sábado, 24 de dezembro de 2016

Eça & Outras, domingo, 25 de dezembro de 2016

Afinal qual é “a nossa terra”?

         Os cristãos, e de um modo geral o mundo ocidentalizado a partir da civilização mediterrânica, celebram tradicionalmente, três dias depois do solstício do Inverno, o nascimento de Jesus em Belém, também conhecido como Jesus de Nazaré ou Jesus da Galileia, duas povoações e uma região da antiga Palestina. Mas nunca é dito como Jesus de Jerusalém. E no entanto esta cidade é o lugar maior da sua biografia. Este exemplo, de todos conhecido, apresentamo-lo aqui para reflectirmos sobre qual é afinal a nossa terra, se aquela onde vimos pela primeira vez a luz do dia, ou se aqueloutra que depois escolhemos ou nos calha nas sortes ou azares da vida. Ou se a que nos adopta, quando temos alguma importância para tal. E se, seja ela aldeia ou metrópole, nos contentamos com a sua história verdadeira ou se para ela preferimos mitologias engrandecedoras, que quantas vezes apagam singelas e úteis virtudes cívicas.
         De muitos dos grandes humanos não sabemos sequer onde nasceram. Veja-se o que aconteceu quando a investigação histórica se debruçou sobre o berço de D. Afonso Henriques, mudando-o de Guimarães para Viseu. Camões é também um desses casos: dão-se-lhe terras, cidades, vilas, aldeias de nascimento e de itinerário em Portugal, em África, na Índia e outras partes, algumas sabe-se que ficcionais, mas com monumentos a celebrar a sua passagem, se não em vida, certamente na imaginação de alguém depois que morreu. E não inventou ele “ilhas dos amores”? A sua biografia não coincide pois com a sua mitologia. Não é caso único e muito menos raro. Sobre Eça de Queirós disse e escreveu sua mãe que ele lhe nasceu na Póvoa de Varzim: mas há quem o queira nascido em Vila do Conde ou até em Aveiro e morador em Baião. Camilo, tão do Porto ou do Minho, nasceu afinal em Lisboa. A outros constroem-se-lhes maternidades em terras que nunca a mãe viram, como tem sido o caso de Fernão de Magalhães. E tal como existem mais de duas catedrais que dizem possuir o crânio de um só e mesmo santo, também a várias personalidades se lhes apontam várias terras natais. Santo António é de Lisboa para os Portugueses, de Pádua para os Italianos, não pelo nascimento mas pelo percurso de vida.
Para seres mais comuns e em tempos mais recentes, a partir da proliferação dos estabelecimentos de saúde nas cidades, o local de nascimento deixou de ser a casa materna e passou a ser uma realidade administrativa que falseia as estatísticas. Em tempos, na Maternidade Júlio Dinis no Porto, “nascia-se” alternadamente, conforme os dias da semana, numa ou noutra freguesia limítrofe, para as impertinências da vida não cansarem em demasia uns ou outros dos seus funcionários. Agora pode oficializar-se que se nasceu na morada da mãe, ainda que a mesma diste cem quilómetros do verdadeiro local do parto, que pode acontecer a bordo de um helicóptero ou de uma ambulância do INEM. Um problema para os historiadores biógrafos do futuro. E há muita gente que, tal como Chopin, tendo nascido numa Zelazowa qualquer, prefere bacocamente dizer que nasceu numa Varsóvia de prestígio. Feitios.
         Nascidos então, muitas vezes a vida muda-nos de terra, e é noutra bem diversa que nos fazemos ou acabamos como gente. A primeira poderá ser sempre uma referência, sobretudo se a família a que pertencemos lá tiver origens e memórias ativas. Veja-se Garrett que escreveu no prefácio da 1.ª edição de O Arco de Sant’Ana: «Ora eu nasci no Porto e criei-me em Gaia». É pois lícito ser-se de mais do que uma localidade. E nem será preciso filosofar-se agora muito sobre a matéria pois sobre tal se legislou já em tempos antigos. No Foral de D. Manuel de Vila Nova de Gaia, 1518, encontra-se esta clara definição: «E para se saber quais serão as pessoas que são havidas por vizinhos dalgum lugar para beneficiarem da liberdade dele, declaramos que por vizinho dalgum lugar se entenda o que for dele natural ou nele tiver alguma dignidade. Ou ofício nosso ou do senhorio da terra, pelo qual razoavelmente viva e more no tal lugar, ou se ali for feito livre da servidão em que era posto. Ou seja aí perfilhado por algum morador e o perfilhamento por nós confirmado. Ou se tiver aí o seu domicílio ou a maior parte dos seus bens com o propósito de ali morar. E o dito domicílio se entenderá onde cada um casar e enquanto aí morar. E mudando-se para outra parte com sua mulher e fazenda com intenção de se para lá mudar, voltando depois não será tido por vizinho, salvo se morando aí de novo quatro anos continuadamente com sua mulher e fazenda, e então será de novo tido por vizinho. E assim o será quem vier com sua mulher e fazenda viver para algum outro lugar, estando nele os ditos quatro anos. E além dos ditos casos não será ninguém havido por vizinho de algum lugar…» (texto actualizado). Este sábio princípio dos quatro anos mínimos de residência efectiva para se ser considerado vizinho do lugar foi anulado pelo liberalismo, quando passou a permitir que os “condes de abranhos” chegados de qualquer terra pudessem ser candidatos a eleições locais, regionais ou mesmo nacionais, por um círculo eleitoral bem distante do da sua terra natal e onde até nunca terão posto os pés, a não ser nas vésperas da abertura das urnas. E o povo, como a história o anota, vota neles, sobretudo nas cidades e vilas onde a população adventícia é em maior número, ou tem mais força social, do que a dos naturais. Daí a haver adeptos do Olhanense em Monção vai apenas um pequeno passo. Claro que também existem os que, tendo nascido nas berças de Trás-os-Vales, mal se apanham seguros no poder, compram uma vivenda na Quinta da Marinha, ou mesmo numa zona de protecção da natureza perto da capital, confiantes de que o sistema político os candidatará por qualquer outra terra, nem que seja pelas Berlengas, et voilà, aí temos o povo no poder!
Há ainda um outro estranho fenómeno a considerar, complementar daquele outro: a invenção ou perpetuação de mitologias locais pelos forâneos desenraizados. Mal montam a sua banca na cidade onde chegaram, ei-los a reescrever ou a apadrinhar a divulgação de lendas sobre a terra onde têm a nova morada, as quais a história não abona, com cujas inverdades se indigna ou das ingenuidades se ri. E quase sempre os vizinhos recentes são muito mais assanhados na defesa dessas fantasias do que os indígenas. Poderíamos dar exemplos destas situações, mas elas são bem conhecidas. E nem vale a pena, pois elas vão persistir: Verona continuará a vender o seu balcão de Julieta, Santiago o seu apóstolo.
         Tudo isto para nos ancorarmos na memória dos nossos percursos de vida. Mas valerá a pena? Lembremos aqui as palavras de Eça nas Cartas de Inglaterra: «Não há nada tão ilusório como a extensão de uma celebridade; parece às vezes que uma reputação chega até aos confins de um reino – quando na realidade ela escassamente passa das últimas casas de um bairro».
As terras a que pertencemos são afinal apenas o cenário da nossa maior ou menor efemeridade: e mais do que as memórias, as vontades de cada tempo fazem o resto.
J. A Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Livros & Revistas

João Nicolau de Almeida

João Nicolau de Almeida com o seu livro.
        O autor dos vinhos “Duas Quintas”, e agora do “Quinta do Monte Xisto”, acaba de ser homenageado com um singular e raro livro cuja edição é apenas de 2 (dois) exemplares. Numa época em que tudo tende para a massificação, há gestos que se ficam por isso mesmo, por uma afetiva exceção. Assim, a administração da Casa Ramos Pinto contatou os inúmeros amigos e admiradores do enólogo um pouco por todo o mundo para deixaram os seus textos neste “liber amicorum”, que tem uma excelente apresentação gráfica, oferecendo um exemplar ao homenageado e ficando com o outro no arquivo da empresa. Também de exceção é a edição de uma garrafa com um Porto tawny de 40 anos, tantos quantos os que trabalhou na empresa, com um artístico rótulo com o seu perfil e caixa-estojo com a sua fotografia, das quais foram feitas apenas 320 exemplares.
         O enólogo esteve presente no dia 21 de dezembro no magnífico almoço de Natal que todos os anos a administração da Casa Ramos Pinto celebra com algumas personalidades ligadas ao mundo dos Vinhos, da Arte e da Cultura, durante o qual foi feito um brinde ao atual secretário geral das Nações Unidas, Eng. António Guterres, o primeiro ministro que suspendeu a barragem que ia afogar a Arte Paleolítica do Côa, tendo visitado a Quinta de Ervamoira em 1996, onde então se inteirou do projeto para a criação do seu Museu de Sítio inaugurado a 1 de novembro do ano seguinte e que desde então acolhe visitantes à procura de lugares de exceção.

A Ira de Deus sobre a Europa


Publicado pela primeira vez nos Países Baixos em 2008 com o título Gods toorn over Nederland (A Ira de Deus sobre a Holanda), ao contrário de a maior parte dos seus livros anteriores este foi então muito mal recebido, por vir denunciar o politicamente correcto que, segundo J. Rentes de Carvalho, está a destruir a Holanda e a Europa, avassalada por uma onda de gentes e interesses que, na melhor das hipóteses, não lhe trazem nada nem coisa nenhuma, mas que a coberto da lassidão dos burocratas vão instalando os fundamentalismos vindos com as fomes e as ignorâncias de outras latitudes. Não se trata, obviamente, de propor uma nova batalha de Poitiers, como pretendem os belicistas, que com as suas estúpidas estratégias apoiaram os estadunidenses para mexerem no vespeiro do petróleo do Iraque e da Líbia, dando origem à actual desgraçada vaga de refugiados que querem da Europa aquilo que ela sempre foi, mas que hoje tem dificuldades em manter: uma terra de tolerância e de esperança. Mas para tal terá de repensar a sua estratégia mundial e entender-se internamente.
Alargando agora a questão, a Quetzal acaba de publicar A Ira de Deus sobre a Europa – Testemunho de Um Meio Século (1956-2006), com o texto inicial revisto e atualizado no prefácio pelo autor, que equaciona igualmente o papel de Portugal nessa realidade hesitante que é a Comunidade Europeia. Lá pela Holanda já há quem diga, oito anos depois, que afinal o texto era uma séria reflexão sobre o que haveria de vir e hoje aí está. Lembra-nos um outro livro, Estes Dias Tumultuosos de Pierre Van Paassen, que também ninguém quis levar a sério antes da desgraça de 1939-1945 ter batido à porta da Europa.

A Amante Holandesa
         

Agora em edição de bolso da Bertrand, para ler no comboio ou no avião, um dos melhores romances de J. Rentes de Carvalho, publicado pela primeira vez em Amsterdam no ano 2000 e já com várias edições em português, um delírio obsessivo em ambiente transmontano, onde a fantasia e a realidade se casam em insuperável narrativa. O autor, por entre as suas regulares estadias na capital holandesa e em Estevais de Mogadouro prossegue entretanto a sua atividade literária e de reflexão sobre a maneira de ser da Europa e de Portugal. Numa recente visita que lhe fizemos confidenciou-nos que no próximo ano publicará, pelo menos, mais uma obra sobre uma região de Portugal.

Cadernos Culturais

         Acaba de ser publicado o n.º 9 da segunda série dos Cadernos Culturais. Lumiar – Olivais – Telheiras, editados pelo Centro Cultural Eça de Queirós de Lisboa, dedicado aos 750 anos da freguesia do Lumiar (1266-2016). Nas suas 475 páginas apresenta artigos de Fernando Andrade Lemos (com Carlos Revez Inácio e José António Silva) sobre “Apontamentos sobre as origens dos mitos – sobretudo no mundo ocidental” e (com José António Silva e Pedro Sá Nogueira Saraiva) sobre “O painel de azulejos de Gabriel del Barco existente na entrada nobre do palácio da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Reflexões de hipótese no campo da Simbólica”; e de César Veloso (com Vanessa Omena) sobre o “V Centenário da reconquista do Maranhão” no Brasil.

Memórias da Primeira Grande Guerra

         No passado dia 10 de dezembro foi apresentado no Ginásio do Torne em Vila Nova de Gaia o livro Memórias de um Expedicionário a Moçambique (1917-1919), de José Pereira do Couto Soares, um relato da sua vivência pessoal prefaciado pelo jornalista e historiador Manuel Carvalho, complementado pela sua antologia poética e por um texto autobiográfico, tudo isto escrito num álbum que esperou quase cem anos para ser publicado. Na ocasião, estando presentes vários descendentes e familiares do autor, o livro foi apresentado pelo seu neto Dr. Rui Soares e por J. A. Gonçalves Guimarães em nome da Confraria Queirosiana, a entidade editora.

Lendas do Porto, volume IV




Prosseguindo na recolha das narrativas lendárias do Porto e cidades vizinhas, Joel Cleto apresentou no passado dia 15 de dezembro no Museu da Quinta de Santiago em Matosinhos o IV volume de “Lendas do Porto” num lançamento enquadrado na Feira do Livro Municipal daquela autarquia. Nestas obras o autor tem procurado que o leitor consiga distinguir a possível verdade histórica das fantasias acrescentadas pelos tempos e pelas gentes.




Cursos, palestras, colóquios, jornadas…

Palestras do Solar

         Prosseguem no Solar Condes de Resende as palestras das últimas quintas-feiras do mês. Assim, no próximo dia 29 de dezembro, pelas 21,30 horas, o medievalista Dr. Paulo Costa falará sobre “As comunidades gaienses nos reinados de D. Dinis e D. Afonso IV. História e Património”; no dia 26 de janeiro, o contemporanista Dr. Licínio Santos falará sobre “O mutualismo em Gaia: origens e evolução até ao tempo presente”. Ambas as palestras decorrem da execução pelo Gabinete de Historia, Arqueologia e Património do Projeto de levantamento, estudo e divulgação do Património Cultural de Gaia (PACUG). A entrada é livre.

Curso de História Naval do Noroeste de Portugal

Também no Solar Condes de Resende prossegue este curso organizado com a colaboração da Academia Eça de Queirós e certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente do Ministério da Educação. No dia 7 de janeiro o Professor Dr. Álvaro Garrido da Universidade de Coimbra e diretor do Museu de Ílhavo falará sobre A frota do bacalhau e o Museu Marítimo de Ílhavo, prosseguindo no dia 21 com a pesca no Noroeste português pela Professora Doutora Teresa Soeiro da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A frequência do curso implica inscrição prévia.
Para o ano de 2017/2018 o tema do curso do Solar será sobre Música & Músicos da região norte, numa perspetiva da História da Música e da Musicologia.

Prémios


A monografia “Rota do Românico”, da autoria de Lúcia Rosas, Nuno Resende e Maria Leonor Botelho, editada em novembro de 2014, recebeu uma Menção Honrosa do prémio A. de Almeida Fernandes 2016, destinado a galardoar estudos sobre História Medieval Portuguesa. Esta obra descreve com rigor muitos dos monumentos medievais de vários municípios do vale do Douro contemporâneos da fundação da nossa nacionalidade.


Outros eventos

Feiras das Novidades e de Troca de Livros

         A Feira das Novidades do Solar Condes de Resende realiza-se no próximo dia 8 de janeiro. A partir de fevereiro voltará a realizar-se no primeiro domingo de cada mês. Também excecionalmente a Feira de Troca de Livros e outros objetos culturais prosseguirá no terceiro domingo de janeiro, voltando depois a realizar-se no segundo domingo de cada mês.
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Eça & Outras, III.ª série, n.º 97 – domingo, 25 de dezembro de 2016; 
propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685;
NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; 
email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; 
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Ana Filipa Correia (fotografia 1)




sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Eça & Outras

Os avós portugueses da Europa

            Certamente que já ouvimos falar dos “pais fundadores da Comunidade Europeia” entre os quais Jean Monnet, Robert Schuman, Alcide de Gasperi, Konrad Adenauer e Paul-Henri Spaak. Mas, como acontece com todas as ideias humanas, também a atual união europeia teve os seus bisavôs e avós. Poderíamos começar no Império Romano, centrado no Mediterrâneo. Ou em Carlos Magno. Mas tal não abrangeria a totalidade do território europeu. A uma Europa de guerras e de conflitos permanentes pretendeu, na 2.ª metade do século XVI, o rei Henrique IV de França contrapor a ideia de uma união federal dos diferentes estados e reinos europeus, mas foi assassinado. Em 1693 o quaker William Pen pretendeu relançar a ideia, mas acabou por ir fundar a colónia da Pensilvânia na América do Norte. Em 1790, Benjamin Franklin, embaixador dos Estados Unidos da América na Europa, advoga a velha ideia de Henrique IV, o que viria a inspirar Napoleão para o seu Império Francês. Regressados à Europa das Nações pelo Tratado de Berlim de 1815, anos depois, em 1849, Vítor Hugo retoma a ideia de uns futuros Estados Unidos da Europa, da qual falará ao longo da vida. Por volta do virar do século o jornalista inglês W. T. Sead faz conferências nas capitais europeias para difundir a ideia, a qual se torna mais urgente após a carnificina europeia de 1914-1918. Assim, logo em 1923, o conde Kalergi organiza um movimento pan-europeu em Viena de Áustria e em 1929 Aristides Briand, ministro dos negócios estrangeiros francês advoga a criação de uma federação de povos europeus junto da Sociedade das Nações. Curiosamente, a ideia absolutamente contrária partiu de Inglaterra: nas vésperas da 2.ª Grande Guerra, lord Halifax, ministro dos estrangeiros britânico manifestava-se abertamente contra a ideia de uma Europa federal. O atual Brexit tem também os seus antepassados.
            E em Portugal, o que se pensava sobre o assunto? Os europeístas nasceram todos anteontem? Existem pelo menos dois “avós” da Comunidade Europeia que os portugueses em geral ignoram, embora conheçam outros figurões recentes que ajudaram a conduzi-la à debilidade atual da qual oxalá se reforce, depois de assentar um certeiro pontapé no cós do fraque inglês, e de acolher pacificamente a futura adesão da Escócia, da Catalunha, do País Basco e da Suíça, depois de clarificada a posição da Europa perante países liliputianos como o Vaticano, o Mónaco, as repúblicas de Andorra e de S. Marino e o Principado do Liechtenstein, que também será pacífica.
            Um dos primeiros “avós” portugueses terá sido o padre Manuel António Gomes Himalaia, o Edison português, pioneiro entre nós da ecologia e notável inventor da himalaíte, um poderoso explosivo de cuja patente os americanos se apropriaram, e do pirelióforo, o forno solar, entre muitas outras coisas, hoje esquecidas. Nascido em 1868 em Arcos de Valdevez e falecido em 1933 em Viana do Castelo, depois de um grande périplo cosmopolita que o levou aos Estados Unidos, à França e à Argentina, e da publicação de muitos artigos e livros sobre os mais diversos assuntos, em 1911, numa conferência proferida em Lisboa na Academia das Ciências de Portugal, defendeu a criação de uma confederação europeia de estados, como forma de evitar a guerra que se aproximava.
            Um outro foi Francisco António Correia, professor da Escola Superior de Ciências Económicas e Financeiras de Lisboa, nascido em Moncorvo em 1877 e falecido em Lisboa em 1938. Em 1920 foi ministro dos negócios estrangeiros, em 1921 das Finanças e depois representante de Portugal na Sociedade das Nações. Publicou numerosos trabalhos e obras sobre Economia, Direito e Política, tendo sido condecorado pelos governos de diversos países e de Portugal. Foi um paladino de uma democrática Comunidade Europeia, conforme podemos ler num artigo de Adolfo Benarús intitulado “A utopia da paz. Os Estados Unidos da Europa. Uma ideia que muitos classificam de lindo sonho evanescente”, publicado na revista Arquivo Nacional de 14 de Agosto de 1940, p. 520/521.
Eça de Queirós escreveu também muitos textos sobre a situação na Europa do seu tempo, mas parece não lhe ter traçado qualquer futuro federativo. No artigo A Europa em Resumo, publicado a 18 de janeiro de 1892 no “Suplemento Litterario” da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, explicou aos brasileiros que «A Europa é por isso, sobre o nosso globo, o mais delicioso dos teatros públicos. Dentro dos seus amplos bastidores de mar e céu, representam então dezasseis nações, algumas supremamente inteligentes. O pano nunca desce: e, em qualquer momento que chegue, o homem doutros continentes tem a certeza de se entreter magnificamente com o que no palco se está dizendo ou se está fazendo, constantemente se desenrola aí alguma cena dessas velhas e sempre refeitas tragicomédias que se chamam a Política, a Religião, o Dinheiro, a Sociedade…».
Atualmente, estando o estorvo inglês para sair da Comunidade Europeia, mas querendo deixar nela uma casa de penhores permanente, a “representação” continua tendo como atores principais a Alemanha, a França e a Inglaterra, que faz o papel de vilão, tendo como compère a Hungria. O ponto é russo e a orquestra estadunidense, que será substituída a partir de janeiro, trocando a música de jazz pelo country. 
Muitos portugueses, que sabem de cor e salteado a vida de qualquer charlatão nascido nas pátrias berças, ignoram solenemente a existência destes seus “avós da Europa” e a de outros qualificados compatriotas que não chutam bolas de futebol, com o argumento «que não se pode saber tudo». Pois não: bastava apenas saber mais um pouco daquilo que é realmente importante para o nosso futuro e um pouco menos das fúteis efemeridades. Eu, cá por mim, voto numa Europa dos cidadãos que estão agradecidos aos grandes e esforçados utópicos da civilização.

J. A Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Confraria Queirosiana

14.º Capítulo

Manuel Carvalho apresenta o livro sobre a Primeira Grande Guerra em Moçambique

        Como habitualmente, e desde 2003, decorreu no passado dia 19 de novembro no Solar Condes de Resende o 14.º capítulo anual da Confraria Queirosiana comemorativo do aniversário de Eça de Queirós. Esta festa reúne confrades espalhados pelo país, estando também presentes outras confrarias e outras entidades ligadas à Cultura. O discurso de abertura do capítulo foi proferido pelo presidente da direção, Prof. Doutor José Manuel Tedim, que fez um balanço das atividades desenvolvidas no presente ano e as perspetivadas para 2017, seguindo-se a apresentação das entidades presentes por César Oliveira, presidente da assembleia geral da associação, Olga Cavaleiro, como presidente da direção da Federação das Confrarias da Gastronomia Portuguesa e Manuel Monteiro em representação do presidente da Câmara de Gaia. Foram lançados o n.º 13 da nova série da Revista de Portugal, fundada em 1889 por Eça de Queirós, o livro Memórias de um Expedicionário a Moçambique (1917-1919), da autoria de José Pereira do Couto Soares, prefaciado pelo jornalista Dr. Manuel Carvalho, que fez a sua apresentação, e o Livro da Confraria 2016. Foi ainda prestada homenagem ao geógrafo Dr. Américo Oliveira falecido em 2016. A cerimónia contou com a colaboração dos professores e alunos da Escola de Música de Perosinho.
Foram seguidamente insigniados, como novos confrades: António Manuel S. P. Silva; João Emílio Santos Carvalho de Almeida; José Valle de Figueiredo; Maria Mercês Duarte Ramos Ferreira e elevados ao grau de mecenas Ricardo Charters de Azevedo e Ricardo Haddad.
Seguiu-se o jantar de confraternização abrilhantado pelo grupo cantante Eça Bem Dito, danças de salão pela Academia de Dança Gente Gira e desfile de moda pela estilista Maria José Gomes, terminando com o Baile das Camélias.

Dagoberto entre nós

Dagoberto Carvalho J.or e Cristina com J. A. Gonçalves Guimarães e 
Alberto Calheiros Lobo

     Tendo vindo a Portugal em visita privada na companhia de sua esposa Cristina, deslocou-se propositadamente a Vila Nova de Gaia para um jantar de cortesia em “petit comité” o nosso caro confrade honorário e grande animador da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, Dr. Dagoberto Carvalho J.or, médico, historiador da Arte e eciano maior com basta bibliografia e colaborador do monumental “Dicionário de Eça de Queiroz” de A. Campos Matos. O jantar, com ementa verdadeiramente queirosiana, foi servido num dos mais emblemáticos restaurantes gaienses e teve à mesa, para além dos nossos prezados visitantes, o mesário-mor J. A. Gonçalves Guimarães, Susana Moncóvio da direção e Carolina e Alberto Calheiros Lobo, nossos embaixadores itinerantes no Brasil que deram a conhecer a Confraria Queirosiana à Sociedade Eça de Queiroz do Recife. Dagoberto prometeu que no próximo ano virá ao Capítulo.

Livros & Revistas

Eça de Queiroz artista plástico

Hoje, dia 25 de novembro, dia de aniversário de Eça de Queirós, será lançado no Grémio Literário em Lisboa a obra “Eça de Queiroz em Casa – Desenhos de Textos Inéditos” organizada por Irene Fialho, investigadora do Centro de Língua Portuguesa da Universidade de Coimbra. Finalmente encontram-se assim reunidos muitos dos desenhos, caricaturas, pinturas e esculturas ou modelações feitas pelo escritor ao longo da sua vida, alguns deles acompanhados de textos alusivos às imagens, bem assim como o Caderno de D. Emília de Castro, a esposa do escritor por sua vez filha da Condessa de Resende, pintora amadora de mérito e neta do Visconde de Beire, o primeiro inspetor da Academia de Belas Artes do Porto que lhe deu bons mestres daquela instituição. Para além da curiosidade e habilidade próprias, viveu pois Eça de Queirós num ambiente onde se cultivavam e apreciavam as Artes Plásticas e até a Fotografia, de que foi apaixonado cultor. Como diriam os jovens de hoje, «Eça continua a bombar!» no 171.º aniversário.
            Entretanto o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) de Lisboa publicou recentemente o Novo Atlas da Língua Portuguesa pelo qual ficamos a saber que, entre 1979 e 2015, Eça de Queirós foi o 6º escritor mais traduzido no mundo lusófono, logo após cinco autores do século XX, aparecendo Machado de Assis
em 10.º lugar.

Primeira Grande Guerra em Moçambique

Escrito por José Pereira do Couto Soares, o livro “Memórias de um Expedicionário a Moçambique (1917-1919), é um relato da sua vivência pessoal, prefaciado por Manuel Carvalho, o autor de “A Guerra que Portugal quis esquecer - O desastre do Exército em Moçambique na Primeira Guerra Mundial”, um outro livro sobre o enquadramento histórico de «um dos maiores desastres militares de Portugal em África desde os primórdios dos Descobrimentos». Couto Soares, que perfilhava o ideal anarquista, para ganhar a vida sustentar a família teve de ser polícia. Ao seu «pungente testemunho pessoal» segue-se uma não menos interessante antologia poética, com versos de muitos poetas famosos nas primeiras décadas do século XX, mas hoje geralmente esquecidos, e um conto autobiográfico no estilo de Edgar Allan Poe. Um livro verdadeiramente interessante que esperou cem anos para ver a luz do dia e que até fala do Natal.

Livro da Confraria Queirosiana 2016
      



Em 2004 a Confraria Queirosiana, a parte mais visível dos ASCR-CQ, editou o seu primeiro “Livro da Confraria”, que rapidamente esgotou. Saiu agora uma nova edição organizada por Amélia Cabral, J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Moncóvio, atualizada com um texto de apresentação da associação, os corpos gerentes para o quadriénio 2016-2020, os Estatutos e Regulamento Interno recentemente revistos, a lista geral de sócios, a lista de confrades, os sócios e confrades falecidos e outros aspetos da vida da agremiação, nomeadamente o trajo, o hino, as edições, as atividades e os produtos queirosianos.



Viajar com…Ramalho Ortigão

            Ontem, dia 24 de novembro, pelas 18,30 horas foi lançado no Forte de S. João da Foz no Porto o livro de José Valle de Figueiredo “ Viajar com… Ramalho Ortigão”, editado pela Direção Regional de Cultura do Norte e apresentado pelo autor, numa iniciativa da entidade editora e da União de Freguesias de Aldoar, S. João da Foz e Nevogilde.

Revista de Portugal

Dedicado aos 175 anos do nascimento de Alberto Sampaio, cujo retrato de 1884 da “Ilustração Universal” lhe faz a capa, colaborador que foi da Revista de Portugal de Eça de Queirós, onde publicou “Ontem e Hoje”, agora reeditado no n.º 13 desta nova série, que foi lançado no passado dia 19 no capítulo da Confraria Queirosiana com artigos de José António Afonso: “Património e Ação Cívica”; Susana Moncóvio. “D. Luís Manuel Benedito da Natividade de Castro Pamplona de Sousa Holstein e a escola de Canelas…”; Susana Guimarães: “Francisco da Silva, enfermeiro hípico na 1.ª Guerra Mundial”; J. A. Gonçalves Guimarães: “Macau na Primeira Exposição Colonial Portuguesa – Porto, 1934. A viagem à China ao pé da porta”. Seguem-se duas recensões do diretor da revista, Luís Manuel de Araújo, de livros sobre “Njinga, rainha de Angola. A Relação de Antonio Cavazzi de Montecuccolo (1687)” e “Grandes conflitos da História da Europa. De Alexandre Magno a Guilherme «O Conquistador»”, de João Gouveia Monteiro. Este número presta ainda homenagem ao geógrafo Dr. Américo Oliveira, falecido em 2016, apresentando no final a Bibliografia dos sócios e confrades dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, bem assim como o Relatório e Contas, ambos referentes a 2015. No lançamento esteve presente a Eng.ª Emília Nóvoa do Arquivo Alberto Sampaio de Vila Nova de Famalicão.

Cursos, palestras, colóquios, jornadas…

Temas gaienses

     Vários investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR-CQ, no âmbito do projeto do levantamento, estudo e divulgação do Património Cultural de Gaia (PACUG), têm vindo a fazer diversas palestras sobre temas gaienses em diversas circunstâncias e para diversificados públicos. Assim, e para além dos que abaixo se indicam, no passado dia 8 de novembro, J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães apresentaram no salão nobre da Câmara de Gaia para alunos e professores do programa Erasmus provenientes de vários países da Comunidade Europeia o tema “Gaia Todo Um Mundo”, sobre as relações desta cidade com o Rio Douro. O primeiro apresentará no próximo dia 27 na festa de aniversário do jornal Gaia Semanário o tema “Elementos identificadores da Comunidade Gaiense”, que repetirá no dia 29 no aniversário da Gaiacoop – União das Cooperativas de Habitação, UCRL.
        Hoje, dia 25 de novembro, pelas 21,30 horas, Maria de Fátima Teixeira apresentará no Auditório do Centro Social e Cultural de Olival no âmbito da festa escolar do Agrupamento de Escolas Diogo de Macedo o tema “A Companhia de Fiação de Crestuma: 100 anos de História”.

Arqueologia do Vale do Douro

            Nos dias 17, 18 e 19 passados decorreram no Porto na Casa das Artes as “VI Jornadas no Vale do Douro. Do Paleolítico até à Idade Média”, organizadas pela Associacion Científico-Cultural Zamora Proto-histórica, com a colaboração do Lab2PT Universidade do Minho, nas quais participaram, entre outros, os arqueólogos António Manuel S. P. Silva, Bárbara Alves, Joana Brito, Laura C. P. Sousa e Teresa Pires de Carvalho, que apresentaram várias comunicações baseadas no projeto de investigação arqueológica do Castelo de Crestuma coordenado pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, nomeadamente “Materiais proto-históricos do Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia)”; “Pesos, percutores e outros objetos em pedra do Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia)” e “A Terra Sigillata do Castelo de Crestuma, Vila Nova de Gaia (2010-2015) e o comércio no Baixo Douro no período tardo-antigo”.

Invasões Francesas no Porto

            No passado dia 18 de novembro decorreu no Forte de S. João Baptista no Porto um Seminário de História, Património e Turismo Militar organizado pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique com o apoio do Instituto da Defesa Nacional e da União das Juntas de Freguesia de Nevogilde, Foz e Aldoar, sob o tema “As Invasões Francesas na cidade do Porto. Foram palestrantes, entre outros, José Manuel Tedim, atual professor daquela Universidade, que falou sobre “Marcas Iconográficas da 2ª Invasão Francesa no Porto”; Francisco Ribeiro da Silva e J. A. Gonçalves Guimarães ex-professores daquela universidade que falaram, respetivamente, sobre “As circunstâncias da 2ª Invasão Francesa” e “Desastre da Ponte das Barcas: os que se salvaram?”.

Palestras do Solar

            Prosseguem no Solar Condes de Resende as palestras das últimas quintas-feiras do mês apresentadas por investigadores do projeto do levantamento, estudo e divulgação do Património Cultural de Gaia (PACUG). Assim, ontem dia 24 de novembro, Eva Baptista falou sobre “Educação e Caridade: Uma primeira abordagem à influência da Maçonaria em Vila Nova de Gaia, na viragem para o século XX”. No dia 29 de dezembro Paulo Costa falará sobre “As comunidades gaienses nos reinados de D. Dinis e D. Afonso IV. História e Património”.

Curso de História Naval do Noroeste de Portugal

Este curso, organizado pelo Solar Condes de Resende com a colaboração da Academia Eça de Queirós e certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente do Ministério da Educação, prosseguirá nos dias 26 de novembro com o tema “Estaleiros do Douro no período da Expansão”, por Amândio Barros, no dia 3 de dezembro “Vila do Conde e a Expansão” por Amélia Polónia e no dia 10 “A Frota Mercantil do Porto no período constitucional” por J. A. Gonçalves Guimarães. Entretanto a sensibilização criada por este curso para os assuntos em volta da História Naval, levou já à recolha de uma peça de madeira de uma embarcação antiga no Rio Douro que se encontra depositada no Solar Condes de Resende para ser estudada.
Para o ano de 2017/2018 o tema do curso do Solar será sobre Música & Músicos da região norte, numa perspetiva da História da Música e da Musicologia.

O Antigo Egito

            Nos próximos dias 28 de novembro e 12 de dezembro, segundas-feiras, pelas 18,30 horas, o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vice-presidente da ASCR-CQ e diretor da Revista de Portugal fará uma palestra em cada uma daquelas datas no Museu da Farmácia de Lisboa e do Porto sobre “O Antigo Egipto: uma viagem de 3000 anos”, promovidas pela empresa de viagens Tryvel. A participação implica inscrição prévia.

Exposições

Salon d’ Automne queirosiano
           

No passado dia 12 de novembro abriu ao público no Solar Condes de Resende o 11.º Salon d’Automne queirosiano 2016, com obras de pintura, desenho, cerâmica, fotografia e escultura de Abel Barros, Angelina Rodrigues, António Almada, António Pinto, António Rua, Carolina Calheiros Lobo, Cerâmica do Douro, Emília Maia, Ilda Gomes, Luísa Tavares, Rosalina Sousa, Susana Moncóvio e Valença Cabral. A vernissage teve a presença dos corpos gerentes da Confraria e de vários confrades artistas e do seu público. As obras, que estarão patentes ao longo do mês de dezembro, destinam-se à venda.


Major Simões Duarte
            


No próximo dia 29 de outubro pelas 17,30 horas abrirá ao público na Junta de Freguesia de São Mamede de Infesta a “Exposição de Retrato, Figura Humana e Paisagens” do Major Simões Duarte, com numerosos óleos de figuras públicas portuguesas e mundiais, bem assim como de cidadãos comuns e locais a que a arte perpetua a alma.




Outros eventos

Feiras das Novidades e de Troca de Livros

            A Feira das Novidades do Solar Condes de Resende teve mais um dos seus momentos altos nos passados dias 12 e 13 de novembro com a realização de Feira de S. Martinho. Para além dos vendedores e produtos habituais vieram o bom fumeiro e outros produtos de Pereiros, S. João da Pesqueira, graças ao protocolo da Confraria com a Associação dos Amigos daquela localidade. A noite de sábado foi abrilhantada com o lançamento de um CD de fados de Coimbra e sessão de poesia pelos Antigos Estudantes da Universidade do Porto. No domingo atuaram os “Eça Bem Dito” com canções da Belle Èpoque no auditório do Solar e um agradecimento público em nome da direção da ASCR-CQ a Ilda Castro, que durante quase três anos geriu este evento com sucesso.
            A Feira prosseguirá, como habitualmente, no próximo dia 4 de dezembro, primeiro domingo do mês, mas em janeiro, por exceção, será no dia 8, segundo domingo.
            Entretanto prossegue no Solar no segundo domingo de cada mês a Feira de Troca de Livros e Objetos Culturais, completamente grátis.
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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 96 – sexta-feira, 25 de novembro de 2016; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; 
IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: 
J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Susana Guimarães; Susana Moncóvio (fotografias 1 e 2).





terça-feira, 25 de outubro de 2016

Eça & Outras


O velho cilindro compressor

            Lembro-me que quando era menino e ia pela mão de minha avó Dioguina ou minha tia Lucinda até à escola pré-primária à entrada do Bairro das Pedras ficar fascinado com o gigantismo dos caterpillars e a eficiência dos “cilindros” compressores que “passavam a ferro” quaisquer materiais até ficarem lisos. E tal era verdade para amontoados de brita e saibro postos por cima das valas abertas nas ruas para o saneamento e a água encanada, mas também para as latas de sardinha vazias ou quaisquer outros objetos, metálicos ou não, com que nos divertíamos atirando-os para debaixo do cilindro e esperando pelo resultado nas traseiras depois da máquina passar, e também, diga-se em abono da verdade, do olhar cúmplice ou mesmo divertido do condutor da máquina com a demonstração do seu poder, que reduzia volumes a folhas fininhas. Tão fascinado com o facto fiquei que, apanhando-me logo depois mais ou menos sozinho em casa, ou com minha avó a dormir, desenhei a toda a volta nas paredes do quarto de meus pais toda uma banda desenhada a representar estas máquinas. Fiquei sem saber se ficaram embasbacados com a asneirada ou com a habilidade do menino. Lembro-me de terem andado a mostrar a “capela sistina” improvisada e, além do mais, não eram de bater no desconcertante, mas pacífico, rebento. Mas esta imagem ficou-me pela vida fora, não tanto o velho cilindro compressor da infância, mas uma máquina muito mais subtil e poderosa que é, e continua a ser, o cilindro compressor institucional do dia-a-dia sobre a vida, o trabalho, os afetos, as convicções e a sua partilha em liberdade, igualdade e fraternidade, essa velha máxima nunca alcançada e já hoje esquecida. E este outro, não só reduz a qualquer coisa fininha, insignificante e medíocre tudo o que é nosso, quer seja importante ou mero objeto banal, como continua inexorável no seu peso, na sua direção, no seu objetivo de cilindrar-nos, exigindo que abandonemos de vez a pretensão de ter, e pior ainda, de querer manter e afirmar, os “relevos” que vamos construindo, ainda que úteis ou sensatos. Lembro-me de como o ar vagamente filosófico do condutor do cilindro se transformava em esgar de fúria quando, em vez da lata de folheta cuja planificação absoluta o divertia, atirávamos para aquela frente niveladora qualquer outra coisa capaz de resistir ao previsível esmagamento, como por exemplo, uma pedra com algum volume e dureza. Tal não estava previsto e contrariava sumamente o efeito circense habitual. A seguir, tal como agora, vinham os impropérios, as ameaças, as nossas possíveis fugas.
            Desde então este segundo, e muito mais terrível “cilindro compressor” tem-me acompanhado ao longo da vida, e, embora tal me não conforte por aí além, suponho que cada um terá o seu, ainda que de tal não tenha dado conta. Esse cilindro existia com certeza na minha infância lá em casa, como aplanador do “parece bem” e do “tem de ser assim” e, ainda que afetuoso pela sabedoria de gerações de boa gente, cada qual também com o seu “cilindro” de que já conhecia o regulamento, quantas vezes terminava, ainda que a contragosto, no “porque sim” e ponto final. Tive depois mais algumas destas máquinas na escola primária, na catequese, no liceu, no primeiro curso, na tropa, no 25 de Abril a cilindrarem os cravos da esperança e o “The Times They Are a-Changin” de Bob Dylan, na profissão, na vida adulta, no empenhamento artístico, sindical, cívico e político, no segundo curso, na segunda profissão, na trajetória de vida até hoje, mesmo nestes escritos que aqui deixo, com a convicção assumida, mas cilindrada, de que estou a publicar as minhas opiniões e “latas de folheta” num blogue de uma instituição felizmente poliédrica, onde eu sou apenas, e não quero ser jamais qualquer outra coisa, que não seja a inevitabilidade plana e simples que fica depois de o cilindro passar. E creio bem que esta é a única aspiração a que um cidadão que não cultiva a sua horta, que não apascenta o seu gado, que não pesca o seu peixe, que não sabe nem treinou a pontaria à possível caça, que não teceu a sua roupa, que não moldou o seu prato, que não construiu a sua casa, que não inventou a língua com que se faz entender aos mais próximos, que não firmou nenhum dos totens que a sua comunidade tomou como símbolo, que não fundou o seu país, que ainda o não conduziu ao paraíso terreal nem à glória eterna, depois da frustração de não ter participado por aí além em qualquer destas grandezas, pode desejar. Dir-me-ão que outros não são assim, que o banal é vermos e ouvirmos cidadãos que nada criaram para o bem comum, que pouco ou nada fizeram na vida, que nem sequer a sua profissão exerceram com seriedade, que viveram à custa dos outros vendendo-lhes – quantas vezes por bom preço – monumentais aldrabices, futilidades, inutilidades, prejudicialidades, pestes, fomes e guerras, ainda que não as que matam logo, mas as que cilindram a existência e tornam o cidadão um permanente dependente dos aclamados mantenedores do “porque sim”, dos vendedores de “banha da cobra”, dos “iluminados”, dos exploradores das infinitas orfandades humanas que gostaríamos de ver aplacadas no dia que passa e não quando formos “pó, cinza e nada”, e todos eles a exigirem benesses, prebendas, lugares de destaque para si, sua família e membros dos clubes que os protegem e promovem.
            Muitos desses não têm de se preocupar com o “cilindro”, pois tudo lhes vai nas asas do vento, pelo menos enquanto ele está de feição. Terá sido a pensar neles que certamente Eça de Queirós escreveu em “A Ilustre Casa de Ramires”, o seguinte «…o Homem só vale pela Vontade – só no exercício da Vontade reside o gozo da Vida. Porque se a Vontade bem exercida encontra em torno submissão – então é a delícia do domínio sereno; se encontra em torno resistência – então é a delícia maior da luta interessante. Só não sai gozo forte e viril da inércia que se deixa arrastar mudamente, em silêncio e macieza de cera…». Contra o exercício da nossa vontade teremos sempre de contar com a ronceirice niveladora do “cilindro” social. A única hipótese de lhe escapar é desviando-nos do seu trajeto, quase sempre bastante previsível. E arcar com as consequências. É esse o gozo da vida.

J. A Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Honoris Causa

Guilherme d’ Oliveira Martins
No passado dia 21 de setembro, no auditório do Centro Cultural de Belém em Lisboa, tomou o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade Aberta o confrade de honra da Confraria Queirosiana, Doutor Guilherme Valdemar Pereira d’ Oliveira Martins, tendo como padrinhos o Professor Doutor Roberto Carneiro e o nosso confrade Professor Doutor Carlos Reis. O texto da sua oração de sapiência intitulada «Serviço público da Língua Portuguesa» ficou impresso no jornal Público do dia 26 de setembro passado.
No dia 12 de outubro foi o mesmo também agraciado com o mesmo grau pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas na sua Aula Magna no Alto da Ajuda também em Lisboa.
Tendo sido deputado em várias legislaturas, secretário de estado e ministro em vários governos, presidente do Tribunal de Contas, além de presidente do Centro Nacional de Cultura, foi distinguido com várias condecorações. O ilustre doutorado é presentemente administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian. 


Cursos, palestras, colóquios, jornadas e outros


Curso de História Naval do Noroeste de Portugal


Como anteriormente noticiamos, no passado dia 3 de outubro decorreu no auditório do Palácio da Bolsa no Porto mais uma conferência da série “Atlântico Mais”, desta vez sobre “A evolução das operações portuárias”, na qual, entre outros profissionais convidados, falou J. A. Gonçalves Guimarães, investigador de História Naval e coordenador do curso sobre a mesma temática no Solar Condes de Resende, sobre “Os portos do Porto (Matosinhos, Gaia, Porto): o porto por excelência”, a qual pode ser escutada em https://youtube. com/watch?v=NuSiPZeSJz4. Também como previsto teve início no dia 15 de outubro a abertura daquele curso com a presença do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Prof. Doutor Eduardo Vítor Rodrigues, do presidente dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, Prof. Doutor José Manuel Tedim, do Dr. Carlos Sousa, em representação da diretora do Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente, Dr.ª Maria Virgínia Barroso, do diretor do Solar e de representantes de várias instituições. Após a entrega dos certificados do curso anterior, e na qualidade de professor de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues apresentou uma aula sobre «Uma política marítima para a frente atlântica».
 No dia 22 de outubro, o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa apresentou «Navios e navegações antigas no Mediterrâneo». Seguir-se-á no próximo dia 5 de novembro «Navios romanos na rota atlântica», pelo Prof. Doutor Rui Morais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto» e no dia 12 de novembro «As origens medievais da Marinha Portuguesa» pelo Prof. Doutor Luís Miguel Duarte também daquela faculdade.
Este curso é organizado pelo Solar Condes de Resende com a colaboração da Academia Eça de Queirós e certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente do Ministério da Educação.

Encontro anual da FAMP
           
            No passado dia 8 de outubro decorreu em Barcarena, Oeiras, o Encontro Anual da Federação dos Amigos de Museus de Portugal, no qual a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana está filiada, tendo aí sido representada pelo seu vice-presidente, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo.

Centenário da Banda de Coimbrões

            No passado dia 9 de outubro na sede da Junta da União de Freguesias de Santa Marinha e Afurada decorreu a sessão solene do centenário da Sociedade Musical 1.º de Agosto, localmente mais conhecida como “Banda de Coimbrões”, com o lançamento de um livro sobre a memória da sua existência. Na ocasião, entre outros, falou J. A. Gonçalves Guimarães sobre a história da localidade e dos grandes músicos de Gaia do passado ao presente. À cerimónia compareceram diversos confrades queirosianos em representação da Câmara Municipal e de outras instituições, ficando aí definido o tema do curso do Solar para o ano de 2017/2018, que será sobre Música & Músicos da região norte, numa perspetiva da História da Música e da Musicologia.

“Por uma sociedade decente”

           No passado dia 21 de outubro decorreu no Pavilhão da Lavandeira uma sessão comemorativa do 3º aniversário do atual mandato do executivo da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, entidade com quem a ASCR - Confraria Queirosiana tem vários protocolos em desenvolvimento, presidida pelo confrade e presidente da autarquia Prof. Doutor Eduardo Vítor Rodrigues, tendo sido convidado como palestrante o Professor Doutor Eduardo Paz Ferreira, que na ocasião dissertou sobre o tema do seu livro “Por uma Sociedade Decente”, o qual já vai em terceira edição. Presentes também vários confrades em representação de outras instituições. A sessão foi ainda abrilhantada com o melodista Pedro Abrunhosa.

500 anos do Foral de Gaia

            No próximo dia 27 de novembro, quinta-feira, pelas 21,30 horas nas habituais palestras das últimas quintas-feiras do mês no Solar Condes de Resende, J. A. Gonçalves Guimarães irá falar sobre “O Foral Manuelino de Vila Nova de Gaia (1518): 500 anos de História” para sensibilizar os ouvintes para a importância das comemorações deste documento estruturante do município que decorrerão em 2018.

Tertúlia Educação 2016

            No próximo dia 29 de outubro, sábado, 21,30 horas, decorrerá no auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia uma tertúlia subordinada aos temas: “Qual o estado da Educação? Evolução histórica e novos desafios” promovida pelo MCG. Serão conferencistas, entre outros, o Prof. Doutor José António Afonso, da Universidade do Minho e dos corpos gerentes da ASCR-Confraria Queirosiana; a Dr.ª Eva Baptista, do Gabinete de História, Arqueologia e Património, ASCR-CQ; tendo como moderador o Dr. Albino Almeida, presidente da Assembleia Municipal e confrade de honra dos ASCR-CQ.

Regresso das Tesserae Hospitales
           
            Depois de terem sido mostradas em Mérida, Lisboa e Madrid na Exposição “Lvsitania Romana – Origem de dois povos”, promovida pelos museus nacionais de Arqueologia e pelos governos de Portugal e de Espanha, que terminou na capital espanhola a 16 de outubro, vão regressar ao Solar Condes de Resende as duas Tesserae Hospitales encontradas em 1983 no Monte Murado, Vila Nova de Gaia, datadas dos anos 7 e 9 d. C., estudadas e publicadas pelo Professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva na revista Gaya, vol. I, 1983.
            Entretanto a Junta da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo adquiriu ao Gabinete de História, Arqueologia e Património duas réplicas em bronze destas notáveis peças romanas para figurarem em exposição permanente na sede cívica da terra onde foram encontradas e arqueologicamente enquadradas.

Feira de S. Martinho

Nos dias 12 e 13 de novembro vai decorrer no Solar Condes de Resende a tradicional Feira de S. Martinho, com produtos do Douro e de Gaia. No sábado às 21,30 horas haverá uma serenata e o lançamento de um CD pelo grupo de fados dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, intitulado “Fados de Coimbra”. No domingo de tarde atuará o grupo coral do Solar “Eça Bem Dito”, interpretando antigas canções portuguesas e europeias.

Errata:

A propósito do livro “Quinto – Lisbon to Aberford”, de Alan Carrick, que divulgamos no blogue anterior, temos de fazer as seguintes correções: o autor esteve no Solar em Abril de 2004 e não em 1996; onde se escreveu erradamente New Yorkshire, leia-se West Yorkshire; e já agora onde aparece “ciente” leia-se cliente. E sobretudo leia-se este interessantíssimo livro sobre mais um português que foi morrer longe.
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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 95 – terça-feira, 25 de outubro de 2016; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; 
IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Susana Guimarães.