sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Eça & Outras



Relíquias

Lodoicea maldivica, Solar Condes de Resende

O ser humano tem o hábito de guardar relíquias, objectos aos quais atribui um significado, uma mensagem, um poder, um valor muito mais elevado do que o preço dos materiais de que são feitos. Na natureza outros animais têm atitudes parecidas, mas com objetivos mais práticos. E afinal foram os egípcios que deram um significado cultural às coleções de bolas de estrume dos escaravelhos. Adiante.
As relíquias variam em antiguidade – podem ser pré-históricas ou um lenço de Marylin Monroe; na matéria de que são feitas – desde a vulgar pedra de calçada até aos diamantes; podem ser obras de Arte ou um vulgar osso que a natureza criou; podem ter, à partida, diversas origens: religiosas; históricas; mágicas, ou ir assumindo todos estes significados, como é o caso da pá do forno da padeira de Aljubarrota. São-lhes atribuídos diversos poderes: o de fidelizar comunidades, o de curar achaques e doenças, o de estabelecer contatos com o divino, o de dar sorte, o de materializar crenças, o de caraterizar grupos, o de individualizar pessoas, o de simbolizar atividades.
Todos conhecemos exemplos: as “jóias da Coroa”; a Magna Carta; um bastão de marechal de império; as calças de Gungunhana, uma madeixa de D. Inês de Castro; um osso de santo; uma imagem de Buda, uma taça de futebol; o retrato do avô. Guardam-se em templos, museus, edifícios públicos, coleções privadas e, obviamente, em nossas casas. Por elas se luta e se morre, se percorrem distâncias, se fazem despesas. Mas são-nos fundamentais para o nosso dia-a-dia. Dispensaremos facilmente filósofos, sociólogos, psicólogos, politólogos e outros que tais com a simples asserção: diz-me que relíquias venéras e dir-te-ei quem és. Este mundo simbólico dá emprego a políticos, gestores, sacerdotes, museólogos, historiadores, comunicadores, seguradoras, e tantos mais. Não é diretamente cotado em bolsa, mas movimenta triliões de euros, dólares, yenes, mesmo não se sabendo onde param certas relíquias, como a Arca da Aliança, o Santo Graal, o livro de ouro de José Smith J.or, e tantas outras, fontes aliás inesgotáveis para livros, filmes e outras fantasias. Mas toda esta devoção corre agora o risco de ser substituída pela das imagens-relíquia guardadas nessa nova capelinha caseira que dá pelo nome de computador pessoal, que já vai ajudando a substituir aquelas outras e com algumas a serem descartadas, como é o caso dos livros, onde dantes se descreviam todas elas.
Ainda pior do que isso, existem ideias que se estão rapidamente a transformar em ideias-relíquias e que correm o risco de, tal como aquelas, passarem a ser apenas referências e símbolos a que o mercado, liderado e participado pelos efémeros cidadãos das modas, atribuirá cada vez menos valor. Por exemplo, a capacidade de trabalho; a sabedoria; a honestidade; a bondade; a modéstia. Face a tal panorama, resta-nos a nós historiadores (os trabalhadores da Memória), para sobrevivermos, irmos procurando que nos comprem algumas «medalhas, bentinhos, águas, lascas, pedrinhas, palhas», procurando que mantenham «a qualidade omnipotente de valores», ainda que poucos, dando nós «um caco de barro-» e recebendo «uma rodela de ouro…» (Eça de Queirós, A Relíquia), isto no que se refere às relíquias materiais, porque quanto às ideias-relíquia, já outros vendilhões delas se apropriaram e à custa da sua venda vivem como nababos. Culpa nossa, meus irmãos!

J. A. Gonçalves Guimarães

Cursos e palestras

Prossegue no Solar Condes de Resende o curso livre “Esplendor da Arqueologia: ciência, cultura e turismo”, no qual, no próximo dia 2 de Fevereiro, entre as 15 e as 17 horas, o Dr. Manuel Real, arqueólogo, historiador e diretor aposentado da Casa do Infante no Porto, falará sobre “Reflexões sobre o moçarabismo no Gharb Al-Andaluz”. A frequência do curso implica prévia inscrição.
Entretanto continuam as palestras das quintas-feiras às 21 horas no mesmo local, em que têm apresentado temas diversos J. A. Gonçalves Guimarães, José Manuel Tedim e António Manuel Silva, estas de entrada livre.
No próximo ano lectivo a Academia Eça de Queirós vai promover um curso livre sobre História Empresarial e Institucional, que contará com a colaboração de J. A. Gonçalves Guimarães, José Manuel Tedim, Silvestre Lacerda, António Manuel Silva e outros investigadores com obra publicada sobre estas temáticas.

Jantares

Jantar em Sintra

Aproveitando a presença de vários sócios e confrades na Jornada Queirosiana “O Ensino de Eça e o gosto pela Literatura” organizada pela Câmara Municipal de Sintra, no dia 16 de Fevereiro, sábado, no final dos trabalhos, decorrerá um jantar informal entre os queirosianos da região em local a indicar.
Aquelas jornadas são já um êxito devido ao elevado número de inscritos que ultrapassaram largamente o previsto.
As inscrições para o jantar terão de ser feitas para a Confraria Queirosiana.

Jantar em Leiria

Do mesmo modo, o mesário-mor da Confraria Queirosiana e outros confrades vão estar em Leiria entre os dias 21 a 23 de Fevereiro para participar no VIII Fórum Internacional organizado pelo Instituto Português de Sinologia, devendo na ocasião reunir num jantar os sócios e confrades daquela região para debate de ideias e implementação de acções queirosianas.

Livros

“Feliz de quem a abraça”

Na sua extensa bibliografia Luís Manuel de Araújo, egiptólogo e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, apresenta agora um novo título muito apelativo em todos os aspectos: “Erotismo e Sexualidade no Antigo Egipto”, Edições Colibri, edição profusamente ilustrada a cores e em monocromia, ao longo das suas 614 páginas.
Não sendo um novo tema nos estudos do autor – em 1995 publicou “Estudos sobre Erotismo no Antigo Egipto”, que teve duas tiragens e se encontra esgotado -, à facilidade de uma nova edição preferiu fazer obra mais dilatada, com novos dados sobre assunto tão interessante, coligindo e revisitando as suas análises publicadas em diversas revistas científicas e compulsando a investigação de outros egiptólogos nacionais e estrangeiros com interessantíssimas aproches sobre o tema.
Sendo este um daqueles livros que tanto interessam ao especialista e ao erudito, como ao cidadão ilustrado ou simplesmente curioso, pois a elegante escrita e hábil organização editorial da obra, já habitual nos títulos do autor, a todos contenta certamente com aplauso, pois aí poderão encontrar todas as situações que envolvem o afeto, o bem querer, a beleza do corpo e os prazeres da vida, que tão bem cultivados foram pelos antigos egípcios e que hoje nos podem servir de ponto de reflexão para o nosso quotidiano em muitos aspetos mais amargurado e mais triste, afinal mais desumanizado pelos tabus e preconceitos que os zangados guardiões da moral desde então nos tentaram impor, sem grande sucesso, como é sabido.
O autor, além de outros cargos é também grão-louvado da Confraria Queirosiana, membro da Academia Eça de Queirós, vice-presidente da direção dos ASCR-CQ e diretor da Revista de Portugal.

Ansiães

No próximo dia 26 de Janeiro, sábado, pelas 17 horas na Câmara Municipal de Ansiães, será lançado o livro do nosso confrade Eng.º Charters de Azevedo “Os Soares Barbosa – Ansianenses Ilustres”, que será apresentado pelo Dr. Manuel Augusto Dias, editado pela Textiverso.

Reedição de livro sobre Eça

No próximo dia 29 de Janeiro, terça-feira, no Grémio Literário em Lisboa será lançado o livro “Eça de Queiroz entre os seus. Cartas Íntimas”, apresentado pela Dr.ª Isabel Alçada e editado pela Leya/Caminho.


Mestrado

Concluiu com êxito as suas provas de Mestrado em Portugal Islâmico e o Mediterrâneo, o nosso consócio Dr. Marco Valente, que para tal apresentou a tese “Circulação monetária na urbe de Faro. O sítio da Horta da Misericórdia (D. Sancho I a D. Afonso V,1185 - 1481)”. O júri foi constituído pelos Professores Susana Gomes Martinez, Fernando Branco Correia, João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, que lhe atribuíram a classificação de Muito Bom.

Blogues

«Desiluda-se amigo/a: com blogue, twitter, iPhone, Facebook e o resto, você, eu, Lady Gaga, o Príncipe das Astúrias, o senhor Bernardino da padaria, Lili Caneças, e os restantes sete mil milhões de amarelos, pretos, esquimós, índios do Amazonas, suecos e minhotos, estamos sós, somos nada. Não adianta o fraseado. Oito, no melhor nove décadas, vamo-nos, ninguém dá conta que estivemos», lê-se no blogue “Tempo Contado” de J. Rentes de Carvalho (2013.01.21). Mas o que é certo, e até virem os deuses das outras galáxias diminuir a nossa orfandade humana, este blogue e o seu autor permanecem cada vez mais entre os seus amigos e admiradores. Entretanto a Panavídeo está a realizar para a RTP uma série de quatro documentários sobre personalidades portuguesas do século XX, entre as quais este escritor nosso confrade.

Por sua vez António Eça de Queiroz tem andado a coligir narrativas sobre os seus antepassados em www.escreveretriste.com. Na família todos temos vilões e santos e a memória nem sempre os distingue, sobretudo quando uns já no passado se vestiram de “santos” e outros tiveram o azar de serem rotulados de “diabos”. Uns e outros percorreram os caminhos da História, mas diferente foi a sua pegada. Mas inquiri-los vale sempre pelas possibilidades de uma boa reflexão.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 53 – Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013
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www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.