«A prestigiosa
estagnação»
Neste ano 125 da
publicação de Os Maias, o romance
cumpre como que uma maldição sobre o povo português, ao manter-se ainda mais
tipicamente certo do que quando foi escrito, pese aí o anacronismo da
constatação. No meio das dificuldades gerais, quando se pedem mudanças a sério,
tal como no tempo de Eça, o que vamos tendo são imposições tecnocráticas
avulsas, que já fizeram a desgraça de vários países ditadas, pelos banqueiros
internacionais e pelos seus capos lusitanos,
normalmente rapazes nascidos de modesta condição provinciana, que depois de
obterem o canudo, rapidamente chegaram
a lugares de topo na carreira política, passando pelo parlamento. Os atuais
deputados, na sua grande maioria, são licenciados em leis, e as que elaboram e
aprovam são de uma clareza e equilíbrio social que assombra o cidadão que tem
conviver com elas. Os exemplos abundam no Diário
da República e em livros normalmente grossos, onde é possível encontrar
para a mesma coisa vários sins e os seus contrários. A tal “diarreia
legislativa”, como a definiu um ilustre causídico.
Veja-se, por
exemplo, a lei sobre a limitação de mandatos e a jurisprudência que sobre ela vai
sendo produzida, não já pela Assembleia da República, como lhe devia ter
competido em devido tempo, mas agora pelos tribunais, desde o de comarca até ao
constitucional. Todos os interessados, por este ou aquele motivo, jogaram ao
faz de conta, quer se trate de velhos democratas instalados, quer de novos
candidatos, todos eles no fundo desejando que as indignações a clamar por
mudanças não mudem coisa nenhuma, a não ser o pensar-se que não estamos a mudar
nada do que quer que seja, uma mudança talhada à imobilidade de cada um. Parece
confuso mas não é.
Mas para não
pensarem que tenho qualquer preconceito contra a classe jurídica, mesmo quando
ela dá deputados, gostaria de informar que tal não é verdade, e mais que, se na
realidade é possível descortinar nas profissões dos dias de hoje alguns
princípios medievais de casta, nos advogados, nos diplomatas, nos médicos, nos
militares, nos estivadores e outras, eu sempre distingo as pessoas, os espíritos
ilustrados para além dessas outras condições, quantas vezes talhadas logo à
nascença, ou no colégio particular.
Para tal provar
permitam-me que lhes ofereça este belo trecho de sábia prosa que fui encontrar
na Revista da Confraria Eça-Dagobertiana
de Oeiras (Brasil), n.º 2, 2013, página 179, da autoria do meritíssimo juiz Dr.
Nazareno César Moreira Reis, que além de juiz federal pertence à Academia de
Letras da Confederação Valenciana, cujo título, pedido emprestado, encima esta
prosa:
«Haverá sempre
uma tentação para avaliar a atualidade da crítica de Eça, não apenas em relação
a Portugal, mas também ao Brasil e à sua vida intelectual, política e social.
Aqui também os ecos de Fradiques e Pachecos parecem ainda reboar, e quando se
discutem temas como Ciência, Educação, Política, Justiça, Economia, não são
poucas as ocasiões em que são lembradas as nossas promissoras condições
naturais, nossos grandes pensadores, nossos colossos teóricos, nosso futuro
auspicioso – que, no entanto, não vingam na prática.
E o marasmo daí
decorrente não é percebido como trágico, pois jamais se chega a formar um
consenso sério sobre a gravidade do problema; ao contrário, ele é assimilado –
nos momentos alegres das pequenas vitórias, por comemorações excessivas de
bufonaria; nas pequenas derrotas, pelas portas da zombaria e do escárnio; e,
nos momentos de funda tristeza, pela autocomiseração e falsa indignação
coletiva – e se replica em mil novas manifestações, num estéril jogo catártico
entre a algazarra, o deboche e a lamentação.»
Nada
mais verdadeiro, nada mais exato. E é triste a constatação de que transmitimos
pelo ADN esta nossa imutável maneira de ser aos brasileiros e nem a esperança
da miscigenação afro e ameríndia terá melhorado o fado. O Brasil, já de antes do
tempo de Eça que é para nós portugueses uma esperança, as mais das vezes material,
mas, que diabo, também física e mental para a regeneração dos viventes do Quinto
Império, se possível antes do século XXIII. Mas escrito assim tão lapidarmente
por aquele ilustre cidadão e ainda por cima homem de leis habituado a pesar a
debilidade humana e a chicoespertice lusa, tropical ou não, varre-se-me de todo
a esperança numa ideia de verdadeira mudança que me entretinha o alento.
É que, como já
escreveu Eça em Os Maias «… a
política em Portugal também se lançou na corrente realista. [Dantes] a política
era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrório…. Hoje é o facto positivo
– o dinheiro, o dinheiro! O bago! A massa! A rica massinha da nossa alma,
menino! O divino dinheiro! (Os Maias,
p. 579).
Por este andar,
o século XIX ainda vai continuar por muito tempo em Portugal. E no Brasil. Os
Maias continuarão pois a ser admirados à procura do seu próprio esconjuro. José
Rentes de Carvalho fez recentemente o funeral ao Carlos da Maia e ao Ega no seu
«O Rio Somos Nós» (Expresso), mas agora teremos de aturar os netos dos caseiros
do primeiro que entretanto subiram na política.
Esta prosa
também não saiu grande coisa, mas foi o que se pôde arranjar nestes dias de
trabalho estival, enquanto o povão se diverte. Felizes os néscios.
J. A. Gonçalves Guimarães
Livros,
Revistas e Jornadas
Vinda de Oeiras
– Piauí, Brasil, acaba de nos chegar às mãos o n.º 2 da Revista da Confraria Eça Dagobertiana, referente a 2013, recheado
de notícias das suas atividades, comunicações e colaborações dos seus
confrades, a qual, pela mão de Dagoberto Carvalho J.or, «confirma a
perenidade da audiência de Eça de Queiroz no Brasil e que resiste incólume à
passagem demolidora que o tempo, por vezes, tão injustamente provoca», como na
contracapa se cita do prefácio que A. Campos Matos escreveu para Eça de Queiroz e Machado de Assis: o Realismo de cada um, daquele
seu incansável divulgador no país irmão.
Entre o relato
de encontros, seminários, saraus, lançamentos de livros, comemorações, defesa
do património, a revista apresenta estudos sobre Os Maias, A Cidade e as Serras e
A Ilustre Casa de Ramires, e ainda artigos sobre o escritor português e seu
devoto seguidor e estudioso do Piauí, com a sua bibliografia aqui acrescentada
com vários artigos sobre a sua amada Oeiras, assim batizada há 250 anos em
homenagem ao Conde de Oeiras, depois Marquês de Pombal, por um seu irmão
governador do Grão Pará.
Eça na Tailândia
Em 2011 fez 500
anos que os portugueses chegaram à Tailândia (Rio de Sião). Em 1820 Portugal
foi o primeiro país ocidental a instalar aí uma missão diplomática. A 30 de
Março passado foi ali lançada, na Galeria Nacional de Banguecoque, a tradução
tailandesa de O Mandarim, feita pela
Dr.ª Pralom Boonrussamee e revista pelo Dr. Wirat Siriwatananawin.
Entre a centena
de convidados podiam ver-se entidades governamentais, corpo diplomático,
professores e alunos das universidades de Chulalongkorn e de Tammasat (onde se
ensina português) e descendentes de portugueses.
A edição foi
patrocinada pelo Instituto Português do Oriente, com sede em Macau, presidido
pelo Prof. Dr. António Vasconcelos de Saldanha, que esteve presente nesta
cerimónia, bem assim como o Embaixador de Portugal Lima Pimentel, que
apresentou uma síntese da biografia de Eça de Queirós como homem, escritor e
diplomatas.
(adaptado de José Martins/Maquiavelices. blogspot.com,
12 de julho 2013.
“ Eça Agora”
Com a publicação
de Introdução à leitura d’ Os Maias,
da autoria do nosso confrade Carlos Reis, completou-se ontem, dia 24 de Agosto,
a oferta pelo jornal Expresso da sua edição comemorativa dos 125 anos deste
romance, a qual, para além de mais uma reedição dessa obra em três volumes de
bolso, contou com a edição de outros de três com contos de seis escritores
atuais, que “prolongaram” aquela obra para além do romance original. Com este
sétimo volume final ficam os leitores apetrechados para uma nova releitura
deste clássico da Literatura Portuguesa Contemporânea.
Jornadas Europeias de
Património
No próximo dia
21 de Setembro decorrerão no Solar Condes de Resende as comemorações destas
jornadas, a partir das 15 horas, com a apresentação de vários projetos de
investigação que decorrem nesta instituição realizados pelos técnicos
superiores da Casa e pelos investigadores do Gabinete de História, Arqueologia
e Património da Confraria Queirosiana conforme o seguinte programa: Joaquim António Gonçalves Guimarães – “Património Gaiense: um ponto da situação
(a propósito do concurso das 7 Maravilhas de Gaia)”; António Manuel Silva – “O Castelo de Crestuma: notícia dos trabalhos de
2013”; António Sérgio dos Santos Pereira – “Acompanhamento
arqueológico da Rua Rei Ramiro”; Susana
Cristina Gomes Gonçalves Guimarães – “Aprestos e representações
equestres da Coleção Marciano Azuaga”;
Susana Maria Simões Moncóvio – “Francisco Pinto da Costa (1826-1869),
desfiar a memória”; Sílvia Alexandra
Monteiro dos Santos – “A indústria do vidro em Vila Nova de Gaia”; Maria de Fátima Teixeira – “Os
Pimenta da Fonseca e a Companhia de Fiação de Crestuma”; Licínio Manuel Moreira Santos – “As cooperativas em Vila Nova de
Gaia, dos finais de oitocentos ao advento da República”; Eva Cristina Ventura Baptista – “Biografia de Bernardo de Almeida
Lucas”; Teresa Campos dos Santos - "Quem foi Paulino Gonçalves ?: Estudo sobre o pintor gaiense (1869-1953)".
Este evento
assinala também os 25 anos de abertura do Solar Condes de Resende ao público,
que ocorreu a 20 de Setembro de 1988 para acolher o Congresso Internacional
sobre Bartolomeu Dias e a sua Época organizado pela Universidade do Porto com a
colaboração do Gabinete de História e Arqueologia e da Câmara Municipal de Vila
Nova de Gaia, o qual reuniu então aqui um considerável número de especialistas
mundiais em História da Expansão.
Outras
Escavações em Crestuma
Desde o dia 12
de Agosto prosseguem as escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma, as quais
decorrerão até ao dia 30, dirigidas pelos arqueólogos Gonçalves Guimarães e
António Manuel Silva, com uma equipa formada por jovens arqueólogos do Gabinete
de História, Arqueologia e Património tarefeiros no Solar Condes de Resende e
estudantes de arqueologia. Os trabalhos este ano incidem na encosta poente e
nos níveis elevados da praia de Favaios. No dia 22 de Setembro, aproveitando a
maré, haverá uma nova intervenção no cais romano que se encontra soterrado
naquela praia fluvial.
No passado dia
10, junto à entrada do Parque Botânico foi ali inaugurada a exposição
itinerante: «Castelo de Crestuma: a Arqueologia em busca da História», na qual
estiveram presentes César Oliveira, presidente da Assembleia Municipal, vários
vereadores, Nuno Oliveira, diretor do Parque Biológico, José Ferreira,
presidente da Junta de Freguesia de Crestuma e vários convidados, tendo na
ocasião os arqueólogos coordenadores do projeto referido os objetivos e os
apoios recebidos para a concretização e divulgação do mesmo. A exposição está
aberta todos os dias e no próximo dia 21 de Setembro, nas Jornadas Europeias de
Património, abrirá ao público no Solar Condes de Resende.
Feira de Gastronomia de
Vila do Conde
No passado dia 23 de Agosto abriu
ao público a 15.ª edição da Feira de Gastronomia de Vila do Conde, este ano
dedicada ao Pão.
Terra
queirosiana por excelência, como habitualmente, a Confraria fez-se representar
por vários confrades na cerimónia e no jantar de abertura que decorreu no
restaurante da Feira.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 60 – Domingo, 25 de Agosto
de 2013
Cte.
n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN: PT50001800005536505900154;
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vinhosdeeca.blogspot.com; academiaecadequeirós.blogspot.com; coordenação da
página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção:
Amélia Cabral; colaboração: Dagoberto Carvalho J.or.
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