segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eça & Outras

Documento secreto sobre a guerra no Afeganistão

Enquanto se aproxima do fim a guerra política em Portugal para aprovação do Orçamento de Estado para 2011, esta página, à falta de melhor, e tal com os grandes jornais americanos, entendeu também divulgar um documento secreto sobre a guerra no Afeganistão, a qual é muito mais antiga do que aquela outra entre o PSD e o PS. Efectivamente, foi-nos enviado em tempos pelo nosso agente secreto em Leiria, Eng.º Charters d’Azevedo, com pedido de divulgação cautelosa para não ferirmos susceptibilidades diplomáticas na próxima cimeira da OTAN em Lisboa, o seguinte texto de Eça de Queirós:
«Os ingleses estão experimentando, no seu atribulado império da Índia, a verdade desse humorístico lugar comum do séc. XVIII: “A História é uma velhota que se repete sem cessar”.
O Fado e a Providência, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episódios da campanha do Afeganistão em 1847, está fazendo simplesmente uma cópia servil, revelando assim uma imaginação exausta.
Em 1847 os ingleses, "por uma Razão de Estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia..." e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes - invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame, e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.
No nosso tempo, precisamente como em 1847, chefes enérgicos, Messias indígenas, vão percorrendo o território, e com os grandes nomes de "Pátria" e de "Religião", pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o "homem vermelho", e em pouco tempo é tudo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a estrada da Índia... E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente, por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o.
Foi assim em 1847, é assim em 1880. Então os restos debandados do exército refugiam-se nalguma das cidades da fronteira, que ora é Ghasnat ora Kandahar: os afegãos correm, põem o cerco, cerco lento, cerco de vagares orientais: o general sitiado, que nessas guerras asiáticas pode sempre comunicar, telegrafa para o viso-rei da Índia, reclamando com furor "reforços, chá e açúcar"! (Isto é textual; foi o general Roberts que soltou há dias este grito de gulodice britânica; o inglês, sem chá, bate-se frouxamente). Então o governo da Índia, gastando milhões de libras, como quem gasta água, manda a toda a pressa fardos disformes de chá reparador, brancas colinas de açúcar, e dez ou quinze mil homens. De Inglaterra partem esses negros e monstruosos transportes de guerra, arcas de Noé a vapor, levando acampamentos, rebanhos de cavalos, parques de artilharia, toda uma invasão temerosa... Foi assim em 1847, assim é em 1880.
Esta hoste desembarca no Industão, junta-se a outras colunas de tropa índia, e é dirigida dia e noite sobre a fronteira em expressos a quarenta milhas por hora; daí começa uma marcha assoladora, com cinquenta mil camelos de bagagens, telégrafos, máquinas hidráulicas, e uma cavalgada eloquente de correspondentes de jornais. Uma manhã avista-se Kandahar ou Ghasnat;- e num momento, é aniquilado, disperso no pó da planície o pobre exército afegão com as suas cimitarras de melodrama e as suas veneráveis colubrinas do modelo das que outrora fizeram fogo em Diu. Ghasnat está livre! Kandahar está livre! Hurrah! Faz-se imediatamente disto uma canção patriótica; e a façanha é por toda a Inglaterra popularizada numa estampa, em que se vê o general libertador e o general sitiado apertando-se a mão com veemência, no primeiro plano, entre cavalos empinados e granadeiros belos como Apolos, que expiram em atitude nobre! Foi assim em 1847; há-de ser assim em 1880.
No entanto, em desfiladeiro e monte, milhares de homens que, ou defendiam a pátria ou morriam pela "fronteira científica", lá ficam, pasto de corvos - o que não é, no Afeganistão, uma respeitável imagem de retórica: aí, são os corvos que nas cidades fazem a limpeza das ruas, comendo as imundices, e em campos de batalha purificam o ar, devorando os restos das derrotas.
E de tanto sangue, tanta agonia, tanto luto, que resta por fim? Uma canção patriótica, uma estampa idiota nas salas de jantar, mais tarde uma linha de prosa numa página de crónica...
Consoladora filosofia das guerras!
No entanto, a Inglaterra goza por algum tempo a "grande vitória do Afeganistão" - com a certeza de ter de recomeçar, daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A "política" portanto é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades dum grande império.
Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de verão...»
Este lúcido relatório escrito pelo nosso cônsul em Londres, publicado depois nas suas Cartas de Inglaterra e onde V. Ex.as farão o favor de actualizar camelos para jeeps e ingleses para “eixo da imperial saudade”, o qual engloba os ditos, mai-los estadunidenses e alguns outros países incluindo o falido Portugal. E para terminar apenas diremos como o cônsul: foi assim em 1880, ainda é assim em 2010. Raios partam «a velhota»!
J. A. Gonçalves Guimarães

8.º Grande Capítulo

No próximo dia 20 de Novembro terá lugar no Solar Condes de Resende o 8.º Grande Capítulo da Confraria Queirosiana que este ano vai insigniar como confrades de honra e número, José Manuel Alves Tedim, Ana Teresa Peixinho, Ana Margarida de Sousa Dinis Vieira, Nuno Resende, Carlos Santarém Andrade, Alda Barata Salgueiro, Maria Augusta Osório e Hélio Loureiro.
Nesta cerimónia será ainda apresentado o n.º 7 da Revista de Portugal, este ano dedicada ao tema “Eça de Queirós era monárquico, republicano ou anarquista?” e o livro Republicanos monárquicos e outros….
Como habitualmente o convívio dos queirosianos terminará com um jantar e o Baile das camélias.

Património Religioso e Arte Sacra









Está a decorrer no Solar Condes de Resende o curso livre sobre Património Religioso e Arte Sacra, organizado pela Academia Eça de Queirós e que tem como conferencistas José Manuel Tedim, Luís Manuel de Araújo, Carlos A. Brochado de Almeida, J. A. Gonçalves Guimarães, Nuno Resende, António Manuel Silva e Arlindo de Magalhães Ribeiro da Cunha.
As sessões decorrem aos sábados à tarde no Solar Condes de Resende ao ritmo de duas por mês. A frequência do curso implica o pagamento de inscrição.


Livro sobre Manuel de Arriaga


Com texto de José Vaz e ilustrações da Helena Magalhães, o Governo dos Açores acaba de editar “O Homem que falava com as flores”, uma biografia do 1º Presidente da República Manuel de Arriaga, destinada aos mais jovens, a qual será apresentada ao público no início de 2011.



Roteiros queirosianos



Acabam de ser publicadas as Actas das II Jornadas Internacionais de Turismo, organizadas por Eduardo Cordeiro Gonçalves e realizadas pelo ISMAI em 2009. Os seus dois volumes apresentam numerosos estudos sobre a problemático actual do Turismo, entre os quais “Roteiros queirosianos: da Literatura ao Turismo”, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães.



Prémio para queirosiano

O júri do Prémio Jacinto do Prado Coelho 2009, promovido pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, atribuiu este galardão ao nosso confrade A. Campos Matos pelo seu livro “Eça de Queiroz. Uma biografia” editado pela Afrontamento.
Em comunicado o júri salientou não apenas esta obra, mas também «a consagração de uma vida intelectual em torno de Eça de Queirós invariavelmente marcada pelo rigor e pela qualidade», referindo-se ao percurso de vida do próprio autor.
Em recente visita ao norte, A. Campos Matos e sua esposa passaram pelo Solar Condes de Resende, onde almoçaram com Nassalete Miranda, directora do jornal “As Artes entre a Letras” que a este prémio deu o devido destaque.

Pintura de Valença Cabral

No Santa Maria Bar no Centro Histórico de Chaves estará patente até ao dia 30 de Outubro uma exposição de pintura de Valença Cabral, que também expôs quadros seus na presente edição do Salon d’Automne queirosiano no Solar Condes de Resende.
Este pintor vem depurando a sua expressão plástica até um impressionante lirismo quase abstracto ou, dito de outro modo, até um abstraccionismo lírico onde as paisagens se transformam em movimentos e cores com uma enorme dinâmica.

Ir tomar café (ou não) com:

Vamos – desta vez somos mais alguns – tomar café com; Jorge Luís Borges, por nunca ter ganho o Prémio Nobel da Literatura; José Manuel Fernandes, pelo seu artigo sobre as tristes semelhanças entre a 1.º República e a situação política actual; Liu Xiaoboo, prémio Nobel da Paz preso por discordar; Mariana Rey Monteiro, Lady do Teatro; Paula Rego, Lady da Arte; Paulo Barradas, o deputado que já descobriu o que é conviver com analfabetos políticos; Ray Moyniham, o investigador da paranóia farmacêutica que inventou os “pré-doentes”; Joanatan Hapira, ex-piloto israelita, Reuven Moskovtiz, sobrevivente do Holocausto, e Rami Elhanan, que quiseram ir a Gaza levar brinquedos às crianças palestinianas sitíadas na sua terra.

Não queremos ir tomar café com:

Cristina Kirchner, a presidente da Argentina que não gosta da liberdade de imprensa; Fernando Rosas, porque a História não se deve emendar retroactivamente com as convicções políticas do historiador; Robert Edwards, Prémio Nobel da Medicina porque a fertilização in vitro é imoral enquanto houver crianças para adoptar; e todos aqueles que, desde 25 de Abril de 1974, tendo sido elevados ao poder pelo voto do povo, devido à sua ganância, oportunismo, nepotismo, irresponsabilidade, corrupção, ignorância, omissão, compadrio, complacência, calculismo, arrogância, chico-espertice, etc, etc, transformaram este país no desastre actual. Na impossibilidade de publicar aqui essa enorme lista, faça você mesmo a sua. Vai ver em quantos nomes coincidimos.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 26 – Segunda-feira, 25 de Outubro de 2010

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confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página:
J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral
colaboração: Nuno Resende; Ricardo Charters d’Azevedo.