Oh! Esta Sintra!
«… Não nego que seja uma linda vista. Mas por Deus! Ninguém se
lembra de habitar uma vista! (Eça de
Queiroz, carta para o Conde de Arnoso, 24.07.1895). O escritor terá passado por
aqui várias vezes ao longo da vida: se deixarmos de lado a sua ficção e alguns
testemunhos indiretos, que convém conferir com a biografia fatual, pela sua
correspondência confirma-se que aqui esteve, pelo menos, em Maio de 1887,
hospedado no Hotel Lawrence, e entre Julho e Outubro de 1895, na Vila Fontes
nos Castanhais (Cf. Eça de Queiroz Correspondência, org. de A. Campos Matos,
Caminho 2008). Na primeira data, depois de ter estado no Porto, na Quinta de
Santo Ovídio, onde lhe nasce o primeiro filho, Maria, ao mesmo tempo que
publica A Relíquia na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro e que nesse mesmo
mês de Maio é publicada em livro, enquanto recebe o passaporte para regressar
ao seu posto consular em Bristol, com a esposa e uma empregada. As cartas de
Sintra são enviadas ao editor Genelioux precisamente para tratar da promoção
editorial daquela obra.
Na segunda estadia documentada, Eça
regressara de Paris em Abril para passar férias com a família, hospedando-se no
Chiado e depois na Quinta dos Castanhais em Sintra, que sua mulher terá
detestado, por ser «toda em socalcos, descidas, precipícios (carta para Emília
de Castro, de 2 de Junho de 1898). Daí escreve ao Conde de Arnoso para que
interceda junto de D. Carlos para que o prazo do concurso para fornecimento de
cozinhas militares seja prolongado de modo a que o seu protegido, o inventor
Luís Serra, possa concorrer, assunto que repete em três cartas posteriores.
Escreve uma outra carta a Luís de Magalhães, remetendo-lhe parte do prometido
artigo para o livro em memória de Antero de Quental, e de que Eça exige rever
segundas provas «questão de pontos e vírgulas – mas essencial» e a quem se
queixa: «Eu tenho passado mal nesta Sintra, tão celebrada, e que é um poço de
humidade, e mesmo de melancolia». Uma outra carta é enviada a Carlos Roma du
Bocage pedindo-lhe para que no seu regresso a Portugal seja portador de um seu
«simples fato, de Verão, leve, de pouco volume – e um tímido par de botas, até
já usadas…», e de novo as queixas: «A nossa Sintra está desamável. De dia calor
violento; de noite nevoeiro formidável, entre o dia e a noite poeira pavorosa;
e tanto de noite como de dia, um[a] insipidez nocturna. Tais são os prazeres
deste Éden». E noutra das cartas. «O “lindo panorama” [Sintra] como animal
ressabiado deu-me outro coice. É verdade, amigo. Estive doente, com visita de
Lancastre [médico], e dois mil reis de botica. Agora, graças a Deus, estou
melhor…».
Para além destas cartas e do artigo
referido, Eça escreveu aqui muito mais prosa e reviu textos em vias de
publicação. Numa outra carta queixa-se de que «só dispunha desta folha de papel
e em Sintra não há papel!... Oh esta Sintra!». Tê-lo-á o escritor esgotado nos
estanqueiros locais?
Como podemos facilmente verificar a
Sintra da ficção queirosiana é completamente diferente da destes queixumes
pessoais. Para tal perceber recomendo a leitura de “Sintra na obra de Eça de
Queirós” de João Rodil, 2.ª edição, 2000, Câmara Municipal de Sintra, e também
das páginas que lhe são dedicadas em “Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz e
seus arredores”, de A. Campos Matos. Parceria A. M. Pereira, 2011. A Arte é
sempre para os outros e não para o artista. Nas suas obras de ficção Eça é como
Fradique Mendes, um «cidadão das cidades que visitava» que não se limitava a
«estuda[r] apenas o aéreo relevo dos monumentos e a roupagem das multidões»,
mas a dar vidas e enredos às paisagens e construções humanas adivinhando nelas
almas sôfregas de emoções que sintetizou em páginas admiráveis.
«Oh esta Sintra!... Oh esse Lord
Byron, que foi quem a lançou!»
exclama Eça ainda na primeira carta referida.
Sintra continuaria romântica nas
suas páginas e por certo para sempre. Eça viveu aqui o realismo de ter uma
família para manter e granjear um dinheirinho extra que o ajudasse a sustentar
o seu status. Não era um lorde à procura
de emoções e versos, mas sim um funcionário público e trabalhador intelectual a
tentar melhorar as suas condições de vida. Num tempo muito parecido com o
nosso, o de hoje. Perceberam?!
J. A. Gonçalves Guimarães
Ernestina publicado em
Itália
Acaba de ser publicado em Roma,
pela editora Cavallo di Ferro, com tradução de Valentina Giura, o romance
“Ernestina” de José Rentes de Carvalho.
Sobre a sua terra natal, escreveu
recentemente o autor: «A Gaia milenária onde nasci é segunda pele, feita de
recordações, momentos e imagens, filme de espectador único, mala de cartão que
levo por onde ando e não pesa. É a Gaia que não muda, que ninguém conseguirá
mudar, descobre-a quem sabe ver por detrás do fato novo». J. Rentes de Carvalho, «Vozes», blogue
Tempo Contado, 15 de Janeiro de 2013).
Póvoa de Varzim
No passado dia 2 de Fevereiro, no
Diana Bar, foi apresentado o livro de Antero Simões “O meu irónico e trágico
Eça de Queirós”, por Salvato Trigo, reitor da Universidade Fernando Pessoa. O
autor nasceu na Póvoa de Varzim em 1930 e tem vasta obra publicada sobre
Literatura portuguesa.
A 8 de Fevereiro, nas instalações
do Serviço de Turismo, foi inaugurada a exposição “Eça é que é essa – Eça de
Queirós, mostra colecionística propriedade do nosso confrade Paulo Sá Machado
(ver artigo publicado na Revista de
Portugal, nova série, n.º 1, Novembro de 2004, pp. 60-72, “Eça de Queiroz
no coleccionismo”).
César Oliveira
distinguido
No passado dia 4 de fevereiro
decorreu no Teatro Sá da Bandeira no Porto a gala anual do jornal Audiência, na
qual estiveram presentes diversos confrades queirosianos como convidados e como
galardoados com os troféus atribuídos por esta empresa de comunicação social
com interesses na imprensa, rádio, televisão e informedia regionais. Entre os
que receberam os troféus “Audiência” foi galardoado César Oliveira, presidente
da assembleia geral dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana e presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia que
recebeu o troféu “Dedicação”.
Helder de Carvalho
No passado dia 9 de fevereiro o
escultor Helder de Carvalho inaugurou na igreja matriz de Pombal de Ansiães
(Carrazeda de Ansiães) a exposição “Tua, do Ser ao Sentir”, com as suas mais
recentes produções artísticas, um conjunto de desenhos a carvão sobre aquela
paisagem que vai desaparecer, acompanhadas pela utilização artística de godos
daquele rio que irá deixar de correr. Esta exposição contou com um programa
paralelo de Turismo e Gastronomia que incluiu provas de vinhos e de produtos da
terra, visita a monumentos e participação no entrudo de Podence.
Prémio APOM
O catálogo da Colecção Egípcia da
Universidade do Porto da autoria do egiptólogo Luís Manuel de Araújo,
vice-presidente dos ASCR-CQ e comissário científico da sua exposição na
reitoria na Praça dos Leões no Porto, foi distinguido com o premio “Melhor
Catálogo” de 2012 pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM). A referida
exposição foi também uma das nomeadas para o prémio “Melhor Exposição do Ano”.
Aquele prémio, que distinguiu o saber e o trabalho do nosso confrade, foi
atribuído em sessão pública realizada no passado dia 14 de fevereiro no Museu
da Farmácia em Lisboa.
Jornada Queirosiana de
Sintra
No passado dia 16 de Fevereiro
decorreu em Sintra a Jornada Queirosiana, com o tema “O ensino de Eça e o gosto
pela Literatura”, organizada pela Câmara Municipal através do Gabinete de Apoio
à Vereação da Cultura. A sessão de abertura e a apresentação das comunicações
decorreram no Palácio Valenças. Na primeira falaram João Gabriel Rocha, da
equipa dos Roteiros, Paula Simões, vereadora da Cultura e o presidente da
autarquia Fernando Seara, estando presentes a comissão de honra formada pelo
Centro Cultural Eça de Queirós dos Olivais, representado pelo nosso confrade
Fernando Andrade Lemos; Centro de Estudos Literários e Literacia; Círculo Eça
de Queiroz; Confraria Queirosiana, representada pelo confrade Pereira
Gonçalves; Fundação Eça de Queirós; Grémio Literário e Prof. José Rodrigues dos
Santos.
Após a abertura, a centena de
visitantes inscritos dividiu-se em três grupos que percorreram outros tantos
percursos do Roteiro Queirosiano de Sintra.
Pela tarde, de novo no Palácio
Valenças, apresentaram comunicações Gonçalves Guimarães, mesário-mor da
Confraria Queirosiana, sobre “Roteiros queirosianos, da biografia à ficção
literária”, a que se seguiu Maria João Simões, docente da Universidade de
Coimbra, “Aprender com os estereótipos espaciais da ficção realista de Eça de Queiroz”;
A. Campos Matos, também confrade da Confraria Queirosiana, sobre “Eça de
Queiroz no Ensino Secundário”; e Edviges Ferreira, da Associação de Professores
de Português, e Isabel Alçada, ex-ministra da Educação e comissária do Plano
Nacional de Leitura, sobre “Despertar o gosto por Eça de Queirós”. As
comunicações foram seguidas com interesse pela assistência onde se encontravam,
entre outros, os confrades Luís Manuel de Araújo, Manuel Nogueira, Alda Barata
Salgueiro, para além dos já referidos.
No intervalo dos trabalhos foi
servido um Colares de honra, o vinho mais referido por Eça de Queirós na sua
obra. Todos os participantes foram unânimes na oportunidade e excelência desta
Jornada dinamizada pela vereadora Paula Simões e pela equipa dos Roteiros da
autarquia, tendo sido sugerido que, para além de outras ações de valorização do
Roteiro , se realize uma jornada anual idêntica a esta. As comunicações
apresentadas serão divulgadas na revista on-line Tritão, disponível em Julho próximo.
Os Maias, de novo no
TEP
No passado dia 18 de fevereiro o
Teatro Experimental do Porto apresentou em «ensaio aberto» à Comunicação Social
no Auditório Municipal de Gaia a adaptação teatral de “Os Maias” de Eça de
Queirós, com encenação de Gonçalo Amorim, destinado primordialmente ao público
escolar. A peça está em cena até 27 de Março. Na ocasião foi distribuída uma
brochura sobre as adaptações deste romance ao palco, com textos de Júlio Gago,
Gonçalo Amorim, Luiz Francisco Rebello e outros.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 54 – Segunda-feira, 25 de
fevereiro de 2013
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eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral.
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