sexta-feira, 25 de dezembro de 2015




Selos, cartas e postais

         Entre os dias 1 a 13 de dezembro decorreu no Solar Condes de Resende a FilexGaya 2015, mostra filatélica organizada pelo Clube de Colecionadores de Gaia, comemorativa dos 170 anos do nascimento de Eça de Queirós. Entre muitos outros aspetos e, entre eles talvez o mais duradouro, o Solar teve pela primeira vez um postal com a imagem do seu pátio de entrada também impressa num selo e obliterada com um carimbo próprio com o seu logótipo, ou seja um inteiro postal.
São conhecidas as representações queirosianas na Filatelia e na Macrofilia portuguesa e brasileira, através de selos, carimbos e inteiros postais, e da Cartofilia com a edição de vários postais que, de tempos a tempos, se vão acrescentando com novos espécimes que fazem as delícias dos colecionadores. Recordemos aqui os selos emitidos pelos Correios de Portugal e pelos do Brasil em 1995, e de novo pelos de Portugal no ano 2000.
Mas menos conhecida ainda será a atividade epistolográfica do escritor que se traduz já em cerca de mil cartas e algumas dezenas de postais publicados por A. Campos Matos, o que demonstra que Eça de Queirós foi um comunicador postal compulsivo ao longo da vida, tendo ainda em conta que nem sequer conhecemos toda a sua correspondência, pois uma boa parte dela terá ido para o fundo do mar, naufragada com o navio que trazia para Portugal uma parte dos seus pertences após o seu falecimento em Paris. Quantas cartas e postais se terão assim perdido irremediavelmente nessa desgraça. Por outro lado, de quando em vez, ainda aparecem cartas inéditas no espólio dos destinatários, já para não falarmos da sua correspondência oficial que deverá existir no arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
            No Solar Condes de Resende, no arquivo que foi da família de sua mulher, também existem várias cartas, desde o século XVII até ao início do século XX, algumas das quais já publicadas, mas ainda não tratadas do ponto de vista Pré-filatélico ou Filatélico. Estão também nesse caso alguns outros núcleos documentais em fase de tratamento arquivístico, o espólio J. Rentes de Carvalho e o próprio arquivo do Gabinete de História, Arqueologia e Património.
            Por sua vez a autarquia gaiense possui notáveis coleções epistolares, como é o caso da correspondência entre Camilo Castelo Branco e o seu editor Eduardo da Costa Santos, pertencente à Coleção Marciano Azuaga e em depósito na Biblioteca Pública Municipal, já publicada e estudada por Alexandre Cabral. Também os arquivos pessoais de Teixeira Lopes, com cartas da mulher de Eça de Queirós e de Luís de Magalhães, algumas das quais o escultor publicou nas suas memórias, bem assim como o espólio epistolar de Diogo de Macedo, ambos existentes na Casa Museu Teixeira Lopes. Também muitas outras cartas em arquivos de empresas, instituições e de particulares, como o Arquivo Histórico A. A. Ferreira, cujo núcleo Hunt, Roope & Companhia deu origem ao artigo de Colin Lewis «Newfoundland–Oporto mail 1810-1865», na prestigiada BNATopics, vol. 61, n.º 4, outubro - dezembro de 2004, p. 5-33. Ou o Arquivo Histórico Adriano Ramos Pinto, com correspondência inédita com variadíssimas personalidades, sobretudo portuguesas e brasileiras, e uma fabulosa coleção de cartofilia, para além de tudo o mais que já tivemos oportunidade de publicar, com Graça Nicolau de Almeida, no livro Adriano Ramos Pinto Vinhos e Arte, 2013.
            As coleções epistolares são fundamentais para o entendimento da história universal, nacional e local e o seu estudo poderá um dia aclarar, por exemplo, as verdadeiras relações de Júlio Dinis com Grijó, as de Camilo com o Candal ou as de Adriano de Paiva, o inventor do princípio da televisão, com os físicos do seu tempo. Mas do ponto de vista Pré-filatélico ou Filatélico, elas poderão dar um enorme contributo para o estudo dos Correios em Portugal e das relações da Barra do Douro, e das duas cidades que a ladeiam, com o mundo, através do correio marítimo.
            Ao acolher esta iniciativa do Clube de Colecionadores de Gaia, apoiada pela autarquia e pela Confraria Queirosiana, o Solar teve em mente contribuir para uma maior divulgação da Filatelia e também da rentabilização cultural do seu espólio, enquanto vai acolhendo e divulgando o espólio alheio, partilhando assim a resplandecente luz do conhecimento de uma das mais nobres ocupações humanas que hoje está em rápida transformação: a comunicação postal que vence distâncias e abre portas de entendimento onde antes só havia os muros da distância, do desconhecimento ou da indiferença, substituídos por um possível entendimento através de um selo e um carimbo postal que assim autenticam essa relação, balizando-a no tempo e na história.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor
                                 

Natal de Oeiras
Dagoberto Carvalho Jr.
Chamavam-se “berços”
– de alecrim, andré-miúdo
e ingênua criatividade –
os presépios da minha infância,
cuja visitação era o Natal de Oeiras.
Antes das “árvores” que vieram de fora
e tomaram as salas,
colorindo-as de alegria alheia.
Lembro-me do que foi de Burane,
na Praça da Bandeira;
o de Dona Lourdes, na Rua do Norte;
o do Colégio das Irmãs,
em seu sobrado-convento,
antigo palácio dos presidentes da província.
O da casa de minha avó,
no Beco do Quartel,
tinha cama de madeira
porque o menino já era grande
e dormia de vestido de gesso.
Uma vez faltou luz elétrica.
 Demora-me a noite na memória,
como a lanterna vermelha que me levou
aos santos endereços da saudade.
Que nunca mais deixou de iluminar os meus Natais.
Natal de 2010


Sócios & Confrades

J. Rentes de Carvalho e esposa em Estevais do Mogadouro com delegação da Confraria Queirosiana
Rentes de Carvalho

         Foi recentemente publicado em De Gruyter – Ibero 2015:151-169 um artigo de Carlos Nogueira, da Universidade de Vigo, intitulado «Autobiografia, memória e tempo nos romances de J. Rentes de Carvalho», o qual pode ser visto em ielt.fcsh.unl.pt/notícias,1915, uma notável análise e síntese sobre a obra deste nosso confrade. Entretanto, para voltarem mais uma vez a confirmar que o escritor gaiense, durio-transmontano, holandês, europeu e felizmente ainda terráqueo existe mesmo, em carne, osso, mente e sagesse de vivre, no passado dia 20 de dezembro uma delegação da Confraria Queirosiana, composta por Maria de Fátima Teixeira, Susana Moncóvio e o autor destas linhas e da foto, deslocou-se a Moncorvo e a Estevais do Mogadouro para o cumprimentarem na companhia de sua esposa Loeckie, e ao mesmo tempo procurarem saber dos novos projetos literários, antes da sua próxima “fuga” para Amsterdam, por estrada, como sempre fazem. Na primavera sai novo livro em que Eça estará por detrás da sina migratória dos portugueses.

João Nicolau de Almeida

         No passado dia 16 de dezembro decorreu na Casa Ramos Pinto o habitual almoço de Natal, no qual estiveram presentes administradores e funcionários superiores da empresa, outras personalidades ligadas ao Douro e ao mundo dos vinhos, e o mesário-mor da Confraria Queirosiana, arqueólogo de Ervamoira. Na ocasião festejaram-se os quarenta anos de João Nicolau de Almeida como enólogo da marca e os vinte e cinco anos de sucessos do seu vinho “Duas Quintas”, tendo então sido anunciada pelo próprio a sua próxima passagem de testemunho na administração a Jorge Rosas. Novos desafios o esperam na empresa João Nicolau de Almeida & Filhos, e por isso aqui deixamos a este nosso consócio, glória da vitivinicultura nacional, os nossos votos de continuação de grandes sucessos, nomeadamente com o “Quinta do Monte Xisto 2013”.

Vida Queirosiana

Eça de Queirós em Coimbra

          Com a colaboração do jornal Público, terminaram no passado dia 4 de dezembro na Biblioteca Joanina as comemorações dos 725 anos da Universidade de Coimbra, que Eça de Queirós frequentou, e que tiveram como um dos seus momentos altos uma conversa entre os heterónimos Carlos Fradique Mendes e Bernardo Soares protagonizada pelos académicos Carlos Reis e Jerónimo Pizarro, no dia em que a brasileira Adriana Calcanhotto passou a ser embaixadora desta universidade. Entretanto o projeto Minha Língua, Minha Pátria, que o Público promoveu no Brasil, será também lançado em Portugal no próximo ano.

Prémio Fundação Eça de Queiroz

         Estão abertas as inscrições até ao dia 1 de Março próximo para os concorrentes a este prémio instituído pela Câmara de Baião e pela Fundação Eça de Queiroz, edição 2015/2016. Segundo o regulamento, podem habilitar-se os autores de textos sobre o universo literário de Eça de Queirós e/ou da Geração de 70, nas áreas dos estudos literários, estudos históricos, estudos culturais, estudos ecoliterários e outros. Consultar www.feq.pt/premio-feq-edicão-2015-2016.html

Projetos de investigação

Património Cultural de Gaia

Na sequência do protocolo firmado entre o Município de Vila Nova de Gaia, através da pessoa do seu presidente Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, e a Confraria Queirosiana, representada pelo seu presidente Prof. José Manuel Tedim, celebrado no passado dia 21 de novembro, o qual tem como objetivo o levantamento, análise e divulgação do Património Cultural de Gaia através da edição de 10 livros e outras ações complementares, decorreu no passado dia 11 de dezembro uma reunião geral na Casa da Presidência, à qual estiveram presentes muitos dos coordenadores e investigadores deste projeto. Sobre a importância do mesmo no contexto do programa cultural do município falou o presidente da câmara tendo definido as suas caraterísticas profissionais o coordenador geral J. A. Gonçalves Guimarães. No próximo dia 30 de dezembro decorrerá no Solar Condes de Resende a primeira reunião geral de coordenadores das áreas temáticas e, no dia 4 de janeiro, inicia os seus trabalhos a equipa de investigadores permanentes.

Equipa das ânforas

         No Solar Condes de Resende têm vindo a desenvolver-se uma série de estudos destinados a dissertações de mestrado e teses de doutoramento por um grupo de investigadores de arqueologia luso-espanhol orientados por Rui Morais, professor da FLUP e António Manuel Silva, do Gabinete de História; Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o contributo de Pedro Pereira do CITCEM (FLUP), os quais estão a analisar os milhares de fragmentos de ânforas encontrados em escavações arqueológicas em Vila Nova de Gaia desde os finais dos anos setenta do século passado, nomeadamente das estações do Castelo de Gaia, Monte Murado, Igreja do Bom Jesus de Gaia, Castelo de Crestuma e outras, tendo vindo a exponenciar a evidência das fortes e antigas ligações das povoações da margem esquerda do Rio Douro ao mundo mediterrânico. Para os distinguir de outros grupos de investigação que frequentam a Casa, o pessoal do Solar chama-lhes “a equipa das ânforas”.

Livros


O Egito Faraónico

            No passado dia 17 de dezembro foi lançado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa um novo livro de egiptologia de Luís Manuel de Araújo, intitulado O Egito Faraónico. Uma Civilização Com Três Mil Anos. O autor é professor naquela faculdade, investigador no seu Centro de História e secretário da sua revista Cadmo, e diretor da nova série da Revista de Portugal.

Aves de Portugal Continental

            No passado dia 15 de dezembro tinha sido lançado na Biblioteca Pública de Gaia o livro Aves de Portugal Continental, coordenado por José Frade e com prefácio de Nuno Oliveira, editado pela Almalusa.

Cursos e palestras

Cursos do Solar

            Entretanto prosseguiu no Solar Condes de Resende o curso livre sobre “13 monumentos e sítios carismáticos do Douro Atlântico (Gaia/ Porto/Matosinhos)” organizado pela Academia Eça de Queirós . Depois de no passado dia 14 de novembro José Manuel Tedim ter falado sobre “O Mosteiro da Serra do Pilar”, a 28 desse mês Luís Manuel Real falou sobre “A Sé do Porto”, a 5 de dezembro foi a vez de Henrique Guedes sobre “A Capela do Senhor da Pedra” e a 12 Joel Cleto sobre “O Mosteiro de Leça do Balio”.
            Seguem-se a 9 de janeiro as palestras sobre o “O Senhor de Matosinhos”, por José Manuel Tedim, a 17 “O Parque Biológico de Gaia e outros parques”, por Nuno Oliveira e a 31 “A Torre e o complexo dos Clérigos”, de novo por José Manuel Tedim. Prosseguindo depois em fevereiro, terminando a 6 de março.

Palestras do Solar

            Devido aos festejos da quadra natalícia e de fim de ano não se realiza no Solar este mês de dezembro a habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, sendo retomadas no dia 28 de janeiro com o tema “O Património Cultural de Gaia” por J. A. Gonçalves Guimarães.
_____________________________________

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 86 – sexta-feira, 25 de dezembro de 2015; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Dagoberto Carvalho J.or

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Eça & Outras

Dia natalício de Eça de Queirós

Efemérides queirosianas e outras

        Passam em 2015 várias efemérides queirosianas: 170 anos sobre o nascimento do escritor, 160 anos sobre o início da sua frequência do Colégio da Lapa, no centenário da morte de Ramalho Ortigão que ali foi seu professor e com quem viria a estar relacionado muito para além do seu tempo de vida. Passam este ano os 150 anos da polémica “Bom Senso e Bom Gosto”, e da qual foi principal protagonista o seu amigo Antero de Quental, o autor das Odes Modernas publicadas em 1865. Assinalem-se os 140 anos do início da publicação de O Crime do Padre Amaro, que fez mais pela mentalidade deste país do que todas as reformas educativas juntas, como já alguém disse e os exageros às vezes também são verdades. Lembremos ainda os 120 anos da demolição da Casa de Santo Ovídio no Porto, que originou a metáfora literária de A Ilustre Casa de Ramires que muitos ainda não perceberam, andando por aí a transformá-la em turismo de habitação. Ou os 115 anos da morte de Eça e o que isso significou de luto para a cultura portuguesa. Tudo isto é muito, tudo isto e muito mais está contido nas quase 1500 páginas da terceira edição do Dicionário de Eça de Queiroz de A. Campos Matos recentemente vindo a público ou, de outro modo, no ficcional Retrato Íntimo de Carlos da Maia (1838- 1930), do mesmo autor, tão cheio de efemérides queirosianas, cuja segunda edição, revista e aumentada, quase coincidia com o recente passamento de D. Maria da Graça Salema de Castro, fundadora e presidente da direção da Fundação Eça de Queiroz e confrade de honra da Confraria Queirosiana, que o número 12 da nova série da Revista de Portugal homenageia, bem assim como Beatriz Berrini, também recentemente falecida, ambas deixando mais pobre o nosso universo queirosiano luso-brasileiro, que Dagoberto Carvalho Júnior “do lado de lá” e outros “do lado de cá” se propõem manter permanentemente em expansão junto das novas gerações, para que a vida lhes sorria com mais elegância e proveito. Recordemos igualmente aqui os nossos caros mestres, professores João Francisco Marques, a autoridade em Vieira a partir da sua Póvoa de Varzim, a terra onde Eça nasceu, e o Humberto Baquero Moreno, grande medievalista e um dos fundadores em 1982 do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, entidade responsável por vários colóquios e congressos, publicações e projetos de investigação, entre eles as escavações arqueológicas da Quinta da Ervamoira no Vale do Côa, as quais, tendo decorrido entre 1985 e 2004, deram origem ao Museu de Sítio que ali continua a receber os seus visitantes e onde fomos recentemente comemorar os 30 anos do início daqueles trabalhos e os 25 anos do vinho “Duas Quintas”, também a partir dali criado por João Nicolau de Almeida. O “Gabinete”, o primeiro criado no país, chama-se hoje Gabinete de História Arqueologia e Património, está integrado, como grupo de trabalho profissional, na associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e continua a desenvolver projetos. E assim vamos lembrando datas da história e da vida, umas mais universais, outras mais pessoais, que de todas estas teias se faz o mundo em que vivemos.
Nos próximos tempos teremos certamente mais efemérides para comemorar, como quinhentos anos dos forais manuelinos, que vão sendo lembrados e estudados um pouco por todo o país, em 2016 os 150 anos de Eça a dirigir o Distrito de Évora na capital alentejana, em 2019 os quinhentos anos do início da primeira tentativa de circum-navegação por Fernão de Magalhães em 1519, no ano seguinte os duzentos anos da Revolução de 1820 e, dois anos depois, da Constituição Portuguesa de 1822 e da Independência do Brasil nesse mesmo ano. Ou apenas lembrar datas e factos, refletindo sobre eles e as suas causas, mesmo quando se trata de desgraças como o foi a Iª Grande Guerra, cuja evocação tem vindo a ser feita através de muitos estudos e publicações. Para que não haja nunca IIIª.
Este afã comemoracionista, só por si, não valerá grande coisa se não contribuir para um maior conhecimento da história do mundo, da do nosso país, da nossa cidade ou aldeia, dos nossos semelhantes, de nós mesmos. Quantos comemoram o seu próprio aniversário por hábito, sem que daí resulte grande coisa. E o Happy Birthday nunca mais foi o mesmo depois de Marilyn Monroe o ter cantado. Ao menos brindemos de quando em vez àqueles que nos tornaram os dias diferentes do simples plantar das batatas da sobrevivência. Merecem-nos isso e nós façamos por merecer a sua excecionalidade

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor

13º Capítulo da Confraria Queirosiana


Decorreu no passado sábado dia 21 de novembro, no Solar Condes de Resende, o 13º Capítulo da Confraria Queirosiana. A partir das cinco e meia da tarde foram chegando os confrades e convidados que, depois de desfilarem em direção ao salão nobre, foram recebidos pelos acordes do Grupo de Metais do Conservatório de Música de Gaia que atuou durante a cerimónia dirigido pelo maestro Jorge Pires. Seguiram-se as palavras de abertura por José Manuel Tedim, presidente da direção,  que fez o resumo das atividades do ano de 2015, a que se seguiu a apresentação das confrarias e outras instituições presentes por César Oliveira, presidente da mesa da assembleia geral, de entre as quais a Associazione Socio-Culturale Italiana del Portogallo Dante Allighieri, e a Buena Confradia de los Siceratores de Astúrias, a que se seguiu a saudação às Confrarias presentes por Ivo Caldeira, da Confraria Gastronómica da Madeira, em representação da Federação das Confrarias Gastronómicas Portuguesas.
         Seguidamente foi feita pelo mesário-mor J. A. Gonçalves Guimarães a evocação dos confrades falecidos, D. Maria da Graça Salema de Castro, e professores João Francisco Marques e Humberto Baquero Moreno, lembrando ainda a vida e a obra da professora Beatriz Berrini. Pelo diretor da Revista de Portugal, nova série, Luís Manuel de Araújo foi feita a apresentação do número 12, tendo sido chamados a receber um exemplar os autores presentes.
         Passou-se então à Insigniação dos novos confrades, classe mecenas: Professor Doutor Sebastião Feyo de Azevedo; Prof. Dr. José Luís Carneiro, e Dr. Albino Almeida. Preparavam-se os novos confrades para fazer o respetivo juramento quando o presidente da direção e o presidente da mesa interromperam o programa para lerem uma ata de uma reunião extraordinária da mesa da Confraria e da direção, convocada sem o conhecimento do secretário e mesário-mor, na qual decidiram elevá-lo ao grau de grão-mecenas neste capítulo. O visado ainda pensou protestar a legalidade da deliberação, mas lembrou-se que o excesso de modéstia quase sempre soa a falso e é muitas vezes uma forma encapotada de vaidade, aceitando assim esta prova de amizade e bem querença dos seus pares e colaboradores. Foi-lhe então imposta a respetiva insígnia, seguindo-se o juramento de todos os novos confrades, findo o qual o primeiro insigniado, reitor a Universidade do Porto, fez o discurso de encerramento.
         Em seguida os confrades deslocaram-se ao Jardim das Camélias para deporem uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós. Passaram depois às salas contíguas ao salão para apreciarem as obras expostas no Salon d’ Automne Queirosiano 2015, tendo voltado de novo ao mesmo local do capítulo para a assinatura de um Protocolo de Acordo de Colaboração para apoio à publicação de roteiros sobre o Património gaiense celebrado entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, representada pelo seu presidente Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, e a Confraria Queirosiana, o qual será realizado durante o ano de 2016 pelos investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património. 
         Seguiu-se o jantar queirosiano no pavilhão do Solar decorado com motivos “anos 20” da autoria de Susana Moncóvio, da mesma linha gráfica dos programas e ementas. Durante o mesmo atuou o grupo coral do Solar “Eça Bem Dito”, com canções da Belle Époque acompanhadas pela pianista Maria João Ventura e, na ocasião, com o contributo do ex-cônsul de Itália no Porto, Ten-General Ângelo Arena e esposa na canção “Torna a Surriento”, acompanhados por todos os comensais, que entoaram depois a “Rosa Tirana” dos Vencidos da Vida, o hino da Confraria. Depois o desfile de moda queirosiana da autoria da estilista Maria José Gomes e a atuação da Academia de Dança Gente Gira, seguida do Baile das Camélias que abriu com uma valsa de Strauss dançada pelos presentes. Os confrades prometeram não faltar no próximo ano, e entretanto a Confraria continuará a sua ação cultural.

Faleceu Macedo e Cunha
        
O Dr. Macedo e Cunha na assinatura do protocolo
entre a Confraria Queirosiana e o Grémio Literário em 2005.
No passado dia 4 de novembro faleceu em Lisboa aos 77 anos o Dr. José do Egipto Macedo e Cunha, presidente do Grémio Literário fundado em 1846 por, entre outros, Almeida Garrett, Sá da Bandeira e D. Manuel Bento Rodrigues. A 19 de janeiro de 2005 recebeu na instituição a Confraria Queirosiana que lhe foi propor a assinatura de um protocolo de colaboração, o qual viria a ser assinado no Solar Condes de Resende no capítulo realizado a 19 de novembro desse mesmo ano com a presença do ilustre finado. A 17 de fevereiro de 2006 a Confraria realizaria no Grémio Literário um capítulo extraordinário para insigniar como seu confrade de honra o arquiteto A. Campos Matos.
Com alguns sócios comuns e celebrando todos os anos o aniversário de Eça de Queirós no dia 25 de novembro, por ação do Dr. Macedo e Cunha, manteve ao longo dos anos, entre muitas outras atividades, a memória deste escritor que foi seu associado. Durante o seu mandato foi também retomada a atribuição do Prémio com o nome desta instituição, em 2014 atribuído à historiadora Maria de Fátima Bonifácio pela obra Um homem singular. Rodrigo da Fonseca Magalhães (1787-1858).
No ia de hoje aí será apresentada a produção ilustrada de diversas obras de Eça de Queirós por Rui Campos Matos, sob a designação de “O Manto Diáfano do Desenho”, a que se seguirá o habitual jantar queirosiano.

Homenagem a Barbosa da Costa
            No passado dia 30 de outubro a Associação das Coletividades de Gaia dirigida por César Oliveira organizou, no auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, uma homenagem a Francisco Barbosa da Costa como personalidade associativa do ano 2015, tendo estado presentes o presidente da câmara local, Eduardo Vitor Rodrigues, o presidente da assembleia municipal de Vila Nova de Gaia, Albino Almeida e o presidente da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, Augusto Flores, entre outras personalidades. A Confraria Queirosiana, nesta homenagem a este seu sócio e amigo, fez-se representar por J. A. Gonçalves Guimarães e Maria de Fátima Teixeira.

Exposição O Traço das Confrarias
        

No passado dia 30 de Outubro abriu ao público na Galeria de Exposições da Biblioteca Municipal de Ovar, com o apoio da Confraria Gastronómica local, a exposição “O Traço das Confrarias”, com mostra de trajos, símbolos, produtos e bibliografia sobre as ditas. A Confraria Queirosiana fez-se representar na sessão de abertura por Susana Moncóvio e J. A. Gonçalves Guimarães. A mostra encerrou a 22 de novembro.

Salon d’ Automne queirosiano 2015
        
A 7 de novembro passado abriu ao público, no Solar Condes de Resende, o Salon d’Automne Queirosiano 2015 na sua 10ª edição, com obras de Arte, pintura, escultura e cerâmica, de Abel Barros, Ana Matos, Angelina Rodrigues, António Almada, António Pinto, António Rua, Carolina Calheiros Lobo, Cerâmica do Douro, Emília Maia, Hélder de Carvalho, Ilda Gomes, Luísa Tavares, Maria Eduarda Vilhena, Rosalina Sousa e Valença Cabral. O Catálogo, concebido por Fátima Teixeira que, desde 2006, tem sido a comissária da exposição, apresenta um texto de J. A. Gonçalves Guimarães sobre “A Arte em Vila Nova de Gaia nos últimos 50 anos”.

Congresso das Coletividades

No passado dia 7 de novembro decorreu no Fórum Lisboa o Congresso Nacional das Coletividades, Associações e Clubes sob o lema “Associativismo Popular uma força social com visão e com futuro!”, organizado pela Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, recreio e Desporto, tendo sido abordados aspetos relacionados com a legislação, Direitos de Autor, voluntariado e o associativismo na Europa e no Mundo. A Confraria queirosiana fez-se representar por Licínio Santos e Amélia Cabral.

Feira de São Martinho
         No dia 8 de novembro passado decorreu no Solar Condes de Resende a habitual Feira de S. Martinho organizada pala Confraria Queirosiana em colaboração com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e a Junta de Freguesia de Canelas, para venda de produtos tradicionais do Douro e de Vila Nova de Gaia. Contou ainda com a colaboração de um Grupo de Fados formado por antigos alunos das Academias do Porto e de Coimbra que atuaram na escadaria do Solar.

Exposição Major Simões Duarte
         No dia 11 de novembro, integrada nas comemorações do 97º aniversário do armistício da Grande Guerra, 41º do fim da última Guerra Colonial e 92º da Liga dos Combatentes, foi inaugurada no Forte de Belém em Lisboa a exposição de pintura do Major Simões Duarte “Dos famosos aos anónimos”, organizada pela Liga dos Combatentes.

Prémio Prof. Reynaldo dos Santos
          Neste ano de 2015 a Federação Portuguesa dos Amigos dos Museus de Portugal, de que a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana é membro, atribuiu o prémio Prof. Reynaldo dos Santos à Liga dos Amigos do Museu de Lamego pela exposição itinerante «Cister no Douro» de que foi comissário científico o Prof. Doutor Nuno Resende, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e membro dos corpos gerentes dos ASCR-CQ. A entrega do prémio a este nosso confrade teve lugar no passado dia 14 de novembro no Grémio Literário no Encontro sobre “O Contributo das Associações dos Amigos dos Museus para a Dinamização Cultural” promovido pela FAMP.

Foz Literária
         No passado dia 18 de novembro pelas 18,30 horas decorreu no Forte de São João Baptista da Foz do Douro uma sessão sobre “Eça entre nós nos 170 anos do nascimento”, promovida pela união de freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, com intervenções de J. A. Gonçalves Guimarães e José Valle de Figueiredo, estando presente uma seleção da Coleção Queirosiana de Paulo Sá Machado. Seguiu-se um jantar queirosiano no Hotel da Boa-Vista.

Analista de Interiores
          A já aqui anunciada mais recente obra de Jaime Milheiro, o livro “Analista de Interiores…Misteriosidade” foi lançada em Lisboa no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas Sociais e da Vida (ISPA), em Lisboa, no passado dia 19 de novembro, com apresentação de Maria José Gonçalves e Eduardo Sá.


Revista de Portugal
        
Na capítulo da Confraria Queirosiana do passado dia 21 de novembro foi apresentado pelo seu diretor, Luís Manuel de Araújo, o número 12 da nova série da Revista de Portugal, fundada em 1889 por Eça de Queirós, com artigos de Dagoberto Carvalho J.or sobre Beatriz Berrini, de J. A. Gonçalves Guimarães sobre as escavações arqueológicas e o Museu de Sítio da Quinta da Ervamoira, de Maria de Fátima Teixeira sobre a Companhia de Fiação de Crestuma, de Alda Barata Salgueiro sobre a poesia de Antero de Quental, de Anabela Mimoso sobre o ensino da Língua e Literatura portuguesas, de José Gonçalves sobre a visita de Andresen a Sintra, de Nuno Resende sobre Cinfães na sátira literária oitocentista, de José António Afonso sobre a criança rural em Portugal, de Jaime Milheiro sobre saúde mental, de Luís Manuel de Araújo sobre a presença copta em Portugal, e ainda a bibliografia dos sócios e confrades e as atividades da Confraria referentes ao ano de 2014.
         A capa apresenta um muito pouco conhecido retrato a lápis de Eça de Queirós tirado do natural por Jorge Colaço e publicado a 20 de junho de 1893 na capa de A Revista. Illustração Luso-Brazileira, ano 1, n.º 2.

Colóquio dos Olivais
         Entre os dias 23 e 28 de novembro está a decorrer no Centro Cultural Eça de Queiroz nos Olivais, Lisboa, o seu XXI Colóquio, que engloba o II Colóquio Rádio Mais Cultura e o I Colóquio Luso-Brasileiro, organizado pelo seu presidente Fernando Afonso Andrade Lemos, em colaboração com diversas entidades, tendo como palestrantes, entre outros, para além do organizador, os confrades César Veloso e Luís Manuel de Araújo.

Centenário de Ramalho Ortigão
        Amanhã, dia 26 de novembro, pelas 18 horas o Prof. Doutor Jorge Fernandes Alves, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, fará uma conferência no auditório da Biblioteca Pública Municipal do Porto sobre “ O Brasil e a emigração sob o olhar de Ramalho Ortigão”.

Direitos do Homem no Solar
         No mesmo dia 26, mas às 21,30 horas, nos habituais serões culturais das últimas quintas-feiras do mês, decorrerá no Solar Condes de Resende uma palestra sobre “ A Amnistia Internacional e os Direitos Humanos neste início do século XXI, pelo Eng. Almeida dos Santos, presidente da assembleia geral desta instituição.

Os portos do Porto
         No próximo dia 3 de dezembro decorre no Hotel Vila Galé no Porto pelas 19,30 horas um debate sobre “Os ilustres portos do Porto, cidade e região”, o qual terá como orador convidado, entre outros, Manuel de Novaes Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
_________________________________________________________
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 85 – quarta-feira, 25 de novembro de 2015; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Susana Moncóvio.  

domingo, 25 de outubro de 2015

Eça & Outras


Dicionário de Eça de Queiroz
de A. Campos Matos

Acaba de ser lançada no mercado a 3.ª edição revista e ampliada do Dicionário de Eça de Queiroz, organizado e coordenado por A. Campos Matos e editado pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, com a colaboração da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Letras. Trata-se de um “livro-monumento” com 1470 páginas o qual, como escreve o seu criador na «nota preambular da presente edição», este «foi o primeiro dicionário literário de autor em Portugal», aparecido em 1988, com 2.ª edição revista e aumentada em 1993, mais um suplemento em 2000 e agora esta terceira edição com um total de 1113 verbetes e 103 colaboradores, entre eles, para além de A. Campos Matos, que assegura a autoria do maior número de entradas temáticas, também de Américo Guerreiro de Sousa, Dagoberto Carvalho J.or, Guilherme de Oliveira Martins, J. A. Gonçalves Guimarães, Isabel Pires de Lima, Luís Manuel de Araújo, Mário Vieira de Carvalho, Susana Gonçalves Guimarães, e muitos outros, sendo citados em vários verbetes, Norberto Barroca, Paulo Sá Machado, Jaime Milheiro, Ana Teresa Peixinho, Carlos Reis, Ana Margarida Dinis Vieira e outros autores queirosianos portugueses e brasileiros.
            Perante a evidência desta obra não haverá muito a dizer, porque o melhor é lê-la, usá-la e desfrutá-la, quer como instrumento de trabalho na busca de uma maior e aprofundada procura da compreensão do universo queirosiano, mas também por puro deleite intelectual. Para além de capítulos imprescindíveis, como a (ainda mais) atualizada “Cronologia” sobre a vida e época do escritor, o “Esquema cronológico das obras”, e o “Esquema cronológico dos póstumos”, ou mesmo os “Índices” onomástico e temático, bibliografia essencial, notícias críticas sobre a 1.ª edição, índice remissivo, e a “ Bibliografia atualizada, desde 2000, seletiva”, este Dicionário abrange não só todos os grandes temas queirosianos, mesmo os “problemáticos”, como a questão do nascimento do escritor, as suas doenças ou fontes de inspiração, mas também as novas abordagens como “Atualidade de Eça de Queiroz. Sete reflexões”, de A. Campos Matos; Erotismo queirosiano”, por Ana Luísa Vilela; “Homossexuais”, pelo coordenador; “ Palestina”, idem; “Pamplona Carneiro Rangel, Manuel”, pelo autor destas linhas e sua filha Susana Gonçalves Guimarães; “ Relações da família de Eça de Queiroz com os críticos” ainda pelo coordenador; “(A) República e Eça”, idem; “Semitismo e Antissemitismo, idem; “Sexo e sensualidade em Eça de Queiroz”, idem; “Sonhos”, idem; “Verdemilho”, por Jorge Henriques, para só falar em alguns daqueles verbetes que vieram atualizar a problemática da vida e obra do escritor.
            Obra gigantesca, séria, prática e útil, resultado do labor de toda uma vida devotada ao escritor por quem continua a surpreender-nos com novas edições, como o Diário Íntimo de Carlos da Maia, dirão que, como seu ínfimo colaborador sou parte pouco isenta nesta apreciação. É possível mas, perante a evidência da sua qualidade global, tal critica não terá qualquer interesse. Como escreveu Eça de Queirós ainda jovem moço, «Hoje, que tudo é imenso e exagerado, nesta vida moderna, cujo verdadeiro nome é paroxismo, pouco se pode ler: os livros sucedem-se: poemas, histórias, romances, poesias, críticas, ciências, dicionários, tudo nasce, passa, voa, é lido, estudado, esquecido e lançado ao monturo. Para colher uma ideia, para saber um facto, para escolher uma opinião, é necessário ir duns a outros, sem cessar, correndo, ler uma página, relancear a vista por um índice, colher na passagem o título de um capítulo. Hoje há mais coisas a saber: o mais pequeno sábio não pode ter a sua pequena consciência satisfeita sem ter lido mil livros, aberto crédito a mil sistemas. Quem sabe onde nos levará este abuso do espírito?» (Eça de Queirós, Distrito de Évora, 1867). A resposta deixo-a ao leitor.
Mas este Dicionário virá ajudá-lo, e muito, no que diz respeito ao universo queirosiano. As possíveis falhas ou omissões da obra são aqui como os coruchéus que faltam nas Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha. Se lá não estão, percebe-se onde deviam estar, mas não fazem grande falta à sua incontornável monumentalidade. E, além do mais, este livro não é uma mostra de paleontologia literária ou ensaística, mas sim uma maternidade de estudos a haver. O coordenador continuará embebecido a acolher cada novo contributo insuspeitado sobre a vida, a época e a obra de Eça de Queirós, que esta sua opera maxima, na próxima edição, continuará a admitir.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor


Faleceu Beatriz Berrini

           
Beatriz Berrini e Dagoberto Carvalho J.or
www.diariodepernambuco.com.br


    No passado dia 24 de setembro faleceu em São Paulo, Brasil, a Professora Doutora Beatriz Berrini, uma das maiores autoridades sobre a obra de Eça de Queirós. Doutorada em Letras pela Universidade de São Paulo em 1982 com a tese “Portugal de Eça de Queiroz”, foi professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, em Portugal, membro do conselho cultural da Fundação Eça de Queiroz em Baião. Responsável pela publicação da Obra Completa do escritor no Brasil no ano 2000, são de sua autoria muitos outros títulos, como Comer e Beber com Eça de Queiroz, Rio de Janeiro, 1995, onde teve a colaboração de Maria de Lurdes Modesto, o qual permanece como uma referência obrigatória no que diz respeito à gastronomia dita queirosiana. Na foto acima, com o seu grande admirador e discípulo Dagoberto Carvalho J.or

Guilherme d´ Oliveira Martins

            No passado dia 30 de setembro, festejando os 70 anos do Centro Nacional de Cultura em Lisboa, decorreu o primeiro de um conjunto de quatro encontros sobre ciência, política e cultura científica, em homenagem a José Mariano Gago, ex-ministro da Ciência falecido em abril, na abertura do qual o presidente da direção do CNC, Guilherme d’Oliveira Martins, defendeu que «Não há cultura sem haver cultura científica». Além de presidente do Tribunal de Contas, conferencista, autor de diversos livros e de uma crónica quinzenal no Jornal As Artes Entre as Letras, foi recentemente indigitado para administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

João Nicolau de Almeida

            Em 1990 João Nicolau de Almeida criou o Duas Quintas a partir das uvas da Quinta da Ervamoira e da Quinta dos Bons Ares, vinho esse que acabaria por mudar o paradigma dos vinhos de mesa durienses. Em 1998 o seu criador foi eleito pela revista Wine and Spirits “homem do ano e um dos 50 enólogos mais influentes do mundo”. Em tempos recentes foi doutorado “honoris causa” pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consta que vai deixar o seu lugar na Casa Ramos Pinto para se dedicar a um novo projeto vinícola com os seus filhos através do vinho Monte Xisto. Não cremos que na realidade se vá reformar, pelo que continuaremos a ter excelentes produções vinícolas com a sua assinatura. E entretanto vamos celebrando, nos momentos felizes da vida ou mesmo nos outros, com os seus Duas Quintas e os seus Porto.

Deputado arqueólogo

            Foi recentemente eleito para o Parlamento pelo Bloco de Esquerda o estudante de arqueologia Luís Monteiro, que em 2013 participou nas escavações do Castelo de Crestuma, sendo aliás o mais jovem deputado eleito para esta legislatura. Sabendo-se que também foram eleitos alguns inimigos declarados da atividade arqueológica talvez o jovem deputado consiga convencê-los da importância cultural e social da profissão que escolheu. Ou pelo menos denunciar as situações em que as leis de proteção ao Património Arqueológico são sistematicamente violadas em nome do “progresso” e da “economia”, com os resultados que se conhecem, normalmente desastrosos.

Livros

      A. Campos Matos
           
             
Acaba de sair a 2ª edição, revista e aumentada, da obra ficcional Diário Íntimo de Carlos da Maia (1839 - 1930) de A. Campos Matos, pelas Edições Colibri, apenas um ano depois da sua primeira edição.
            Notável efabulação sobre a personagem queirosiana, muito bem alicerçada em factos históricos cronologicamente aferidos, o seu maior encanto é o saber-se onde termina a personagem reinventada e começa o autor, ou vice-versa. Num mundo, que já então parecia girar mais apressado, Carlos da Maia anota a 24 de dezembro de 1930 que «nós aqui não sentimos a crise porque somos tão pobres que não chegou a atingir-nos». Afinal, para quê, nos dias de hoje, «tanta necessidade aborrecida», como se interroga no final do diário a personagem de Eça que recriada neste seu diário pessoalíssimo que convida o leitor a várias cumplicidades. E não é só no budismo que existem reincarnações…

Mário Cláudio

           
Entre 15 e 18 de outubro decorreu em Penafiel o programa Escritaria 2015 que este ano homenageou a vida e obra do escritor Mário Cláudio.
            De seu nome completo Rui Manuel Pinto Barbot Costa, descendente da família Mavinhé de negociantes do Porto de origem francesa, adotou aquele nome literário com que se identifica como autor de uma vasta obra que abordou, entre muitos outros, o tema queirosiano da Batalha do Caia. No dia 16 e outubro no Museu de Penafiel apresentou a sua mais recente obra, o romance autobiográfico Astronomia, no qual, com uma despudorada elegância conta ao leitor a sua vida ficcionada por ele próprio. Em determinada parte do seu trajeto profissional, tendo estado ao serviço da Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia, no período de transferência das acanhadas instalações na Casa-Museu Teixeira Lopes para o novo edifício, o qual coincidiu com o 25 de Abril, teve então de suportar os vira-casaca que, tendo antes apoiado o anterior regime, lhe apareceram então na sua nova postura de democratas de fresca data dispostos a fazer auto-de-fé dos livros de autores supostamente afetos ao regime deposto. Por isso este seu livro vale também como registo e testemunho da mediocridade oportunista daquela época em que tudo se equacionou, mas raramente o essencial.
            Desta sua breve passagem pela instituição ficaram dois interessantes textos: “O Arquivo da Confraria do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Marinha de Vila Nova de Gaia: Inventário Preliminar seguido de Inventário Analítico de sua Legislação e Contencioso, trabalho apresentado na Cadeira de Arquivologia e Arquivoeconomia do Curso de Bibliotecário-Arquivista, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra”, de 1975, precioso repositório de um arquivo fundamental para a História das duas cidades do Baixo Douro, ainda não publicado e que continua inacessível aos investigadores; e o livro Cale - antologia de textos sobre Gaia, organização e prefácio, editado pela Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia em 1976, que veio despertar uma gaialidade adormecida desde o final do século XIX.

Congressos, colóquios, visitas e cursos

I Congresso Internacional As Aves na História Natural, na Pré-História e na História

Decorreu entre os dias 23 a 27 de setembro passado na Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa este congresso organizado pelo Centro Português de Geo-História e Pré-História. Da comissão científica fizeram parte Fernando Coimbra, membro da entidade organizadora, e Luís Manuel de Araújo, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que fez a comunicação de encerramento sobre “O falcão aped-apedu, a ave das aves do Antigo Egipto”.


Curso do Solar Condes de Resende

           
O presidente da Câmara Eduardo Vítor Rodrigues
entrega os certificados aos alunos inscritos no curso anterior

No passado dia 10 de outubro teve lugar a abertura do curso “13 monumentos e sítios carismáticos da região do Douro-Atlântico (Gaia/Porto/Matosinhos)”, organizado pela Academia Eça de Queirós e certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente, com a presença de Eduardo Vitor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia; Virgínia Barroso, diretora daquele Centro de Formação; J. A. Gonçalves Guimarães, diretor do Solar, e Carlos Sousa dirigente dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana. No início da sessão foram entregues os certificados do curso anterior sobre “História e Carisma da Região do Douro Atlântico (Gaia, Porto, Matosinhos); 5ª edição” aos alunos que o frequentaram, tenho os elementos da mesa salientado a importância destes cursos que aqui se realizam desde 1991. De seguida, e já na qualidade de sociólogo, de professor universitário e de académico da Academia Eça de Queirós, Eduardo Vitor Rodrigues proferiu uma lição sobre “O desenvolvimento da Região Norte” que prendeu a assistência muito para além do horário. O curso prosseguiu no dia 17 com uma aula sobre “O Centro Histórico de Gaia” pelo historiador e arqueólogo J. A. Gonçalves Guimarães; no dia 24 com o tema “O Centro da Cidade Palco da História do Porto” pelo historiador Francisco Ribeiro da Silva e prosseguirá no dia 7 de novembro com “ A Casa do Infante” pelo arqueólogo António Manuel S. P. Silva e no dia 14 com “O Mosteiro da Serra do Pilar” pelo historiador da Arte, Carlos Ruão, continuando em dezembro, dia 5, com “ A capela do Senhor da Pedra” por Henrique Guedes e dia 12 “O Mosteiro de Leça do Balio” por Joel Cleto.
            Entretanto no passado dia 1 de outubro reabriu também no Solar Condes de Resende o curso livre de “Pintura e outras expressões plásticas” orientado pela Professora pintora Paula Alves, que leva alguns dos seus alunos a participar no Salon d’Automne Queirosiano 2015 que abrirá também no Solar no próximo dia 7 de novembro pelas 17,30 horas.

Mosteiro de Grijó

 Ainda no passado dia 10 de outubro o professor, historiador da Arte e membro da Academia Eça de Queirós, José Mauel Tedim, conduziu uma visita guiada da Associação Cultural Amigos de Gaia ao Mosteiro de Grijó, onde falou sobre e evolução artística do monumento onde finalmente se encontra em lugar de destaque o sarcófago de D. Rodrigo Sanches, situação requerida já em 1986 pelo Gabinete de História e Arqueologia. Entretanto continuam por publicar os resultados das escavações ali em tempos efetuadas.

Centro Republicano Latino Coelho

             Também ainda no passado dia 10 de outubro o Centro Republicano Latino Coelho realizou uma sessão no Arquivo Municipal de Vila Nova de Gaia para lançamento da 2ª edição de um livro sobre os patronos das ruas de Coimbrões e as memórias sobre esta centenária associação. Foram palestrantes, Manuel Moreira, sobre a evolução da legislação autárquica; Júlio Gago sobre o Latino Coelho e o Teatro e J. A. Gonçalves Guimarães sobre Toponímia gaiense. Também presentes outros confrades queirosianos parentes de patronos de ruas em Coimbrões, como os Calheiros Lobo.

Arouca Geopark

            No passado dia 16 de outubro o Arouca Geopark preparou um programa de atividades com a colaboração do arqueólogo António Manuel S. P. Silva, do Centro de Arqueologia de Arouca, que falou sobre «Arqueologia como contributo para o desenvolvimento» no Mosteiro de Arouca.

Fado em Gaia

            Ontem, dia 24 de outubro, a bordo do navio de cruzeiros Tomaz do Douro, decorreu a 2ª edição do Gaia é Fado promovido pelo jornal O Gaiense, a qual teve como vencedora Joana Lopes. Na ocasião foi homenageada a memória de Adriano Correia de Oliveira, estando presentes, além de familiares, o seu camarada de Coimbra, Manuel Freire, o criador da canção Pedra Filosofal, com poema de António Gedeão, e os fadistas António Pinto Basto e Cidália Moreira. Na terra de Jorge Fontes, Nuno Guimarães, António Lousada e tantos outros nomes ligados ao fado, esta realização teve o apoio da Câmara Municipal e de muitas outras entidades. Foi presidente do júri o Dr. Manuel Filipe, diretor dos Auditórios de Gaia e presidente do conselho fiscal da Confraria queirosiana.

Gaia e Ceuta 1415

            No próximo dia 29 de outubro, pelas 21.30 horas, decorrerá no Solar Condes de Resende uma palestra sobre Gaia e Ceuta proferida por J. A. Gonçalves Guimarães, na qual o historiador vai referir-se aos heróis locais que participaram no feito em 1415, de um dos quais, Álvaro Anes de Cernache, ainda hoje moram descendentes nesta cidade, há seiscentos anos!

Feira de São Martinho

            No dia 8 de novembro, domingo, no Solar Condes de Resende, organizada pela Confraria Queirosiana com a colaboração da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, da Junta de Freguesia de Canelas e da Associação de Amigos de Pereiros (S. João da Pesqueira), vai decorrer a tradicional Feira de S. Martinho com a venda de produtos do Vale do Douro, petiscos e artesanato, a qual terá como animação um grupo de fados de Coimbra.


170º Aniversário de Eça de Queirós

No próximo dia 16 de novembro na série de encontros denominada Foz Literária, que decorrem no Castelo de S. João da Foz no Porto animados por José Vale de Figueiredo, haverá uma sessão dedicada a Eça de Queirós em que serão palestrantes, além do organizador, José Maia Marques e J. A. Gonçalves Guimarães, em que este último falará sobre os biógrafos e as biografias do escritor.

Capítulo da Confraria Queirosiana

            Como todos os anos desde 2003, decorrerá no próximo dia 21 de novembro o Capítulo anual da Confraria Queirosiana no Solar Condes de Resende, este ano assinalando a efeméride dos 170 anos do nascimento do escritor, à qual é dedicada o número 12 da nova série da Revista de Portugal. Na ocasião serão insigniados o reitor da Universidade do Porto, Professor Doutor Sebastião Feyo de Azevedo, o presidente da Câmara Municipal de Baião, Dr. José Luís Carneiro, o presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, Dr. Albino Almeida e outros novos confrades de número e de honra.
            Haverá também um jantar queirosiano com canções da Belle Époque, um desfile de moda inspirado na mesma época e o Baile das Camélias no final.


Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 84 – domingo, 25 de outubro de 2015; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: António Manuel Silva; Licínio Santos