terça-feira, 25 de junho de 2013

Eça & Outra

Eça e as autárquicas

«Para todo o homem, mesmo o mais culto, a humanidade consiste essencialmente naquela porção de homens que residem no seu bairro» (Eça de Queirós, Bilhetes de Paris). Vamos ter eleições autárquicas a 29 de Setembro e,«para não dizerem que só falei de flores» como escreveu certo poeta, aqui me vou a elas. Com Eça, como sempre: «O patriotismo só existe pela afeição cheia de raízes que prende o povo às localidades. Ele só ama a pátria por aqueles trabalhos, aqueles descansos suaves, aqueles afetos delicados que tem nos seus vinte palmos de terra, entre a humanidade das veigas e a sombra das árvores. O patriotismo é gerado de afeições, de hábitos, de recordações – estas coisas só se encontram na intimidade serena da vida local» (Distrito de Évora). E isto é tão verdade para Nova Iorque como para qualquer aldeia serrana.
Pois é. Mas em muitos casos tal não tem sido assim e a vida local mais parece uma versão requentada da vida nacional. O buraco da sua rua, que os operários da junta ou da câmara facilmente poderiam resolver, é então equiparado ao “buraco” do orçamento nacional. Deduza você porquê. Mas deixemo-nos de lamúrias: os autarcas bons, maus e assim-assim que existem pelo país fora, tal como os governantes, foram eleitos pelo povo e os eleitores têm sempre de pensar que estão a votar em pessoas concretas para exercerem o poder democrático durante quatro ou cinco anos num determinado quadro social, económico, cultural e, por fim político, e não para serem substituídos a capricho, a não o serem por condenação judicial. Por isso, meus amigos, tendo a convicção de que sabem para que servem os três boletins de voto que terão à vossa disposição nas próximas eleições – há muita gente que pensa que se trata de um original e dois duplicados, e não estou a falar de analfabetos! -, reflitam nestas questões e respondam a vós próprios a estas perguntas: sabem quem são os candidatos à vossa assembleia municipal, à vossa câmara, à vossa junta de freguesia? Conhecem-nos, sabem a sua profissão, sabem o seu trajeto de vida, a sua verdadeira biografia? Sabem se eles conhecem a vossa cidade, a vossa vila, a vossa aldeia que dizem querer transformar num paraíso terreal? Sabem, por provas dadas, se eles conhecem as pessoas e as potencialidades locais e se serão capazes de as gerir ou se, pelo contrário, não passam de uns “cabeças de turco” que vão entregar a gestão dessas vossas questões quotidianas a empresas, a assessores, a mercenários do poder local que vocês não conhecem e que, provavelmente, nem querem conhecer?
Hoje corre muito a desastrosa ideia de que há profissões muito vocacionadas para a gestão local. Até há cursos ditos superiores para tal. Nada mais errado, pois o facto de haver esses “canudos”, nada garante que os seus possuidores tenham um bom desempenho na coisa pública. Dispenso-me de lhes lembrar maus exemplos. O curriculum pessoal, o bom nome na praça, o conhecimento da realidade, os objetivos sensatos dos candidatos, eis o que os deve preocupar no ato de escolher pelo voto. Se votarem em bandeirinhas é isso que terão: não mais que bandeirinhas.
E já agora, no que diz respeito à Cultura, palavra hoje usada para carimbar atividades que com ela nada têm a ver, os tais “especialistas” do direito autárquico até já a vão banindo da organização autárquica. Como haveriam de falar do que não entendem, ou do que poderia lá estar para aperrear as suas insuficiências, as suas equivalências, os seus créditos que, as mais das vezes, não correspondem a quase nada ou mesmo a coisa nenhuma? Aliás, desde o 25 de Abril que muitas autarquias entregaram a Cultura a pessoas cujas credenciais para o efeito eram o eles dizerem que têm muito jeitinho para a dita e que confundem criação com banalidades, História com lendas, Artes com oportunismos bacocos, Música com barulheira, Ciência com ilusionismos, elaboração de pensamento com instantâneos fotográficos, e outros equívocos, mais ou menos vistosos e mediáticos, mas que não passam de chicletes que alguns mastigam enquanto estão doces, mas que depois deitam fora, não de vez, como o bom senso mandaria, mas para serem rapidamente substituídos pelo chiclete seguinte, num despesismo tolo que alimenta muita da programação dos “centros culturais” e quejandos e os seus amadores iluminados ou profissionais inertes, que não deixam nada que valha a pena em termos de presente e de futuro. A não ser bacoquice e endividamento estéril. E tudo isto em desfavor de muitos profissionais de Cultura com prestígio e obra disponível para apreciação existentes nos quadros das autarquias e que têm de ir longe procurar quem lhes reconheça o mérito.
Portanto, caros amigos, participem nas eleições e elejam os vossos candidatos conhecendo-os primeiro. É o mínimo que se pode pedir a um eleitor. E, já agora, vejam quais as ideias que eles apresentam sobre Cultura local, pois é por aí que a Humanidade tem sobrevivido e feito a diferença com o resto dos primatas que, como é sabido desde os estudos de Desmond Morris, também sabem pintar, adoram espetáculos e ajuntamentos e batem as palmas e as plantas dos pés no chão quando estão contentes. O ser humano precisa e merece algo mais.
Alguns confrades queirosianos são candidatos autárquicos, porque são cidadãos empenhados e com provas dadas e conhecidas na praça. Concorrem por vários partidos ou movimentos de cidadãos, numa saudável diversificação democrática. Por dever estatutário a Confraria não apoia nenhum deles, deixando isso ao alto critério dos seus assocados. E ao dever de se informarem e esclarecerem os outros. O autor destas linhas não é candidato e todos lhe merecem igual consideração Mas anda seriamente a interrogar-se, como aliás sempre fez, sobre quais os seus melhores candidatos para a sua terra, parte inalienável do seu país, da sua Europa e do seu Mundo. E de todos vós.
Voltando a Eça de Queirós, «Os sentimentos que prendem à vida local são fortes, desinteressados, imaculados e nobres; os sentimentos que prendam à capital central são frouxos, agressivos, interessados e ásperos. Aniquilar aqueles sentimentos, para desenvolver estes, é uma política deplorável». (Distrito de Évora). Também aqui concordo com Eça.

J. A. Gonçalves Guimarães

Universidade de Coimbra

Postal de Edições Âncora, Lisboa, anos 60 do século XX













A universidade que Eça de Queirós frequentou acaba de ser declarada Património Cultural da Humanidade pela UNESCO, juntando à “alta” a rua da Sofia e os seus colégios e o fado coimbrão, e com tudo isto um longo painel de Homens e Mulheres da Cultura Portuguesa universalizante onde poderemos encontrar Antero de Quental, Adriano de Paiva, Maria Helena da Rocha Pereira, Jorge de Alarcão, e tantos, tantos outros, como alunos, professores e investigadores desde, pelo menos, o século  XVI, e ainda os que passaram à sua porta, ou frequentaram os seus colégios com outros nomes, como Luís de Camões, ou os que, em tempos mais recentes, lhe cantaram a alma, como Manuel Alegre, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos, tantos outros. Sobre Eça em Coimbra recomendamos os livros do nosso confrade Carlos Santarém Andrade ou a biografia e fotobiografia de A. Campos Matos.
Coimbra é, e será sempre, “uma lição de amor” à Cultura Portuguesa num grande abraço ao Mundo.


J. Rentes de Carvalho

J. Rentes de Carvalho – O Primeiro Olhar 
 Óleo de Adélio Martins
O decano dos escritores portugueses continua a publicar com sucesso, agora obras inéditas escritas nos últimos tempos e em breve surpreenderá os seus leitores com uma obra de recreação literária que tivemos a honra de ler em primeira mão na recente visita que lhe fizemos a Estevais de Mogadouro. Mas a seu tempo dela falaremos.
Entretanto o seu incondicional admirador e nosso consócio Adélio Martins acaba de concluir uma terceira pintura sobre o escritor, em que o tema são as escadas do Monte dos Judeus em Vila Nova de Gaia, local da sua infância que a Confraria Queirosiana tudo fará para que o mesmo seja valorizado e dignificado como local de origem do escritor, que daqui lançou novas pontes imorredoiras entre Portugal, a Europa e o Brasil.

Livros e jornais

No passado dia 5 de Junho a nossa consócia Maria Virgínia Guerra Monteiro, filha do poeta Oliveira Guerra, no Estúdio de Agostinho Santos, em Vila Nova de Gaia, lançou o livro de poesia Voz Submersa o qual foi apresentado pela Professora Isabel Ponce de Leão.
A 13 de Junho o nosso confrade Mário Dorminsky lançou no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto o seu novo livro Portugal à Espera – Crónicas do Porto, com apresentação do Dr. Manuel de Novaes Cabral, presidente da instituição. A sessão foi repetida na Casa Barbot em Vila Nova de Gaia no dia 22.
A 15 de Junho, os nossos confrades Ana Margarida Dinis Vieira e Orlando Cardoso lançaram na Livraria Arquivo em Leiria um novo livro intitulado Os Olhares de Eça – Leiria Revisitada, um novo roteiro que reorganizou os anteriormente escritos por ambos os autores. O evento esteve integrado na 5.º edição dos Olhares Queirosianos que inclui um curso livre sobre Eça de Queirós.



No mesmo dia, no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, realizou-se a sessão comemorativa do 4.º aniversário do jornal As Artes entre as Letras com a publicação do seu número 100, de que é diretora a nossa confrade Nassalete Miranda, o qual apresenta colaboração dos confrades Guilherme de Oliveira Martins, Beatriz Pacheco Pereira, J. A. Gonçalves Guimarães, Francisco Ribeiro da Silva e A. Campos Matos, alguns dos quais presentes na ocasião que encheu aquele magnifico salão com colaboradores e leitores deste jornal que publica todos os meses a página Eça & Outras da Confraria Queirosiana.
Na ocasião Nassalete Miranda lançou o seu livro Entre 100 Sentidos, onde reuniu os seus editoriais publicados entre 2009 e 2013, acompanhados de excelentes reproduções de obras dos seus artistas preferidos. O livro tem um prefácio de D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa e anterior Bispo do Porto.



Vinhos

No 2.º Festival da Vinha do Douro Superior, que decorreu em Vila Nova de Foz Côa em 25 de Maio passado, o Quinta da Ervamoira Porto Vintage 2009, produzido pela Casa Ramos Pinto, de que é administrador o nosso confrade João Nicolau de Almeida, foi premiado com medalha de ouro atribuído por um júri composto por mais de 20 críticos de vinhos, escanções, jornalistas e outros que escolheram os três “Melhores Vinhos” de um total de 160 a concurso.
Este mesmo produtor, vai lançar em breve no mercado um vinho familiar que fará jus ao que já em 1867 Eça de Queirós, bisavô dos seus filhos, escreveu, de que no Douro havia vinhos «bem feitos e bem preparados» (Páginas de Jornalismo).

7 Maravilhas de Gaia

O jornal O Gaiense está a organizar um concurso que, numa gala a realizar em Setembro, elegerá as 7 Maravilhas locais no que diz respeito ao património cultural, arquitectónico, humano e natural.
Para integrarem o júri foram escolhidas diversas personalidades entre as quais os membros da Confraria Queirosiana Manuel Filipe Sousa, director dos Auditórios de Gaia e presidente do júri, Nuno Oliveira, director do Parque Biológico de Gaia e J. A. Gonçalves Guimarães, mesário-mor da Confraria Queirosiana.

Palestras, conferências e cursos

No dia 6 de Junho o nosso confrade Fernando Andrade Lemos, do Centro Eça de Queirós de Telheiras, proferiu na Associação dos Arqueólogos Portugueses em Lisboa uma conferência sobre D. João Príncipe de Candia, depois de no dia anterior ter conduzido uma visita guiada ao túmulo Palmela, cunhado do Visconde de Beire, bisavô dos filhos de Eça de Queirós, no cemitério dos Prazeres também naquela cidade.
A partir de Outubro próximo vai decorrer no Solar Condes de Resende, duas tardes de sábado por mês entre as 15 e as 17 o curso sobre História Empresarial e Institucional, organizado pela Academia Eça de Queirós e coordenado por J. A. Gonçalves Guimarães e José Manuel Tedim no qual serão professores Ana Cristina Correia de Sousa; Francisco Ribeiro da Silva; Joel Cleto; Laura Peixoto; Nuno Resende; Silvestre Lacerda e Susana Moncóvio, além dos coordenadores.
Entretanto a Câmara Municipal do Porto está também a organizar um curso livre sobre História do Porto que conta com a direcção científica de José Manuel Tedim, presidente da direcção dos ASCR-CQ, e a colaboração de mais alguns confrades queirosianos, o qual terá início em Julho e se prolonga até Dezembro.
Por sua vez a Academia Eça de Queirós tem também organizado um curso itinerante sobre Eça de Queirós, sua vida, sua obra e sua época, composto por quatro sessões de quarenta e cinco minutos cada seguidas de intervalo, (manhã e tarde ou tarde e noite), ministrado pelos seus investigadores com recurso a power point e ajustável aos mais diversos tipos de público.

FAMP

A Federação dos Amigos dos Museus de Portugal, de que os Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana são associados, e que por sua vez é membro da Federação Mundial de Amigos dos Museus, na sua Assembleia Geral de Maio passado elegeu por unanimidade como presidente da direcção Isabel Silveira Godinho, ex-diretora do Palácio Nacional da Ajuda, onde realizou notável obra de direcção e valorização.
Esta prestimosa associação vai realizar um encontro informal em Alcobaça nos próximos dias 7 e 8 de Setembro.

José Bonifácio

Nos 250 anos do Nascimento de José Bonifácio de Andrade e Silva, primeiro director das florestas de Portugal, primeiro ecologista português e patriarca da independência do Brasil, conforme se pode ler no livro do nosso consócio Dr. Nuno Gomes Oliveira já divulgado nesta página, com o patrocínio das Águas e Parque Biológico de Gaia foi apresentado nas suas instalações de Vila Nova de Gaia no passado sábado dia 15 um documentário sobre aquela figura maior da História de Portugal e do Brasil realizado por Francisco Manso para a RTP onde passou nos seus diversos canais no dia 17 de Junho em horário nobre.


Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 58 – Terça-feira, 25 de Junho de 2013
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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