sexta-feira, 25 de julho de 2014

Eça & Outras

 Afinal o que é a Cultura?

Volta e meia os políticos e outros cidadãos enchem a boca com a palavra cultura. Mas, na maior parte das vezes, estão a referir-se a espetáculos, show bizz, festivais, exposições, o que não é, nem nunca foi, a mesma coisa, embora, às vezes possam sobrepor-se e coincidir no conceito e nos objetivos. Estão a referir-se a artistas, atores, realizadores, músicos, empresários, jornalistas, designers e outros agentes da efemeridade, respeitáveis embora, mas profissionais do espetáculo, do marketing, da comunicação social, de outras coisas que não da cultura. Para defender o meu ponto de vista talvez chegue mais depressa ao que quero dizer através de uma metáfora, um suponhamos.
Se eu tivesse poder para tal, o próximo governo teria um Ministério da Cultura, não só porque Portugal é efetivamente um país que a tem e que a produz, como também a vende, através do Turismo e de outras ações. E nem valerá a pena recordar que temos vários Patrimónios Culturais da Humanidade, materiais e imateriais, uma História, uma Literatura, uma Ciência, uma Arte, Monumentos, Universidades, Institutos e tudo o mais onde ela (a cultura) se deve preservar, estudar, produzir e divulgar.
Esse ministério, com um ministro saído dos profissionais da área com curriculum, e não um diletante qualquer “com muito jeitinho para a cultura”, teria apenas duas secretarias de estado: a da Cultura que o É, e a da Cultura que Talvez o venha a ser, que depois abreviaríamos para secretaria de estado do que É, e a do Talvez.
A primeira trataria dos sítios, monumentos, museus, institutos, peças, obras e manifestações tradicionais classificadas ou ainda por classificar, através de arqueólogos, historiadores, antropólogos, museólogos, historiadores de Arte, patrimoniólogos, restauradores, bibliotecários, documentalistas e outros profissionais que produzem conhecimento sobre Arqueologia, História, Arte, Literatura, Ciência, Arquivos, Museus, Coleções e todos aqueles aspetos da portugalidade ou da humanidade sobre os quais estamos todos de acordo que cabem no conceito de cultura sem quaisquer dúvidas e como tal são tidos pela história e pela sociedade, ainda que uma boa parte dela habitualmente ignore ou mesmo despreze esses valores e se contente com banalidades, a maior parte das vezes elementos daquela massa acrítica que tudo come, desde que bem servido, e que vai a Serralves ou a qualquer galeria ou evento dito cultural como quem vai a um funeral, a Fátima, a Jerusalém ou a Meca, atentos veneradores e obrigados, sem qualquer espírito interrogativo, sem qualquer espírito crítico. Comem e pronto. E já vão previamente convencidos de que vão gostar antes de verem.
Na secretaria de estado do Talvez colocaria os teatros, cinemas, salas de espetáculo, companhias, produtores, atores, cantores, músicos, que interpretam obras atuais ou que executam artes ditas contemporâneas (pois que outro nome haveriam de ter?), bem assim como toda a arquitetura, arte pitórica ou outra, música, literatura, e todas aquelas manifestações recentes ou atuais, desde os anos cinquenta do século passado, que nenhum de nós sabe se “vão ficar” na “História da Cultura ou na Cultura dos povos”, por mais marketing, publicidade ou outras técnicas de influência de massas que lhes ponham em cima. Daí o Talvez, que só saberemos se será certo daqui por uns bons cinquenta anos. Alguém recordará então o La Féria? Alguém lerá Agustina? Alguém terá uma vivenda de Moura, ainda que classificada à pressa? Alguém terá uma daquelas instalações de Serralves em casa ou na empresa? Um quadro de Ângelo? Um filme de Monteiro? Uma música de Peixinho? Talvez. Talvez é o mais honesto que poderemos agora profetizar. Mas todos temos a certeza que já são e continuarão a ser cultura a Língua Portuguesa, Camões, Carlos Seixas, o Mosteiro da Batalha, Eça de Queirós, Nasoni, Amadeu Souza-Cardozo e tantas, tantas outras referências, quantas vezes ignoradas, esquecidas, mal estudadas, todas na cultura que É, e não na do Talvez dos lobbies. Como escreveu Eça de Queirós, «não há nada tão ilusório como a extensão de uma celebridade, parece às vezes que uma reputação chega até aos confins de um reino – quando na realidade ela escassamente passa das últimas casas de um bairro… e nada viaja com uma lentidão igual à da Fama» (Cartas de Inglaterra).
O dinheiro para a cultura, saído do orçamento do estado e das autarquias, conforme a importância e real incidência imediata dos projetos, seria de 75% para o “É” e 25% para o “Talvez”, que, achando-o insuficiente, teria de gerar autossuficiências através de mecenas privados, pois de outro modo o estado pode estar a financiar manifestações artísticas muito discutíveis que não deixarão quase nada, nem para as gerações atuais, nem para as futuras, a não ser, talvez, a memória de que existiram, o que é muito pouco. Porque cultura É, sempre e de certeza, o que fica, e não o que passa.
Aliás, caros amigos, nunca desconfiaram do fato de serem alguns banqueiros e outros empresários de poucas letras, quem, para além de gerirem mal a sua área (é o que todos os dias ouvimos nos media!), quererem ser eles, através dos bancos e empresas, a financiar a cultura do Talvez, aquela que provavelmente não deixará nada, ou muito pouco, em desfavor da cultura que “É”? Porque será que querem ser eles e os seus curadores e promotores, que as mais das vezes nunca escreveram uma linha sobre teoria da cultura, mas que produzem farfalhudos catálogos cheios de irrelevâncias e de design, a fazê-lo?!
Se queremos ter uma indústria e um comércio da cultura não poderemos usar essa palavra para designar o que não sabemos se algum dia o virá a ser, não poderemos nunca trocar os deslumbramentos do momento pelo que está solidamente consolidado entre os profissionais e na memória coletiva, ainda que todo este universo careça permanentemente de análise e de revisão, pois para o conceito ser aceitável e útil tem de ser vivo e mutante.
Mas a cultura também não é um entretenimento nem um chorrilho de banalidades para ocupação de tempos livres de criancinhas e velhinhos. Não é que não possa sê-lo, ou que até não deva sê-lo, mas isso é apenas uma parte das suas funções. Façam-lhe a justiça de achar que deve ser algo mais. E, se não sabem, aprendam, que não falta onde. Mas não me chamem cultura ao que, para já, ainda o não é, e que em muitos casos até estará a matar à fome ou de desprezo a atividade profissional em que a mesma se encontra nos monumentos, nos museus, nas universidades, por aí à nossa volta. Abram-me os olhos e vejam. Raramente o que parece, É. Na melhor das hipóteses, Talvez. Escolham se fazem favor.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana


Distinções autárquicas

No passado dia 28 de junho a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia distinguiu com a medalha de mérito municipal, entre outras personalidades, os confrades queirosianos Albino Jorge, administrador do Grupo Taylors e da Quinta da Boeira, criador do Vinho do Porto Confraria Queirosiana Reserva tawny; Amélia Traça, ex-autarca e membro dos anteriores corpos gerentes da Confraria; César Oliveira, empresário, ex-presidente da Assembleia Municipal, e atual presidente da Mesa da Assembleia Geral da Confraria, os quais têm tido ações relevantes no engrandecimento do município em vários domínios

Leiria queirosiana

No passado dia 22 de maio o Município de Leiria distinguiu com a medalha da Cidade o nosso confrade Joaquim Santos, jornalista, diretor do Notícias de Colmeias, investigador da Universidade de Coimbra e autor de diversas obras sobre a História da região.
No mesmo dia e também integrada nas festividades do município, o nosso confrade Ricardo Charters d’ Azevedo apresentou na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira o primeiro volume dos “ Cadernos de Estudos Leirienses” por si patrocinado, que visam divulgar estudos históricos sobre a cidade e a região do Lis.


As Artes entre As Letras, ano V

No passado dia 28 de junho, na Casa das Artes do Porto, o jornal As Artes entre As Letras festejou com a sua diretora Nassalete Miranda e a sua equipa, os habituais colaboradores do jornal e muitos dos seus leitores, o seu 5º aniversário, tendo na ocasião sido projetado um depoimento do nosso confrade Guilherme de Oliveira Martins que através dessa possibilidade esteve presente no evento com as suas palavras sempre cheias de serena sabedoria, ponderação e incentivo. No varandim do auditório estavam artisticamente colocadas as 125 revistas já publicadas, um acervo cultural que muito prestigia o norte do país e que ficará como publicação de referência. Recordamos que desde o seu primeiro número que este jornal acolhe a publicação mensal da página Eça & Outras, que tem assim uma difusão maior no mundo lusófono.

Palestras e conferências

No passado dia 18 de julho, Isabel Pires de Lima proferiu uma conferência a convite do Centro de Conhecimento dos Açores, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, sobre o tema “ Antero e Eça - mel e a cera (diálogos sobre a res publica)“, na qual analisou a complementaridade entre as utopias do primeiro e o obreirismo literário do segundo em volta da ideia republicana.
Ontem, dia 24, o grupo de investigação do Centro Eça de Queirós, do Lumiar, Lisboa, apresentou no Congresso Internacional dos Dominicanos, que decorreu na Sociedade de Geografia de Lisboa, uma comunicação sobre “A Quinta do Frade”, situada naquela localidade e que pertenceu à referida Ordem.

Boletim dos Amigos de Gaia

No passado dia 19 de julho foi apresentado no Solar Condes de Resende o número 78 do Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, entidade com quem os ASCR-CQ têm um protocolo de colaboração. Na mesa estavam o presidente da direção, Salvador Almeida, o diretor do boletim Barbosa da Costa e o diretor adjunto Gonçalves Guimarães. Na assistência, além de vários autarcas, os sócios e habituais colaboradores do boletim. Saliente-se que este número, como alguns dos anteriores, teve a quase total colaboração de confrades queirosianos, nomeadamente os investigadores Virgília Braga da Costa, Maria de Fátima Teixeira, Licínio Santos, Eva Baptista e J. A. Gonçalves Guimarães, investigadores do Solar Condes de Resende. Na ocasião o diretor adjunto, numa breve alocução, pronunciou-se sobre o panorama nacional das revistas de incidência local.

Exposições

Entre julho e agosto o nosso confrade Major Simões Duarte apresenta as suas obras mais recentes numa exposição coletiva na galeria Atmosfera M, do Montepio Geral, ali bem perto d Palácio de Cristal no Porto.


Escavações arqueológicas

No próximo mês de agosto, a parti do dia 25 e até 5 de setembro, o Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR – CQ vai realizar mais uma campanha de escavações no Castelo de Crestuma, Vila Nova de Gaia, dirigidas pelos arqueólogos António Manuel Silva e Gonçalves Guimarães. Como este ano não houve qualquer financiamento para a ação, esta incidirá apenas numa frente junto ao Rio Douro, numa área onde no ano transato começaram a evidenciar-se construções eventualmente relacionadas com o porto romano já descoberto. Entretanto, no seguimento do estudo do espólio desta importante estação situada no Parque do mesmo nome, os arqueólogos da equipa têm estado presentes e apresentado comunicações em diversos fóruns nacionais e internacionais, publicadas nas respetivas atas.

Tomar um Porto com:

Já há muito tempo que desisti de revelar com quem gostaria de tomar um Porto. Fui acusado de parcialidade (o que é verdade), e de outras coisas mais. Mas desta vez não posso deixar de recordar o Professor Delgado Domingos, cientista e docente do Instituto Superior Técnico em Lisboa, falecido a 5 de julho passado, o cidadão conhecedor e probo que nos livrou de um programa e de uma central nuclear obsoletos, que a Westinghouse nos queria impingir nos anos 70, tendo então conquistado os amores de alguns políticos e governantes da época, quando o responsável em Portugal pelo controle das radiações ionizantes e o licenciamento das instalações onde elas se produziam era um médico cuja principal atividade científica era escrever versos para as revistas do Parque Mayer, e um físico do então LNETI teve chatices por andar a medir a radioatividade dos rios portugueses, nomeadamente os que vinham de Espanha! Lembram-se da projetada central nuclear em Ferrel, Peniche? Lembram-se da canção de Fausto “Rosalina se tu fores à praia…”? Pois aquele professor foi a consciência científica e cidadã contra a sucatada atómica que então alguns tecnocratas que ainda andam por aí nos queriam impingir. Nas suas palestras sempre tentou que os seus ouvintes distinguissem a Física Nuclear dos projetos comerciais de produção de energia atómica a qualquer preço. Vou pois tomar um Porto em sua memória. (J. A. G. G., ex-técnico de Radiologia, com formação em proteção contra radiações ionizantes).

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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 71 – sexta-feira, 25 de julho de 2014
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