Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil
Escola de Verão no Douro
Superior
Uma
iniciativa da Universidade do Porto realizada pelo segundo ano consecutivo
através do CITCEM-Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e
Memória, da Faculdade de Letras, e que teve uma comissão organizadora composta
por Nuno Resende e João Duarte e outros responsáveis por aquele centro, levou
ao Douro Superior duas dezenas de estudantes e uma dezena de investigadores e
professores para conhecerem, refletirem e debaterem o Património sob o tema
«Paisagens, fronteiras, limiares e periferias». Entre os dias 17 e 23 de julho
participaram na International Heritage
Summer School 2022 estudantes de
Antropologia Cultural e Etnologia, Arqueologia, Arquitetura e Urbanismo,
Engenharia Civil, Desenvolvimento Sustentável e Bem-Estar, História, História
da Arte e Património Cultural vindos da Áustria, Bósnia-Herzegovina, Brasil,
Bulgária, Estados Unidos da América, Itália, Portugal, Suíça, Singapura e
Turquia, os quais participaram num intenso e abrangente programa, tendo a
iniciativa contado com o apoio de diversas entidades nacionais e locais,
públicas e privadas. A realização teve ainda o secretariado de Carlo Guadagno
da Universidade de Lisboa e o apoio local de Sandra Naldinho, do Museu da Casa
Grande e de Libano Pereira da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa. Alojados
no Centro de Alto Rendimento de Canoagem do Pocinho, onde decorreram algumas
das sessões teóricas e refeições, os trabalhos, maioritariamente apresentados
em inglês, tiveram início no dia 18 com a conferência de abertura por Robert
Belot da Universidade Jean Monnet (França) sobre «O Património é o futuro da
Europa?», seguida de «No limiar da imaginação» por Nuno Resende do CITCEM-FLUP
e de «Labirinto vertical» por Duarte Belo, a que se seguiu uma visita guiada à
Quinta do Vale Meão, onde recentemente foi descoberto um complexo mineiro
possivelmente pré-histórico, que está a ser estudado e preservado.
No dia 19, nas instalações da
Associação de Viticultores e Olivicultores de Freixo de Numão, Ricardo Guerra
do Instituto Politécnico da Guarda - ESTH-IPG falou sobre «Turismo, Património
e Sustentabilidade: propostas de desenvolvimento para o Vale do Douro, seguido
por Andreia Arezes do CITCEM- FLUP sobre «Nos limites da Finis terrae: grupos, movimentos e materiais» e por João Muralha da
Universidade Nova de Lisboa, FCSH/CHAM sobre «A Arqueologia na Região do Alto
Douro: um olhar através da Arqueologia da Paisagem». Na parte da tarde
visitaram o Museu da Casa Grande, as ruínas arqueológicas do Prazo e o sítio do
Castelo Velho em Freixo de Numão.
No dia 20, de novo na unidade de
alojamento desta ação, Mariana Jacob Teixeira da Câmara Municipal do Porto
falou sobre «Museu é um lugar de…» e Carlos Mota do Museu do Douro sobre «Atuais
fronteiras e princípios da conservação-restauro. Obstáculos e estratégias de um
conservador-restaurador numa região periférica: conservação-restauro de
património móvel na Região Demarcada do Douro», a que se seguiu uma «oficina»
do serviço educativo daquele museu que teve como tema «Paisajar». Da parte de
tarde houve visita ao Museu do Côa e ao Museu de Sítio de Ervamoira, onde J. A.
Gonçalves Guimarães, do Gabinete de História, Arqueologia e Património da
ASCR-CQ falou sobre «Quinta da Ervamoira – Vale do Côa: das escavações
arqueológicas ao Museu de Sítio».
No dia seguinte, 21 de Julho, após
uma visita ao castelo e igrejas de Longroiva e Marialva, o curso foi recebido
da parte da tarde nas instalações do futuro Museu Municipal da Mêda pelo
presidente da edilidade, Dr. João Germano Mourato, que saudou os participantes
salientando a importância destes eventos internacionais para a região.
Seguidamente, João Monterroso Montero, da Universidade de Santiago de Compostela,
falou sobre «Arquiteturas (des)integradas na paisagem cultural galega, entre a
natureza e a construção» e Paula Bessa, da Universidade do Minho-ICS, sobre
«Pintura medieval tardo-medieval e da primeira metade do século XVI».
No último dia dos trabalhos, de novo
no local de alojamento, a sessão teve como tema «O conhecimento para projetar
paisagens frágeis: aglomerados históricos e novos projetos para a saúde do
património e das comunidades», tendo falado António Conde e Marianna Calia, da
Universidade de Basilicata-DICEM, e Paola Puma da Universidade de Florença-DIDA
(Itália), a que se seguiu uma oficina de desenho da paisagem.
Após a sessão de encerramento, em
que falaram João Duarte da FLUP-CITEM e Paola Puma da Universidade de Florença salientando
a satisfação geral dos participantes, docentes, alunos e entidades apoiantes
desta realização, e em que ambos fizeram votos para a sua continuidade no
próximo ano, os participantes embarcaram no cais do Pocinho para um passeio
fluvial durante o qual contornaram o meandro do Vale Meão desembarcando no cais
de Freixo de Numão, tendo-se dirigido para um conhecido restaurante da região
onde alguns degustaram peixes do Rio Douro e todos celebraram o estudo e
divulgação do Património como importante meio de comunhão entre os povos.
Para além das sessões científicas, das
visitas de estudo e trabalhos ao ar livre, houve ainda tempo para os
participantes debaterem ou se inteirarem de temas culturais tão diversos como a
fotografia no passado e no presente, a obra europeia do escritor José Rentes de
Carvalho, mas também sobre a desnaturalização e mistificação de alguns aspetos
do Património e esta disciplina académica como base de uma nova atitude para o
desenvolvimento sustentável e o seu exercício profissional, ou mesmo sobre a
paz na Europa e no Mundo de que a recuperação da catedral de Notre Dame em
Paris está a ser um símbolo.
Por estes dias também estes estudantes e professores viveram uma experiência patrimonial semelhante àquela que Eça de Queirós assim descreveu: «Rolávamos na vertente de uma serra, sobre penhascos que desabavam até largos socalcos cavados de vinhedo. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro.» (Eça de Queirós, A Cidade e as Serras). Creio bem que jamais esquecerão esta escola de verão duriense.
J.
A. Gonçalves Guimarães
secretário
da direção
Cidadãos distinguidos
No
dia 9 de julho passado, dia comemorativo da entrada do exército de D. Pedro no
Porto em 1832, a Câmara Municipal desta autarquia homenageou na Casa do
Roseiral com medalhas de mérito municipal diversos cidadãos por relevantes
serviços prestados à cidade, entre eles, Isabel Pires de Lima e Francisco
Ribeiro da Silva, professores jubilados da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, respetivamente das áreas de Literatura e História, Jaime Milheiro,
médico psiquiatra e ensaísta e Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial
do Porto.
Livros e Revistas
Mesa que presidiu à sessão de lançamento, António Barros Cardoso, Paula
Carvalhal e Gonçalves Guimarães; foto Fátima Teixeira.
Conforme referimos na página anterior, no passado dia 2 de julho, pelas 17 horas, no Solar Condes de Resende, foram lançados os números 08 e 09 da revista Douro. Vinho História e Património. Wine History and Heritage, editada pela Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/GEHVID), os quais ainda não tinham sido apresentados ao público devido às hesitações da pandemia.
A apresentação esteve a cargo de J. A. Gonçalves Guimarães em representação da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana com quem a APHVIN/GEHVID tem um protocolo de colaboração para a área da investigação da História do Vinha e do Vinho. Seguiu-se o Prof. Doutor António Barros Cardoso presidente da direção daquela associação, que se referiu a cada um dos trabalhos publicados naqueles números da autoria de investigadores portugueses e estrangeiros e a sua contribuição para um maior conhecimento do vale do Douro e das cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia no que especialmente se refere ao vinho do Porto. Esta parte da sessão encerrou com as palavras da Eng.ª Paula Carvalhal, vereadora do Pelouro da Cultura do Município de Gaia que enquadrou este lançamento na retoma plena da atividade cultural por parte da autarquia e das instituições gaienses. Estiveram presentes também alguns autores dos trabalhos publicados, nomeadamente os dois primeiros oradores atrás nomeados e ainda Cristiana Borges Ferreira e Nuno Resende.
Seguiu-se um momento musical com a atuação de José Bordelo em guitarra clássica e do grupo coral Eça Bem Dito, dirigido pala pianista Maria João Ventura que, em homenagem a Adriano Correia de Oliveira, interpretaram fados e baladas de Coimbra do final do século XIX e princípios do século XX.
A sessão terminou com um Porto de Honra com o Vinho do Porto Confraria Queirosiana, 20 anos.
Acaba A. Campos Matos de publicar um novo livro surpreendente na sua incontornável bibliografia onde abundam já tantos títulos que são obras de referência da Cultura Portuguesa: bastar-lhe-ia para tal ter publicado o Dicionário de Eça de Queirós, ao qual ainda acrescentou o Dicionário de Citações e muitos outros títulos que tanto têm contribuído para o conhecimento “familiar” do escritor, da sua obra, das suas interrogações, certamente imprescindíveis para o seu estudo académico ou literário, mas muito para além dele.
Desta feita trata-se de um livro de revisitações, muito mais do que de memórias, que intitulou Reminiscências 1932-2020, editado pela Húmus Vila Nova de Famalicão, com o patrocínio do seu «Querido Amigo António Maria Pinheiro Torres» e dedicado também à memória do seu professor, o arquiteto Manuel Paiva Monteiro. Iniciadas aos quatro anos de idade no fabuloso cenário da Estação de São Bento no Porto, o autor vai desfiando em pequenos capítulos ou verbetes os episódios que marcaram a sua via e a sua formação que partilha connosco, não só porque muitos de nós o estimam e admiram e também assim passamos a fazer parte da sua biografia íntima, mas também porque muitos dos seus episódios fazem também parte da vida de todos nós, da Cultura Portuguesa, europeia ou mesmo universal. Só que, em tantos deles, A. Campos Matos esteve lá mais perto, mais dentro de casa, mais na intimidade de cenários e pessoas. Assim faz “nossos” também, além dos omnipresentes Eça e António Sérgio, os “seus” Virgílio Ferreira, José Augusto-França, Américo Guerreiro de Sousa, seu filho Carlos, Olga Cadaval, Guilherme d’ Oliveira Martins, Isabel Pires de Lima, David Mourão Ferreira, Luís dos Santos Ferro, António Borges Coelho, António Maria Pereira, Beatriz Berrini, João Medina e tantos, tantos outros, incluindo o menor deles todos, o escrevinhador destas linhas, a quem um dia, logo pela manhã cedo («São seis da manhã hora em que lhe escrevo esta regra… », pág. 347), resolveu confidenciar-lhe uma sua ideia para uma nova e ousada interpretação de Os Maias, dizendo-o «pessoa capaz de tirar do poço esta minha teoria original…». Não, não sei se serei capaz de tal. Mas deste então tenho pensado na sua ousada ideia de reinterpretação do maior romance da Língua Portuguesa. E por isso irei voltar ao assunto, e também a este livro de afetos e alguns fantasmas de uma das mais longas e produtivas vidas que conheço e que facilmente irmano com a do escritor José Rentes de Carvalho, outro produtivo nonagenário que hoje mesmo de manhã partiu, com a esposa Löeckie ao lado, a guiar o seu automóvel da aldeia de seus ancestrais (Estevais do Mogadouro), para atravessar a Espanha, França e Bélgica até à sua outra casa em Amsterdam. Portugal, para nossa felicidade, anda também por aí a viver eternidades criadoras.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 167, segunda-feira, 25 de julho de 2022;
propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende -
Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca. blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Licínio
Santos: