sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Eça & Outras

No centenário de Alfredo Napoleão (1852-1917)
            Eça de Queirós foi um grande melómano que conhecia os grandes compositores do seu tempo e atribuía à criação e execução musicais um importante valor espiritual, artístico e social. Nas suas obras as referências musicais são abundantes e funcionam como uma melodia de fundo da ação que se desenrola, técnica essa que, já no século XX, o filme sonoro veio a utilizar e que hoje nos parece banal. Foi ele quem escreveu sobre a «filosófica instrumentação de Meyerbeer…[o] idealismo de Beethoven…[a] luminosa serenidade de Mozart…[a] música vermelha e diamantina de Verdi…[o] romantismo apaixonado de Donizetti» (O Egipto).
            Ao longo da sua vida conheceu alguns compositores e executantes portugueses, tendo trabalhado com Augusto Machado na elaboração de uma opereta cómica intitulada A Morte do Diabo, para a qual fez o libreto com Batalha Reis. Outros, que sintetizou no Cruges de Os Maias, encantavam-no com «a sua arte maravilhosa ao piano». Não sabemos se alguma vez conheceu os irmãos Napoleão, mas certamente deles ouviu falar, em Lisboa, em Londres ou em Paris. Falemos agora de um deles, a propósito do centenário do seu desaparecimento.
O pianista e compositor Alfredo Napoleão era filho do músico italiano Alessandro Napolleone Vallania, aportuguesado como Alexandre Napoleão (1808-1886), que muito novo se refugiou em Portugal, tendo-se estabelecido no Porto por volta de 1840 como professor de música, vindo a casar em Vila Nova de Gaia, na igreja de Santa Marinha, com Joaquina Amália Pinto dos Santos, daí natural. Deste matrimónio, entre outros filhos, nasceram três músicos, intérpretes e compositores, Artur (1843-1925), Aníbal (1845-1880) e Alfredo (1852-1917), celebrando-se por isso este ano o centenário da morte deste pouco recordado músico contemporâneo de Eça de Queirós.
Uma década mais novo que seu irmão Artur, foi criado em Vila Nova de Gaia por sua avó materna e depois, ainda criança, deixado em Lisboa aos cuidados do casal Wood, que lhe completam a formação musical. Em 1866, aos catorze anos, encontra-se no Rio de Janeiro onde dá um concerto perante o Imperador D. Pedro II, daí partindo para uma digressão, acabando por se fixar durante seis anos na Argentina, em Buenos Aires, e em Montevideu, no Uruguai, onde foi professor, daí regressando ao Rio de Janeiro de onde parte para Pernambuco, onde ensinou durante dois anos. A sua vida cruzar-se-á por diversas vezes com a do irmão Artur: em 1879 dão ambos um concerto na Sociedade Filarmónica Fluminense e em 1893, quando Alfredo regressa ao Brasil, tocam no Casino Fluminense e, noutro regresso em 1898, no Instituto Nacional de Música. Quando perguntavam a Alfredo, normalmente modesto e discreto, se não era irmão do, à época, famosíssimo Artur Napoleão, ele confirmava, acrescentando: «sim, é verdade, mas eu sou só músico».
Tendo voltado a Portugal em 1882, dá uma série de concertos em Lisboa e Porto, daí partindo para Londres. Em 1904 encontra-se na sua cidade natal e a 27 de outubro desse ano organiza na Granja, Vila Nova de Gaia, um concerto em que atua com Olinda da Rocha Leão, Guilhermina Suggia e Virgínia Suggia, com obras de Beethoven, Dvörjak, Strauss, Chopin, Lizst e do próprio Alfredo, o 3.º Concerto para piano e orquestra em Ré, op. 55 e Pèle-Mèle 4. Suite.
            Fixado no Porto e tendo-se entretanto dedicado ao ensino, à Granja volta de novo a 28 de setembro de 1908 para organizar um outro concerto, com a colaboração de Moreira de Sá e algumas solistas e coro encontrados entre os frequentadores daquela praia que se dedicavam à música e ao canto.
            Entretanto em 1906, estando em Lisboa, deu aí concertos que foram muito aplaudidos, vindo a falecer nesta cidade em 1917. O catálogo das suas obras, com pelo menos 70 peças algumas das quais com inovações musicais avançadas para o seu tempo, estará por fazer, tendo algumas delas sido publicadas no Brasil, na casa editora de seu irmão Artur, e também na Alemanha. Em Portugal, entre outros, foram seus editores a Casa Raymundo de Macedo, no Porto.
A 29 de setembro de 2014 o pianista português Artur Pizarro gravou para a etiqueta Hyperion com a Orquestra Nacional de Gales da BBC, dirigida por Martyn Brubbins, para a série discográfica The Romantic Piano Concerto, o Concerto n.º 2 em Mi bemol menor op. 31 de Alfredo Napoleão, provavelmente escrito em 1886.
            Compositor marcado pelo gosto de um Romantismo tardio e de uma Belle Époque perdurante, nas suas composições existem sonoridades que estarão certamente para além dessas circunstâncias, e desfrutá-las, ainda que com a curiosidade dos amateurs, creio que valerá bem a pena.
            Para Eça, a música era como o amor: «juntam-se as imagens e as comparações, tenta explicar-se – mas não se pode dizer o que ela é» (O Egipto). As mais das vezes não amamos os nossos músicos porque nem sequer os conhecemos. Por isso trouxemos aqui a evocação de Alfredo Napoleão.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria

Livros & Revistas
            
As Artes entre as Letras publicado no Porto, dedicado ao seu oitavo aniversário, com capa propositada de Siza Vieira e textos de mais de cinquenta colaboradores habituais. Além do editorial da diretora Nassalete Miranda, aí encontramos Guilherme de Oliveira Martina, Mário Cláudio, José Valle de Figueiredo, Francisco Ribeiro da Silva e J. A. Gonçalves Guimarães, a maior parte deles escrevendo sobre o 8 deitado como sinal de infinito.
A 27 de julho passado foi publicado o número 200 do jornal
Este número foi apresentado numa sessão muito concorrida que decorreu no Palacete Vasconcelos Porto, da Santa Casa da Misericórdia do Porto.


Coordenado por António Manuel S. P. Silva, e editado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia/ Gaiurb, em parceria com Edições Afrontamento, acaba de aparecer o livro intitulado Cidades de Rio e Vinho. Memória, Património, Reabilitação, o qual reúne as comunicações apresentadas na Conferência Internacional de Vila Nova de Gaia sobre centros históricos realizada em 2015. Privilegiando o Centro Histórico de Gaia, os textos publicados abordam esta problemática a nível mundial, mas também os de Bordéus e do Porto. Com um prefácio de Eduardo Vitor Rodrigues, entre as comunicações agora publicadas encontram-se O Centro Histórico de Gaia, a Barra do Douro e o Mundo, por J. A. Gonçalves Guimarães, e As construções do lugar: História(s) e Arqueologia(s) do Centro Histórico de Gaia, por António Manuel S. P. Silva.


            Património Humano. Personalidades Gaienses, coordenado por Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, professor da Universidade Católica do Porto. Patrocinado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e realizado pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, este projeto tem coordenação geral de J. A. Gonçalves Guimarães e conta com uma vasta equipa de coordenadores e investigadores profissionais que darão corpo aos 10 volumes previstos sobre todos os aspetos do Património Cultural do município e mesmo do realizado por gaienses disperso por outras latitudes, nomeadamente no Brasil. O projeto tem o apoio do Solar Condes de Resende e conta com três investigadores a tempo inteiro que não só fazem a coordenação dos conteúdos como os rentabilizam de imediato junto dos diversos públicos, nomeadamente o escolar e o académico.
Encontra-se pronto para publicação o primeiro volume do projeto PACUG – Património Cultural de Gaia, intitulado
            O presente volume, com 296 páginas, apresenta a biografia de 251 personalidades nascidas ou relacionadas com Vila Nova de Gaia ao longo de vinte séculos, entre o século I e as que faleceram antes de 31 de dezembro do ano 2000, descritas por vinte e seis autores, entre os quais, António Lima, António Manuel S. P. Silva, Eva Baptista, J. A. Gonçalves Guimarães, Laura Cristina Peixoto de Sousa, Licínio Santos, Maria de Fátima Teixeira, Paulo Jorge Sousa Costa, Susana Guimarães, Susana Moncóvio, Teresa Campos Santos e Virgília Braga da Costa.
            Estão já em preparação adiantada os volumes sobre Património de Gaia no Mundo/ Património do Mundo em Gaia, coordenado por Francisco Queiroz, e Gaia século XX: território, pessoas, atividades, coordenado por José alberto V. Rio Fernandes.

Palestras e eventos culturais

Vinho Verde
- No passado dia 29 de julho decorreu em Baião o capítulo anual da Confraria dos Vinhos Verdes. O capítulo prestou também homenagem a este vinho na vida e obra de Eça de Queirós, estando presentes, além do mesário-mor da Confraria Queirosiana, que foi insigniado como confrade enófilo, também o presidente da administração da Fundação Eça de Queiroz sediada naquele concelho.

Gastronomia portuguesa
- Na queirosiana Vila do Conde abriu ao público as suas portas no passado dia 18 de agosto a tradicional Feira da Gastronomia, onde estão representadas todas as regiões através dos seus produtos mais gostosos. Dela fazem parte vários restaurantes que este ano, sob o tema “Cozinha Portuguesa”, apresentam as mais variadas ementas do cardápio nacional. A Confraria Queirosiana, como habitualmente, fez-se representar na abertura por uma delegação dos coros gerentes.

História das Mulheres
- Na próxima quinta-feira dia 31 de agosto, nas habituais palestras da última quinta-feira do mês do Solar Condes de Resende, J. A. Gonçalves Guimarães irá falar sobre «Mulheres ilustres de Gaia», desde as figuras lendárias femininas da Antiguidade até a figuras marcantes da sociedade gaiense do século XX.

- No dia 23 de setembro, sábado, a partir das 15 horas decorrerão no Solar Condes de Resende as Jornadas Europeias do Património, este ano subordinadas ao tema Património e Natureza. Pessoas – Lugares – Histórias, com a presença dos seguintes investigadores e assuntos: Nuno Oliveira - Aspetos do Património Natural de Gaia; Paulo Rocha - O Geomonumento da Praia de Lavadores; Susana Moncóvio - O Desenho Científico como instrumento de conhecimento; Susana Guimarães - O Solar Condes de Resende e a Natureza – equilíbrios centenários a preservar; Maria de Fátima Teixeira - O Património Natural na Indústria Têxtil; J. A. Gonçalves Guimarães - Património Natural na Coleção Marciano Azuaga. A sessão é organizada pelo Solar Condes de Resende com a colaboração da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana
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Eça & Outras, III.ª série, n.º 105 – sexta-feira, 25 de agosto de 2017; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685 ; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.