domingo, 25 de agosto de 2013

Eça & Outras


«A prestigiosa estagnação»

Neste ano 125 da publicação de Os Maias, o romance cumpre como que uma maldição sobre o povo português, ao manter-se ainda mais tipicamente certo do que quando foi escrito, pese aí o anacronismo da constatação. No meio das dificuldades gerais, quando se pedem mudanças a sério, tal como no tempo de Eça, o que vamos tendo são imposições tecnocráticas avulsas, que já fizeram a desgraça de vários países ditadas, pelos banqueiros internacionais e pelos seus capos lusitanos, normalmente rapazes nascidos de modesta condição provinciana, que depois de obterem o canudo, rapidamente chegaram a lugares de topo na carreira política, passando pelo parlamento. Os atuais deputados, na sua grande maioria, são licenciados em leis, e as que elaboram e aprovam são de uma clareza e equilíbrio social que assombra o cidadão que tem conviver com elas. Os exemplos abundam no Diário da República e em livros normalmente grossos, onde é possível encontrar para a mesma coisa vários sins e os seus contrários. A tal “diarreia legislativa”, como a definiu um ilustre causídico.
Veja-se, por exemplo, a lei sobre a limitação de mandatos e a jurisprudência que sobre ela vai sendo produzida, não já pela Assembleia da República, como lhe devia ter competido em devido tempo, mas agora pelos tribunais, desde o de comarca até ao constitucional. Todos os interessados, por este ou aquele motivo, jogaram ao faz de conta, quer se trate de velhos democratas instalados, quer de novos candidatos, todos eles no fundo desejando que as indignações a clamar por mudanças não mudem coisa nenhuma, a não ser o pensar-se que não estamos a mudar nada do que quer que seja, uma mudança talhada à imobilidade de cada um. Parece confuso mas não é.
Mas para não pensarem que tenho qualquer preconceito contra a classe jurídica, mesmo quando ela dá deputados, gostaria de informar que tal não é verdade, e mais que, se na realidade é possível descortinar nas profissões dos dias de hoje alguns princípios medievais de casta, nos advogados, nos diplomatas, nos médicos, nos militares, nos estivadores e outras, eu sempre distingo as pessoas, os espíritos ilustrados para além dessas outras condições, quantas vezes talhadas logo à nascença, ou no colégio particular.
Para tal provar permitam-me que lhes ofereça este belo trecho de sábia prosa que fui encontrar na Revista da Confraria Eça-Dagobertiana de Oeiras (Brasil), n.º 2, 2013, página 179, da autoria do meritíssimo juiz Dr. Nazareno César Moreira Reis, que além de juiz federal pertence à Academia de Letras da Confederação Valenciana, cujo título, pedido emprestado, encima esta prosa:
«Haverá sempre uma tentação para avaliar a atualidade da crítica de Eça, não apenas em relação a Portugal, mas também ao Brasil e à sua vida intelectual, política e social. Aqui também os ecos de Fradiques e Pachecos parecem ainda reboar, e quando se discutem temas como Ciência, Educação, Política, Justiça, Economia, não são poucas as ocasiões em que são lembradas as nossas promissoras condições naturais, nossos grandes pensadores, nossos colossos teóricos, nosso futuro auspicioso – que, no entanto, não vingam na prática.
E o marasmo daí decorrente não é percebido como trágico, pois jamais se chega a formar um consenso sério sobre a gravidade do problema; ao contrário, ele é assimilado – nos momentos alegres das pequenas vitórias, por comemorações excessivas de bufonaria; nas pequenas derrotas, pelas portas da zombaria e do escárnio; e, nos momentos de funda tristeza, pela autocomiseração e falsa indignação coletiva – e se replica em mil novas manifestações, num estéril jogo catártico entre a algazarra, o deboche e a lamentação.»
            Nada mais verdadeiro, nada mais exato. E é triste a constatação de que transmitimos pelo ADN esta nossa imutável maneira de ser aos brasileiros e nem a esperança da miscigenação afro e ameríndia terá melhorado o fado. O Brasil, já de antes do tempo de Eça que é para nós portugueses uma esperança, as mais das vezes material, mas, que diabo, também física e mental para a regeneração dos viventes do Quinto Império, se possível antes do século XXIII. Mas escrito assim tão lapidarmente por aquele ilustre cidadão e ainda por cima homem de leis habituado a pesar a debilidade humana e a chicoespertice lusa, tropical ou não, varre-se-me de todo a esperança numa ideia de verdadeira mudança que me entretinha o alento.
É que, como já escreveu Eça em Os Maias «… a política em Portugal também se lançou na corrente realista. [Dantes] a política era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrório…. Hoje é o facto positivo – o dinheiro, o dinheiro! O bago! A massa! A rica massinha da nossa alma, menino! O divino dinheiro! (Os Maias, p. 579).
Por este andar, o século XIX ainda vai continuar por muito tempo em Portugal. E no Brasil. Os Maias continuarão pois a ser admirados à procura do seu próprio esconjuro. José Rentes de Carvalho fez recentemente o funeral ao Carlos da Maia e ao Ega no seu «O Rio Somos Nós» (Expresso), mas agora teremos de aturar os netos dos caseiros do primeiro que entretanto subiram na política.
Esta prosa também não saiu grande coisa, mas foi o que se pôde arranjar nestes dias de trabalho estival, enquanto o povão se diverte. Felizes os néscios.

J. A. Gonçalves Guimarães

Livros, Revistas e Jornadas


           Vinda de Oeiras – Piauí, Brasil, acaba de nos chegar às mãos o n.º 2 da Revista da Confraria Eça Dagobertiana, referente a 2013, recheado de notícias das suas atividades, comunicações e colaborações dos seus confrades, a qual, pela mão de Dagoberto Carvalho J.or, «confirma a perenidade da audiência de Eça de Queiroz no Brasil e que resiste incólume à passagem demolidora que o tempo, por vezes, tão injustamente provoca», como na contracapa se cita do prefácio que A. Campos Matos escreveu para Eça de Queiroz e Machado de Assis: o Realismo de cada um, daquele seu incansável divulgador no país irmão.
Entre o relato de encontros, seminários, saraus, lançamentos de livros, comemorações, defesa do património, a revista apresenta estudos sobre Os Maias, A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires, e ainda artigos sobre o escritor português e seu devoto seguidor e estudioso do Piauí, com a sua bibliografia aqui acrescentada com vários artigos sobre a sua amada Oeiras, assim batizada há 250 anos em homenagem ao Conde de Oeiras, depois Marquês de Pombal, por um seu irmão governador do Grão Pará.



Eça na Tailândia

Em 2011 fez 500 anos que os portugueses chegaram à Tailândia (Rio de Sião). Em 1820 Portugal foi o primeiro país ocidental a instalar aí uma missão diplomática. A 30 de Março passado foi ali lançada, na Galeria Nacional de Banguecoque, a tradução tailandesa de O Mandarim, feita pela Dr.ª Pralom Boonrussamee e revista pelo Dr. Wirat Siriwatananawin.
Entre a centena de convidados podiam ver-se entidades governamentais, corpo diplomático, professores e alunos das universidades de Chulalongkorn e de Tammasat (onde se ensina português) e descendentes de portugueses.
A edição foi patrocinada pelo Instituto Português do Oriente, com sede em Macau, presidido pelo Prof. Dr. António Vasconcelos de Saldanha, que esteve presente nesta cerimónia, bem assim como o Embaixador de Portugal Lima Pimentel, que apresentou uma síntese da biografia de Eça de Queirós como homem, escritor e diplomatas.
 (adaptado de José Martins/Maquiavelices. blogspot.com, 12 de julho 2013.

“ Eça Agora”


Com a publicação de Introdução à leitura d’ Os Maias, da autoria do nosso confrade Carlos Reis, completou-se ontem, dia 24 de Agosto, a oferta pelo jornal Expresso da sua edição comemorativa dos 125 anos deste romance, a qual, para além de mais uma reedição dessa obra em três volumes de bolso, contou com a edição de outros de três com contos de seis escritores atuais, que “prolongaram” aquela obra para além do romance original. Com este sétimo volume final ficam os leitores apetrechados para uma nova releitura deste clássico da Literatura Portuguesa Contemporânea.




Jornadas Europeias de Património

No próximo dia 21 de Setembro decorrerão no Solar Condes de Resende as comemorações destas jornadas, a partir das 15 horas, com a apresentação de vários projetos de investigação que decorrem nesta instituição realizados pelos técnicos superiores da Casa e pelos investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana conforme o seguinte programa: Joaquim António Gonçalves Guimarães – “Património Gaiense: um ponto da situação (a propósito do concurso das 7 Maravilhas de Gaia)”; António Manuel Silva – “O Castelo de Crestuma: notícia dos trabalhos de 2013”; António Sérgio dos Santos Pereira – “Acompanhamento arqueológico da Rua Rei Ramiro”; Susana Cristina Gomes Gonçalves Guimarães – “Aprestos e representações equestres da Coleção Marciano Azuaga”; Susana Maria Simões Moncóvio – “Francisco Pinto da Costa (1826-1869), desfiar a memória”; Sílvia Alexandra Monteiro dos Santos – “A indústria do vidro em Vila Nova de Gaia”; Maria de Fátima Teixeira – “Os Pimenta da Fonseca e a Companhia de Fiação de Crestuma”; Licínio Manuel Moreira Santos – “As cooperativas em Vila Nova de Gaia, dos finais de oitocentos ao advento da República”; Eva Cristina Ventura Baptista – “Biografia de Bernardo de Almeida Lucas”; Teresa Campos dos Santos - "Quem foi Paulino Gonçalves ?: Estudo sobre o pintor gaiense (1869-1953)".
Este evento assinala também os 25 anos de abertura do Solar Condes de Resende ao público, que ocorreu a 20 de Setembro de 1988 para acolher o Congresso Internacional sobre Bartolomeu Dias e a sua Época organizado pela Universidade do Porto com a colaboração do Gabinete de História e Arqueologia e da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, o qual reuniu então aqui um considerável número de especialistas mundiais em História da Expansão.


Outras

Escavações em Crestuma

Desde o dia 12 de Agosto prosseguem as escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma, as quais decorrerão até ao dia 30, dirigidas pelos arqueólogos Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva, com uma equipa formada por jovens arqueólogos do Gabinete de História, Arqueologia e Património tarefeiros no Solar Condes de Resende e estudantes de arqueologia. Os trabalhos este ano incidem na encosta poente e nos níveis elevados da praia de Favaios. No dia 22 de Setembro, aproveitando a maré, haverá uma nova intervenção no cais romano que se encontra soterrado naquela praia fluvial.
No passado dia 10, junto à entrada do Parque Botânico foi ali inaugurada a exposição itinerante: «Castelo de Crestuma: a Arqueologia em busca da História», na qual estiveram presentes César Oliveira, presidente da Assembleia Municipal, vários vereadores, Nuno Oliveira, diretor do Parque Biológico, José Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de Crestuma e vários convidados, tendo na ocasião os arqueólogos coordenadores do projeto referido os objetivos e os apoios recebidos para a concretização e divulgação do mesmo. A exposição está aberta todos os dias e no próximo dia 21 de Setembro, nas Jornadas Europeias de Património, abrirá ao público no Solar Condes de Resende.

Feira de Gastronomia de Vila do Conde

No passado dia 23 de Agosto abriu ao público a 15.ª edição da Feira de Gastronomia de Vila do Conde, este ano dedicada ao Pão.
Terra queirosiana por excelência, como habitualmente, a Confraria fez-se representar por vários confrades na cerimónia e no jantar de abertura que decorreu no restaurante da Feira.


Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 60 – Domingo, 25 de Agosto de 2013
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154

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