Eça & Outras, III.ª série, n.º 206,
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
IIº Centenário do nascimento de Camilo
Castelo Branco (1825-1890)
Que força é essa, José?
Terminou
a festa da Feira do Livro do Porto 2025, este ano de homenagem a Sérgio
Godinho, para os da minha geração «o nosso Sérgio», como «o nosso Zeca Afonso»,
o «nosso Zé Mário Branco»; o «nosso Adriano Correia de Oliveira» e mais alguns
“nossos”: não nos levem a mal este sentido de apropriação que, na realidade, é
mais de identificação com os intérpretes e as canções que, desde o tempo da
nossa raiva contra a Guerra do Vietname e contra a Última Guerra Colonial
Portuguesa, nos embalaram a esperança em um mundo melhor, mais justo e sem
guerras. Para os jovens dos anos sessenta, como para os de hoje, não era, nem
é, pedir muito. Apenas o exigir o direito à vida e a vivê-la com uma certa
graça, por entre alguns desencantos e partidas das estações do comboio e das
estradas da vida. E não nos enganamos, pois bem sabemos onde estão os
precipícios. E vamos avisando os jovens de hoje que eles ainda existem por aí.
Eles não os conheceram nem estão no seu GPS. Mas as canções de Sérgio Godinho,
como as dos outros «nossos», sempre alertaram para eles, por entre encantos
melódicos e palavras de bronze destes cantautores que se ergueram tão alto com
o 25 de Abril. E na Alameda das Tílias uma nova árvore com um nome, no meio de
outros de referência, agora a tília do Sérgio. No jardim do Palácio de Cristal,
pavilhão de desportos vários e vistas larguíssimas para Vila Nova de Gaia, o
Porto e o mar, onde se pode subir às alturas possíveis em visita guiada e
segura com emoções de vertigens calculadas.
A Feira este ano, em certos momentos,
deu-lhe para parecer um “sãojoão” sem martelinhos, tal era a romaria compacta
de gentes, amigos, conhecidos, debutantes e vedetas das escritas e de outras
artes. A Confraria Queirosiana lá esteve, como vai sendo hábito, a vender os
seus livros e revistas, e os da Associação Portuguesa de História da Vinha e do
Vinho, que eles foram feitos para serem lidos, comentados e partilhados. E
também para prestar a sua homenagem ao escritor José Rentes de Carvalho nos
seus 95 anos, através da presença do original de um seu novo busto modelado
pelo escultor Hélder de Carvalho e destinado a ser colocado na aldeia de
Estevais do Mogadouro, onde o escritor tem a sua casa que foi de seus avós. E
através do livro que elaborei com uma recolha de textos escritos desde 2005,
quando finalmente o conheci pessoalmente naquela aldeia com a companhia de
Maria de Fátima Teixeira e Eva Baptista, e que intitulei Eça & Outras
2. J. Rentes de Carvalho 95 anos. Foi ali apresentado no dia 29 de
agosto pelo meu caro colega e companheiro de lides associativas, António Manuel
S. P. Silva perante uma plateia de Amigos e o meu neto Luís Filipe, que estas
coisas também são de afetos. A recensão crítica será publicada em breve no
número anual da revista da Confraria. Na impossibilidade de o homenageado estar
presente, mandei-lhe alguns exemplares para Amsterdam, pedindo-lhe a sua
condescendência para com os aleijões da obra, que a intenção foi boa e sincera.
Mas a sua generosidade falou mais alto e a 15 de setembro mandou-me o seguinte
e-mail: «Caríssimo Joaquim/ Por certo, e com estranheza pelo
descuido, já se perguntou porque demoro a agradecer o livro em que faz de mim
personagem principal./ Razões tenho de sobra, pois fiquei e continuo
sinceramente embasbacado, mesmo depois de duas vezes o ter lido, e muitas mais
procurando, descrente, uma ou outra passagem. É que o Joaquim escreve sobre mim
de maneira tão sincera e variada, que deixa para trás o corrente em biografias,
pois doseia com talento, conhecimento, e elegância, as diversas partes do
“retrato”, contribuindo assim para que o retratado se sinta elogiado, mas
dentro dos limites em que o conhecimento de causa põe travão a qualquer
tendência de orgulho ou vaidade./ Leitor que sempre fui de biografias, esta sua
obra foi, é, para mim novidade, pois combina o conhecimento das vivências
do retratado, com a leitura atenta e crítica dos seus escritos, doseando com
singular elegância a análise do que neles é pessoal ou público./ Vou deixar
passar algum tempo até fazer uma terceira leitura, mas mesmo uma nona ou décima
em nada poderão diminuir o impacto que me causou a primeira. Isso menos por se
tratar de mim, mas porque é coisa rara uma tão elegante e tão bem doseada autópsia
de vivências, escritos e amizade./ Por aqui me fico, incapaz de lhe dizer o que
a sua amizade e este seu livro são para mim./ Com o grande abraço de sempre./
José». Não sei que dizer. Desde miúdo que
aceito os ralhetes como ocasião de planear correções. Mas os elogios deixam-me
atordoado. Lembro-me sempre quando era menino e numa festa de natal da escola
primária me atribuíram dois prémios de mérito: um, já era bom, encheu-me o
peito; mas dois, o segundo logo na mesma ocasião, deixou-me enrascado. Não seria
engano? Não era para outro colega que não tivera nenhum? E porquê dois prémios
à mesma pessoa, se o habitual era um só? Agora, perante aquele e-mail estou na
mesma situação: um prémio foi o prazer de ter organizado o livro e já me
bastava esse; mas um outro, as palavras do homenageado e a sua amizade
deixaram-me atónito: será que sou merecedor? Respondam também vocês.
Além
da venda de livros e revistas, a Feira serviu também para divulgar os objetivos
da Confraria e as atividades do Solar Condes de Resende como casa queirosiana
internacional, onde em breve terá início mais um curso livre sobre os 200 anos
de Camilo Castelo Branco e a 22 de novembro o capítulo anual onde serão
insigniados como novos confrades algumas personalidades nacionais, brasileiras
e moçambicanas, que Eça de Queirós era um escritor do mundo e de um mundo mais
humanista se quer que continue. Para além da visita de Marcelo Rebelo de Sousa,
de Carlos Fiolhais, de Francisco José Viegas, e de várias outras
personalidades, também muitos associados e confrades nos deram o gosto de por
ali passarem, conversarem, trocarem ideias e completarem as suas coleções da Revista
de Portugal, e da Gaya. Estudos de História. Arqueologia e
Património, e outras edições do nosso variado portfólio editorial, com
autores como Alberto Silva Fernandes, António Manuel S. P. Silva, Eça de
Queirós, Francisco Queiroz, Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, Joana Ribeiro, J.
A. Gonçalves Guimarães, José Marques, José Pereira do Couto Soares, Licínio
Santos, Luís Manuel de Araújo, Maria de Fátima Teixeira, Nuno Resende e Susana
Guimarães, e muitos outros nas revistas acima referidas.
Às
vezes interrogo-me sobre o que, para além da busca impenitente do saber e da
convivialidade, andaremos todos por aqui a fazer: e não posso deixar de
lembrar-me desta “tirada” queirosiana «A nação que não tem sábios, grandes
críticos, analisadores, reconstruidores, ásperos buscadores do ideal não pode
pesar muito no mundo político, como não pode pesar muito no mundo moral» (Eça
de Queirós, Prosas Barbaras). Obrigado, caríssimo José Rentes de
Carvalho pela força que continua a dar-nos, que bem dela precisamos.
J.
A. Gonçalves Guimarães
historiador
Estamos em…
Estando a decorrer a
campanha eleitoral para as autarquias, a ASCR-CQ tem recebido vários convites
das várias forças partidárias para estar presente em diversos colóquios e
outras manifestações cívicas por elas promovidos, a que temos procurado
corresponder. Assim, nos debates promovidos pela Federação das Coletividades de
Vila Nova de Gaia na sua sede, estivemos no dia 08 de setembro com o candidato
Dr. Luís Filipe Menezes pela coligação PSD/CDS/IL; no dia 11 com os candidatos
do ADN à Câmara e à Assembleia Municipal, respetivamente Dr. Rui Sequeira e Dr.
Nuno Pereira; no dia 22 com o candidato do VOLT, Dr. Danel Gaio e no dia 23 com
o candidato do PS, Dr. João Paulo Correia. No dia 07 de setembro estivemos
ainda na Praia da Granja na sessão evocativa do Pacto da Granja ali ocorrido em
1976 promovida pela coligação Bloco de Esquerda/ Livre/ Independentes. Em todos
os casos procuramos inteirar-nos sobre as propostas dos diversos partidos e
coligações ao eleitorado sobre associativismo e cultura na área do município de
Vila Nova de Gaia.
A ASCR-CQ esteve em…
António Manuel S. P. Silva apresenta o livro sobre J. Rentes de Carvalho
Como referido na página
anterior, entre os dias 22 de agosto e 07 de setembro a associação esteve
presente na Feira do Livro do Porto com um pavilhão para venda dos seus livros
e revistas e também os da Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho
(APHVIN/ GEHVID) com quem temos protocolo de cooperação. No dia 29 de agosto
junto ao Lago dos Cavalinhos teve lugar o lançamento da obra Eça & Outras 2. J.
Rentes de Carvalho 95 Anos, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães,
presidente da direção da ASCR-CQ, tendo a apresentação do livro e do autor
estado a cargo do Prof. Doutor António Manuel Silva, do Gabinete de História,
Arqueologia e Património.
Durante esta
Feira do Livro vários foram os nossos associados que apresentaram as suas
últimas produções literárias, como David Rodrigues que a 5 de setembro aí
lançou o livro de poemas Astrolábio, o qual será igualmente apresentado no
próximo dia 6 de outubro na Biblioteca do Palácio Galveias em Lisboa.
A
ASCR-CQ vai estar em…
Hoje,
dia 25 de setembro, pelas 18 horas, J. A. Gonçalves Guimarães apresentará na
Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia o livro de António Conde, CCD Gaia - 50 anos a
espalhar sorrisos, edição comemorativa dos
50 anos da criação desta associação dos funcionários da Câmara Municipal de
Vila Nova de Gaia.
Entre os
dias 26 a 28 de setembro no Museu do Douro, na Régua, o Encontro Nacional FAMP
2025, subordinado ao tema “Os vossos Museus, a nossa paixão” organizado com a colaboração da direção do museu e da
Associação de Amigos do Museu do Douro. J. A. Gonçalves Guimarães, presidente
da direção da ASCR-CQ falará no dia 27, sábado, pelas 11,30.
A
ASCR-CQ organiza e promove…
A
habitual palestra da última 5.ª feira do mês de setembro realizar-se-á na quinta-feira, 02 de outubro de 2025, 18,30 - 19,30,
presencial e por videocnferência, a partir do Solar Condes de Resende,
sendo conferencista o médico radiologista Dr. Marcus Vinícios Cocentino
Fernandes sobre «O Golem e o Rabino
Judaw Löew (Folclore judaico)». A participação é livre e o link de acesso
fornecido a todos os interessados.
No próximo sábado dia 04 de outubro pela15 horas
decorrerá no Solar Condes de Resende a sessão de abertura do curso livre
evocativo dos 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025)
organizado pela associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana, com sessões presenciais e videoconferência. Nesta primeira sessão,
aberta a todos sem necessidade de inscrição, para além das palavras de abertura
pelas entidades presentes, serão interpretadas canções camilianas pelo
agrupamento musical “Eça Bem Dito” dirigido pela pianista Maria João Ventura,
entregues os certificados do curso anterior e proferida a lição de abertura pelo
Prof. Doutor Sérgio Sousa, da Universidade do Minho, sobre «Teoria da
Literatura: o que é? Para que serve?». A frequência das restante aulas do curso
obrigam a inscrição prévia,
Associados
da ASCR-CQ
Diversos associados ou dirigentes da ASCR-CQ, a
título pessoal, ou integrados noutras instituições, têm vindo a desenvolver
diversas ações, algumas das quais registamos:
No dia 30 de agosto a orquestra Dixie Gang que em como um dos seus músicos titulares (piano; banjo)
o Professo Doutor David Rodrigues atuou no Távola Jazz Club em Lisboa com o
habitual sucesso.
No dia 6 de setembro, no programa Raízes Vivas
comemorativo do Foral de Tendais organizado pela Câmara Municipal de Cinfães, o
Prof. Doutor Nuno Resende, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
falou sobre “Rostos e Histórias de Vida”.
No dia 18 de setembro, nas Jornadas Europeias do
Património 2025, o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, professor jubilado da
Universidade de Lisboa, apresentou no Museu Nacional do Traje, em Lisboa, a
conferência sobre «O traje no Antigo Egito: uma evolução na continuidade».
Nos dias 26 e 267 de setembro na Universidade
Babes-Bolyal, de Cluj-Napoc, Roménia, vai decorrer um colóquio internacional
sobre «Camilo Castelo Branco: 250 anos de memórias vivas», com a prestação da
Prof.ª Doutora Cristina Petrescu, aí docente.
Livros
No próximo dia 8 de outubro no Cinema Batalha do Porto, Afonso Reis Cabral
vai ter o seu mais recente livro O último Avô apresentado ao público
ledor por Mário Cláudio. Trata.se de uma estória de enredo familiar que se
reporta à Última Guerra Colonial Portuguesa.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 205, quinta-feira, 25 de setembro de 2025;
propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende -
Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de
Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia;
C.te n.º 506285685; NIB:
0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e
publicação no jornal As Artes Entre As
Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção:
Amélia Cabral.
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