quarta-feira, 25 de março de 2015

Camélias  queirosianas

Ele há coisas na vida que não nos servem para nada, mas que nos alegram silenciosamente a existência, e das quais não prescindimos, ainda que nos custem algum tempo e dinheiro. E entre elas, para muitos de nós, estão certamente as camélias que florescem no inverno, alegrando os seus arbustos ou árvores de sólidas folhas verdes com essas flores carnais e delicadas, com a alegria do seu branco, a feminilidade dos seus rosas, as pétalas de vermelho intenso de lábios de gueixa, as outras variedades que os seus devotos coletam e descrevem com paciência de monges. Conheço desde criança rosas, perpétuas e outras flores, mas as camélias sempre foram um assunto à parte, até porque vivi perto de uma Quinta das Camélias e quem era rico ali à volta também as tinha no seu jardim como motivo de curiosidade e devoção botânicas. Depois havia aquela história que foi ficando triste, a Dama das Camélias, e a pintura portuguesa do século XIX a elevá-las à categoria de símbolo nos quadros do Visconde de Menezes e nos de António José da Costa, que as pintava tão perfeitas como se acabadas de apanhar. Mas afinal, já desde o século XVII que os nossos pintores as enramalharam nos seus quadros, como se pode ver em obras de Josefa de Óbidos e nos painéis do coro alto do Mosteiro de Corpos Christi em Vila Nova de Gaia.
Algumas cidades e vilas querem entre nós ser as suas guardiãs, se possível em exclusivo, mas creio tal não ser possível, porque elas, românticas que são, não se comprazem com fidelidades turísticas e assim se distribuem por todo o país, creio que desde que D. João de Castro as trouxe no século XVI do oriente para a sua quinta de Sintra. Mas logo dali a beleza do seu exotismo as disseminou, vindo o romantismo oitocentista encontrá-las em Vila Nova de Gaia no jardim nasoniano da Quinta de Campo Bello e no antigo Convento de Santo António de Vale da Piedade e no de Oliveira do Douro, e no Porto, onde os jardins à inglesa as acolheram e os hortos as cultivaram para arrecadarem prémios internacionais, ou também em Santo Tirso, onde o seu cultivo tem vindo a acontecer com reminiscências das sombras monásticas. E em muitos outros locais em Portugal onde o culto da camélia pede meças aos japoneses.
O Solar Condes de Resende tem vindo a valorizar os exemplares centenários das suas Camellia japonica L., que Eça de Queiroz conheceu e, com certeza, apreciou nas muitas visitas que, pelo menos desde 1889, fez à Casa. E também porque estando os antigos proprietários ligados por laços familiares ao Vice-Rei da Índia acima referido, através dos Camelos de Miranda de Vilar do Paraíso, é possível que estas camélias descendam das sementes ou dos ramos plantados primordialmente em Sintra. E com certeza os Camelos terão gostado de camélias e haverá aqui ainda algumas histórias por acertar. Junto da estátua do escritor, ali colocada no ano 2000 e da autoria de Hélder de Carvalho, que no dia 22 passado trouxe um grupo de amigos a visitá-las, podemos apreciar exemplares bem antigos, tipos Saluenensis, de origem chinesa, Pomponia, Anemoniflora, Beni Assaku, Pamplona, criada pelo bisavô dos filhos de Eça, 1º Visconde de Beire e proprietário do Solar Condes de Resende, e a bastante rara Aka-Koshimino, a que os ingleses chamam Red Skurt, composta por cinco pétalas em estrela, com um desenvolvido pom-pom central, de cor vermelha.
Não desfazendo dos bicos de pés em que os outros querem por as suas camélias, e até dedicando, admitamos que por alguma inveja, uma certa fleuma aos festivais que organizam, não se me leve a mal que goste particularmente das camélias gaienses e em especial das do Solar, visitadas regularmente por grupos nipónicos da Sociedade da Camélia do Japão, em 1997 por uma equipa da NHK BS2 (televisão estatal) e muito recentemente pelos Senhores Hiroshi Azuma e Yukitaka Hihara, respetivamente embaixador do Japão em Lisboa e presidente & C.E.O. da Trubaki Co. Ltd., todos com reverências de estima pela sua existência no jardim desta Casa.
Um outro local emblemático das camélias gaienses é o Parque Conde das Devesas, situado junto da estação ferroviária do mesmo nome, no Centro Histórico, administrado pelo Parque Biológico de Gaia, onde, para além das ali existentes, entre elas a dedicada ao antigo proprietário, foram plantadas muitas outras variedades com nomes famosos desde o século XIX, como as Tedínia, Garrett, Pamplona, D. Pedro V e muitas outras.
No passado dia 21 de março, Dia Mundial da Árvore e do início da Primavera, foi aí lançado um livro da autoria do biólogo Doutor Nuno Oliveira, diretor dos Parques de Gaia e confrade queirosiano, com fotos de António Assunção, no qual apresenta uma seleção das mais notáveis variedades ali existentes, nomeadamente uma com o seu nome, tendo a obra sido apresentada pelo sociólogo Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, presidente da câmara local.
Símbolos da beleza temporária, a que só a Ciência e a Arte dão perenidade, Eça de Queirós usou-as como termo de comparação literário, descrevendo certas mulheres com «o pescoço de uma brancura de camélia húmida», ou «uma carnação de camélia muito fresca».
Nestes tempos de angústias, elas são também o símbolo da renovação que se opera cada ano, pois voltarão a florir lá para os dias de outubro próximo, quando de novo as voltaremos a ver pontificando nos nossos jardins mais estimáveis. O seu colorido, sem perfumes embriagadores, voltará a alegrar-nos a vida. E este não é certamente um símbolo menor no esteio da perseverança da procura dos caminhos da humana felicidade, tão variados como as camélias, tão belos e discretos quanto elas.
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Professor João  Francisco  Marques

No passado dia 6 de março faleceu em sua casa na Póvoa de Varzim o Professor Doutor Padre João Francisco Marques, antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e confrade queirosiano. Autor de uma basta e erudita obra, marcou gerações com a sua proficiência, mas também com o seu trato amável e sempre acompanhado de uma fina ironia. Dos vários projetos que tinha em mãos, apresentou recentemente as Obras Completas do Padre António Vieira, com cuja equipa colaborou. O seu funeral teve lugar no domingo dia 8 e nele participaram muitos dos seus colegas, alunos e admiradores, entre os quais vários confrades queirosianos que assim quiseram prestar-lhe sentida homenagem.

 Assembleia Geral

No passado dia 20 de março decorreu no Solar Condes de Resende a Assembleia Geral ordinária dos ASCR-CQ para apresentação do Relatório e Contas de 2014 e do programa e orçamento para 2015, os quais foram aprovados pelos sócios presentes, tendo ainda sido exarados em ata votos de pesar pelo falecimento dos consócios Eng.º D. Diogo de Cernache, Eng.º José Pereira Gonçalves dos corpos gerentes, falecidos em 2014 e Professor Doutor Padre João Francisco Marques recentemente falecido. A Confraria queirosiana guarda e venera no Solar Condes de Resende a memória da vida e obra dos seus confrades.
O Relatório será publicado no n.º 12 da Revista de Portugal que sairá no próximo mês de novembro e será lançada no capítulo anual que ira decorrer no dia 21 desse mês.

Conferências

Colóquio sobre os Centros Históricos

Nos próximos dias 26 e 27 de março decorre na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, no auditório da Cálem, a 1.ª Conferência Cidades de Rio e Vinho. Memória, Património e Reabilitação organizado pela empresa municipal Gaiurb – Urbanismo e Habitação, EM, na qual estarão presentes alguns reconhecidos especialistas das áreas da História, Urbanismo, Arquitetura, Geografia e outras, vindos de diversas universidades europeias e portuguesas que se vão debruçar sobre a problemática dos Centros Históricos em geral e do de Gaia em particular.
Da comissão organizadora fazem parte J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva, coordenadores do Gabinete de História e Arqueologia dos ASCR – CQ que falarão sobre “O Centro Histórico de Gaia, a Barra do Douro e o Mundo” e “As construções do lugar. História (s) e Arqueologia (s) do Centro Histórico de Gaia”, respetivamente.
Paralelamente ao colóquio desenvolve-se outras atividades, nomeadamente a abertura de uma exposição sobre o antigo Entreposto do Vinho do Porto. As Atas com os textos apresentados serão publicadas brevemente.

… e visita guiada

No dia seguinte ao colóquio atrás referido, sábado dia 28, os Amigos de Gaia, associação com a qual os ASCR-CQ têm protocolo de colaboração, vai organizar uma visita guiada ao Centro Histórico de Gaia, a partir das 10 horas da manhã, conduzida pelo geógrafo Doutor Salvador Almeida, presidente da direção daquela associação, que apresentará os aspetos geomorfológicos e hidrológicos, e por J. A. Gonçalves Guimarães, historiador e diretor do Solar Condes de Resende, que apresentará a evolução histórica desta área classificada.
No final da jornada será inaugurada uma exposição de cerâmica na Casa Ferreira, organizada pela Confraria do Caco, intitulada “No Reinado do Vinho” com peças da autoria de Delfim Manuel.

Outras

Entretanto ao longo do mês de março diversos sócios e confrades queirosianos realizaram várias palestras e conferências. Assim, no dia 7, J. A. Gonçalves Guimarães, no solar Condes de Resende, falou sobre “A Arte do Vinho do Porto como emblema da região”, reedição da aula de abertura do Curso “História e carisma da região do Douro Atlântico (Gaia, Porto, Matosinhos), 5ª edição”; no dia 19 de março, na Escola Secundária de Canelas, para os alunos do Curso de Turismo, falou sobre “Os Roteiros Queirosianos na perspetiva do Turismo Cultural”. A última aula do Curso do Solar acima referido decorreu no passado dia 21 e foi proferida por José Manuel Tedim sobre o tema “Pensamento, Literatura e Arte Contemporânea na região portuense”, tendo este mesmo professor e investigador participado num programa da RTP2 sobre a Igreja de São Francisco do Porto, que passou no passado dia 23 cerda das 23 horas.
Amanhã, dia 26, pelas 21,30 horas e ainda no Solar Condes de Resende, a historiadora da Arte Susana Moncóvio falará sobre “Amadeu Souza-Cardozo: o Modernismo, uma proposta extemporânea no contexto nacional”.

Livros

Nuno Resende

    O historiador Nuno Resende, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem vindo a publicar diversos livros sobre a região da Beira Douro, o último os quais intitulado Memórias dos Homens, Cartas do Tempo. Os Forais do atual Concelho de Resende, este em colaboração com as historiadoras Maria Alegria Marques da Silva e Paula Pinto da Costa, editado pela autarquia na comemoração dos 500 anos o seu foral manuelino, em versão livro e CD, lançado em dezembro passado e agora em distribuição. Mas já em agosto passado tinha lançado O Concelho de Magueija, editado pela União de Freguesias de Bigorne, Magueija e Pretarouca, e em maio do ano passado colaborou com um capítulo no utilíssimo Guia de Boas Práticas de Interpretação do Património Religioso, editado pelo Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja/Turismo de Portugal.

Mário Cláudio
No passado dia 5 de março na delegação do Porto da Ordem dos Médicos o escritor Mário Cláudio lançou um novo livro, edição das Publicações D. Quixote, intitulado O Fotógrafo e a Rapariga, que recria as relações entre uma imaginária Alice e o fotógrafo Lewis Carroll, o autor de Alice no País das Maravilhas, Charles Dodgson, contemporâneo de Eça de Queirós. Esta obra faz parte e uma trilogia sobre a relação entre pessoas com idades bastante diferentes em volta da escrita – Bernardo Soares e um jovem empregado de escritório; das Artes plásticas – Leonardo da Vinci e um seu aprendiz; e agora a jovem que pousa para a fotografia que a imobiliza antes de desaparecer por detrás do espelho.
  
Feira das Novidades

Convívio com os feirantes
No passado dia 1 de março fez um ano a Feira das Novidades promovida pela Confraria Queirosiana no primeiro domingo de cada mês. Trata-se de uma iniciativa que visa apoiar os vendedores dos mais diversos produtos que precisam de ganhar a vida e, ao mesmo tempo, proporcionar aos frequentadores do Solar Condes de Resende uma tarde de domingo animada.
Em virtude de a próxima Páscoa decorrer no primeiro domingo de abril, a próxima feira, a título excecional, foi antecipada para o dia 29 de março.

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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 77 – Quarta-feira, 25 de março  de 2015
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email:queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.