segunda-feira, 25 de abril de 2011

Eça e Outras

Portugal e a Europa (visão de futuro), Charibari, 1889.
O Hino em surdina
 «Herois do mar…» - Quais? Os dos negócios dos submarinos? Os galegos que nos vendem o nosso peixe? Os que estão de papo para o ar nas praias de S. Tomé?
«… nobre povo» - Nobre? O Fernando? Um povo que gasta mais do que produz é nobre? Não será antes “pobre povo”? O poeta enganou-se? A “nobreza” do povo foi o maior equívoco do século XIX, que fez as desgraças do séc. XX e, em Portugal, do pós 25 de Abril. Entendamo-nos: “promovido” a “pequena burguesia” ou “classe média”, o povo rapidamente aprendeu o que não era nobre nas classes que destituiu: o laxismo, o oportunismo, a ignorância encartada, o delegar nos “seus representantes”, da mesma massa feitos, pois então, tal como outrora faziam alguma nobreza, algum clero, alguma burguesia, que o povo se apressou a copiar. Não estou a falar do povo que sempre trabalhou no duro, que tudo produziu e pouco conseguiu de seu. Mas, agora, “o povo somos todos nós”. A nobreza, as qualidades superiores da natureza humana que todos sabemos quais são, não são apanágio ou exclusivo de nenhuma classe, estatuto, formação ou condição social. Estão inscritas no ADN, modelam-se através da vontade pessoal e sobressaem ou apagam-se na moldura social em que cada um vive. Mas continuemos…
«Nação valente, imortal» - Valente, neste estado? Neste Estado? Não será antes e… mortal? Outro engano?
«Levantai hoje de novo» - Quem dá aqui uma mão? Vamos a isto, gente? Não, você não; já sabemos onde nos levam as suas ajudas… Não há mais ninguém para ajudar a levantar isto?
«O esplendor de Portugal» - Segundo o dicionário, esplendor quer dizer brilho intenso, mas devemos estar a consumir demasiada energia a produzi-lo nos futebóis e festivais e em mais nada do que interessa. É assim que actualmente o “nobre povo” entende o “esplendor”.
«Entre as brumas da memória» - Não era melhor dissipar as brumas, os nevoeiros do passado, e colher da História a lição dos dias claros?
«Oh Pátria sente-se a voz» - Voz que se sente não deve ser de boa gente, que essa ouve-se e percebe-se.
«Dos teus egrégios avós» - Quais? O Marquês de Pombal? João Franco? Ribeiro Sanches? Fontes Pereira de Melo? D. Afonso VI? O meu bisavô? A sua trisavó? Santo António? Salazar? Fontes Pereira de Melo? O Marquês de Sá da Bandeira? A Maria da Fonte? D. Sebastião?
«Que há-de guiar-te à vitória» - Mas não estão já todos eles na universidade sénior do passado? E alguns deles não foram rotundos falhados que os historiadores benevolentes equalizaram com os demais avós, como fazem as assistentes sociais aos velhinhos dos lares, que os convencem que são todos boas pessoas?
«Às armas! Às armas!» - Quais? As da NATO? As das Forças Armadas Europeias? As das nossas forças armadas no Afeganistão? As americanas da Base das Lages? As compradas na candonga? O voto? Um duelozinho de florete com o FMI?
«Sobre a terra e sobre o mar» - Ainda temos zona aérea exclusiva?
«Às armas! Às armas!» - Já ouvi, Senhor Henrique Lopes de Mendonça! Diga ao Senhor Alfredo Keil que não sou surdo!
«Pela Pátria lutar!» - É o que alguns portugueses têm feito vai para mais de 850 anos, os que trabalham no duro, e que não estão mais dispostos a deixar que os outros esbanjem o que produzem. Os que não tencionam deixar que, além dos juros, nos levem ainda o corpo, a mente e a vontade de sermos portugueses.
«Contra os canhões, marchar, marchar!» Lá terá de ser, mais uma vez!
É um belo hino romântico, este nosso Hino Nacional, habitualmente berrado (cantar é outra coisa!) nos estádios de futebol, mas duvido que entendido, reflectido, sentido. E quanto ao marchar, hoje toda a gente marcha: os novos, os velhos, as crianças, os políticos, as mulheres, os peregrinos, as marchas de Lisboa e as de Gaia, as do Mozart. Contra os canhões? Não, já não se usa. Hoje marcha-se a favor da paz, da saúde, do Santo António, do S. João, do dia disto e daquilo, dos animais domésticos e selvagens, e de muitas outras questões adoptadas pelo “nobre povo”. E para fazer a marcha “maior do mundo” para o Guinness, o repositório mundial da idiotice das massas.
Quanto aos empréstimos, mais ameaça menos “bruma da memória”, eles aí estão. Já Eça de Queirós escreveu em Os Maias: «Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta – “cobrar o imposto” e “fazer o empréstimo”. E assim se havia de continuar….».
E continuou… Até quando? Até este país decidir “pela Pátria lutar” em termos de presente e de futuro.
J. A. Gonçalves Guimarães

Os Maias em Londres
 No passado dia 10 de Março foi apresentada ao público em estreia no Galleon Theatre em Greenwich a peça de teatro Os Maias, adaptação do romance de Eça de Queirós por Alice de Sousa e com direcção de Bruce Jamieson.
Alice de Sousa, que interpreta também o principal papel feminino, recebeu em 2005 dois prémios do American Biographical Institute e em 2009 um prémio do governo português pelos seus 25 anos de carreira.


Literatura em viagem

 J. Rentes de Carvalho foi um dos escritores convidados para estar no Lev-Literatura em Viagem 2011, que decorreu em Matosinhos nos passados dias 16 a 19 de Abril, tendo participado no painel “Viajar é descobrir que todo o mundo se equívoca”, ao lado de Mário Delgado Aparain (Uruguai), Reif Larsen (EUA) e Valter Hugo Mãe, tendo como moderador Alexandre Quintanilha.
O escritor deu recentemente uma extensa entrevista ao programa televisivo “Câmara Clara” (RTP 2), bem assim como a vários outros canais de televisão, jornais e revistas, sobre as suas últimas edições em Portugal e na Holanda.

Fernão de Magalhães

 A Sociedade de Geografia de Lisboa leva a cabo no próximo dia 27 de Abril uma sessão de homenagem a Fernão de Magalhães, pelas 18 horas, a qual será presidida pela Ministra da Educação Dr.ª Isabel Alçada. Serão oradores, para além do presidente daquela centenária instituição, José Mattos e Silva, António Mattos e Silva, Gonçalves Guimarães, Manuel Magalhães Villas Boas e Proença Mendes, Comandante do Navio-Escola Sagres que em 2010 navegou parte da rota seguida por aquele navegador.
A Academia Eça de Queirós associa-se assim a esta evocação de Fernão de Magalhães, cujos dados biográficos mais recentes indicam que poderá ter nascido em Vila Nova de Gaia.

Academia de Marinha

O Eng.º José Luís Pereira Gonçalves, membro da direcção dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, foi recentemente nomeado membro efectivo da Academia de Marinha.
Formado em Engenharia Electrotécnica desenvolveu actividade profissional em Timor, Moçambique e Portugal em algumas das mais importantes empresas nacionais, tendo sido chefe de gabinete do Secretário de Estado da Industria Ligeira e Industria Pesada em 1977/1978. É comendador da Ordem de Mérito da República Federal Alemã.
Além de velejador, foi membro fundador e vice-presidente da Aporvela (Associação Portuguesa de Treino de Vela) e tem-se dedicado ao estudo de aspectos técnicos das navegações históricas portuguesas.
É membro fundador da Academia Eça de Queirós.


Curso sobre Joalharia em Portugal

Decorrerá no próximo mês de Maio, aos sábados à tarde, entre as 15 e as 17 horas, no Solar Condes de Resende, um curso intensivo sobre História da Joalharia em Portugal, ministrado por Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, professor da Universidade Católica do Porto.
As matérias a ensinar abrangerão desde os conceitos introdutórios ao tema, passando pela joalharia de todas as épocas, até às grandes casas da joalharia em Portugal e a joalharia contemporânea.
O curso é organizado pela Academia Eça de Queirós e da sua frequência será passado certificado a todos os participantes.

Folhetim no Notícias de Colmeias

Como no tempo de Eça de Queirós, o jornal Notícias de Colmeias, Leiria, é o único jornal português que publica um folhetim, ou seja, uma novela em que cada capítulo, ou parte dele, aparece em cada número do jornal, neste caso intitulada “Isabel” e da autoria de Cunca de Almeida, cujo Episódio 1 apareceu na edição n.º 127 de 4 de Julho de 2010, logo na 1.ª página.

Gostaria de ir tomar um Porto com:

Ai Weiwei, o artista chinês que perturba a serenidade dos dirigentes da China; Julian Mer-Khamis, o actor árabe-israelita assassinado pelos crocodilos de ambos os lados; Joaquim Letria, porque os aldrabões existem mesmo; Ribeiro Cardoso, o jornalista que escreveu um livro sobre a nudez de um intocável.

Não, não vou brindar com:

Bashar al-Assad, presidente temporário da Síria,
 
 
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 31 – Segunda-feira, 25 de Abril de 2011
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coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;
colaboração de Joaquim Santos