quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eça & Outras

Monárquicos, republicanos e outros

Recordemos o já sabido: após a vitória liberal em 1834 formaram-se em Portugal vários partidos monárquicos, que se revezaram no poder, com mais ou menos sucesso. Alguns fundiram-se, outros cindiram-se, outros andaram à deriva. Nunca houve no Portugal oitocentista um só “partido monárquico”, mas vários.
Em 1875 é fundado um primeiro Partido Socialista e em 1876 o Partido Republicano, no mesmo ano em que os partidos monárquicos Histórico e Reformista se fundem pelo Pacto da Granja (Vila Nova de Gaia). Em 1878 é eleito pelo círculo do Porto, Rodrigues de Freitas, o primeiro deputado republicano. Em 1887 surge, também no Porto, o jornal anarquista A Revolução Social.
São, basicamente, estes os grupos que irão condicionar a vida política portuguesa até pouco depois do 28 de Maio de 1926, organizados em diversos partidos, também com as suas facções, fusões, dissensões e estratégias.
No que diz respeito ao evoluir da sociedade portuguesa não estavam todos de acordo, mas, também basicamente, os monárquicos defendiam várias ideias de Monarquia e os republicanos várias concepções de República. Por sua vez, aos socialistas era-lhes indiferente o regime, pois a sua acção visava a melhoria da consciência individual e social, o que ia muito para além das querelas partidárias, enquanto os anarquistas estavam contra um e outro regime, pois em ambos viam os mesmos defeitos que oprimiam as classes trabalhadoras e os livres-pensadores.
Com a implantação do regime republicano em 1910, todas estas correntes de pensamento político continuaram a existir e não foi pela questão formal do regime que o Estado Novo as perseguiu, mas sim pelo seu maior ou menor empenhamento na transformação da sociedade. Por isso, durante a ditadura continuaram a existir monárquicos saudosos, republicanos teimosos, socialistas adiados e anarquistas silenciosos. O Partido Comunista aparece em 1921. A União Nacional, o partido único da ditadura, com pseudónimo, durou até 25 de Abril de 1974.
Com a implantação do regime democrático em 1974 estas correntes organizaram-se livremente em partidos, mais ou menos efémeros, mais ou menos duradouros, mas todos se dizendo democráticos, ou seja, procurando defender os interesses do «povo», agora considerado como a totalidade dos cidadãos independentemente da classe social, fortuna ou opção ideológica, o que antes não era entendido assim pelos diversos partidos, pois alguns deles reclamavam-se «de classe». Ora o que nestes cem anos os partidos mostraram foi a crescente proletarização das antigas classes e a assunção pelos proletários dos valores e modo de vida da burguesia, ou, pelo menos, da pequena burguesia.
Fará assim hoje sentido alguém dizer-se monárquico ou republicano? A verdadeira questão do regime não será a maior ou menor democracia representativa? O alguém dizer-se social-democrata lembrará as convicções de Lenine ou de Rosa Luxemburgo? E quantos equívocos comporta hoje a denominação de socialista: Mário Soares “descende” de Bernardino Machado ou de Antero de Quental? E não é verdade que a maior parte daqueles a quem os media chamam anarquistas nada saberão sobre Proudhon?
Em Portugal os reis sempre foram aclamados pelo povo, eleitos para reinarem em seu nome. Pode ser que entre nós volte a haver Monarquia: mesmo países comunistas como a Coreia do Norte, e do mundo árabe, como a Síria, já estão em regime de republicomonarquia. Nestes países o líder é aclamado por um Congresso, mas já não é eleito pelo povo e normalmente sucede ao pai. Por outro lado, como viver com o confuso sistema eleitoral estadunidense que permite em alguns estados a chegada ao poder de cidadãos com baixíssimo índice cultural? E as repúblicas africanas em golpe de estado permanente com massacres humanos nos intervalos?
Tenha Portugal um rei ou uma rainha, uma ou um presidente, que os tenha bons, sensatos, justos, prestigiados, patriotas e capazes de entenderem o mundo de hoje e o que virá para os nossos filhos e netos. O passado, que irremediavelmente já passou, só vale como cautela de lotaria da vida a haver. É útil se for entendido como um filme em marcha reversível que podemos fazer parar para com ele aprendermos e depois escolhermos a sequência final.
Sobre os adeptos daquelas denominações políticas antigas, que as mais das vezes são apenas a arca que apenas tem dentro um jornal velho e esquecido que se herdou e se tem de respeitar, com todo o respeito democrático direi como Eça de Queirós, com as pessoais adaptações: «constitucionalistas, socialistas, miguelistas, jacobinos, de resto, para mim, como romancista [ como historiador], são todos produtos sociais, bons para a Arte [a História], quando são típicos, todos igualmente explicáveis, todos igualmente interessantes. O dever do artista [do historiador] é estudá-los, como o botânico estuda as plantas, sem se importar que seja a beladona ou a batata, que envenena ou nutra» (Notas Contemporâneas, entre [ ] nosso).
Às minhas simpatias políticas ou pessoais, que obviamente também as tenho, procuro sempre sobrepor o que entendo como interesse colectivo. Interessa-me mais ser português pleno, seja lá isso o que for, do que um dos Sanchos Panças dos D. Quixotes da ocidental praia lusitana. Sejam eles presidentes ou reis.
Mas, democraticamente falando, não tenho para mim que o regime republicano seja um bezerro de ouro ou vaca sagrada. Tem sido o que existe desde 1910 com os falhanços que lhe conhecemos. Até quando, não sei. Sei o que quero que lhe suceda e, muito para além dos aspectos formais do regime, com certeza um Portugal melhor.

J. A. Gonçalves Guimarães

 8.º Capítulo da Confraria Queirosiana

No passado dia 20 de Novembro decorreu no Solar Condes de Resende mais um capítulo em que foram insigniados : Maria Alda Barata Salgueiro, Maria Angelina dos Santos Rodrigues, Maria Augusta Osório de Castro P. D. dos Santos Lemos, Maria Luísa Pinto Costa Lima Tavares, todas professoras; António Manuel Lacerda Vieira, arquitecto; Nuno Miguel de Resende Jorge e Mendes, historiador e José Manuel Alves Tedim, vice-reitor da Universidade Portucalense.
Como confrades de honra, Hélio Loureiro, chefe de cozinha; Carlos Alberto Santarém Nunes Andrade, bibliotecário; Ana Margarida de Sousa Dinis Vieira, professora e Ana Teresa Peixinho, professora da Universidade de Coimbra.
Foi igualmente lançado o n.º7 da Revista de Portugal, nova série, apresentado pelo seu director Luís Manuel de Araújo, e o livro Republicanos, monárquicos e outros… de J. A. Gonçalves Guimarães, apresentado por César Oliveira, presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia.
Após a deposição de uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós, seguiu-se o jantar queirosiano com ementa adequada, a que se seguiu o Baile das Camélias até cerca da uma da madrugada.
Uma reportagem sobre este capítulo pode ser vista em www.cm-gaia.pt.

Revista de Portugal

Este número sete da nova série da revista fundada em 1889 por Eça de Queirós apresenta artigos de Dagoberto Carvalho J.or, sobre Joaquim Nabuco; de Gonçalves Guimarães, sobre Xangai antiga; de Anabela Mimoso, sobre As Farpas; de Manuel Ivo Cruz, sobre o maestro Cruges de Os Maias; de Marco Valente, sobre Arte Rupestre, e ainda recensões de José António Afonso, Luís Manuel de Araújo e Gonçalves Guimarães. Este número abre com um editorial sobre Eça de Queirós e a República e uma entrevista, inédita em Portugal, que J. Rentes de Carvalho fez a José Saramago em 1989, fechando com a bibliografia dos sócios e as actividades dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana referentes a 2009.
Esta edição, com a capa e editorial alusivos ao centenário da República, teve o apoio da Gaianima.

Obras de J. Rentes de Carvalho


Acaba de sair para o mercado a 3.ª edição portuguesa do romance Ernestina sob a chancela da Quetzal, que igualmente editou um novo livro deste autor com o mesmo título do seu blogue Tempo Contado, mas que apresenta um seu diário escrito entre 1994 – 1995.
O público português descobre assim este seu escritor queirosiano do século XX/XXI cuja obra surpreende e encanta cada vez que é lida e relida.

Eça de Queirós no Brasil

No passado dia 15 de Novembro, no mercado da Ribeira em Olinda, Brasil, Dagoberto Carvalho J.or, presidente da Sociedade Eça de Queirós do Recife, fundada em 1948, lançou o seu sétimo livro de estudos queirosianos, intitulado Paixão por Eça, ao qual nos voltaremos a referir em próxima edição.
Vai igualmente lançar um livro de poesias esquecido na gaveta.

Eça na América do Sul

A Fundação Eça de Queirós sediada em Santa Cruz do Douro, Baião, promoveu no passado dia 1 de Novembro em Buenos Aires na Universidade Três de Fevereiro uma conferência por Isabel Pires de Lima intitulada “Eça de Queirós – Mestre do romance oitocentista”, a qual foi depois repetida a 5 deste mês na Universidade do Congresso na cidade de Mendoza também na Argentina.
Com Irene Fialho da Universidade de Coimbra e Manuel Loff da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, aquela professora catedrática desta última instituição apresentou a conferência “Da Geração de 70 à Republica” no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro a 8 de Novembro e no Recife a 11 deste mês.

Poesia de Maria Virgínia Monteiro

No passado dia 4 de Novembro na Cooperativa Árvore, no Porto, foi lançada nova obra de poesia de Maria Virginia Monteiro, intitulada Longo é o tempo, editada pela Singular/Plural com o apoio da Gaianima, EEM.
A autora prossegue assim a sua activa oficina da palavra e da ideia em busca dos humanos sinais que permanecem para além do tempo.

Valença Cabral em Aveiro

Depois de Chaves, a Galeria Morgados da Pedricosa em Aveiro apresenta ao público até 28 de Novembro a exposição “Lugares sentidos” de Valença Cabral, com o apoio da AveiroArte e da Câmara Municipal.

Bronzes de Beatriz

A 20 de Novembro no Espaço Arte - Museu Municipal Carmen Miranda, Beatriz Pacheco Pereira apresentou as suas mais recentes esculturas em bronze. A exposição estará patente até 10 de Dezembro.

Ir tomar café (ou não) com:

Gostaríamos de tomar café com: Alfredo Margarido, o investigador de temas sociais que a Universidade desprezou; Miguel Soares e Miguel Prudêncio, pelos seus projectos para combater a malária; Raul Ruiz, o novo cineasta de Camilo.

Não queremos ir tomar café com: Carlos Costa, o gerente do Banco de Portugal que acha normal Portugal ser esfolado vivo pelos agiotas internacionais; Mohamed VI de Marrocos por eternizar o sofrimento do povo do Sara Ocidental.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 27 – Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010
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J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;