Eça & Outras, III.ª série, n.º 206, sábado, 25 de outubro de 2025
IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)
Francisco de Olazabal e o capilé
No
passado dia 30 de setembro faleceu o querido amigo Francisco Javier de
Olazabal. Conhecíamo-nos desde os anos oitenta do século passado quando a Casa
Ferreira, ainda na posse da família, estava a valorizar o seu património
histórico, nomeadamente o seu arquivo, e me encomendou o livro Um Português em Londres…, publicado em 1988. Em 1990, no centenário do
Oporto Golf Club, chamou-me a colaborar no livro da efeméride, lançado em 1994.
Em volta destes projetos, e dos que se sucederam, em várias visitas e estadias
na Quinta do Vale Meão, fomos partilhando grandes conversas sobre o Douro, o
Vinho do Porto, a Granja, o Centro Histórico de Gaia…
Filho de Jaime de Olazabal y Mendoça
e de Maria do Carmo Rebello Valente de Olazabal, nasceu no Porto em 1938.
Descendente de D. João VI, dos duques de Loulé e dos condes da Azambuja, de D.
Antónia Adelaide Ferreira e dos condes de Arbelaiz (País Basco), casou com
Maria Luisa Nicolau de Almeida, filha de
Fernando Nicolau de Almeida e de Maria José Rosas Nicolau de Almeida, e foi pai
de Francisco, Jaime e Luisa. Era um verdadeiro «granjola» (descendente de
famílias radicadas no século XIX na Granja, Vila Nova de Gaia) e sabia o nome
de todos os seus empregados e colaboradores de Gaia e do Douro, com cujo bem
estar se preocupava.
Licenciado em Economia pela Faculdade
de Economia da Universidade do Porto, em 2010 a Universdade de Trás-os-Montes e
Alto Douro atribuiu-lhe o grau de Doutor honoris
causa, cerimónia a que tive o gosto de assistir.
Desempenhou relevantes cargos
profissionais no setor vitivinícola: administrador-delegado da Sociedade dos
Vinhos do Porto Constantino, adjunto e presidente da administração da A. A.
Ferreira, S. A. (Casa Ferreirinha), presidente da Sogrape Distrribuição, S. A.,
administrador da Sogrape Vinhos de Portugal, S. A. e da Sogrape SGPS.
Em 1994, com seus três filhos,
adquire a totalidade da Quinta do Vale Meão, Vila Nova de Foz Côa, fundada nos
finais do século XIX por sua trisavó D. Antónia Adelaide Ferreira, tendo
constituido a firma F. Olazabal & Filhos, L.da. Em 2002, com a
nova geração de vitivnicultores das quintas do Vallado, Niepoort, Vale D. Maria
e Crasto, participa na criação dos “Douro Boys” e em 2004 o seu vinho Quinta do
Vale Meão 2004 foi pontuado 97 em 100 pela revista Wine Spectator (EUA).
Foi vogal e presidente da direção da
Assocação de Exportadores de Vinho do Porto (AEVP); fez parte da direção da
Comissão Interprofisional da Região Demarcada do Douro (CIRDD) e foi chanceler
da Confraria do Vinho do Porto. E presidente da direção do Oporto Golf Club,
sediado em Espinho.
Condecorado pelo Estado Português com
o grau de grande oficial da Ordem de Mérito Agrícola a Câmara Municipal de Vila
Nova de Gaia atribuiu-lhe a Medalha de Mèrito Profissional, classe ouro.
Em 2014, com a colaboração do
Gabinete de História, Arqueologia e Patrimóno, publicou o livro Quinta do Vale Meão, com um prefácio
meu, depois de me incentivar a elaborar
o estudo «Vale Meão. Antecedentes de uma quinta vinícola e olivícola no Douro
Superior», divulgado na revista Douro,
Vinho, História e Património, n.º 3, desse mesmo ano, pp. 143-170.
Muitos
destes aspetos recordei em «Quinta do Vale Meão, de Francisco Javier de Olazabal»,
publicado a 25 de fevereiro de 2016 em eca-e-outras.blospot.com e a 30 de março
seguinte no jornal As Artes Entre As Letras. Mas muitos outros poderia
recordar, como aquele em que, com sua mulher Maria Luiza me recebeu, com Maria
de Fátima Teixeira, no Vale Meão em visita com o escritor José Rentes de
Carvalho, de quem eram devotos leitores, numa jornada inesquecível, e em outras
posteriores até tempos recentes, pois sempre que o escritor vinha a Estevais do
Mogadouro “estava obrigado” a informá-lo ou a combinar juntarmo-nos em almoços
celebrativos no restaurante O Lagar em Moncorvo, quantas vezes com outros
amigos e seus admiradores, no último dos quais tivemos a presença da Eng.ª
Paula Carvalhal vereadora da Câmara Municipal de Vila Nova se Gaia.
Uma
das últimas vezes em que convivemos esteve também presente o nosso comum amigo
luso-brasileiro Dr. Ricardo Hadad. E aí, mais uma vez, ouvimos as suas
estorietas com um impagável sentido de humor das quais quero aqui recordar uma
delas com sentido autobiográfico, das muitas que lhe ouvi. Partilhou então
connosco que, quando era menino tinha conhecido muito bem a Senhora Dona Sofia,
pois frequentava-lhe a casa na Granja. E já então a admirava com suprema
reverência devido à sua fama de poeta e escritora, chegando a querer
descobrir-lhe o segredo desse carisma e, se possível, imitá-lo E um dia -
eureka! - pensou ter descoberto o segredo que tinha de por em prática. Estando
em sua casa à hora do lanche, recusou o habitual leite ou chá, afirmando
perentoriamente que daí em diante só beberia capilé. A mãe ficou atónita com o
ultimato e perguntou ao menino onde teria ele andado a beber essa exótica
bebida. E lá veio a revelação: «em casa da Senhora Dona Sofia e é por tal beber
que ela é uma grande poeta. E eu, quando for grande, também quero ser conhecido
como ela. Por isso a partir de hoje só bebo capilé». E acrescentou: «não
acharam piada nenhuma e não me deram capilé a beber, e por isso nunca fui
poeta, a não ser de vinhos que espero que suscitem obras primas de literatura».
O nosso comum amigo Haddad, também apreciador de poesia e de uma boa estória
com humor, não esqueceu a revelação deste senhor dos vinhos e, procurando na
sua monumental garrafeira, encontrou uma antiga garrafa de Xarope Capilé da
Fábrica Ancora, Lisboa, talvez da mesma marca que Sophia de Mello Breyner
Andersen beberia e que fiquei de lhe entregar acompanhada do seguinte bilhete:
«Amigo Francisco Olazabal. Ainda há tempo para Poesia. Abraço Ricardo Haddad.
11-12-2024».
Tendo, entretanto, recebido a notícia de que a sua enfermidade se agravara, achei prudente levar-lhos, a garrafa e o escrito, à Granja em dia mais animoso, esquecendo que, mesmo os criadores de famas imorredoiras, como é o caso, não são eternos, e um dia pregam-nos a partida de nos deixarem com estas queridas memórias que aqui partilho com todos aqueles que tiveram o gosto e o prazer de terem conhecido o Vito, como era carinhosamente tratado. E a Granja já há muito tempo que não via tantos amigos juntos na sua capela no adeus que lhe quiseram tributar no passado dia 1 de outubro. «A luz cai, magnífica, sobre isto tudo, tão forte, tao viva, que parece pousar sobre as coisas como uma espécie de névoa luminosa» (Eça de Queirós, O Egito).
J. A. Gonçalves
Guimarães
historiador
A ASCR-CQ esteve em…
Na sequência dos convites
que nos foram dirigidos pelos partidos e coligações políticas concorrentes à
autarquia ou pela Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia para efeitos
de debate de programas e propostas eleitorais, no passado dia 30 de setembro
recebemos na sede da ASCR – CQ a visita do Dr. Luís Filipe Meneses e comitiva
da coligação Gaia Sempre na Frente (PSD+CDS+IL), que se vieram inteirar do
funcionamento da associação; recorde-se, a propósito, que o cabeça de lista referido
é confrade honorário desde 2003. No dia 2 de outubro estivemos na sede da FCVNG
no colóquio com o Dr. André Araújo, da coligação CDU, e no dia 3 com o Dr. João
Martins da coligação Bloco+Livre+… Não se realizaram colóquios com o Chega, nem
com o Partido Liberal Social, por estas formações partidárias não os terem
agendado.
Encontro Nacional FAMP 2025, no Museu do Douro; fotografia AAMD.
Nos
passados dias 26 a 28 de setembro decorreu no Museu do Douro na Régua o Encontro Nacional FAMP 2025, subordinado ao tema “Os
vossos Museus, a nossa paixão”, o qual contou com a presença de vários grupos
de amigos de museus e monumentos de Portugal. A
receção aos participantes decorreu no fim-de-tarde de sexta-feira de 26 no
terraço daquele museu, onde decorreram os trabalhos a partir das 10 horas do
dia seguinte, tendo falado na sessão de abertura Helena Gil, vogal do
conselho diretivo da Fundação Museu do Douro, Maria do Rosário Alvellos,
presidente da direção da FAMP e o Doutor Alexandre Pais, presidente de conselho
de administração da "Museus e Monumentos de Portugal, EPE", tendo também
feito intervenções e comunicações Rita Dargent, diretora do Museu Nacional dos
Coches; Alexandra Falcão, diretora do Museu de Lamego e Maria José de Sousa
diretora do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa.
Estiveram presentes para intervir no programa as seguintes associações: Amigos do Solar
Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Associação de Amigos do Museu do
Douro; Grupo de Amigos da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves; Grupo de Amigos
do Museu de Alberto Sampaio; Grupo de Amigos do Museu de Penafiel; Liga de
Amigos do Museu Nacional Machado de Castro; Liga dos Amigos do Douro Património
Mundial; Sociedade de Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior. Na
sessão de encerramento falaram Ana Rita Lopes, dos Jovens FAMP; Maria do
Rosário Alvellos e Maria Leonor Marinho, respetivamente presidente e secretária
da direção da FAMP.
O
encontro teve um jantar de encerramento no dia 27 no restaurante “Castas e
Pratos” na Régua, a que se seguiu no dia seguinte uma visita ao Pinhão e um
passeio de barco com almoço regional no Rio Douro.
A
associação ASCR-CQ esteve representada por António Pinto Bernardo, J. A.
Gonçalves Guimarães e Manuel Nogueira dos corpos gerentes e pela associada
Ângela Moreira, do Museu das Casinhas de Bonecas do Porto. Na sessão de
abertura o presidente da direção falou sobre «Os Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana» enquadramento associativo, estatutos e
objetivos».
Doutor
Francisco Javier de Olazabal
(1938-2025); fotografia Medialivre
No
passado dia 1 de outubro, o presidente da direção e vários associados e
confrades estiveram no funeral do Doutor Francisco Javier de Olazabal, nosso
associado na Capela da Granja em São Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia.
Nos
dias 23 e 24 de outubro decorreu no auditório Dr. António Pedro Pinto de
Mesquita da Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Porto o III Congresso
Porto Romântico, coordenado pelo Professor Doutor Gonçalo de Vasconcelos e
Sousa, provedor da instituição e catedrático da Universidade Católica do Porto,
instituição parceira desta realização, como aliás das edições anteriores.
Vários foram os historiadores associados e membros dos corpos gerentes da
ASCR-CQ, bem assim como investigadores do seu Gabinete de História, Arqueologia
e Património que estiveram presentes com comunicações. Por ordem de
apresentação no programa, Maria de Fátima Teixeira falou sobre «”António
Augusto Teixeira de Vasconcelos um dos mais ilustres e dos mais notáveis
jornalistas portugueses, um dos escriptores mais elegante e espirituosos...,”»;
António Barros Cardoso sobre «Os “Ratos da Alfândega de Pantana” – Sátira do
Porto Romântico»; J. A. Gonçalves Guimarães sobre «O juiz Teixeira de Queiroz e
o conde do Bolhão: revisitação de um episódio de corrupção no Porto Romântico»;
Eva Baptista sobre «Bernardo de Almeida Lucas: expressão multifacetada do
legado romântico portuense»; Licínio Santos sobre «A 2.a Geração dos Nicolau de
Almeida: A afirmação social e comercial de uma família gaiense no Porto de
Oitocentos»; e Nuno Resende sobre «Reconstituir e cartografar vestígios da
sociabilidade romântica do Porto através das Cartes-de-Visite: poses, gestos e
cenários no retrato fotográfico de estúdio (~1860~1890)». As Atas serão
publicadas em 2026.
No dia
23 de outubro passado decorreu no Solar Condes de Resende uma visita guiada
pelo responsável pelo equipamento, Dr. João Fernandes, à exposição «Marciano
Azuaga, da coleção privada ao museu público» que se encontra patente no andar
superior do edifício. Encerrado o seu «museu» nos anos trinta do século
passado, passados quase cem anos, muitos dos objetos que o constituíram voltam
assim a ser disponibilizados ao público a quem o colecionador os ofereceu em
1904, quando doou a sua coleção ao município gaiense. Tendo grande parte dela
sido transferida para o Solar em 1987, desde então o seu anterior diretor e
colaboradores desenvolveram esforços no sentido da recatalogação integral deste
espólio por núcleos temáticos; o seu estudo específico e enquadramento
museológico por especialistas, a sua divulgação através de publicações
profissionais; o empréstimo de peças para exposições temporárias, locais,
nacionais e internacionais; e a comparação com idênticas coleções em Portugal e
no estrangeiro, de que resultaram várias publicações numa já extensa
bibliografia, sendo a mais recente o estudo de GUIMARÃES, J. A. Gonçalves;
GUIMARÃES, Susana (2025) - O Museu Azuaga
na génese dos museus gaienses, recentemente editado pela Confraria
Queirosiana.
A
visita contou com a presença da vereadora da Cultura e da Programação Cultural
da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal e de outros
quadros autárquicos, tendo também estado presentes dirigentes, associados e
confrades da ASCR-CQ que felicitaram a atual equipa profissional do Solar pelo
trabalho desenvolvido que tornou possível esta verdadeira reparação cultural. A
exposição pode ser vista de terça a domingo das 9 às 12,30 e das 14 às 17,30
horas.
A
ASCR-CQ organiza e promove…
Palestra das últimas
quintas-feiras do mês
Como anunciado,
realizou-se no passado dia 02 de outubro no Solar Condes de
Resende a habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, desta vez na
primeira de outubro devido a uma reprogramação de atividades que a tal obrigou.
Foi palestrante o Dr. Marcus Vinícius, médico radiologista que se dedica ao
estudo das “misteriosidades humanas” e que falou sobre «O Golem e o Rabino
Judah Löew (folclore judaico), um tema retomado pela cinematografia
internacional ao longo do século XX e até à atualidade.
A
próxima palestra será na quinta-feira, dia 30 de outubro, entre as 18,30 e as
19,30 horas e terá como tema «Visita guiada à exposição “Marciano Azuaga: da
coleção privada ao museu publico”» e será palestrante o Dr. João Fernandes,
responsável pelo Solar Condes de Resende e confrade da ASCR-CQ.
Curso sobre Camilo Castelo
Branco
No sábado dia 04 de outubro, pela15 horas decorreu,
no Solar Condes de Resende a sessão de abertura do curso livre evocativo dos
200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025) organizado pela
Academia Eça de Queirós dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana. Esta primeira sessão contou com a presença da Eng.ª Paula
Carvalhal, vereadora do Pelouro da Cultura e da Programação Cultural em
representação da presidente da Câmara, do presidente da ASCR-CQ e outros
membros dos corpos gerentes e associados e de vários professores deste curso. Após
a distribuição dos certificados do curso anterior e das palavas de abertura das
entidades presentes, o agrupamento musical “Eça Bem Dito”, dirigido pela
pianista Maria João Ventura executou algumas canções do seu repertório
camiliano, que farão parte de um concerto final a realizar na Casa de Camilo,
em São Miguel de Seide no final do curso. A lição de abertura foi proferida pelo
Prof. Doutor Sérgio Sousa, da Universidade do Minho, sobre «Teoria da
Literatura: o que é? Para que serve?».
A segunda aula, sobre «Camilo Castelo
Branco e Vila Nova de Gaia» realizou-se no dia 11 de outubro, proferida pelo
Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães, da Academia Eça de Queirós e a terceira
terá lugar no dia 25 de outubro sobre «A Gastronomia em Camilo» pela Prof. Dr.ª
Elzira Queiroga, da Casa de Camilo – Centro de Estudos Camilianos de Vila Nova
de Famalicão.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 206, sábado, 25 de outubro de 2025; propriedade
da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria
Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende,
Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e
publicação no jornal As Artes Entre As
Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção:
Amélia Cabral; colaboração: Família Olazabal; Federação dos Amigos dos Museus
de Portugal (FAMP); Associação de Amigos do Museu do Douro (AAMD).






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