terça-feira, 25 de outubro de 2011

Eça & Outras

A TRETA E A CARETA
Sempre me surpreenderam aquelas pessoas que, possuindo formação académica e, às vezes, exercendo funções de relevância social com sucesso, em matéria de crenças, mitos, superstições, nas suas convicções pessoais e na sua prática cultural fora da sua profissão, evidenciam uma desconcertante ignorância, e acreditam (ou dizem que acreditam) em mitos que a História já explicou, ou remeteu para o caixote do lixo das convicções humanas. E o mais estranho ainda é que, algumas dessas pessoas, não escrevendo ou publicando nada sobre a sua formação de base, dão-se ao desplante de escreverem sobre temas da História, da Antropologia ou de outras ciências sociais, sem conhecerem, já não digo os seus métodos, pois de tal não têm obrigação, mas pelo menos a bibliografia mais atualizada sobre o assunto. Vai daí, descrevem e divulgam monumentais patranhas como certas e históricas sem qualquer sentido crítico, contribuindo assim para a perpetuação da ignorância, muitas vezes ao serviço de interesses instalados pouco claros, ou até demasiado óbvios, sendo um deles o turismo de multidões a qualquer preço: “A Praga”, como lhes chamou José Rentes de Carvalho num texto antológico. Tal é o caso de Santiago de Compostela. Entendamo-nos: ao ir visitar esta catedral e admirar a sua beleza resultantes da capacidade humana, não posso nem devo esquecer que estou perante um mito inventado no século IX para apoio político-militar à cruzada contra os mouros, cujas premissas são historicamente falsas, a partir das quais se criou toda uma metáfora em volta do gosto humano pelo passeio fora da terra. E mesmo se os que as inventaram estiveram convencidos da veracidade da sua crença, isso nada nos obriga hoje a partilhar dos erros das suas convicções, por mais humanamente tolerantes que sejamos, tal como ao visitar um templo inca, não temos de acreditar nos “mistérios” (alguns bem cruéis e desumanos) da sua religião. E muito menos divulgá-los como “verdadeiros”.
Ora acontece que, nos últimos tempos, se têm inventado “estradas de Santiago” que são “apenas” as velhas estradas romanas e os caminhos medievais, pois não havia outros até ao século XX; têm-se inventado multidões de peregrinos como se sempre assim tivesse sido, sendo certo e sabido que antigamente só os ricos viajavam, já que o povo vivia agarrado à sua gleba e na melhor das hipóteses peregrinava até ao santuário mais perto da sua terra. A lenda do galo de Barcelos não é a lenda do aviário de Barcelos e um galo, bem partidinho, só dá para quatro pessoas e não para multidões. Tem-se passado a mensagem de que o que está em Santiago é mesmo o que resta do corpo do apóstolo, o que até autores católicos, como Monsenhor Miguel de Oliveira, desmentiram há muito nos seus trabalhos. O que existe lá é arquitectura religiosa, imponente, sem dúvida, e turismo em volta da recordação de crendices de outras épocas.
Não se deve confundir o turismo cultural com o turismo religioso, nem promover monumentais patranhas como se de história se tratasse graças a uma bem engendrada campanha de marketing para público acrítico ou pouco letrado.
Faz-me lembrar aquela situação dos anos sessenta em que os portugueses iam em excursão a Tui e a Vigo comprar o bacalhau da seca de Lavadores em Gaia e que era levado para a Galiza em camiões durante a noite. Mas que diabo, nessas excursões não iam, normalmente, indivíduos de cuja formação académica e cultural se esperaria mais alguns conhecimentos e algum sentido crítico. Religião e Teologia também são outra coisa. Já Eça de Queirós tinha avisado que «… entre nós, a mentira é um hábito público. Mente o homem, a política, a ciência, o orçamento, a imprensa, os versos, os sermões, a arte, e o país é todo ele uma consciência falsa. Vem tudo da educação.» (Uma Campanha Alegre). Quem quiser que continue a tirar o chapéu às fantasias. Eu, por mim, caminho por caminho, prefiro o de S. Vicente, mas não sei se V.as Ex.as saberão de que é que estou a falar. E estou convicto que, em matéria de mitos e de cultura, em muitos cidadãos com responsabilidades, a treta não diz com a careta. Mas eles continuarão a difundir os seus mitos e este será mais um texto inútil dos muitos que tenho escrito. Mas a História não mente; às vezes é apenas pouco conhecida.
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário mor

GASTRONOMIAS & ENOFILIAS

IV Congresso da FPCG

Nos passados dias 7 e 8 de Outubro decorreu na Figueira da Foz o IV Congresso da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, tendo a Confraria Queirosiana estado presente através de uma delegação composta por César Oliveira, José Manuel Tedim e Gonçalves Guimarães.
As sessões decorreram sob os temas “A necessidade aguça o engenho”; “As Artes Culinárias de expressão popular de raiz rural e raiz urbana. Afastamento e Aproximação” e “Confrarias Gastronómicas: que realidade?; que propostas?; que futuro?”.
Para além das confrarias filiadas e outras com o estatuto de observador, estiveram ainda presentes delegações de confrarias do Brasil e de Angola.
No dia 7 decorreu o Jantar da Partilha, no qual as confrarias puseram à disposição dos participantes os produtos que promovem ou divulgam. Estiveram presentes os nossos vinhos, o espumante “Eça” que acompanha muito bem os leitões da Bairrada e outras iguarias presentes, e o Porto “Confraria Queirosiana” que brilhou no acompanhamento de diversas sobremesas.
No dia 7, após o jantar, decorreu a I Gala da FPCG com a atribuição de 8 troféus e respetivos diplomas em várias modalidades do mundo da gastronomia, tendo a Confraria Queirosiana sido uma das nomeadas para o troféu “Boas Práticas Confrádicas” que o júri atribuiu à confraria dos Nabos e Companhia, de Carapelhos – Mira, que tem promovido a degustação dos mais tenros grelos existentes no país, os quais já envia para a Europa, para felicidade daqueles que os degustam.
Este Congresso, para além de ter sido um encontro das Confrarias Gastronómicas mais ativas, contou com a presença de vários autarcas e presidentes de quatro regiões de turismo, tendo servido além do mais, para a consolidação do movimento confrádico nacional.

CONGRESSOS E COLÓQUIOS

Escritores e artistas médicos

A Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos realizou o seu Encontro de Outono em Vila Nova de Gaia nos dias 16, 17 e 18 passados, organizado por Miguel Miranda, médico e ficcionista autor, entre outras obras, de Dai-lhes, Senhor, o Eterno Repouso.
Os participantes visitaram o Mosteiro de Grijó, onde foi evocado Júlio Dinis, o Solar Condes de Resende, onde Gonçalves Guimarães lhes falou das ligações da casa a Eça de Queirós e já pela tarde na capela do Mosteiro de Corpus Christi lhes falou de médicos escritores de Gaia, como Osório Gondim, Maximiano Lemos, Manuel Ferreira de Castro ou, mais recentes, Jaime Milheiro e António Ramalho e ainda do médico artista Rufino Ribeiro. A delegação visitou ainda outros locais e o Centro Histórico de Gaia.

No tempo dos mouros

António Manuel Silva e Natércia Barbosa
No passado dia 22 de Outubro decorreu em Arouca por iniciativa do Centro de Arqueologia local com a colaboração da autarquia, o colóquio “No tempo dos Mouros”, o qual juntou numerosos arqueólogos que têm trabalhado no estudo dos castelos e outras estruturas dos séculos VIII – X na área do Entre Douro e Mondego.
O Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR-CQ esteve presente com uma comunicação sobre O Castelo de Crestuma, da autoria de António Manuel Silva, Filipe Pinto, J, A. Gonçalves Guimarães e Laura Peixoto. As atas serão publicadas no inicio do próximo ano.

Livros
A estrada de Leiria

No passado dia 17 de Setembro, foi lançado no Arquivo Distrital de Leiria o livro A Estrada de Rio Maior a Leiria em 1791, da autoria do nosso Confrade Ricardo Charters d’Azevedo e editado pela Textiverso. A partir de um mapa existente no Instituto Geográfico Português com 2,38 m, o autor faz uma análise da região centro do país naquela época, bem assim como dos protagonistas da sua realização. Este trabalho contém ainda pormenorizadas descrições de como se viajava e dos serviços de apoio ao viajante existentes no tempo de D. Maria I, no tempo em que havia preocupação com o “bem público”. A obra foi apresentada por António Santa Rita, especialista em estradas e Eduardo Zuquete, antigo vice-presidente da Junta Autónoma de Estradas.

Faraós



No próximo dia 8 de Novembro, terça-feira, pelas 18 horas, na FNAC de Santa Catarina no Porto, a Esfera dos Livros procederá ao lançamento de “Os Grandes Faraós do Antigo Egipto. 30 Faraós, 30 Dinastias”, da autoria do egiptólogo Luís Manuel de Araújo, vice-presidente da direcção dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, diretor da Revista de Portugal e professor na Universidade de Lisboa. A obra será apresentada pelo egiptólogo Rogério Sousa.




Exposições

Salon d’automne 2011

No Solar Condes de Resende continuam patentes ao público para venda as obras dos artistas queirosianos, nesta exposição que se deverá prolongar por todo o mês de Novembro.

Beatriz Pacheco Pereira

No dia 4 de Novembro, 6.ª feira, pelas 18 horas, Beatriz Pacheco Pereira apresenta na Galeria Por Amor à Arte, no Porto as suas mais recentes obras num conjunto intitulado “O Ponto Crítico”.
A mostra abre ao público no dia seguinte pelas 16 horas.

Homenagens

Pavilhão Nelson Cardoso

A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia decidiu homenagear Nelson Cardoso ex-presidente do Conselho de Administração da Gaianima, EEM, presidente do conselho fiscal dos Amigos do Solar Condes de Resende e Confrade honorário da Confraria Queirosiana, que faleceu subitamente a 19 de Janeiro deste ano, dando o seu nome a um pavilhão gimnodesportivo da Escola das Pedras, situado na antiga quinta do mesmo nome, ali junto do Castro de Mafamude.
A primeira pedra foi lançada no dia 20 de Outubro, sendo o ato presidido pelo Dr. Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara, acompanhado da vereação e outras autoridades, estando presentes os familiares do homenageado, muitos amigos e confrades.
O número oito da Revista de Portugal, a publicar em Novembro próximo, será igualmente dedicado à memória de Nelson Cardoso.

Grande prémio

Amanhã, dia 26 de Outubro, pelas 17 horas, no Foyer Principal do Cineteatro Avenida de Castelo Branco, a Associação Portuguesa de Escritores e a Câmara Municipal farão a entrega do Grande Prémio da Literatura Biográfica ao nosso confrade A. Campos Matos, galardoado pelo seu livro “Eça de Queiroz – Uma Biografia”.

Brindar com Porto

Não, não quero brindar com:

Vitor Constâncio, que não fiscalizou o BPN como devia, e já lá vai; Merkel e Sarkozy, porque a Europa não é deles.

Gostaria de beber um Porto com:

Rui Vilar, porque para que a cultura fique é necessário que se renove; Nelson Mandela, pela lucidez de uma vida; Bardem, pelo seu empenho pela causa dos saarauís.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 38 – Terça-feira, 25 de Outubro de 2011

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eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.