terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Eça de Queiroz Correspondência

Acabam de sair pela Editorial Caminho os dois volumes de Eça de Queiroz Correspondência, com organização e notas de A. Campos Matos, diria mais, do incansável, incontornável, imprescindível A. Campos Matos, a quem os queirosianos tanto devem e as gerações vindouras tanto ficarão a dever a este incansável divulgador e comentador do grande escritor português assim tornado eterno e universal, ainda que em português. Nesta nova colectânea reúnem-se 898 cartas, algumas das quais inéditas, passando assim a ser o mais completo e anotado repositório da epistolografia queirosiana, imprescindível para aclarar ainda muitos pontos da sua vida obscurecidos pelas ideias prévias de alguns dos seus biógrafos e, ao mesmo tempo, ajudarem a compreender melhor a sua obra e a sua época.

Manoel Oliveira filma Eça

No passado dia 11 de Dezembro, o cineasta Manoel Oliveira passou o dia do seu 100º aniversário a trabalhar atrás das câmaras filmando a sua versão do conto «Singularidades de Uma Rapariga Loira», a qual tem como protagonista Catarina Wallenstein no papel de Luísa Vilaça. As filmagens terminaram a 19 de Dezembro, aguardando-se com expectativa a estreia deste filme.


Teatro queirosiano na Maia

O Centro de Estudos de História Cultural Luís de Magalhães, da Maia, na sua colecção Memória do século XIX, acaba de publicar duas peças de teatro de José Leitão, o director do Teatro Art’Imagem, ele próprio actor e encenador, que tem vindo a adaptar ao palco obras de grandes escritores, desta feita «Não Matem o Mandarim», com prefácio de António Coimbra Martins, datado de Lisboa, Janeiro de 2005, e «Que Relíquia!», com prefácio de Carlos Reis também daquele ano. A primeira peça subiu à cena no Cine-Teatro Garrett na Póvoa de Varzim a 16 de Novembro de 1995, passando depois pelo Teatro Estúdio de Massarelos no Porto, por vários teatros franceses e galegos regressando depois a Portugal onde foi representada em várias salas de espectáculos.
Por sua vez a segunda peça estreou a 13 de Abril de 2000 também naquele teatro poveiro, passando depois pelo Teatro do Campo Alegre no Porto, pelo Teatro Gil Vicente em Coimbra e pela Fundação Eça de Queirós em Baião.
Como é sabido, Eça, o autor das obras que inspiraram estas adaptações, embora fosse sobrinho-neto de um dramaturgo de sucesso na sua época, mas hoje esquecido, e ele próprio tivesse sido actor amador em Coimbra, não deixou obra de palco, sendo porém diversas as adaptações dos seus romances quer para teatro quer para cinema. Com estas duas adaptações de José Leitão, em edição coordenada pelo nosso confrade José Augusto Maia Marques e editadas pela Câmara Municipal da Maia, têm os leitores ao seu dispor duas excelentes versões teatrais comentadas por dois dos mais brilhantes exegetas queirosianos, António Coimbra Martins e Carlos Reis.

Os Maias em Lisboa

No próximo mês de Janeiro estreia no Teatro da Trindade em Lisboa a adaptação teatral do romance Os Maias por António Torrado, com encenação de Rui Mendes, cenografia e figurinos de Ana Paula Rocha, luz de Carlos Gonçalves e direcção musical de Afonso Malão.



Boletim da Póvoa de Varzim: 50 anos!

No passado dia 22 de Dezembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim foi apresentado por José Carlos Vasconcelos o n.º 42 de Póvoa de Varzim Boletim Cultural comemorativo dos 50 anos da sua edição.
Com textos introdutórios de José Macedo Vieira, presidente da Câmara; Luís Diamantino Carvalho Batista, vereador da Cultura, e Maria da Conceição Nogueira, directora do Boletim, esta cuidada edição coordenada por Manuel Costa, director da Biblioteca Pública Rocha Peixoto, apresenta-se com 616 páginas, muito ilustrada, sendo também dedicada aos 700 anos do Foral. Muitos dos seus artigos são dedicados à vida do próprio Boletim e à acção dos seus antigos directores, entre eles o saudoso Flávio Gonçalves antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Outra presença são os artigos sobre Eça de Queirós, nomeadamente «Os meus Eças» de Carlos Reis, «Silêncios sombras e exitações em Eça de Queiroz» de A. Campos Matos e «A razão por que Eça foi para Paris - colagem», artigo póstumo de Joaquim de Montezuma de Carvalho.
Para além daqueles dois primeiros nossos confrades, encontramos ainda, entre os muitos colaboradores deste número, os confrades João Francisco Marques, José Manuel Tedim, Dagoberto Carvalho J.or e Silvestre Lacerda.
Paralelamente foi também publicado o importantíssimo instrumento de trabalho Sumários e Índices do Boletim Cultural «Povoa de Varzim» 1958 - 2008, organizado por Manuel Costa, com a indicação de 40 artigos sobre Eça de Queirós publicados ao longo deste meio século no Boletim da terra da sua naturalidade.



J. Rentes de Carvalho em português

Depois da Gailivro ter unilateralmente cancelado o contrato para a edição das obras completas de José Rentes de Carvalho quando se integrou no grupo Leya, e depois da continuação do sucesso deste autor português nos Países Baixos com o inquietante livro A Ira de Deus sobre a Holanda, lançado no passado dia 23 de Outubro em Amsterdão, a Quetzal publicará em Portugal no próximo mês de Janeiro uma nova edição de Com os Holandeses, «brilhantemente escrito. O mais subtil, melhor observado e mais divertido livro que conheço sobre os holandeses» como escreveu Rudy Kousbroek in NRC/Handelsblad.
Na Holanda esta obra teve sucessivas edições pelo menos em 1972, 1973, 1982, 1987, 1988, 1989 (duas neste ano), 1990 e 1991 e 1996.
Nascido em 1930 em Vila Nova de Gaia no Monte dos Judeus, num local com uma soberba vista sobre o Douro estupidamente entaipado por um edifício dos anos cinquenta e, nos anos noventa, por um edifício tão monstruoso que o próprio IPPAR se viu na demorada contingência de ter de o embargar, a vida levaria J. Rentes de Carvalho até aos Países Baixos por onde se tem ficado ao longo deste meio século, alternando com estadias no cenário ancestral de Estevais do Mogadouro, Trás-os-Montes. Escrevendo sobre Portugal, a Holanda e o Mundo é o mais universalista dos escritores portugueses vivos, só não tendo ainda sido proposto para o Prémio Nobel de Literatura porque, ao contrário de outros escritores tantas vezes fingidos no que diz respeito a modéstias pessoais e literárias, J. Rentes de Carvalho é um eterno “romeiro sem romaria”, não logrando criar grupos de pressão indispensáveis para essas coisas dos prémios e dos artigos laudatórios. Escreve porque sim e estupefacta continuamente os seus leitores. E para o Nobel, como é sabido, tal não basta.



Lisboa versus Porto e vice-versa

No passado dia 20 de Dezembro no El Corte Inglês de Gaia foi apresentado este livro divertidíssimo de António Eça de Queiroz e de António Costa Santos.
Para além dos lugares comuns sobre ambas as cidades (que diabo! Um lugar comum não é o parente pobre da sabedoria; as coisas boas da vida estão cheias de bons lugares comuns; a ciência está cheia de lugares comuns; um tubo de ensaio é um lugar comum imprescindível no exercício laboratorial. O génio é apenas a previsão com sucesso de alguns lugares depois comuns). Dizia eu, que o livro apresenta todos os lugares comuns, mitos e inexactidões históricas sobre ambas as cidades e os seus arredores, permitindo assim fazer o ponto da situação sobre o que o cidadão comum assimilou como “sagrado” sobre a olissipografia e a portografia. E esta não é a sua única e grande virtude. A maior será, para além do humor imanente que contém, a ousadia de ter posto em livro uma “guerra” interna bem portuguesa, tão inútil quão inofensiva, a não ser quando a super bock ou a sagres já estão em demasia no assunto.
Um livro ligeiro que talvez obrigue a reflexões profundas. E a releituras. Leiam-no e divirtam-se, ò sábios!


Homenagem a Fernando Peixoto

Após a infausta notícia do falecimento de Fernando Peixoto, vários dos seus muitos amigos começaram a pensar na melhor maneira de o homenagearem. Constituiu-se entretanto uma Comissão Promotora do Livro de Homenagem a Fernando Peixoto a qual pretende congregar todas as pessoas e instituições que pretendam reunir-se nas páginas de um livro de memórias e da memória de todos em volta do ilustre finado. Assim, todos os que o desejarem podem aderir à iniciativa escrevendo para queirosiana@mail.com, ou para o endereço dos promotores da iniciativa que será em breve divulgado após a confirmação das pessoas convidadas para fazerem parte da referida comissão.



Exposição de Arte no Castelo da Foz

Desde sábado dia 20 de Dezembro e até ao fim de Março, está patente no Castelo da Foz uma exposição de retratos e paisagem do Major Simões Duarte. De entre os retratados salientam-se algumas figuras da Arte e Cultura portuguesa e internacional, como Fernando Lopes Graça, Rui de Carvalho e Pavarotti, ao lado de anónimos pescadores e mulheres transmontanas. De entre as paisagens salientam-se as vistas portuárias e do Centro Histórico de Gaia.
Cosendo redes, Sesimbra
Quadro a óleo de Simões Duarte



Curso sobre Eça

Organizado pela Academia Eça de Queirós e com o patrocínio da Gaianima, EM, prossegue no Solar Condes de Resende o Curso livre sobre “Eça de Queirós, sua vida, sua obra e sua época”, tendo já leccionado Isabel Pires de Lima, J. A. Gonçalves Guimarães, Arie Pos, Luís Manuel de Araújo e Mário Vieira de Carvalho, abordando temas do universo queirosiano tais como a biografia e os biógrafos de Eça, O Mandarim, a viagem ao Egipto e à Síria-Palestina e a Música na sua obra.
Seguem-se os professores Maria Teresa Lopes da Silva, José Manuel Tedim, Nuno Resende e Carlos Fiolhais com temas como Eça em Havana e os escravos chineses, a Arte na segunda metade do século XIX, o quotidiano oitocentista, a Ciência pós-darwiniana, os Vencidos da Vida e Os Maias. O curso encerrará em Março com uma lição síntese por Isabel Pires de Lima.

Eça & Outras, IIIª. série n.º 3 - Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2008
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008



Confrades queirosianos junto da estátua de Eça de Queirós

Grande Capítulo anual da Confraria Queirosiana

Como habitualmente, decorreu no passado dia 22 de Novembro, sábado anterior ao dia de aniversário de Eça de Queirós, o Capítulo anual da Confraria Queirosiana que reuniu no Solar Condes de Resende, Canelas, Vila Nova de Gaia (Casa Queirosiana Internacional) os seus confrades e amigos na cerimónia de insigniação dos novos confrades de honra e de número, no primeiro caso personalidades com trabalhos relevantes sobre a vida, a obra e época de Eça de Queirós, ou que têm prestado grandes serviços à sua divulgação ou apoiado a Confraria nessa missão e, no segundo caso, os sócios dos Amigos do Solar Condes de Resende que querem passar a fazer parte da Confraria.
No presente ano foram insigniados como sócios de honra o ex-Secretário de Estado da Cultura, Professor Doutor Mário Vieira de Carvalho no grau de Grão-louvado; Professor Doutor João Marques no grau de Louvado; Prof. Eng.º Fernando Silva, produtor do espumante Eça, no grau de Mecenas; César Fernando Couto Oliveira, administrador de empresas e assessor do presidente da Câmara de Gaia; Nelson Cardoso administrador da Gaianima, EM e José Guilherme Aguiar, vereador e presidente da Administração daquela empresa municipal, estes últimos sócios efectivos e confrades Leitores que passaram ao grau de Mecenas. Como sócios de número foram insigniados os professores Maria Rosette Felino de Almeida, Ricardo Charters d’Azevedo e Alexandra Neves, nos graus de Leitor e Louvados.
Durante a sessão foi apresentado o n.º 5 da Revista de Portugal, publicação anual da Confraria, pelo seu director Professor Doutor Luís Manuel de Araújo, bem assim como o livro Marquês de Soveral Homem do Douro e do Mundo, biografia bilíngue editada pelo Município de S. João da Pesqueira e Edições Gailivro, da autoria do mesário-mor da Confraria, J. A. Gonçalves Guimarães, e produzido pelo seu Gabinete de História, Arqueologia e Património.
Para este Capítulo o artista Raul Ferreira criou uma instalação artística no pátio do Solar baseada no conto «Adão e Eva» de Eça de Queirós, a que deu o titulo “Certo Ser”, a qual aí ficará até ao fim do mês de Dezembro.
Foram ainda apresentadas as diversas Confrarias que participaram neste evento, tendo sido colocada uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós existente no Jardim das Camélias, onde foram lembrados os queirosianos recentemente falecidos, António Manuel Ferreira Gomes, Manuel Soares Gonçalves e Fernando Aníbal Costa Peixoto.
Seguiu-se o jantar anual de confraternização e, pelas 22 horas, o Baile das Camélias, com a actuação de bailarinos da Global Dança e a participação dos alunos do curso de danças de salão do Solar Condes de Resende.
Esta festa anual serviu igualmente para a Confraria fazer o balanço da sua actuação, agradecer às entidades apoiantes e relançar as suas actividades para o ano seguinte.



Eça in english

Foi recentemente lançado no Reino Unido pela Dedalus Books, na sua colecção de obras de Eça de Queirós, The City and the Mountains, em tradução de Margaret Jull Costa. A sua versão de Os Maias, anteriormente publicada, obteve entretanto o prémio PEN/Book-of-the-Month Club Translation Prize (Nova Iorque) e o Oxford Weidenfeld Translation Prize.

Eça lembrado em Paris

No passado dia 24 de Outubro, no Centro Cultural Calouste Gulbenkian de Paris, realizaram-se duas conferências sobre a vida, obra e época de Eça de Queirós: Elena Losada Soler falou sobre a literatura do século XIX, tendo como referência O Primo Basílio; seguidamente Lucette Petit dissertou sobre o escritor e os desafios do seu tempo.

Queirosianos lançam (mais) livros

No passado dia 23 de Outubro em Vila Nova de Foz Côa foram lançados os dois volumes das Actas do III Congresso de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior, editado pelo Parque Arqueológico do Vale do Côa (IGESPAR) com a colaboração dos municípios locais e da ACDR de Freixo de Numão. Aí se encontra um texto sobre S. Salvador do Mundo, S. João da Pesqueira, e outros estudos sobre a região duriense.
Dia 7 de Novembro, na Casa Barbot, em Gaia, o mesário-mor da Confraria apresentou o livro Bianca e o Dragão, de Beatriz Pacheco Pereira, com ilustrações de Agostinho Santos, editado pela Calendário.
Dia 8 na Biblioteca Pública de Gaia, José Vaz lançou a sua mais recente obra, A Aldeia Encantada, com ilustrações de Marta Madureira, editada pela Âmbar.
António Eça de Queirós e António Costa Santos, puseram em livro, de forma muito bem disposta, aquela velha questão a que alguns portugueses se agarram quando não têm mais nada para fazer, pensar ou dizer: as perversões de Lisboa e as excelências do Porto ou muito vice-versa, no livro Porto versus Lisboa ou Lisboa versus Porto, o qual foi lançado no passado dia 13 de Novembro no Mar Shopping em Matosinhos.

Novo filme queirosiano

O pólo da Foz no Porto da Universidade Católica Portuguesa vai produzir e realizar uma curta-metragem de ficção baseada no conto O Tesouro de Eça de Queirós, para a qual fez um casting para 3 elementos masculinos entre 31 de Outubro e 2 de Novembro.



Revista de Portugal, n.º 5

Acaba de ser lançado o último número da revista fundada em 1889 por Eça de Queirós, cuja IIIª série foi retomada pela Confraria Queirosiana. O presente número, com capa dedicada ao 150º aniversário de José Leite Vasconcelos, em colaboração com o Museu Nacional de Arqueologia, apresenta estudos de Fernando Coimbra, Anabela Mimoso, Ricardo Pena de Oliveira, Paulo Drumond Braga, J. A. Gonçalves Guimarães, Andréia Cunha da Silva; artigos de Humberto Pinho da Silva e José Rentes de Carvalho, recensões de Luís Manuel de Araújo e José António Afonso, e ainda a bibliografia produzida em 2007 pelos sócios dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, bem assim como a súmula das actividades da associação naquele ano.
No editorial, o director da revista, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo, apresenta o interesse pelo Egipto que uniu, em épocas e pontos de vista diferentes, Eça de Queirós e José Leite de Vasconcelos.
Este número da revista teve como único patrocinador o Grupo Taylor’s, sediado em Vila Nova de Gaia.

Eça & Outras, IIIª. série n.º 3 - Terça-feira, 25 de Novembro de 2008
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Redacção: Fátima teixeira
Inserção: Amélia Cabral

Colaboradores desta edição:
J. A. Gonçalves Guimarães;
José Rentes de Carvalho,
Artur Oliveira,
Fátima Teixeira
Museu Nacional de Arqueologia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Dagoberto Carvalho Junior
presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife,
confrade de honra da Confraria Queirosiana
Dagoberto Carvalho Junior autografa os seus livros

Temos entre nós Dagoberto Ferreira de Carvalho Júnior, médico, professor e historiador, que nasceu em Oeiras, Piauí, a 9 de Maio de 1948. É formado em Medicina e Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco, onde defendeu a tese «A Talha de Retábulos no Piauí», publicada em 1990 e reeditada em 2005. Foi professor visitante da Universidade Estadual do Piauí.
Pertence à Sociedade Brasileira de Pediatria, à Associação Piauiense de Medicina, à Associação Médica Brasileira, ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, ao Instituto Histórico de Oeiras, ao Comité Norte-Nordeste de História da Arte, à Sociedade Brasileira de Escritores Médicos, à Academia Piauiense de Letras e é presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, fundada em 1948.
Tal é particularmente grato numa Casa que tem antigas e estreitas ligações com o Brasil: consta nas suas descrições familiares setecentistas que no «reinado dos Filipes de Castela» andou «Tomé da Costa e seus filhos, nas guerras de Pernambuco e teve o foro de fidalgo». Em 1716 temos o seu descendente Tomé da Silva Baldaia a testemunhar num cartório portuense a contratação de mestres de pedraria de Vila Nova de Gaia, para seguirem para a Baía a edificarem a Casa que ainda hoje se chama Torre de Garcia d’Ávila, provavelmente alguns dos mesmos mestres pedreiros que, depois de retornarem à terra de origem, acrescentaram o pormenor do cocar de índio brasileiro às portas nobres desta sala construída já no período pombalino.
Foi Vice-rei do Brasil D. José Luís de Castro, 2.º Conde de Resende, mas só com seu neto, o 4.º conde D. António de Castro, casado com a filha do 1.º Visconde de Beire, herói da Guerra Peninsular, haveria esta Casa de entrar no património dos Condes de Resende, onde se manteve até à sua aquisição pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 1984, destinando-a o município para ser a Casa da Memória dos gaienses no mundo.
Em 1995 expusemos nas salas aqui ao lado o núcleo da amazónia da velha Colecção Marciano Azuaga, intitulado Mundurukus, Carajás e outros índios do Brasil, devidamente estudado e reabilitado pelo arqueólogo luso-brasileiro António Sérgio dos Santos Pereira.
Em 1997 outra exposição, a que chamamos «O Triunfo das Asas», recordou a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral que em 1922 levaram aquele abraço aéreo a Santos Dumont. Nessa época foi uma garrafa de Vinho do Porto, que ainda hoje se guarda em Gaia como relíquia sagrada, que lhes deu asas para voarem sobre ares nunca dantes atravessados.
Em Janeiro de 1999 decorreu aqui uma recepção ao IV Colóquio de Estudos Históricos Portugal-Brasil, organizado pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique, com a participação de professores das universidades Federal Fluminense, PUC de Minas Gerais, UNI - Rio, UNIOESTE do Paraná e do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro.
No ano 2000, comemorando o centenário eciano, tivemos aqui o «Colóquio Eça de Queirós, Portugal e o Brasil», a recordar a ligação do escritor a esta Casa, mas também a admiração constante, persistentemente renovada, que o Brasil lhe testemunha mesmo a nível popular.
Amanhã, dia 14 de Outubro, decorrerá aqui um colóquio luso brasileiro sobre Geografia Física, organizado com a colaboração das Universidades do Porto e da Uberlândia.
Das paredes desta sala contemplam-nos um busto de D. Pedro I do Brasil e nosso D. Pedro IV, o rei-soldado, e uma litografia de seu filho D. Pedro II, que em 1889, quando veio para o exílio no Porto, foi à Serra do Pilar honrar o mosteiro-fortaleza onde a generosidade da juventude se bateu pela liberdade em 1832, depois do apelo às armas contra a opressão interna lançado em Aveiro em 1828, logo secundado pelo Porto, brado esse soltado por um magistrado chamado Joaquim José de Queirós, avô de Eça de Queirós, que por isso foi condenado à morte e teve de se refugiar em Inglaterra. Muitos outros exilados encontraram então no Brasil o abrigo para plantar o futuro que a pátria lhes negava e que D. Pedro veio resgatar.
Mas antes, ainda no tempo de D. João VI, já o avô de Eça de Queirós tinha estado no Brasil e, por isso, o escritor é também filho destas circunstâncias e também talvez por isso o Brasil ame este seu filho adoptivo cujo pai foi nascer ao Rio de Janeiro em 1820, o ano da Revolução Constitucional.
Portanto tomemos como facto que muito nos honra o termos hoje entre nós alguém que veio desse Brasil sempre aqui presente, e que nas suas obras, para além da presença natural de uma erudição tarimbada na universidade, nas bibliotecas, em muitas leituras dos mestres da ciência médica e dos mestres da língua , da análise sociológica, da história e da leitura dos monumentos e das suas manifestações artísticas, tem nos seus escritos três características sempre presentes que nos são gratas sobremaneira: um permanente deslumbramento com a humanidade e as suas criações espirituais; uma enorme gratidão para com os mestres e companheiros da lusologia, que conheceu nas obras que deixaram ou que encontrou ao longo da vida, como Gilberto Freire e Paulo Cavalcanti, e uma omnipresente comunhão com o mundo queirosiano, não como a exibição de um baú de recordações que lhe chegou por herança cultural, o que até é verdade, mas como uma inesgotável mina dos mais puros diamantes e outras preciosidades científicas, literárias e humanas - estes os de mais fino quilate - capazes de nos darem algumas das chaves da felicidade possível nos dias de hoje e de aplanarem as estradas do futuro, que muito para além das preocupações de mestre Darwin, queremos que transbordem da Cidadela do Espírito para o mundo que os portugueses e brasileiros estão a criar partilhando-o com a humanidade inteira.
Além de colaborador assíduo do Diário de Pernambuco, onde tem uma crónica quinzenal, e em muitos outros periódicos, Dagoberto Carvalho Junior publicou: História Episcopal do Piauí, 1980; Passeio a Oeiras, 1982; A Obstetrícia no Piauí, 1989; A Talha de Retabulos no Piauí, 1990 e 2005; A Palavra e o Tempo, 1992; A Cidade do Espírito - Considerações sobre a Arte Sacra na obra de Eça de Queiroz, 1994; Eça e Gilberto na Fundação Joaquim Nabuco (org.), 1997; Eça de Queiroz - Retratos de Memória, 2001 e A Boa Mesa de Eça de Queiroz, 2008.
E nesta sua caminhada os seus escritos falam com ternura e fraternidade eciana dos nossos confrades Maria da Graça Salema de Castro, A. Campos Matos, Carlos Reis, Isabel Pires de Lima, Manuel Lopes e também de Beatriz Berrini, Dário Alves e outros eçólogos que teremos o gosto de convidar para nos darem essa honra.
Não sendo aqui o lugar e a hora de comentar os seus livros, que li com supremo gosto e cuja leitura recomendo a todos os eçófilos, permita que sobre eles deixe uma pequena boutade: sempre desconfiei que o falso problema do acordo ortográfico era uma questão inventada por funcionários da língua portuguesa, língua rebelde, sempre jovem e brincalhona entre os xês beirões, o crioulo caboverdiano, os oxalás dos pastores alentejanos, os vocábulos cantados na música da vida no imenso Brasil, o portinhol, expressões do tempo de Camões perdidas na Malásia e em aldeias de pescadores do oriente longínquo, que seio eu, que mais haverá por se saber. Língua difícil de entalar em qualquer gramática, em qualquer dicionário, obras que quando nascem, como diz a nossa juventude, já eram. A língua está aí viva e mutante, como a quis Eça de Queiroz.
De facto, de fato, com ou sem cê, não me lembrei do raio do Acordo e das suas discussões bizantinas quando li os seus textos: saboreei o encanto do seu saber e do seu discorrer expresso nos seus livros nesta língua que nos é comum e o há-de continuar a ser. Mesmo quando portugueses e brasileiros percorrerem as galáxias aí continuaremos a recordar o que Eça de Queirós escreveu em A Correspondência de Fradique Mendes, que «as línguas... são apenas instrumentos do saber - como instrumentos de lavoura». Por isso, e por muitas outras razões, ambos acreditamos que «mais duzentos anos passarão, e mil - e o nome , a figura, a vida de certo homem que não governou nem a Alemanha nem a Cristandade estará tão fresca e rebrilhante como hoje na memória dos homens» (Eça de Queiroz, Prefácio dos Azulejos do Conde de Arnoso); no que diz respeito ao nosso patrono, tal muito se deve, muito se deverá por muitos e bons anos a Dagoberto Carvalho Junior em todo o mundo lusófono e na sua envolvência da América latina castelhana, pois é certamente um dos maiores divulgadores da vida, da obra e do espírito universalista de Eça de Queirós, não apenas no Brasil mas, através de um apreciável reflexo cultural atlântico, também em Portugal, devolvendo-nos engrandecida a visão brasileira do caleidoscópio linguístico, literário, histórico, social e estético eciano. Por isso será hoje feito sócio de honra dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, como Grão-louvado neste Capítulo extraordinário que tem lugar no Solar Condes de Resende neste dia 13 de Outubro de 2008.

J. A. Gonçalves Guimarães
mesário-mor da Confraria Queirosiana



Dagoberto Carvalho Junior e o Mesário-mor
da Confraria, durante o jantar queirosiano.

Palavras de apresentação de Dagoberto Carvalho Jor, presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, no Capítulo extraordinário em que foi entronizado como confrade de honra Grão-louvado da Confraria Queirosiana, a 13 de Outubro de 2008 no Solar Condes de Resende, proferidas pelo mesário-mor e director desta Casa queirosiana, que na mesma cerimónia recebeu o diploma de sócio de honra daquela Sociedade, tendo na ocasião a confreira Maria Carolina Calheiros Lobo recebido o diploma de sócia correspondente da mesma. À insigniação, que foi abrilhantada com a orquestra Per Cordare da Escola de Música de Perosinho, seguiu-se um jantar queirosiano que terminou com uma serenata pelo Grupo de Fados de Engenharia do Porto.



Entretanto o Presidente daquela Sociedade eciana fez no acto o seguinte discurso:


No Solar dos Condes de Resende

Nenhum eciano - ou queirosiano, como dizem os confrades portugueses - chegaria a esta casa, por excelência, da memória familiar de Eça de Queiroz, sem a emoção que caracteriza os iniciados na leitura e na admiração do maior escritor de língua portuguesa de todos os tempos. É possuído desse espírito, quase de veneração, que me apresento, “pobre homem” de Oeiras do Piauí - como a si chamou-se o mestre, em carta a Manuel Pinheiro Chagas, o famigerado “Brigadeiro” de suas cartas satíricas, referindo-se à Povoa de Varzim do nascimento - para, segundo o ritual da Confraria Queirosiana, proferir a louvação ou, como escreveram, em versos musicados, o compositor e cantar brasileiro (nosso ex-ministro da Cultura), Gilberto Gil e seu parceiro piauiense Torquato Neto, “fazer a louvação do que deve ser louvado”. Louvação de Eça de Queiroz, de sua casa romântica de Canelas, da Associação dos Amigos do Solar Condes de Resende, da própria Vila Nova de Gaia.
Para vir a Canelas, não esperaria o domingo como sugeriu a Eça, em carta de 22 de Janeiro de 1886, Emília de Castro, preocupada em que ele chegasse “moído demais para uma passeata tão grande”. O Solar ficou, incomensuravelmente, maior na dimensão do espírito e mais próximo, na geografia dos sentimentos. Chego quase de surpresa, são e salvo, mesmo vencidas as distancias da brasílica travessia atlântica, porque à vilegiatura do deslocamento, soma-se o preceito devocional da crença literária. Foi o próprio Eça de Queiroz quem a profetizou, confessando ao Conde de Resende que sua afeição pela irmã do amigo datava de quando o “foi ver a Canelas”, bem antes das investidas de Cupido na Granja ou na Costa Nova. Não há, portanto, razão melhor para que se imponha o vosso “caminho” de Vila Nova de Gaia, per omnia saecula saeculorum, ao roteiro sentimental da memória queiroziana; através do qual, peregrino, busco a unção dos congregados.
Nome que, aqui e agora, se há de registrar, pelo apadrinhamento da causa que esta insigniação consagra, é o da confreira (se não há dúvidas com relação ao tratamento) Maria Carolina Calheiros Lobo, através de quem - “descoberto” no Recife - chego à vossa Confraria onde, ao fim e ao cabo, sinto-me em casa, na companhia, também, de velhos e bons amigos, como Alfredo Campos Matos, Maria da Graça Salema de Castro, Carlos Reis e o saudoso ermitão da Povoa de Varzim, Manuel José Ferreira Lopes, todos de relevantes serviços à causa queirosiana internacional.
Chego, ainda, imbuído de patrióticos valores intelectuais e familiares tais as ligações literárias e atávicas resgatadas da leitura dos muitos textos de J. A. Gonçalves Guimarães em “Eça & Outras” - no consagrado jornal portuense O Primeiro de Janeiro - e, sobretudo, das páginas de seu opúsculo, ou plaquete, como dizemos em Pernambuco, Brasileiros Ilustres de Vila Nova de Gaia, ali, o reencontro sentimental com o poeta gaiense de nascimento Domingos Carvalho da Silva, que conheci na Revista de Poesia e Crítica e, pessoalmente, por apresentação do ensaísta piauiense - como eu e meu confrade na Academia de Letras do referido estado brasileiro - Manuel Paulo Nunes. Recuando no tempo da memória, debruço-me sobre a curiosa e notável (para a História da Arte) notícia de um contrato de “mestres de pedraria” de Vila Nova de Gaia, em 1716, para trabalhos de sua arte a serviço do Coronel Garcia d’Ávila Pereira, “fidalgo da Casa de Sua Majestade, morador na Torre de Garcia d’Ávila, sertão da Bahia de Todos os Santos, onde pretendia fazer várias obras de predaria”. Ora, venho de Oeiras, nos Sertões de Dentro do Piaguhy - como então se chamavam - terra de pecuária e belas construções de “pedraria”, colonizada por prepostos da referida Casa da Torre. Se ao português de Mafra, Domingos Afonso, cabe a honra do assentamento pioneiro, em nome de Garcia d’Ávila; construtores gaienses beneficiados pelo famoso “contrato”, também, não teriam passado por lá? A Torre de Garcia d’Ávila continua referência histórica das mais vivas em minha terra, onde a cantaria de centenárias igrejas clama por pesquisa que lhe resgate a autoria anônima.
Gonçalves Guimarães aborda, também, na citada pesquisa, a relação da família Coelho, de Vila Nova de Gaia, com o Brasil e, particularmente, com Pernambuco; tema outra vez a nos aproximar, agora no plano genealógico, como descendente do português Valério Coelho Rodrigues, da Freguesia de São Salvador do Paço de Souza, Bispado do Porto, estabelecido na primeira metade do século XVIII, no arraial do Paulista, no Piauí. E, em notícia acerca do gaiense José Bento Leitão (ascendente de Almeida Garrett), conjectura sobre a origem do apelido Lima - tida, entre nós, por portuguesa, de Ponte do Lima - registrando-a como pernambucana. Seja como for, ligo-me a essa gente (natural de engenhos da Mata-Sul de Pernambuco), através da mulher, Ana Cristina Gomes de Matos da Fonseca Lima e de nossos filhos.
Feitas as provas, apresento-me à Confraria Queirosiana de Vila Nova de Gaia.


Dagoberto Carvalho Junior autografando livro de sua autoria para Fátima Teixeira

OUTRAS
Eça & Outras soma e segue

A página Eça & Outras vai na sua III.ª série: a primeira constou de uma folha A4, ao princípio bimestral, impressa só de um lado, em que o n.º 1 apareceu a 31 de Janeiro de 2003 e a última, o n.º 9 a 1 de Junho de 2004.
A IIª série, em formato quase A3, constou de uma página em O Primeiro de Janeiro, que apareceu quase sempre ao dia 25 de cada mês (dia de aniversário de Eça de Queirós) e, às vezes, também no caderno Das Artes das Letras publicado às segundas feiras, a n.º 1 a 25 de Novembro de 2004 e a última, n.º 46, a 25 de Agosto de 2008.
A IIIª série iniciou-se no passado dia 25 de Setembro, neste blogue e estará para durar. Os ASCR - Confraria Queirosiana não põem de parte a idéia de a página voltar a sair num periódico tradicional, sem prejuízo desta edição informática. E estão a pensar digitalizar as séries I e II e reproduzilas em CD.

Salon d’Automne queirosiano 2008

No passado dia 27 de Setembro pelas 18 horas decorreu no Solar Condes de Resende a vernissage da exposição anual dos sócios dos ASCR - Confraria Queirosiana com a presença do vereador Mário Dorminsky, muitos dos artistas presentes e alunos do curso de pintura do Solar Condes de Resende. Algumas das obras expostas foram logo vendidas, mostrando o êxito crescente do certame.

Capítulo anual da Confraria

No próximo dia 22 de Novembro decorrerá no Solar Condes de Resende o capítulo anual da Confraria com a entronização dos novos confrades de honra e de número.
Aí será lançado o n.º 5 da nova série da Revista de Portugal, dedicado ao 150º aniversário do nascimento de José Leite de Vasconcelos, e apresentado o livro Marquês de Soveral Homem do Douro e do Mundo de J. A. Gonçalves Guimarães, produzido pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património e editado pelo Município de S. João da Pesqueira e Edições Gailivro.
Seguir-se-à o jantar queirosiano e o Baile das Camélias.

Queirosianos publicam livros

No passado dia 10 de Outubro, no Parque Biológico de Gaia, Nuno Gomes Oliveira lançou o livro Áreas de importância natural da região do Porto - memória para o futuro.
No dia seguinte, Beatriz Pacheco Pereira, na Biblioteca Almeida Garret no Porto, apresentou Bianca e o Dragão, o seu último romance editado pela Calendário.
Desde 23 de Outubro que está nas livrarias Porto versus Lisboa. Uma batalha campal em livro, de António Eça de Queiroz e António Costa Santos, da editora Guerra & Paz, «o 1-º livro a incluir o seu próprio making of».
Entretanto Pedro Lopes Barbosa, em colaboração com Constantino Magalhães Costa e José Manuel Rebelo, publicaram Um século de postais do concelho de Vila Nova de Cerveira (1904-2005), editado pela respectiva Câmara Municipal em primorosa edição.

A Ira de Deus sobre a Holanda de J. Rentes de Carvalho



No início da nova temporada editorial J. Rentes de Carvalho publicará o seu mais recente livro intitulado A Ira de Deus sobre a Holanda, a que acrescentou o subtítulo testemunho de um meio século (1956-2006).
A obra sairá em neerlandês pela editora Atlas e, embora redigida, como sempre o foram os seus romances e outros textos, em português, provavelmente não aparecerá no nosso mercado livreiro nesta língua nos tempos mais próximos.
Por gentileza do autor tive o privilégio de a ler e fiquei tão encantado quanto preocupado com a sua leitura. Só aparentemente se trata de um livro de memórias de um português que “foi ter” à Holanda e aí se “desenrascou” já lá vão cinquenta anos. O livro está escrito com gentileza de cidadão agradecido para com o país e o seu sistema político, cultural e social, em análise pinguepongueada com o que se foi passando em Portugal no pós Segunda Grande Guerra, no período da Guerra Colonial de agonia do salazarismo e nos equívocos do pós 25 de Abril, mas que diagnostica de forma implacável as fragilidades preocupantes que se têm vindo a evidenciar nas últimas décadas.
Este livro é uma profunda reflexão sobre o que era então a Holanda e o que ela é hoje e, por extensão, sobre a civilização européia e ocidental e como ela se foi abastardando, adulterando, cedendo a nada e a coisa nenhuma, só por causa daquilo que os políticos foram definindo como o “politicamente correcto”, na realidae a compra de votos a qualquer preço. A Europa Ocidental, alfobre e prado de valores éticos, morais e culturais, foi progressivamente decaindo até esta situação actual do vale tudo, onde o que importa é ganhar e ter sucesso, ainda que breve. Este livro incomoda porque se trata de uma análise profundamente humana e generosa, mas, ao mesmo tempo, incontornável nas suas conclusões proféticas do caos que se avizinha. Para o tentar evitar, nós cidadãos pensantes, estamos praticamente impotentes porque a multidão todo lo pode todo lo manda, chafurdando num consumismo desbragado e ovacionando continuadamente os heróis e as vedetas das mais alarves futilidades. Num dia reclama contra o aumento dos transportes, mas no domingo seguinte ovaciona jogadores de futebol que foram transacionados por milhões de euros. Porque sim. Porque se os ricos têm direito às suas extravagâncias, os pobres têm direito às suas contradições. Quanto ao Estado, que se amanhe; desde que lhes dê os subsídios, estará tudo bem. Senão...
Definindo o escritor como «cientista de coisa nenhuma» e reafirmando-se «apenas escritor e cidadão, [tendo] por única ferramenta a sensibilidade e as palavras», J. Rentes de Carvalho utiliza neste livro, como aliás acontece quase sempre na sua obra publicada, a sua história pessoal e a dos seus dois países de afecto, a Holanda e Portugal, para reflectir sobre a realidade dos nossos tempos.
Sobre o seu país de origem é claro: «ama-se mais Portugal exortando-o a que se desenvolva e deixe de ser a nação mais pobre da Europa, do que cantando-lhe loas por ter descoberto a rota da Índia em 1498». Sobre o mundo académico deixou este desabafo «não fui feliz na universidade. Tãopouco encontrei nela as satisfações e o enriquecimento intelectual que idealizara. Contudo, foi aí que se me proporcionaram campos de observação do comportamento individual, social e político que noutro ambiente certamente me teriam escapado». Ou ainda sobre os dias de hoje: «socialmente a ilusão é o nosso Valium, debitado em irreal abundância pelos media com o beneplácito de quem governa», e que aquilo com que a classe média se enverniza não passa do «pasmo bovino e superficial das hordas que olham sem saber o que vêem, convictos de que ficar especado e silencioso defronte de uma obra de arte empresta status e diferencia de vulgo», por fim ansiando por uma sociedade em que haja «menos massa, mais elite, menos rebanho, mais pastores conscientes da sua responsabilidade e mais competentes no seu saber», na Holanda, em Portugal ou no mundo.
«Cinquenta anos passados, vejo-me a encarar a Holanda com um misto de receio e estranheza, como se durante todo esse tempo não tivesse vivido no país real, mas na miragem que dele me criei, no anedótico, no passageiro, no álbum de fotografias e nos preconceitos» desabafa o autor num permanente dasafio às suas próprias reflexões e conclusões, «esquecidos ou ignorantes de que entrementes, lá no alto, Deus ou Allah, ou talvez ambos, nos olham desconsolados, perguntando-se porque terá saído torta a Criação».
Assim escreve José Rentes de Carvalho, que a 15 de Maio de 1930 nasceu num pequeno largo em Vila Nova de Gaia mas que «daí em diante e até à data, não houve escola, quartel, instância ou patrão que [o] domasse» e que um dia, como imigrante, chegou «em pé de guerra consigo próprio e o estupor de país para onde o destino o empurrou», mas que, na próxima reencarnação, gostará «que [o] mandem de novo para a Holanda», voltando a seguir as pisadas daquele Grande Inquieto, que no princípio do século XVII, também da Barra do Douro para ali partiu à procura da clarividência possível sobre a imortalidade da alma, esse belo desejo que todos os pensantes têm, o de ficarem a partilhar com os seus irmãos de espécie esta maravilhosa futilidade que se chama Vida per omnia saecula saeculorum. Das angustias de Uriel Costa aproveitou Espinosa; de J. Rentes de Carvalho, aproveitem agora e enquanto é tempo os holandeses que terão o privilégio de o ler nesta sua pungida «Imitação do Homem de hoje», que entretanto aos portugueses estará vedada porque a maioria das editoras caseiras continuarão a ganhar dinheiro com a nossa menoridade intelectual, editando os intragáveis bonzos e bonzas, ou os “pudins instantâneos” da escrita que se vendem nos supermercados às toneladas. E não penso que queiram mudar.

J. A. Gonçalves Guimarães


Eça & Outras, IIIª. série n.º 2 - Sábado, 25 de Outubro de 2008
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J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638)
Redacção: Fátima Teixeira
Inserção: Amélia Cabral

Colaboradores desta edição: J. A. Gonçalves Guimarães; Dagoberto Carvalho Junior; Fátima Teixeira.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008



BIOGRAFIA DO MARQUÊS DE SOVERAL



Apresentação da biografia do Marquês de Soveral

No passado dia 6 de Setembro, integrada nas festas da Vindouro, a grande feira de vinhos e outros produtos do Douro que decorreu em São João da Pesqueira, no Museu Eduardo Tavares foi feita a apresentação pública do livro Marquês de Soveral, Homem do Douro e do Mundo/The Marquis de Soveral, Son of the Douro, Man of the World, de J. A. Gonçalves Guimarães, comentado pelo Prof. Doutor António Barros Cardoso da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estando na mesa o presidente da câmara, Eng.º António José Lima Costa, a vice presidente Profª Maria do Céu Beires, e o autor.
O apresentador escalpelizou em pormenor a diferença entre as biografias feitas pelos historiadores e aquelas outras escritas por literatos e memorialistas, acentuando os pormenores mais relevantes da biografia daquele diplomata na obra agora apresentada.
José Maria Pinto de Soveral nasceu em 1851 em São João da Pesqueira na Quinta de Cidrô, filho de uma família de proprietários durienses da nobreza regional ligada à Corte e à diplomacia, Luís Maria Pinto de Soveral viria a ser o diplomata mais famoso de Portugal e, como tal, ainda hoje é lembrado em Inglaterra.
Tendo frequentado no Porto a Academia Politécnica, matriculou-se na Escola Naval em Lisboa na Companhia dos Guardas Marinha, mas tudo leva a crer que a sua formação de marinheiro foi feita na armada britânica. Doutorou-se depois em Lovaina em Ciências Políticas, iniciando logo a seguir a carreira diplomática, tendo passado pelas legações de Berlim e Madrid, até se fixar em Londres, onde se empenhou na resolução da difícil situação das relações luso-britânicas logo após o Ultimatum, que culminaram no 2º Tratado de Windsor de 1899.
Conheceu e conviveu com todos os reis e imperadores da Europa, incluindo o Papa e o Presidente da República Francesa e, como Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo português, teve um importante papel nas relações de Portugal com as potências europeias e com as respectivas colónias africanas.
Nos anos oitenta fez parte de “Os Vencidos da Vida”, o grupo jantante de intelectuais que acreditava que Portugal se poderia modernizar e colocar ao nível da Europa de então, do qual faziam parte Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, entre outros, os quais consideravam o próprio Rei D. Carlos seu confrade suplente.
Durante a sua estadia em Inglaterra tornou-se íntimo do Rei Eduardo VII e das mais importantes personalidades da sua corte. A Rainha Victória condecorou-o e a Rainha Alexandra tinha por ele um enorme apreço. Dele se contam várias histórias cujas peripécias, por inusitadas, entre a ousadia e o charme, acabaram por originar o adjectivo soveralesco. Porém, na realidade, quase só se conhece a sua vida pública, pois, já depois de retirado, recusou um generoso pagamento de um jornal americano para escrever as suas memórias. Mas permaneceu como uma figura incontornável da Bèlle Époque, que podemos encontrar num livro de Sherlock Holmes, em quase todas as revistas ilustradas do seu tempo ou, mais recentemente, numa série da BBC. Era tido como o homem mais elegante de Londres que ditava a moda em Piccadilly e, para as senhoras, the most charming man. Para além destes atributos, pelo menos em jovem, tocava guitarra e cantava o fado e, quando no estrangeiro oferecia um jantar aos amigos brindava-os com um prato de bacalhau acompanhado com champanhe.
Tendo-se demitido do seu cargo após a implantação da República, passou a ser uma espécie de conselheiro de D. Manuel II no exílio, partilhando com ele o seu amor à pátria e a defesa dos interesses de Portugal no mundo.
Como homem do Douro, onde foi proprietário e produtor de vinhos, participou oficialmente na defesa da denominação “Porto” a nível mundial, e jamais esqueceu a sua terra natal e os seus anseios.
Grande português sem dúvida, acabou os seus dias em Paris em 1922, tendo a acompanhá-lo nos últimos momentos a Rainha D. Amélia, que por ele nutria grande estima desde os anos de dedicação ao serviço do Rei D. Carlos e de Portugal como diplomata, como ministro, como conselheiro, como amigo de todas as horas. Foi sepultado como um príncipe na cripta da igreja de Saint Piérre de Chaillot e, anos depois, quando esta sofreu grandes obras, foi transladado para jazigo particular no cemitério Père Lachaise.
Na embaixada de Portugal em Londres existe o seu retrato pintado por Medina, mas, fora das memórias da diplomacia, é hoje praticamente desconhecido aquele que foi um dos portugueses mais famosos do seu tempo a nível internacional. Este livro, na realidade a sua primeira biografia, escrito por J. A. Gonçalves Guimarães, historiador que se tem devotado ao estudo das relações do Vale do Douro com o mundo, nomeadamente no século XIX e autor de numerosos trabalhos sobre o país do Vinho do Porto, apresenta as facetas documentadas da vida do português que, segundo a escritora inglesa Virgínia Cowes, era «encantador, urbano, polido e espirituoso. Adorava mulheres e era tido como o melhor dançarino da Europa» e, citando Sir Frederick Ponsonby, um seu contemporâneo, «ele era universalmente popular em Inglaterra…onde fez amor com todas as mais belas mulheres e onde todos os homens importantes eram seus amigos». Agora que Portugal se encontra na ribalta política da Europa e do Mundo através da participação de personalidades portuguesas em lugares de destaque, esta biografia, muito ilustrada, apresenta também a versão inglesa do texto por Karen Bennett, com o objectivo de que os estrangeiros, sobretudo os que visitam o Douro, conheçam os antecedentes portugueses do Marquês de Soveral, Homem do Douro e do Mundo, edição conjunta do Município de São João da Pesqueira e das Edições Gailivro.


CONFRARIA QUEIROSIANA RECEBE O PRESIDENTE DA SOCIEDADE EÇA DE QUEIROZ DO RECIFE


Dagoberto Ferreira de Carvalho Júnior, médico, professor e historiador, nasceu em Oeiras, Piauí, a 9 de Maio de 1948. É formado em Medicina e Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco, onde defendeu a tese A Talha de Retábulos no Piauí, publicada em 1990 e reeditada em 2005. Foi professor visitante da Universidade Estadual do Piauí.
Pertence à Sociedade Brasileira de Pediatria, Associação Piauiense de Medicina, Associação Médica Brasileira, Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, Instituto Histórico de Oeiras, Comité Norte - Nordeste de História da Arte, Sociedade Brasileira de Escritores Médicos, Academia Piauiense de Letras e presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, fundada em 1948.
Além de colaborador assíduo do Diário de Pernambuco, onde tem uma crónica quinzenal, e em muitos outros periódicos, publicou: História Episcopal do Piauí, 1980; Passeio a Oeiras, 1982; A Obstetrícia no Piauí, 1989; A Talha de Retabulos no Piauí, 1990 e 2005; A Palavra e o Tempo, 1992; A Cidade do Espírito - Considerações sobre a Arte Sacra na obra de Eça de Queiroz, 1994; Eça e Gilberto na Fundação Joaquim Nabuco (org.), 1997; Eça de Queiroz - Retratos de Memória, 2001 e A Boa Mesa de Eça de Queiroz, 2008.
É certamente um dos maiores divulgadores da vida, da obra e do espírito universalista de Eça de Queirós no Brasil e, através de um apreciável reflexo cultural atlântico, também em Portugal, por nos devolver engrandecida a visão brasileira do caleidoscópio linguístico, literário, histórico, social e estético eciano; por isso será feito sócio de honra dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, como Grão-louvado em Capítulo extraordinário que terá lugar no Solar Condes de Resende no dia 13 de Outubro de 2008, segunda-feira, pelas 18 horas.


Dagoberto Carvalho J.or

Salon d’Automne queirosiano 2008

No próximo dia 27 de Setembro, pelas 17.30 horas, abre ao público no Solar Condes de Resende a terceira edição do Salon d’Automne queirosiano 2008, com a presença de trabalhos de Amélia Traça, Alexandre Rufo, António Pinto, António Rua, Cerâmica do Douro, Dulce Barbosa, Ilda Gomes, Maria Prada, Natércia Barbosa, Rosário Sousa, Simões Duarte, Susana Guimarães e Valença Cabral. A mostra estará patente ao público até ao final do mês de Outubro.
As obras expostas vão desde a pintura a óleo, passando pela porcelana e pela escultura em pedra até uma instalação que representa o Centro Histórico de Gaia, juntando artistas amadores e profissionais que têm como elo comum o serem todos sócios da Confraria Queirosiana.



BIOGRAFIA DE SERPA PINTO

No passado dia 13 de Setembro na Junta de Freguesia de Tendais, concelho de Cinfães, foi apresentada publicamente a biografia de Serpa Pinto, o famoso africanista do século XIX, da autoria do historiador Nuno Resende. A sessão foi presidida pelo juiz Dr. Fernando Vasconcelos, vice-presidente da Associação para a Defesa do Vale do Bestança, editor da obra, ladeado por José Carlos Rodrigues, presidente da junta de freguesia da terra da naturalidade do biografado, pelo historiador J. A. Gonçalves Guimarães, que fez a apresentação da obra, e pelo autor, segundo o qual, Serpa Pinto, foi «o primeiro homem moderno português» a ter prestígio internacional, tendo o seu livro Como eu atravessei África, editado pela primeira vez em 1881, sido logo traduzido para as restantes línguas europeias em sucessivas edições.
Esta biografia vem apresentar a verdade histórica sobre este condiscípulo de Eça de Queirós no Colégio da Lapa que, também, faleceu em 1900.
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