quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Eça & Outras

CASTELO DE CRESTUMA:
2.ª CAMPANHA DE ESCAVAÇÕES

Luís Filipe Menezes no Castelo de Crestuma
O morro denominado Castelo de Crestuma teve ocupação defensiva e de vigilância do Rio Douro e da sua travessia nos séculos IV-VIII e X-XI, segundo evidenciam os materiais já exumados quer no alto da colina, quer na praia de Favaios que lhe fica a poente.
Naquele primeiro sector evidenciaram-se numerosos entalhes, cavidades e degraus que correspondem à fixação e encaixe de estruturas de madeira, as quais terão sido abandonadas, destruídas e refeitas várias vezes no mesmo local, apoiadas ou complementadas com estruturas pétreas de granito (que não existe no local) e cobertas por tegulae, pelo menos em alguma das suas fases construtivas, da qual se recolheram 7000 fragmentos em 2010.
Para além de cerâmica de construção, doméstica e de armazenamento este sector revelou ainda a existência de fragmentos de vidro romano e alguma cerâmica de importação.
Na praia de Favaios as sondagens afectadas revelaram a existência de vários níveis sobrepostos de areias correspondentes às variações do zero hidrográfico do Rio Douro e também às variações anuais de cheia com transporte de lamas. Os elementos recolhidos, topográficos, pétreos, arqueológico, todos em maior número, variedade e concentração tipológica do que os obtidos no alto da colina, são sensivelmente dos mesmos períodos cronológicos indicados, sendo mais evidentes alguns materiais cerâmicos provenientes do Norte de África e da Fócia (atual Turquia). Tudo isto nos faz crer que estamos perante uma estrutura portuária onde chegavam materiais longínquos para troca comercial com produtos de extração local.
Tem igualmente vindo a ser registada e interpretada como uma estrutura metalúrgica destinada à lavagem de areias ou de nódulos de minerais, uma grande levada cavada na pedra com orifícios e entalhes semelhantes aos existentes por toda a colina do castelo, o que explicaria a ocupação do sítio e o seu relacionamento com um comércio expressivo vindo de tão longe.
A presente campanha, que está a decorrer durante o mês de Agosto patrocinada pelas Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM, foi organizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) e é dirigida pelos arqueólogos J. A. Gonçalves Guimarães, António Manuel Silva e Laura Sousa e tem a colaboração dos arqueólogos Pedro Pereira, Paulo Lima, Paulo Lemos, Fátima Costa e Sílvia Santos e a coordenação logística da patrimonióloga Fátima Teixeira, contando ainda com a participação de mais de uma dezena de estudantes de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Este ano os trabalhos incidem no alargamento da área de implantação de estruturas na área do castelo e a continuação de sondagens na praia de Favaios e têm apresentado abundante espólio das épocas referidas.
Paralelamente foram também feitos ensaios geomagnéticos para deteção de estruturas enterradas na praia, ensaios de georeferência por estação total para obtenção de imagens das estruturas estudadas em 3 D, e recolha de amostras de sedimentos e outros para análises complementares.
O Castelo de Crestuma, um complexo pré-feudal ou pré-senhorial, tem paralelos em toda a Europa tardo-romana das pré-nacionalidades, muitos dos quais têm sido objecto de estudo precisamente na última década. A intervenção nesta estação, nesta primeira fase, deverá continuar até 2013.
Os trabalhos foram visitados no dia 18 de Agosto por Luís Filipe Menezes, o diretor do Parque Biológico de Gaia, Nuno Oliveira, o presidente da Junta de Freguesia de Crestuma, José Fernando Ferreira, e outros convidados, que percorreram demoradamente as áreas de escavação tendo-se inteirado dos pormenores das descobertas. O presidente da autarquia gaiense e confrade queirosiano declarou aos jornalistas presentes a importância destes estudos num contexto europeu de valorização dos sítios numa perspetiva do Turismo Cultural que se pretende para toda a região do Porto e Vale do Douro.
Os trabalhos têm igualmente sido visitados por arqueólogos e professores universitários portugueses e franceses.

QUEIROSIANO NO CONSELHO DE ESTADO

Luís Filipe Menezes, confrade de honra da Confraria Queirosiana, foi recentemente eleito para o Conselho de Estado. Como referiu no discurso que proferiu no capítulo da sua insigniação na Confraria em 2003 no Solar Condes de Resende, durante os tempos em que estudou medicina em Paris, tinha por itinerário quotidiano as avenidas e ruas por onde igualmente Eça de Queiros circulou, passando à porta da casa onde o escritor viveu, e essa lembrança ajudou-o a mitigar as saudades da pátria e a refletir sobre o seu devir, como Eça também fez e deixou escrito. Podemos pois concluir que o Conselho de Estado passou a ter alguém para quem o escritor é uma referência.

J. RENTES DE CARVALHO EM MACAU

Nos últimos tempos J. Rentes de Carvalho continua nos media, quer a propósito do seu último livro “Os lindos braços da Júlia da Farmácia”, presente em tudo quanto é livraria, quer a propósito do conjunto da sua obra editada em português. Agora foi a vez do jornal de Macau “Ponto Final” lhe consagrar o seu suplemento Parágrafo com uma notável entrevista de Isabel Castro, publicado no passado dia 29 de Julho, onde o escritor, mais uma vez lembra: «Li “A Relíquia” aos 14 anos e foi um assombro, o senhor Eça de Queiroz continua número 1 na minha lista».



A. CAMPOS MATOS NO BRASIL

A Editora Movimento, de Porto Alegre, Brasil, com a colaboração do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, acaba de editar o livro “Silêncios, sombras e ocultações em Eça de Queiroz” de A. Campos Matos, uma coletânea de ensaios e crónicas sobre os mais variados aspetos da exegese queirosiana, alguns revisitados com profunda acuidade e outros perfeita novidade de um mundo que não para de nos surpreender, assim tenhamos oportunidade para nele entrar. É o que encontramos na parte I – Temas Queirosianos. Na parte II – Outros Temas, o autor deambula entre Camilo Pessanha, António Sérgio, Cruzio Malaparte, Camilo Castelo Branco e outros escritores, não necessariamente por esta ordem. Uma das suas crónicas merece-me um particular comentário: efectivamente também “Estes dias tumultuosos” de Pierre Van Paassen foi um dos livros que me marcaram, um livro que jamais esqueci e de que guardo na minha biblioteca um exemplar que escapou numa bacia de roupa lavada que ía para o estendal aquando uma rusga da PIDE a casa da mãe de um amigo de infância. Um livro que jamais esqueci e que deveria hoje ser relido e meditado antes da próxima guerra mundial.
Entre muitas outras coisas boas neste outro livro de A. Campos Matos (para além do nosso Eça e de todos os outros) esta é, com certeza, uma lembrança maior deste escritor em que o tempo e o espaço fazem todo o sentido, ou não fosse ele um arquitecto de memórias lusófonas, e este livro um grande abraço entre Portugal e o Brasil.

ATIVIDADES NO SOLAR

Para além da sua Feira de Troca de livros e objetos culturais no primeiro domingo de cada mês, a partir do próximo Outubro o Solar retomará as suas actividades regulares para variados públicos. Assim, para além do programa “Venha cultivar a sua horta” serão retomados o curso livre sobre Pintura e Expressão Plástica, entretanto reformulado, bem assim como o curso de Danças de Salão, numa parceria entre a Confraria Queirosiana e a Gaianima, EEM.
Para além destas realizações e do curso livre sobre Eça de Queirós, a que damos destaque noutro local, o Solar continua com visitas guiadas à sua área musealizada e ao Jardim das Camélias, onde se encontra a estátua de Eça de Queirós de Hélder de Carvalho, e também a acolher as mais diversas iniciativas culturais, para além da sua produção cultural no âmbito da Historia, Historia da Arte e da Literatura, Arqueologia, Antropologia Cultural e Património. Na sua loja podem ainda ser adquiridas obras recentes que em breve estarão disponíveis para venda on line!
Os visitantes e os frequentadores habituais da sua biblioteca podem também tomar refeições ligeiras no seu bar e entrar em contato com queirosianos em todo o mundo.

CURSO LIVRE SOBRE EÇA DE QUEIRÓS

A partir do próximo mês de Outubro, duas tardes de sábado por mês entre as 15 e as 17 horas, decorrerá no Solar Condes de Resende o curso livre sobre “Eça de Queirós, sua vida, sua obra, sua época”, numa segunda edição completamente diferente da primeira, que decorreu em 2008/2009, com novos temas e novas abordagens, com especial interesse para estudantes de História e de Literatura, professores, investigadores e todo o público em geral que queira ouvir falar sobre um dos maiores escritores portugueses da segunda metade do século XIX e a sua época, afinal tão parecida com a que Portugal, a Europa e o Mundo atualmente vivem. Serão professores Luís Manuel de Araújo, José Manuel Tedim, Gonçalves Guimarães, Anabela Mimoso, Maia Marques, Nuno Resende, Ana Margarida Dinis e outros especialistas da Academia Queirosiana.

A NAMORADA DE EÇA

A revista “Islenha”, que se publica na Madeira sob a direção de Marcelino de Castro, no seu último número (48; Janeiro-Junho de 2011), para além de artigos de A. Campos Matos e de outros autores sobre a pintora Martha Telles, apresenta um interessantíssimo estudo de Doroteia Pita sobre «Anna Conover (1849-1923): singularidades de uma mulher apaixonada», nada mais nada menos do que novas revelações biográficas sobre uma das namoradas americanas de Eça de Queirós que este conheceu em Havana em 1873 e que afinal veio a ser diretora do Olimpia Theatre, em Londres, onde investiu toda a sua fortuna.
A autora promete para breve novas revelações sobre Anna e Eça….

CARICATURA DE EÇA

A Confraria Queirosiana foi brindada pelo Eng.º José Miguel Leal da Silva com uma caricatura de Eça de Queirós em barro da autoria do artesão Jorge Mateus, da sua “Colecção Escritores Portugueses”. A peça tem efetivamente uma notável expressão caricatural do autor de Os Maias e veio assim enriquecer o nosso acervo de imagética queirosiana.
O ofertante publicou recentemente a sua obra “Volfro! Esboço de uma teoria geral do “rush” mineiro. O caso de Arouca”, editado pela Associação de Defesa do Património Arouquense, 2011, a sua tese de Mestrado em Antropologia Cultural, a qual foi lançada em Lisboa e também no passado dia 13 de Agosto em Arouca. É ainda autor de várias obras sobre a CUF – cujo arquivo salvou de estúpida destruição – e sobre a Industria Portuguesa em geral, preparando para breve a edição de novos títulos.

EÇA PARA A INFÂNCIA

Sob o título “Eça de Queirós”, na coleção Nomes com História da editora Zero a Oito, com texto de Ana Oom e ilustrações de Raquel Santos e com a revisão técnica da Associação de Professores de História, e já editado em 2008, apanhamos no mercado este albunzinho para crianças, onde Eça aparece numa galeria onde constam as breves biografias de, entre outros, D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. Nuno Alvares Pereira, Infante D. Henrique, Fernão de Magalhães, Luís de Camões, o escusado D. Sebastião, Marquês de Pombal e D. Carlos. O texto é agradável e as ilustrações excelentes. Mas eram desnecessárias algumas “imprecisões” que os biógrafos e o bom senso já não abonam: assim, dificilmente o criado Joaquim teria caçado tigres em África e a avó paterna de Eça era analfabeta (p. 9); Na realidade não sabemos se o escritor foi aluno interno, semi-interno ou externo do Colégio da Lapa; a tia morava perto e os colegas condes de Resende também; chegar do Rio Douro àquele colégio em 20 minutos, suponho que nem o maratonista Carlos Lopes (p.10); com que então as Conferências do Casino foram aproveitadas «para atacar o Estado e a religião católica»?! Isso foi o que disseram os tacanhos da época, não é o que a História nos ensina! (p. 25); Emília não foi a irmã mais nova dos condes; o casamento de Eça com Emília foi discreto, não teve «muitos amigos»; Emília escondeu dos filhos que o marido era um grande escritor, por isso viveu à parte da sua produção literária mais incisiva (p. 32); não conhecemos os leitores que «achavam que ele devia abandonar a sua carreira diplomática e regressar a Lisboa» (p. 35); é completamente falsa a ideia de Eça convidar António Nobre para ficar em sua casa (p. 37). Estas e outras questões se poderiam pôr a esta «revisão técnica da Associação de Professores de História»: técnica, seja lá isso o que for, pode ter sido; de professores de História é que não foi. Suponho que às crianças não se deve mentir, nem ensiná-las a fazê-lo e, já agora, talvez dizer-lhes que a procura da realidade em História é mais fantástica do que as fantasias mais bem encadernadas. Eça e as crianças bem o merecem.

PINTURA DE VALENÇA CABRAL

A partir de 13 de Agosto, Valença Cabral expõe os seus mais recentes trabalhos no Museu Municipal de Paços de Ferreira, «imagens encontradas sobre ambientes que a natureza nos apresenta».

BRINDAR COM:

Desta vez vamos brindar com Carlos Reis, porque realmente é preciso perguntar a todos os professores: «sabe ele o seu português?»; Anna Hazare, o indiano que luta contra a corrupção na terceira maior economia da Ásia.

Não, não quero brindar com:
Obama, porque afinal os Estados Unidos da América são como Portugal ou a Grécia no que diz respeito à divida e a sua é incomparavelmente maior; Cameron, por estar de férias e Londres a arder.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 35 – Quinta-feira, 25 de Agosto de 2011
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; 
inserção: Amélia Cabral.