O verbo eurroubar
Eurroubar! Faz istoalgum sentido? Não, não faz, mas também não será das coisas mais graves que nos últimos tempos não fazem sentido na Europa, onde se conjuga regularmente o verbo eurroubar no presente do indicativo, em nome da estabilidade de uns quantos à custa do desequilíbrio de todos.
Sobre a Europa do seu tempo, quando já então se caminhava a passos largos para os conflitos “inevitáveis” da primeira metade do século XX, escreveu Eça de Queirós: «A situação na Europa, na realidade, nunca deixou de ser medonha (…) A “crise” é a condição quase regular da Europa. E raro se tem apresentado momento em que um homem, derramando os olhos em redor, não julgue ver a máquina a desconjuntar-se, e tudo perecendo, mesmo o que é imperecível – a virtude e o espírito» (Notas Contemporâneas).
E noutro texto: «Não há, nunca houve Europa, no sentido que esta palavra tem em diplomacia. Há hoje um grande pinhal de Azambuja, onde rondam meliantes cobertos de ferro que se odeiam uns aos outros, tremem uns dos outros, e, por um acordo tácito, permitem que cada um por seu turno se adiante – e assalte algum pobre diabo que vegeta ou trabalha ao canto do seu cerrado (…). A Europa, como os campos de corridas em Inglaterra, devia estar coberta destes avisos em letras gordas: Bewareofpick-pokets! (Cautela com os salteadores!)» (Cartas de Inglaterra).
Muitos destes “salteadores” não eram eleitos, nem pelo voto universal, em que a abstenção sempre conta a favor dos eleitos, ainda que signifique maior número de cidadãos do que o total de votos dados ao “vencedor”, mas por outras formas de legitimação “em nome do povo”. E o que não se conseguia na mente dos cidadãos, impunha-se nos jogos de bastidores e lá estava sempre uma troika, um exército, uma polícia, ou uma política monetária para devolver aos eleitores os resultados da sua abstenção, que sempre tem permitido os “salteadores” governarem em seu nome. Esse distanciamento entre o real interesse dos povos e o dos governantes conduziu às várias guerras mundiais, continentais, regionais e locais, que se traduziram em mortandades incríveis e infames em todos os cenários e por todos os exércitos beligerantes. Começou - se já por toda a Europa a lembrar a estúpida carnificina da Iª Grande Guerra. Por aqui, ainda não. E hoje a Europa está tão parecida com a de 1913…
Vamos então para a guerra? Não o creio. Um século de reflexão serviu para alguma coisa. Se falhou a economia e a política, atividades hoje tão “profissionais” como os prestamistas e os cangalheiros, ouçamos ao menosos historiadores e os ambientalistas que têm dado algum bom senso ao mundo que nos rodeia: os primeiros ajudaram-nos a perceber o porquê das crises, dos conflitos, das faltas de inteligência coletiva a que ciclicamente estamos sujeitos; os segundos alertam-nos para que não queiramos ver outra vez dilacerados por armas e maquinaria de guerra os verdes prados ou as verdes colinas das nossas aldeias europeias onde queremos ir passear. Em muitas delas já existem cemitériosgigantescos. Não queremos mais. E também não queremos voltar a ver os monumentos destruídos e a nossa memória,naquilo que, apesar de tudo, tem de melhor, esventrada e reduzida a cinzas. Queremos que a Vénus de Milo volte a abraçar uma ideia boa de Europa, como a sonharam os portugueses Padre Himalaia e o economista Professor Francisco António Correia, esquecidos “avós” da atual União Europeia, que lhes devia pedir conselhos. Saberão os nossos “deputados europeus” quem foram e o que escreveram sobre o assunto. No locreo!
Voltemos ao nosso Eça: «E na Europa, como em qualquer espesso bosque, num fundo vale, um momento vem em que tudo decai e fenece… Ora estes tempos que vamos atravessando são o Outubro fresco que anuncia um dos grandes Dezembros do mundo. Temos já misérias, crises, dissoluções, velhas raízes que se despegam, prantos no vento; pior nos irá quando Dezembro vier: mas através de todas as vicissitudes sempre se conservará, como na Natureza, a eterna seiva, que é a eterna força» (Notas Contemporâneas).
Este ano não há Primavera; mas sabemos que, um dia, ela virá, como sempre. Talvez mais cedo se escutarmos os trabalhadores da Memória, os únicos que nos podem sossegar e prevenir contra os gordos vendedores das inevitabilidades, pois todos somos, pelo menos, tão imprescindíveis como os remadores das galés: pode haver muito chicote, mas os senhores do mundo não sabem remar nem estão para aí virados. Logo precisam de nós, nem que seja para manter o seu estúpido sistema à tona da água. E um dia viramos o barco e fazemos outro. Sempre foi assim.
Em 1913 estreou A Sagração da Primavera de Stravinsky: a esperança há-de pois um dia voltar. No nosso tempo, que é aquele que conta. E sem guerras, que as não queremos de todo. Já passamos essa fase da barbárie.
J. A. Gonçalves Guimarães
Centro cívico Eça de Queiroz
Em Leiria, junto à Rua da Tipografia onde habitou Eça de Queirós, quando percorreu o cenário que lhe inspirou O Crime do Padre Amaro, num terreno que até há pouco tinha casas velhas, ruínas, vegetação espontânea e gatos e ratos, a Câmara Municipal de Leiria construiu um moderno e funcional centro cívico Eça de Queiroz, o qual está entregue à gestão da associação cultural Sempre Audaz dirigida pela Prof.ª Helena Carvalhão.
Para além da evocação permanente do escritor, da sua passagem por Leiria e das personagens da sua ficção, o espaço amplo e polivalente acolhe já um conjunto de atividades lúdicas e culturais, desde teatro, dança, artes plásticas e organização de palestras e passeios, até aulas de inglês, geografia, filosofia, espiritualidade, literatura e história, servindo todos os públicos. Ainda numa fase de organização, o espaço tem potencialidades para uma dinâmica divulgação da vida, obra e época de Eça de Queirós nas quais a cidade de Leiria foi um marco incontornável.
FACEQ
A Faculdade Eça de Queirós é uma das várias instituições de ensino que pertencem à UNIESP, a universidade privada do Estado de S. Paulo, Brasil e fica localizada no município de Jandira na Grande São Paulo. Para além das muitas faculdades e colégios, este grupo de ensino tem ainda uma rádio e uma estação de TV e um Projeto Ambiental, entre outros grupos de trabalho.
Em funcionamento desde 2005, baseia a sua ação no «crescimento do ser humano por meio da educação, em especial da educação superior».
VIII FIS
Entre 21 e 23 de Fevereiro decorreu na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria o VIII Fórum Internacional de Sinologia, organizado pelo Instituto Português de Sinologia de que é presidente a Professora Doutora Ana Maria Amaro, nesta edição com a colaboração da autarquia local. Como nas anteriores estiveram presentes neste evento de renome mundial investigadores das universidades de Aveiro, Belgrado, Cambridge, Edimburgo, Estocolmo, Florença, Ghent, Hong Kong, Kyoto, Lisboa (Técnica; Nova; Católica), Lund, Madrid (Autónoma), Manchester, Moscovo, Paris (Diderot; Escola Prática de Altos Estudos), Praga (Charles); Yonsei, Würzburg, e ainda da Academia Chinesa das Ciências Sociais (Pequim), do Observatório da China (Lisboa), e da Academia Eça de Queirós (Vila Nova de Gaia), esta representada por J. A. Gonçalves Guimarães com a comunicação “Macau na Primeira Exposição Colonial Portuguesa – Porto, 1934. A viagem à China ao pé da porta». Foi também lançado o n.º 8 da Revista de Estudos Chineses – ZhongguoYanjiu, com o seu texto “A Representação dos Chineses na obra de Eça de Queirós” apresentado no VII Fórum que decorreu no Porto em 2012.
Douro 02
No passado dia 15 de Março no Museu do Vinho do Porto, na cidade do mesmo nome,foi lançado o número doisreferente a 2013, da revista Douro - Vinho, História e Património, propriedade da Associação Portuguesa de História da Vinha e do Vinho (APHVIN/GEHVID), em sessão dirigida pelo presidente do Instituto dos Vinhos do Porto e Douro, Dr. Manuel Novais Cabral, pelo presidente da direcção da APHVIN, Prof. Doutor António Barros Cardoso e pelo presidente da respectiva assembleia geral, Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva, nosso confrade. Entre os diversos artigos apresentados pela revista encontra-se «O Ermo de São Salvador do Mundo, santuário duriense» de J. A. Gonçalves Guimarães, que condensa os estudos sobre este imponente lugar de S. João da Pesqueira realizados pela equipa do Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR-CQ que aí dirigiu nas férias dos anos 2005 a 2008.
J. Rentes de Carvalho Mentiras & Diamantes
Para o próximo dia 17 de Abril, a tertúlia Comunidade de Leitores – Quadricultura, propõe a leitura e debate das seguintes obras de J. Rentes de Carvalho: Tempo Contado; Os lindos braços da Júlia da farmácia; Com os holandeses e Ernestina; ver blogue http://www.quartascomletras.blogspot.com. Entretanto o escritor regressou a Estevais do Mogadouro vindo de Amsterdam. Ena próximo dia 12 de Abril será lançado também em Lisboa o seu novo e inédito romance intitulado Mentiras & Diamantes, como sempre pela Quetzal.
Anabela Mimoso e a Sagração do Amor
No passado dia 1 de Março, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia, a escritora Anabela Mimoso lançou o seu mais recente romance intitulado A Sagração do Amor, Publicado pela Seixo Publishers.
Tango Argentino
Nos próximos dias 13 e 14 de Abril, sábado e domingo, entre as 15 e as 18 horas, decorrerá no Solar Condes de Resende um workshop de Tango Argentino ministrado pelos professores Alexandra Baldaque e Fernando Jorge, campeões da Europa da modalidade e participantes habituais dos concursos de Buenos Aires. A frequência implica prévia inscrição.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 55 – Segunda-feira, 25 de março de 2013
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www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.
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