Camélias
queirosianas
Ele
há coisas na vida que não nos servem para nada, mas que nos alegram
silenciosamente a existência, e das quais não prescindimos, ainda que nos
custem algum tempo e dinheiro. E entre elas, para muitos de nós, estão
certamente as camélias que florescem no inverno, alegrando os seus arbustos ou
árvores de sólidas folhas verdes com essas flores carnais e delicadas, com a alegria
do seu branco, a feminilidade dos seus rosas, as pétalas de vermelho intenso de
lábios de gueixa, as outras variedades que os seus devotos coletam e descrevem
com paciência de monges. Conheço desde criança rosas, perpétuas e outras flores,
mas as camélias sempre foram um assunto à parte, até porque vivi perto de uma
Quinta das Camélias e quem era rico ali à volta também as tinha no seu jardim
como motivo de curiosidade e devoção botânicas. Depois havia aquela história
que foi ficando triste, a Dama das Camélias, e a pintura portuguesa do século
XIX a elevá-las à categoria de símbolo nos quadros do Visconde de Menezes e nos
de António José da Costa, que as pintava tão perfeitas como se acabadas de
apanhar. Mas afinal, já desde o século XVII que os nossos pintores as
enramalharam nos seus quadros, como se pode ver em obras de Josefa de Óbidos e
nos painéis do coro alto do Mosteiro de Corpos Christi em Vila Nova de Gaia.
Algumas
cidades e vilas querem entre nós ser as suas guardiãs, se possível em
exclusivo, mas creio tal não ser possível, porque elas, românticas que são, não
se comprazem com fidelidades turísticas e assim se distribuem por todo o país,
creio que desde que D. João de Castro as trouxe no século XVI do oriente para a
sua quinta de Sintra. Mas logo dali a beleza do seu exotismo as disseminou,
vindo o romantismo oitocentista encontrá-las em Vila Nova de Gaia no jardim
nasoniano da Quinta de Campo Bello e no antigo Convento de Santo António de
Vale da Piedade e no de Oliveira do Douro, e no Porto, onde os jardins à
inglesa as acolheram e os hortos as cultivaram para arrecadarem prémios
internacionais, ou também em Santo Tirso, onde o seu cultivo tem vindo a acontecer
com reminiscências das sombras monásticas. E em muitos outros locais em
Portugal onde o culto da camélia pede meças aos japoneses.
O
Solar Condes de Resende tem vindo a valorizar os exemplares centenários das
suas Camellia japonica L., que Eça de Queiroz conheceu e, com
certeza, apreciou nas muitas visitas que, pelo menos desde 1889, fez à Casa. E
também porque estando os antigos proprietários ligados por laços familiares ao
Vice-Rei da Índia acima referido, através dos Camelos de Miranda de Vilar do
Paraíso, é possível que estas camélias descendam das sementes ou dos ramos
plantados primordialmente em Sintra. E com certeza os Camelos terão gostado de
camélias e haverá aqui ainda algumas histórias por acertar. Junto da estátua do
escritor, ali colocada no ano 2000 e da autoria de Hélder de Carvalho, que no
dia 22 passado trouxe um grupo de amigos a visitá-las, podemos apreciar
exemplares bem antigos, tipos Saluenensis,
de origem chinesa, Pomponia, Anemoniflora, Beni Assaku, Pamplona,
criada pelo bisavô dos filhos de Eça, 1º Visconde de Beire e proprietário do
Solar Condes de Resende, e a bastante rara Aka-Koshimino,
a que os ingleses chamam Red Skurt,
composta por cinco pétalas em estrela, com um desenvolvido pom-pom central, de
cor vermelha.
Não
desfazendo dos bicos de pés em que os outros querem por as suas camélias, e até
dedicando, admitamos que por alguma inveja, uma certa fleuma aos festivais que
organizam, não se me leve a mal que goste particularmente das camélias gaienses
e em especial das do Solar, visitadas regularmente por grupos nipónicos da
Sociedade da Camélia do Japão, em 1997 por uma equipa da NHK BS2 (televisão
estatal) e muito recentemente pelos Senhores Hiroshi Azuma e Yukitaka Hihara,
respetivamente embaixador do Japão em Lisboa e presidente & C.E.O. da
Trubaki Co. Ltd., todos com reverências de estima pela sua existência no jardim
desta Casa.
Um
outro local emblemático das camélias gaienses é o Parque Conde das Devesas,
situado junto da estação ferroviária do mesmo nome, no Centro Histórico, administrado
pelo Parque Biológico de Gaia, onde, para além das ali existentes, entre elas a
dedicada ao antigo proprietário, foram plantadas muitas outras variedades com
nomes famosos desde o século XIX, como as Tedínia, Garrett, Pamplona, D. Pedro
V e muitas outras.
No
passado dia 21 de março, Dia Mundial da Árvore e do início da Primavera, foi aí
lançado um livro da autoria do biólogo Doutor Nuno Oliveira, diretor dos
Parques de Gaia e confrade queirosiano, com fotos de António Assunção, no qual
apresenta uma seleção das mais notáveis variedades ali existentes, nomeadamente
uma com o seu nome, tendo a obra sido apresentada pelo sociólogo Prof. Doutor
Eduardo Vitor Rodrigues, presidente da câmara local.
Símbolos
da beleza temporária, a que só a Ciência e a Arte dão perenidade, Eça de
Queirós usou-as como termo de comparação literário, descrevendo certas mulheres
com «o pescoço de uma brancura de camélia húmida», ou «uma carnação de camélia
muito fresca».
Nestes
tempos de angústias, elas são também o símbolo da renovação que se opera cada
ano, pois voltarão a florir lá para os dias de outubro próximo, quando de novo
as voltaremos a ver pontificando nos nossos jardins mais estimáveis. O seu
colorido, sem perfumes embriagadores, voltará a alegrar-nos a vida. E este não
é certamente um símbolo menor no esteio da perseverança da procura dos caminhos
da humana felicidade, tão variados como as camélias, tão belos e discretos
quanto elas.
J. A. Gonçalves
Guimarães
Mesário-mor da
Confraria Queirosiana
Professor
João Francisco Marques
No passado dia 6 de março faleceu em sua
casa na Póvoa de Varzim o Professor Doutor Padre João Francisco Marques, antigo
professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e confrade
queirosiano. Autor de uma basta e erudita obra, marcou gerações com a sua
proficiência, mas também com o seu trato amável e sempre acompanhado de uma
fina ironia. Dos vários projetos que tinha em mãos, apresentou recentemente as
Obras Completas do Padre António Vieira, com cuja equipa colaborou. O seu
funeral teve lugar no domingo dia 8 e nele participaram muitos dos seus
colegas, alunos e admiradores, entre os quais vários confrades queirosianos que
assim quiseram prestar-lhe sentida homenagem.
Assembleia Geral
No passado dia 20 de março decorreu no
Solar Condes de Resende a Assembleia Geral ordinária dos ASCR-CQ para
apresentação do Relatório e Contas de 2014 e do programa e orçamento para 2015,
os quais foram aprovados pelos sócios presentes, tendo ainda sido exarados em
ata votos de pesar pelo falecimento dos consócios Eng.º D. Diogo de Cernache,
Eng.º José Pereira Gonçalves dos corpos gerentes, falecidos em 2014 e Professor
Doutor Padre João Francisco Marques recentemente falecido. A Confraria
queirosiana guarda e venera no Solar Condes de Resende a memória da vida e obra
dos seus confrades.
O Relatório será
publicado no n.º 12 da Revista de
Portugal que sairá no próximo mês de novembro e será lançada no capítulo
anual que ira decorrer no dia 21 desse mês.
Conferências
Colóquio sobre os Centros
Históricos
Nos próximos dias 26 e 27 de março
decorre na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, no auditório da Cálem, a 1.ª
Conferência Cidades de Rio e Vinho. Memória, Património e Reabilitação
organizado pela empresa municipal Gaiurb – Urbanismo e Habitação, EM, na qual
estarão presentes alguns reconhecidos especialistas das áreas da História,
Urbanismo, Arquitetura, Geografia e outras, vindos de diversas universidades
europeias e portuguesas que se vão debruçar sobre a problemática dos Centros
Históricos em geral e do de Gaia em particular.
Da comissão organizadora fazem parte J.
A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva, coordenadores do Gabinete de
História e Arqueologia dos ASCR – CQ que falarão sobre “O Centro Histórico de
Gaia, a Barra do Douro e o Mundo” e “As construções do lugar. História (s) e
Arqueologia (s) do Centro Histórico de Gaia”, respetivamente.
Paralelamente ao colóquio desenvolve-se
outras atividades, nomeadamente a abertura de uma exposição sobre o antigo
Entreposto do Vinho do Porto. As Atas com os textos apresentados serão
publicadas brevemente.
… e visita guiada
No dia seguinte ao colóquio atrás
referido, sábado dia 28, os Amigos de Gaia, associação com a qual os ASCR-CQ têm
protocolo de colaboração, vai organizar uma visita guiada ao Centro Histórico
de Gaia, a partir das 10 horas da manhã, conduzida pelo geógrafo Doutor
Salvador Almeida, presidente da direção daquela associação, que apresentará os
aspetos geomorfológicos e hidrológicos, e por J. A. Gonçalves Guimarães,
historiador e diretor do Solar Condes de Resende, que apresentará a evolução
histórica desta área classificada.
No final da jornada será inaugurada uma
exposição de cerâmica na Casa Ferreira, organizada pela Confraria do Caco,
intitulada “No Reinado do Vinho” com peças da autoria de Delfim Manuel.
Outras
Entretanto ao longo do mês de março
diversos sócios e confrades queirosianos realizaram várias palestras e
conferências. Assim, no dia 7, J. A. Gonçalves Guimarães, no solar Condes de
Resende, falou sobre “A Arte do Vinho do Porto como emblema da região”,
reedição da aula de abertura do Curso “História e carisma da região do Douro
Atlântico (Gaia, Porto, Matosinhos), 5ª edição”; no dia 19 de março, na Escola
Secundária de Canelas, para os alunos do Curso de Turismo, falou sobre “Os
Roteiros Queirosianos na perspetiva do Turismo Cultural”. A última aula do
Curso do Solar acima referido decorreu no passado dia 21 e foi proferida por
José Manuel Tedim sobre o tema “Pensamento, Literatura e Arte Contemporânea na
região portuense”, tendo este mesmo professor e investigador participado num
programa da RTP2 sobre a Igreja de São Francisco do Porto, que passou no
passado dia 23 cerda das 23 horas.
Amanhã, dia 26, pelas 21,30 horas e
ainda no Solar Condes de Resende, a historiadora da Arte Susana Moncóvio falará
sobre “Amadeu Souza-Cardozo: o Modernismo, uma proposta extemporânea no
contexto nacional”.
Livros
Nuno Resende
O historiador Nuno Resende, professor na
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem vindo a publicar diversos
livros sobre a região da Beira Douro, o último os quais intitulado Memórias dos Homens, Cartas do Tempo. Os
Forais do atual Concelho de Resende, este em colaboração com as
historiadoras Maria Alegria Marques da Silva e Paula Pinto da Costa, editado
pela autarquia na comemoração dos 500 anos o seu foral manuelino, em versão
livro e CD, lançado em dezembro passado e agora em distribuição. Mas já em
agosto passado tinha lançado O Concelho
de Magueija, editado pela União de Freguesias de Bigorne, Magueija e
Pretarouca, e em maio do ano passado colaborou com um capítulo no utilíssimo Guia de Boas Práticas de Interpretação do
Património Religioso, editado pelo Secretariado Nacional para os Bens
Culturais da Igreja/Turismo de Portugal.
Mário Cláudio
No passado dia 5 de março na delegação
do Porto da Ordem dos Médicos o escritor Mário Cláudio lançou um novo livro,
edição das Publicações D. Quixote, intitulado O Fotógrafo e a Rapariga, que recria as relações entre uma
imaginária Alice e o fotógrafo Lewis Carroll, o autor de Alice no País das
Maravilhas, Charles Dodgson, contemporâneo de Eça de Queirós. Esta obra faz
parte e uma trilogia sobre a relação entre pessoas com idades bastante
diferentes em volta da escrita – Bernardo Soares e um jovem empregado de
escritório; das Artes plásticas – Leonardo da Vinci e um seu aprendiz; e agora
a jovem que pousa para a fotografia que a imobiliza antes de desaparecer por
detrás do espelho.
Feira das Novidades
Convívio com os feirantes |
No passado dia 1 de março fez um ano a
Feira das Novidades promovida pela Confraria Queirosiana no primeiro domingo de
cada mês. Trata-se de uma iniciativa que visa apoiar os vendedores dos mais
diversos produtos que precisam de ganhar a vida e, ao mesmo tempo, proporcionar
aos frequentadores do Solar Condes de Resende uma tarde de domingo animada.
Em
virtude de a próxima Páscoa decorrer no primeiro domingo de abril, a próxima
feira, a título excecional, foi antecipada para o dia 29 de março.
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Eça
& Outras, IIIª. Série, n.º 77 – Quarta-feira, 25 de março de 2015
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email:queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral.
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