quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Eça & Outras

Museu do Côa

ao Nelson, com um abraço

«Uma verdadeira história da humanidade seria a história da arte; não se conheceriam os dédalos políticos, as ambições terríveis, as pequenas intrigas de reis e de papas – mas ficar-se-ia sabendo uma coisa superior: a alma das raças, os génios do povo, o espírito passado com as suas crenças, religiões e sentimentos».

Eça de Queirós – Distrito de Évora, 1867


No passado dia 30 de Julho foi inaugurado o Museu do Côa pelo primeiro ministro, ministra da Cultura, ex-ministros, seguranças, directores gerais, ex-directores gerais, autarcas e ex-autarcas, arqueólogos e ex-arqueólogos, funcionários e ex-funcionários, jornalistas, convidados e não convidados, activistas disto e daquilo, pacifistas que se pelam por uma boa inauguração, curiosos, filarmónicos, GNR e povo quanto bastou para encher o auditório e adjacências.

Independentemente do espectáculo, que mereceu nos jornais e televisões muito menor destaque do que as habituais banalidades, tratou-se realmente de um acto de Cultura, seja lá qual for a bancada em que o meu caro leitor esteja sentado a assistir ou a participar na polémica entre os que querem betonar o país e os que se deleitam com outras práticas e saberes. Foz Côa, por agora, libertou-se da banheira de água choca que lhe queriam por à ilharga, mas o país não se livrou ainda dos que a querem construir. À cautela, à cautela, o Museu foi construído a uma cota conveniente para um dia destes eles voltarem a atacar. Trata-se realmente de um edifício feliz e belo, humanamente grandioso, humildemente inserido na paisagem ainda mais grandiosa, forte para guardar a fragilidade da humana memória do passado, mas fraco por albergar um único segmento do património do Vale do Côa – as gravuras do paleolítico – importante sem dúvida, mas não o único que o Vale e a região apresentam. E essa tem sido a maior fragilidade do projecto, a aposta num único produto cultural que o cidadão turista comum, visto uma primeira vez, não volta para ver segunda, para além de poder ficar com erradíssima ideia de que Foz Côa parou no paleolítico e não teve ocupação humana igualmente bela e pujante nos tempos posteriores. Ao promoverem apenas os tempos pré-históricos, sem dúvida aqui importantes e com marcas notáveis, os responsáveis pela intervenção no território não têm valorizado a presença romana, a rota dos castelos medievais, as vilas novas, para já não falarmos dos patrimónios geológicos e biológico e, com todos estes, o património humano que aqui resiste à desertificação desde o século XVI.

Ao criarem uma paisagem-ficção que esqueceu ou mesmo tentou anular as memórias civilizacionais posteriores, os pré-historiadores puseram-se por certo em bicos de pés, mas como é sabido, ninguém se aguenta muito tempo nesta posição. E esta é a maior fragilidade que o projecto tem tido. O turismo vive da diversidade e não do produto único, por mais interessante que ele seja.

O Museu do Côa e a sua actual exposição valem bem uma demorada visita. Mas a humanidade, mesmo em Foz Côa, tem produzido mais Arte desde então até aos dias de hoje, muita da qual muito mais interessante do que aquele molho de lenha que também lá vimos na “secção dos contemporâneos”. Belo, sem dúvida, mas ainda um prenúncio de futuro.

J. A. Gonçalves Guimarães
Arqueólogo que trabalhou vinte anos no Côa (1985 – 2004) em arqueologia tardo-romana e medieval; autor do projecto museológico do Museu de Sítio de Ervamoira.

Escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia) – breve nota informativa

Entre os dias 2 e 27 de Agosto decorreu a primeira intervenção arqueológica no Castelo de Crestuma patrocinada pelo Parque Biológico de Gaia, E.E.M., e levada a cabo por uma equipa profissional organizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, e com a colaboração da Gaianima, E.E.M./Solar Condes de Resende, na sequência de um protocolo assinado por estas instituições a 21 de Novembro de 2009.

Os trabalhos foram planeados e coordenados pelos arqueólogos Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva e codirigidos pelos arqueólogos Filipe Pinto e Laura Sousa, com a administração e logística coordenada pela patrimonióloga Fátima Teixeira. A equipa de campo envolveu mais de duas dezenas de arqueólogos, assistentes de arqueólogo e estudantes.

Esta intervenção incidiu em duas frentes, com uma equipa no alto do Castelo, na cota mais alta do cabeço, e uma outra na praia de Favaios. No primeiro caso tratava-se de detectar possíveis vestígios de construções que justificassem o antigo topónimo castelo e no segundo detectar estruturas romanas relacionadas com os vestígios de superfície anteriormente detectados.

Desta primeira intervenção resultou uma grande quantidade e variedade de espólio arqueológico que virá a ser tratado nos próximos meses por diversos técnicos, nomeadamente pelos arqueólogos tarefeiros que prestam serviço no Solar Condes de Resende sob a orientação dos responsáveis pelo projecto, a que se seguirá o seu estudo científico pelos mais diversos especialistas nas áreas de arqueologia, geomorfologia, arqueobotânica e outras ciências.

Mesmo enquanto se aguardam os resultados destes estudos, fundamentais para a compreensão do sítio e para a orientação da prossecução dos trabalhos, a direcção do projecto pode já concluir o seguinte como resultado desta campanha:
- Confirma-se a grande extensão e valor do Castelo de Crestuma como uma estação arqueológica de grande importância no contexto local e regional cujo estudo, para além do seu interesse específico, poderá contribuir para aclarar alguns aspectos lacunares da História do Vale do Douro nos períodos tardo-romano, altimediévico e Idade Média plena (séculos V-XII).
- Confirma-se a existência de vestígios de construção no alto do Castelo de Crestuma que poderão ter a ver com as suas funções de controle do Rio Douro e da sua travessia naquelas épocas.
- Confirma-se a existência de vestígios arquitectónicos romanos de grande porte os quais poderão ter a ver com a uma estrutura portuária.
- Confirma-se a grande quantidade, variedade e qualidade do espólio arqueológico romano e medieval, incluindo nomeadamente cerâmica de construção, transporte, armazenagem e doméstica, abundantes fragmentos de recipientes em vidro, objectos metálicos e outras peças das referidas épocas nas sondagens e escavações efectuadas.
- Confirma-se a ocupação com construções em toda a área do monte do castelo e na sua imediata periferia.

Estes são os dados imediatos confirmados que a intervenção proporcionou, devendo os mesmos ser potenciados nos próximos meses pelos estudos agora iniciados.

Por outro lado, a grande importância científica e patrimonial dos achados efectuados nesta campanha justificam plenamente a continuidade dos trabalhos de campo no próximo ano, de acordo com a programação prevista.

J. A. Gonçalves Guimarães
António Manuel S. P. Silva

Eça & Dagoberto em Oeiras (Brasil)

O Instituto Barros de Ensino (IBENS) vai apresentar ao público em 25 de Setembro próximo o projecto “Chá com livros”, destinado a alunos e professores que queiram desenvolver o gosto pela leitura, literatura e produção textual. O tema para 2010 será “No Chá com Eça de Queirós, o Encontro com Dagoberto Carvalho J.or”.
Entre 1 e 4 de Dezembro um outro projecto promovido pela mesma instituição, denominado “De Poeta, Músico e Louco, em Oeiras, todos temos um pouco”, incidirá sobre aquele grande divulgador de Eça no Brasil, sendo depois os textos produzidos reunidos num Almanaque sobre a sua vida e obra.


Coimbra queirosiana

Recebemos para a biblioteca da Confraria três publicações sobre a Coimbra queirosiana graças à gentileza do seu autor, Dr. Carlos Santarém Andrade, ex-chefe de divisão de Biblioteca e Arquivo da Câmara Municipal de Coimbra, que em Novembro próximo será insigniado como confrade;

- Passear na Literatura, roteiro queirosiano de Coimbra;

- A Coimbra de Eça de Queirós. Coimbra. Minerva Editora, 1995;

- Eça Coimbra. Coimbra: Câmara Municipal, 2000

… os quais ficam à disposição dos que queiram aprofundar os seus conhecimentos sobre as relações do nosso patrono com a cidade do Mondego.

Tomar café ou não

Não queremos ir tomar café com: Michael Mullen general americano que quer ir matar iranianos; Fátima Felgueiras, por misturar a sua vida privada com a nossa vida pública; Naomi Campbell, porque não chega ser bela por fora; Isabel Alçada por mandar fechar uma escola classificada como de excelência mundial em Várzea de Abrunhais.

Vamos tomar café com: Thomas Nash pela convenção contra as bombas de fragmentação, obviamente não aprovada pelos EUA, China, Rússia e satélites; Muhsin Hassan Ali, vice-presidente do Museu de Bagdad que protegeu o que pôde da destruição provocadas pela invasão americana.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 24 – Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010
Cte. n.º 506285685; NIB: 001800005536505900154;
IBAN:PT50001800005536505900154;
Email:queirosiana@gmail.com;confrariaqueirosiana.blospot.com;eca-e-outras.blogspot.com;
coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638);
redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;
colaboração: António Manuel Silva