domingo, 25 de setembro de 2011

Eça & Outras

Foi você que pediu regiões autónomas?

Na Europa das pátrias (e em outras latitudes) percebe-se que existam regiões autónomas. A Suíça pode servir de exemplo: formada por povos de origens étnicas diferentes, com línguas diferentes, distribuídos pelas várias encostas das mesmas montanhas, para defenderem o seu território (a montanha que os protegia contra os invasores) puseram de parte a ideia paroquial de soberania e uniram-se numa confederação de povos/culturas/línguas, que tem resistido ao tempo, é soberana, não se mete com os outros povos, não quer conquistar ninguém, tem um bom nível de vida e até acolhe migrantes, embora lhes ensine logo à entrada que quem manda na Suíça não é o internacional porreirismo.
Já mais dificuldades teremos em entender a sobrevivência doutras “regiões autónomas”, às vezes até com o estatuto de estados, como é o caso do Mónaco (Grand Casino), da República de S. Marino, do Vaticano (que tem guarda suíça!), do Principado de Andorra, do Liechtenstein e de alguns reinos-ilhas das Caraíbas e do Pacífico. “Toda a gente” sabe o que aconteceu à base americana de Pearl Harbour no Havai durante a 2.ª Grande Guerra, mas muito poucos saberão onde realmente fica o Havai e como é que os americanos lá foram parar, ou seja, como é que aniquilaram os havaianos e os seus representantes para lá instalarem a sua base. Procurem saber os antecedentes desta história (sem ser pela “história oficial”, evidentemente) e vão ver que a justificação não será edificante. Mas o Havai desde 1900 que é governado pelos estadunidenses e não pelos havaianos (a não ser os que decidiram tornar-se “americanos”) contra o parecer dos japoneses que, aliás, existiam em grande quantidade no arquipélago. E, já agora, também muitos portugueses!
Aqui ao lado, em Espanha, as regiões autónomas estão em guerra permanente (por enquanto apenas política, económica e cultural e, oxalá, se mantenha sempre nestes limites) com o governo central que, além do mais, tem ainda uns antigos territórios coloniais encravados no reino de Marrocos (alguns deles já foram de Portugal, como é o caso de Ceuta, conquistada aos marroquinos em 1415), e as Canárias, onde se dizimaram os guanches. Isto para dizer que nem tudo no mundo é igual, existem razões diferentes para aqui e para acolá, as de há dois mil anos são diferentes das da semana passada e, como escreveu Camões «todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades». Ou seja, por isto e por aquilo, mas sempre por variadas razões históricas antigas e atuais, existem países gigantes, como a China e o Brasil, e países minúsculos, como o Nepal, existem confederações de países e existem estados federados e também comunidades de países por línguas faladas (a CPLP, a Commonwealth) e outros interesses geoestratégicos, nem sempre confessados. E a CE e a ONU.
E existem as regiões autónomas, aqui, ali, ou acolá, por isto, por aquilo ou por aquela outra razão que a História nem sempre conhece ou reconhece, ou simplesmente regista. Na maior parte dos casos trata-se de regiões, ilhas ou arquipélagos onde existe em maioria um povo com uma origem étnica bem demarcada, às vezes com língua ou dialeto próprio, com alguns aspetos culturais bem determinados e que quer ter nas suas mãos o seu próprio destino, independentemente de estar agrupado, filiado, confederado ou outra situação qualquer, numa comunidade maior, ou seja, numa nação.
Ora essa autonomia tem de começar por ser económica, pois de outro modo, ou a tal “região autónoma” parasita a comunidade nacional, com o repúdio e rejeição mais ou menos declarada dos restantes cidadãos, ou se transforma num protetorado estrangeiro, e toda a sua “autonomia”, além de parasitária torna-se ridícula. Creio não haver muito mais pontos de vista sobre este assunto. É a mesma coisa que ter em casa um filho gastador ou esbanjador e que ainda se permite dizer ao pai e à mãe como devem gerir a família. Pelo contrário, todos os pais terão orgulho em filhos sensatos, trabalhadores, com bom nome na praça, apontados como exemplos, e a quem nunca regatearão qualquer “autonomia” pois, desejando que a tenham, sabem que ela será sempre afetuosa e solidária.
No primeiro caso, quem é que quererá ter um filho trapaceiro no Conselho de Família? E para quê? Para lhe dar mau nome e a sua irresponsabilidade ter de ser aturada? No segundo caso os filhos são sempre bem vindos porque sabem ser desejados e não aborrecidos.
Tudo isto a propósito de regiões autónomas, que nunca ninguém perguntou aos portugueses se as queriam ter em Portugal e se queriam pagar as fantasias da sua existência. Partindo do princípio que os madeirenses e os açorianos querem ser “autónomos”, alguém se esqueceu de perguntar aos minhotos, aos transmontanos, aos alentejanos, etc, etc, se querem pagar aquelas autonomias que, a estes últimos, não lhes servem para nada, a não ser para aumentar o deficit. Um dos princípios das nacionalidades é a solidariedade entre as regiões a qual tem de ser equitativa e recíproca.
Ora não é o caso. Sem irmos mais longe, as regiões autónomas têm atualmente leis feitas por si contrárias ao espírito da nação, como é o caso da eleição dos seus presidentes, que podem sê-lo até morrerem centenários e xexés , enquanto que o presidente da Republica só pode fazer dois mandatos seguidos ,ainda que no auge das suas capacidades. Há aqui qualquer coisa de perverso que não dignifica nem a Democracia nem Portugal.
Como escreveu um dia Eça de Queirós, «a intriga política alastra-se sobre a sonolência enfastiada do País. Apenas a devoção perturba o silêncio da opinião, com padres nossos maquinais. Não é uma existência, é uma expiação. E a certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências: Diz-se por toda a parte: «o País está perdido!». Ninguém se ilude. Diz-se nos conselhos de ministros e nas estalagens. E que se faz? Atesta-se conversando e jogando o voltarete, que de Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o país está desorganizado e pede-se conhaque! Assim todas as consciências certificam a podridão; mas todos os temperamentos se dão bem na podridão!» (Uma Campanha Alegre). Teremos de ser mesmo assim? Foi você que pediu regiões autónomas? E sabe para que servem a Portugal?

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário mor

Colecção egípcia em Portugal

Luís Manuel de Araújo
No passado dia 22 de Setembro, aquando da abertura ao público da coleção egípcia do Museu de História Natural Universidade do Porto no edifício da Reitoria na Praça Gomes Teixeira, o nosso Confrade, vice-presidente da direção e diretor da Revista de Portugal, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo, proferiu uma conferência sobre “Colecções Egípcias em Portugal”, entre as quais a do Solar Condes de Resende, que no ranking das 35 existentes se encontra em sétimo lugar e que está em exposição permanente na loja do Solar.




Homenagem a Manuel Lopes

A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, acaba de publicar em fac-simile o “Notícias da Lancha” 1991-1992, o modesto «órgão informativo da construção da lancha poveira do alto» que este grande poveiro editou para coligir as notícias, as gravuras, as fotografias, os documentos sobre essa notável decisão de construir de raiz o tradicional barco de mar, que ia a caminho de desaparecer, e pô-lo a navegar.
Comemorando os 20 anos da lancha “Fé em Deus”, e pela mão do Dr. Manuel Costa diretor da Biblioteca Rocha Peixoto que organizou esta publicação, ela fica assim salvaguardada da precariedade da sua 1.ª edição, e cremos bem que não poderia haver melhor homenagem aos poveiros e àquele nosso Confrade falecido a 14 de Agosto de 2006 e que deixou obra que os seus amigos e admiradores fazem assim varar com sucesso no areal da nossa memória coletiva. Ala Arriba!

Curso livre
“Eça de Queirós, sua vida, sua obra, sua época”


Em 2008/2009 a Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ) em colaboração com a Gaianima EEM organizou no Solar Condes de Resende a 1.ª edição deste curso que teve como professores Isabel Pires de Lima, J. A. Gonçalves Guimarães, Arie Pos, Luís Manuel de Araújo, Mário Vieira de Carvalho, Maria Teresa Lopes da Silva, Norberto Barroca, José Manuel Tedim, Nuno Resende e Carlos Fiolhais.
Nesta segunda edição, diferente da primeira pelos temas, perspetivas e abordagens baseadas nos mais recentes estudos e teses académicas, teremos como professores, entre outros, José Manuel Tedim, Luís Manuel de Araújo, J. A. Gonçalves Guimarães, Anabela Mimoso, José Maia Marques, Nuno Resende, Jaime Milheiro e Fernando Coimbra.
O curso terá início no sábado dia 29 de Outubro, e decorrerá ao ritmo de duas sessões por mês, entre as 15 e as 17 horas.
Orientado para todo o tipo de público, interessa sobretudo a estudantes de Língua e Cultura Portuguesa, de História da Cultura e das Mentalidades e, de um modo geral, a todos os interessados na vida e obra de Eça de Queirós e na História de Portugal e do Mundo na 2.ª metade do século XIX e das suas consequências até aos dias de hoje.
E, além do mais, é uma excelente oportunidade de convívio num espaço excepcional com queirosianos de todas as idades. Gente simpática é outra coisa.
A todos os inscritos, para além de bibliografia adequada da autoria dos professores, será entregue um certificado de frequência.

Confraria O Rabelo

Silva Fernandes e Fátima Teixeira
No passado dia 3 de Setembro no Capítulo da Confraria O Rabelo em S. João da Pesqueira, foi insigniada como confrade daquela Confraria duriense Maria de Fátima Teixeira da Confraria Queirosiana, num conjunto de 20 senhoras que ao Douro têm dado uma boa parte do seu trabalho e afeto.
No ocasião foi também lançado uma publicação com um estudo sobre a Gastronomia histórica do Douro. O ato foi conduzido por Silva Fernandes como Mestre Capitular. Estiveram presentes, para além de numerosas confrarias entre as quais uma delegação da Queirosiana, Madalena Carrito da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas.

ÓRFÃO INFINITO

Tendo, como é habitual, nascido de uns pais
Como os de outros milhões de seres, normais
Deu-se-me no entanto esta orfandade
Que suspeito se mantenha por toda a eternidade
Seja lá isso o que seja, seja lá isso o que for
Pelo relógio de Cronos ou de outro clássico estupor
E é este mal estar permanente, este sentimento infeliz
Que eu não criei, não desejo e não quis
Que me impede que simplesmente vegete
E em vez de defecar no monte vá à retrete
E que em vez de refocilar na vida sem pecado
Se insistir no prazer vou precisar de advogado
Neste mundo, neste eterno infantário
Cada um cumpre um distinto fadário
E aquilo que para mim é bom e natural
É visto pela minha vizinha como fonte do mal
A minha orfandade não é pois igual à dela
Eu p’ra vida preciso de porta, ela de janela
E o que lhe importa a minha solidão
Se ela prefere na lotaria um milhão!?
Não sei se estou a ser correto e justo
Mas a esta filosofia tola preferia-lhe o busto
Para o contemplar de lado e de frente
Sabendo que a tal ato o cosmos fica indiferente
E mesmo que o sistema solar acabe
Creio bem que não acabará esta orfandade.

Fradique Rua Mendes, 2011
(bisneto de Fradique Mendes)

Workshop de Tango Argentino

Nos próximos dias 15 e 16 de Novembro decorrerá no Solar Condes de Resende um workshop de Tanto Argentino para iniciados dirigido pelos professores Inês Tabajara e Carlos Cabral.

Brindar com Porto

Apetecia-me beber um Porto com o meu confrade (da confraria do Vinho do Porto) Rei Alberto II da Bélgica, por estar a governar um país sem governo há mais de um ano e não se estar a dar nada mal com essa ausência; Cesária Évora, a Senhora da canção crioula; José Niza, o melodista do depois do adeus.

Não, não quero brindar com:

Alberto João Jardim, porque basta!; José Eduardo dos Santos, por «ter escolhido o sucessor».

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 37 – Domingo, 25 de Setembro de 2011
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email :queirosiana@gmail.com; confrariaqueirosiana.blogspot.com; eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página:
J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.