rio Uíma e a produção hidroelétrica da Companhia da Fiação de Crestuma»; João Fernandes, sobre «A energia eólica e a indústria de moagem: os moinhos de vento em Vila Nova de Gaia»; e Cristiana Borges sobre «As fábricas de Sulfureto de Carbono e os protestos contra a poluição atmosférica», a que se seguiu o debate sobre os temas apresentados.

Palestras

            No passado dia 12 de setembro a Associação Comercial, Industrial e e Serviços de Vila Nova de Gaia (ACIGAIA) comemorou 125 anos de existência com uma gala no Auditório Municipal à qual estiveram presentes como convidados diversos confrades queirosianos representando diversas instituições. Do programa constou uma palestra sobre a sua História por J. A. Gonçalves Guimarães, autor de Memória histórica dos antigos comerciantes e industriais de Vila Nova de Gaia; Livro do Centenário da Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Gaia: ACIGAIA, 1997, e coordenador da obra escrita em colaboração com Susana Guimarães e Eva Baptista em 2004, História da Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Gaia/ History of the Commercial and Industrial Association of Vila Nova de Gaia, ainda não publicada.

            Na próxima quinta-feira, dia 29 de setembro, na habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês no Solar Condes de Resende, J. A. Gonçalves Guimarães falará sobre «O centenário do Marquês de Soveral», a partir da sua obra Marquês de Soveral, Homem do Douro e do Mundo/ The Marquis de Soveral, Son of the Douro, Man of the World, versão inglesa de Karen Bennett. São João da Pesqueira: Câmara Municipal/ Edições Gailivro, 2008.

Livros e Revistas

No stand da Confraria Queirosiana: Sebastião Feyo, J. A. Gonçalves Guimarães, José Manuel Tedim,
Marcelo Rebelo de Sousa, César Oliveira; fotografia de Cristiana Borges

Ainda a Feira do Livro do Porto

Como foi divulgado na passada “folha” Eça & Outras, entre os passados dias 26 de agosto e 11 de setembro, decorreu no Palácio de Cristal no Porto a tradicional Feira do Livro onde, pela segunda vez, a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana (ASCR-CQ) esteve presente com as suas publicações e sobretudo com o seu contato com o público que se foi inteirando dos seus objetivos e realizações. No primeiro dia da Feira o seu stand foi também visitado pelo presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que conversou demoradamente com os membros dos corpos gerentes e investigadoras presentes, acompanhado, entre outros, pelo nosso confrade Professor Doutor Sebastião Feyo, presidente da Assembleia Municipal do Porto. 

Jorge Fernandes Alves, José Manuel Tedim e J. A. Gonçalves Guimarães;
foto de Fátima Teixeira.

Lançamento de «A Frota Mercantil do Porto…»

            No programa delineado para esta presença, a ASCR-CQ lançou no sábado, dia 3 de setembro, na Biblioteca Almeida Garrett a tese de doutoramento de J. A. Gonçalves Guimarães intitulada «A Frota Mercantil do Porto e o Comércio com o Brasil entre 1818 e 1825». A mesa foi composta pelo presidente da direção, Prof. Doutor José Manuel Tedim que apresentou o autor e o orientador da mesma, Professor Doutor Jorge Fernandes Alves da Faculdade de Letras da Universidade do Porto que perante a assistência escalpelizou as caraterísticas da obra e o seu enquadramento na historiografia nacional. O autor respondeu ainda a algumas interpelações sobre o tema por parte de vários confrades, consócios, colegas e amigos presentes, tendo depois passado a dedicar e a assinar os exemplares que lhe foram sendo apresentados para tal. A obra ficou então à venda no stand da confraria, podendo agora ser adquirida por via postal e o seu Anexo I, um Catálogo de 1300 páginas sobre 1852 embarcações que entraram e saíram a barra do Douro entre aquelas datas ser livremente consultado no site da Academia Eça de Queirós.

As Cinco Pedras

No passado dia 17 de setembro Albert Rostand Lanverly, presidente da Academia Alagoana de Letras lançou o livro As Cinco Pedras, dedicado aos seus netos Arthur, Bia, Leo, Letícia e Gabriel, que na realidade são também personagens deste livro de contos em que o autor recorda o inefável prazer que teve na infância quando escutava nas horas de calma no pátio da casa as estórias de seus maiores que desejava intermináveis para que o encanto não tivesse fim. Agora num livro bem colorido o autor criou para seus netos não apenas um tributo de afeto mas uma memória que as gerações vindouras saberão por certo adaptar aos dias da herança cultural que através dele recebem. 

Música e Património

            Na próxima quarta-feira, dia 28 de setembro, pelas 18 horas, na Biblioteca Pública de Braga será lançado o livro Paisagem e Património. O Som, a Música e a Arquitetura, coordenado pela Prof.ª Doutora Elisa Lessa da Universidade do Minho, que assina também assina o trabalho «Uma presença na paisagem sonora histórica lisbonense. Música e músicos beneditinos no Mosteiro de S. Bento da Saúde de Lisboa (séculos XVII a XIX)» aí publicados ao lado de vários outros especialistas sobre os temas desta obra, como Nuno Resende que aí publica «Escutar ao Porto. Reconstituição das paisagens sonoras da cidade do Porto no século XIX: o caso da Rua das Flores».

            A apresentação da obra a cargo de J. A. Gonçalves Guimarães, professor de Património e melómano, decorrerá num colóquio em que falarão vários dos autores presentes na obra. O enquadramento musical será feito pela violinista Mariana Fernandes do Departamento de Música da Universidade do Minho que executará a Sonata para violino solo BWV1003 de J. S. Bach

Exposições

O jornal As Artes Entre as Letras do passado dia 14 de setembro dedicou a capa e um artigo interior à exposição «Espessa Escuridão» com obras de Hélder de Carvalho que são um «testemunho possível da desordem destes nossos dias» em que a sua Arte evidencia à saciedade «a guerra e a irracionalidade» do que se passa na Ucrânia e noutros palcos mundiais da desgraça imposta ao cidadão comum. Tendo estado patente ao público, primeiro em Braga e mais recentemente na estação do Metro de São Bento no Porto até ao dia 20 de setembro, por ela passaram milhares de transeuntes que certamente não ficaram indiferentes à linguagem estética do horror feito azorrague das consciências tranquilas que poderemos encontrar em muitas das gravuras de Goya.

 


                        No passado dia 8 de setembro, no Gabinete da Bienal de Gaia, dos Artistas de Gaia - Cooperativa Cultural, junto da Estação Ferroviária de General Torres, abriu ao público a exposição de esculturas «Múltiplas Expressões» do canteiro ornatista António Pinto, com a presença de muitos dos seus amigos e consócios daquela cooperativa. Na abertura usaram da palavra Agostinho Santos, presidente da instituição e diretor da Bienal de Gaia, J. A. Gonçalves Guimarães, em representação da Confraria Queirosiana, e o autor das obras expostas.

Música

O agrupamento musical Eça Bem Dito, da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, participou na animação do festival da Associazine Sapori Italiani que decorreu entre os dias 20 e 25 de setembro na marginal da Beira Rio de Vila Nova de Gaia entoando um conjunto de canções napolitanas de finais do século XIX e princípios de XX acompanhadas ao piano por Maria João Ventura. A sua próxima atuação será no capítulo da Confraria a 19 de novembro em que entoarão     diversas melodias brasileiras do século XIX.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 169, domingo, 25 de setembro de 2022; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.