terça-feira, 25 de maio de 2010

Eça & Outras

Eça, Portugal e a Grécia

Vários emails chegados de vários amigos e confrades trouxeram-nos o seguinte texto: «Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade politica, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito
Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá… vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal».
Isto não foi escrito ontem, mas em 1872 por Eça de Queirós n’As Farpas. Já passaram 138 anos e estamos na mesma situação. Se por um lado esta “doença crónica” já nos deu alguma imunidade, até porque, tanto nós como os gregos, temos sobrevivido, não há dúvida que esta quase permanente corda na garganta, cujo nó se apertou, recordemos, no final do século XIX, durante a 1.ª República, a seguir ao 25 de Abril e agora em plena democracia, tem impedido este país de andar de cabeça erguida por entre as demais nações, enquanto as nossas classes dirigentes comemoram mistérios, campeonatos de futebol, feiras diversas e outras fantasias clientelares que os netos e bisnetos dos actuais distraídos, excluídos do sistema ou incapazes de o modificarem, ou seja, os descendentes de quase todos nós, pagarão com empréstimos a juro escandaloso.
Lembram-se daquele senhor que dizia que a Expo 98 se pagava a si mesma e que por isso ainda lhe haviam de erguer uma estátua? Aposto que é descendente do conselheiro Acácio ou do conde de Abranhos ou de quaisquer outras personalidades queirosianas idênticas. Não, meus amigos, isto não é para rir. Eça teria dispensado esta sua capacidade profética em nome de seu grande e lúcido amor pela pátria, que não se alimentava das balelas do seu tempo e que ainda hoje perduram. Passados estes anos todos é uma condenação o estarmos na «mesma decadência de espírito». Mas não tem que ser eterna: o próprio Eça também nos deu a solução: «… as nações têm a vida dura, e … o nosso Portugal tem a vida duríssima. E se os que estão no poder porfiarem sempre em cometer a menor soma humanamente possível de acerto, muitos perigos podem ser conjurados e a hora má adiada», escreveu ele em «Novos factores da política portuguesa». Mas será que os políticos actuais leram Eça? Não creio; terão lido, quando muito a Arte de Falar em Público, em fotocópias piratas de qualquer inútil MBA.
Não estamos em tempos de revolução, é o que dizem os sensatos, como se se pudessem programar as tempestades. Mas que isto tudo precisa de uma vassourada suponho que ninguém tem dúvidas.

J. A. Gonçalves Guimarães

Obras queirosianas

No ano de 2009 foram publicadas mais duas obras com temática queirosiana: de Fernando de Castro Brandão, Eça de Queirós. Uma cronologia, edição da Europress e de António Cirurgião, De Eça a Jorge de Sena, pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda.
Continua assim o escritor a ser fonte de inspiração e ponto de partida para novas, renovadas, repetidas, remendadas e requentadas abordagens da sua vida, obra e época. Se este aspecto é altamente positivo, pois nada nem ninguém é dono do escritor e do seu enorme legado cultural, verifica-se, no entanto, uma gritante falta de análise crítica das obras que se vão publicando, talvez porque neste país de moles opiniões sempre se confundiu crítica com maledicência. Falta-nos pois a primeira, que a segunda dispensa-se.


Nova Confraria Queirosiana no Brasil

No passado dia 27 de Fevereiro foi fundada em Oeiras do Piaui a Confraria Eça–Dagobertiana de estudos da obra literária de Eça de Queirós e do ensaísta e historiador oeirense Dagoberto Carvalho J.or. O jantar comemorativo recriou a ementa do Abade de Cortegaça de O Crime do Padre Amaro. Entretanto aquele nosso confrade brasileiro foi alvo de uma justíssima homenagem na sua terra natal, tendo aí sido descerrada uma placa de bronze dizendo a quem passa o seguinte: NESTA CASA/ NASCEU, EM 9 DE MAIO DE 1948,/ O MÉDICO E ESCRITOR/ DAGOBERTO FERREIRA DE CARVALHO JÚNIOR,/ AUTOR – ENTRE OUTROS LIVROS – DE/ “PASSEIO A OEIRAS”./ MEMÓRIA DA/ ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS/ INSTITUTO HISTÓRICO DE OEIRAS/ FUNDAÇÃO NOGUEIRA TAPETY/ CONFRARIA ECIANA DE OEIRAS/ POUSADA DO CÔNEGO/ EMPRESA LIDER/ 25. IV. 2010.
O homenageado recebeu entretanto também as felicitações e os abraços de afecto, estima e admiração dos seus confrades portugueses na recente digressão que Maria Carolina Calheiros Lobo e António Alberto Calheiros Lobo fizeram pelo Brasil.

Estátua de Rocha Peixoto

No passado dia 2 de Maio foi inaugurada em frente da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim uma estátua de Rocha Peixoto, etnógrafo, bibliotecário e também último secretário da Revista de Portugal de Eça de Queirós. Da autoria de Helder Carvalho, ela assinala o centenário da sua morte que a edilidade poveira está a comemorar, tendo para o caso nomeado uma comissão da qual fazem parte o presidente da câmara, Dr. José Macedo Vieira, o vereador da cultura Dr. Luís Diamantino, o director da biblioteca, Dr. Manuel Costa, a directora do boletim cultural, Dr.ª Maria da Conceição Nogueira, com a direcção científica do Prof. Doutor João Marques.
Na ocasião foram também lançados os boletins n.os 43 e 44, com artigos sobre a vida e obra de Rocha Peixoto e ainda as Actas do Colóquio que lhe foi dedicado em Maio de 2009.
A terra poveira continua assim a promover os seus filhos mais dilectos e a partilhar a sua obra com todo o mundo. Por todos estes motivos a Confraria Queirosiana esteve presente no evento representada pelo presidente da direcção e mais quatro confrades.

Aniversário de As Artes Entre As Letras

Foi um auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett no Porto completamente cheio que no passado dia 20 de Maio aplaudiu o 1.º aniversário desta revista na pessoa da sua directora Nassalete Miranda, tendo na circunstância falado sobre o projecto Miguel Veiga e Salvato Trigo. A directora agradeceu emocionada esta manifestação de cumplicidade neste projecto cultural que extravasa em muito os horizontes da muralha fernandina, pois o Porto, quando quis ser grande, sempre se foi ao mundo.
A direcção da Confraria Queirosiana fez-se representar nesta simpática comemoração da revista literária que divulga a sua página Eça & Outras.

Jantar queirosiano em Santo Tirso

Na última sexta-feira, 21 deste mês, decorreu no Instituto Nun’Alvres, Santo Tirso, também conhecido por Colégio das Caldinhas, um Jantar Queirosiano no qual participaram a direcção do Colégio, os seus professores e alunos e a Confraria Queirosiana.
Organizado pelo Curso Profissional de Técnicos de Restauração e pelo Departamento de Português, muitos professores e alunos apresentaram-se vestidos à época e as mesas estavam decoradas com um requinte a lembrar as ceias de Os Vencidos da Vida ou de Os Maias, de que foram recriadas algumas passagens. A música de fundo e algumas danças por um par profissional e depois, pelos presentes, ajudaram ao ambiente queirosiano que teve o seu ponto alto na ementa, primorosamente impressa, magnificamente cozinhada e impecavelmente servida.
A Direcção do Instituto presidiu ao repasto, tendo estado presente o próprio Eça, pois a organização não se esqueceu de lhe reservar uma cadeira de honra neste serão em sua homenagem.

O Couseiro de Leiria

No próximo dia 5 de Junho pelas 15 horas na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, em Leiria, será apresentado pelo Professor Doutor Saul António Gomes o novo livro de memórias leirienses de Ricardo Charters d’Azevedo, Quem escreveu o Couseiro, editado pela Textiverso, abrindo ao público, na ocasião, uma exposição sobre as várias edições desta obra também conhecida por Memórias do Bispado de Leiria, cujo autor, ou autores, se desconhecem, tendo sido escrito há cerca de 400 anos, mas só contado com edições impressas desde 1868. Na presente edição, o autor não só tentou conseguir uma versão mais próxima do original como apresenta novas hipóteses para a identificação do autor.

Curso Internacional de Verão

A Fundação Eça de Queirós vai realizar a 12.ª edição do seu Curso Internacional de Verão – Seminário Queirosiano entre os dias 19 a 23 de Julho de 2010, subordinado ao tema “Da Geração de 70 à República: práticas estéticas e debate ideológico”, especialmente dirigido a professores e estudantes universitários mas também a todos os demais interessados na obra queirosiana. As inscrições decorrem até 12 de Julho. Para a frequência do mesmo existem vinte bolsas para dez estudantes portugueses e dez estrangeiros, cujo prazo de candidatura termina a 15 de Junho.
O curso é coordenado por Isabel Pires de Lima, do Conselho Cultural da FEQ.
Mais informações podem ser pedidas para feq@feq.pt

Café Eça de Queirós

Abertas as suas portas ao mundo em que vivemos neste blogue, este café acolhe-nos a todos, cada um na sua condição e cada um com os seus defeitos e virtudes. Não tem reservado o direito de admissão, mas cada um só toma café com quem quer, um direito que nos assiste e que não alienamos. Assim, não queremos tomar café com:
Ana Raquel da Silva Guerra, por não devolver os livros que não são seus; Armando Vara, porque não nos apetece; Inês de Medeiros porque ser deputada não é um favor que se faz ao eleitorado; Jardim Gonçalves o cabeça de um dos octopus mei que existem neste país; Ricardo Rodrigues, porque empalmar gravadores a jornalistas é pouco ético; Tadeu Soares, porque a representação diplomática de Portugal não pode continuar como no tempo de Eça de Queirós, do que ele então já amargamente se queixava….
Mas gostaríamos de tomar café e dar dois dedos de conversa com: Baltazar Garzon, o “caça-fantasmas” espanhol; Bruna Real, porque a beleza é um dom divino; Lino Maia, o padre bom que sabe que não se podem pôr as crianças numa prateleira; Raquel Henriques da Silva, por saber que a Arte não é alheia ao seu significado social; Saldanha Sanches por ter dado à Fiscalidade muita da dignidade que lhe andava arredada; Vitor Bento por acreditar que a Economia não é a Matemática das contas erradas sempre para os assalariados.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 21 – Terça, 25 de Maio de 2010
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confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638);
redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;
colaboração: Dagoberto Carvalho J.or; António Eça de Queiroz; Ricardo Charters d’Azevedo.