segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013




Oh! Esta Sintra!


«… Não nego que seja uma linda vista. Mas por Deus! Ninguém se lembra de habitar uma vista! (Eça de Queiroz, carta para o Conde de Arnoso, 24.07.1895). O escritor terá passado por aqui várias vezes ao longo da vida: se deixarmos de lado a sua ficção e alguns testemunhos indiretos, que convém conferir com a biografia fatual, pela sua correspondência confirma-se que aqui esteve, pelo menos, em Maio de 1887, hospedado no Hotel Lawrence, e entre Julho e Outubro de 1895, na Vila Fontes nos Castanhais (Cf. Eça de Queiroz Correspondência, org. de A. Campos Matos, Caminho 2008). Na primeira data, depois de ter estado no Porto, na Quinta de Santo Ovídio, onde lhe nasce o primeiro filho, Maria, ao mesmo tempo que publica A Relíquia na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro e que nesse mesmo mês de Maio é publicada em livro, enquanto recebe o passaporte para regressar ao seu posto consular em Bristol, com a esposa e uma empregada. As cartas de Sintra são enviadas ao editor Genelioux precisamente para tratar da promoção editorial daquela obra.
Na segunda estadia documentada, Eça regressara de Paris em Abril para passar férias com a família, hospedando-se no Chiado e depois na Quinta dos Castanhais em Sintra, que sua mulher terá detestado, por ser «toda em socalcos, descidas, precipícios (carta para Emília de Castro, de 2 de Junho de 1898). Daí escreve ao Conde de Arnoso para que interceda junto de D. Carlos para que o prazo do concurso para fornecimento de cozinhas militares seja prolongado de modo a que o seu protegido, o inventor Luís Serra, possa concorrer, assunto que repete em três cartas posteriores. Escreve uma outra carta a Luís de Magalhães, remetendo-lhe parte do prometido artigo para o livro em memória de Antero de Quental, e de que Eça exige rever segundas provas «questão de pontos e vírgulas – mas essencial» e a quem se queixa: «Eu tenho passado mal nesta Sintra, tão celebrada, e que é um poço de humidade, e mesmo de melancolia». Uma outra carta é enviada a Carlos Roma du Bocage pedindo-lhe para que no seu regresso a Portugal seja portador de um seu «simples fato, de Verão, leve, de pouco volume – e um tímido par de botas, até já usadas…», e de novo as queixas: «A nossa Sintra está desamável. De dia calor violento; de noite nevoeiro formidável, entre o dia e a noite poeira pavorosa; e tanto de noite como de dia, um[a] insipidez nocturna. Tais são os prazeres deste Éden». E noutra das cartas. «O “lindo panorama” [Sintra] como animal ressabiado deu-me outro coice. É verdade, amigo. Estive doente, com visita de Lancastre [médico], e dois mil reis de botica. Agora, graças a Deus, estou melhor…».
Para além destas cartas e do artigo referido, Eça escreveu aqui muito mais prosa e reviu textos em vias de publicação. Numa outra carta queixa-se de que «só dispunha desta folha de papel e em Sintra não há papel!... Oh esta Sintra!». Tê-lo-á o escritor esgotado nos estanqueiros locais?
Como podemos facilmente verificar a Sintra da ficção queirosiana é completamente diferente da destes queixumes pessoais. Para tal perceber recomendo a leitura de “Sintra na obra de Eça de Queirós” de João Rodil, 2.ª edição, 2000, Câmara Municipal de Sintra, e também das páginas que lhe são dedicadas em “Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz e seus arredores”, de A. Campos Matos. Parceria A. M. Pereira, 2011. A Arte é sempre para os outros e não para o artista. Nas suas obras de ficção Eça é como Fradique Mendes, um «cidadão das cidades que visitava» que não se limitava a «estuda[r] apenas o aéreo relevo dos monumentos e a roupagem das multidões», mas a dar vidas e enredos às paisagens e construções humanas adivinhando nelas almas sôfregas de emoções que sintetizou em páginas admiráveis.
«Oh esta Sintra!... Oh esse Lord Byron, que foi quem a lançou!» exclama Eça ainda na primeira carta referida.
Sintra continuaria romântica nas suas páginas e por certo para sempre. Eça viveu aqui o realismo de ter uma família para manter e granjear um dinheirinho extra que o ajudasse a sustentar o seu status. Não era um lorde à procura de emoções e versos, mas sim um funcionário público e trabalhador intelectual a tentar melhorar as suas condições de vida. Num tempo muito parecido com o nosso, o de hoje. Perceberam?!

J. A. Gonçalves Guimarães


Ernestina publicado em Itália


Acaba de ser publicado em Roma, pela editora Cavallo di Ferro, com tradução de Valentina Giura, o romance “Ernestina” de José Rentes de Carvalho.
Sobre a sua terra natal, escreveu recentemente o autor: «A Gaia milenária onde nasci é segunda pele, feita de recordações, momentos e imagens, filme de espectador único, mala de cartão que levo por onde ando e não pesa. É a Gaia que não muda, que ninguém conseguirá mudar, descobre-a quem sabe ver por detrás do fato novo». J. Rentes de Carvalho, «Vozes», blogue Tempo Contado, 15 de Janeiro de 2013).



Póvoa de Varzim

No passado dia 2 de Fevereiro, no Diana Bar, foi apresentado o livro de Antero Simões “O meu irónico e trágico Eça de Queirós”, por Salvato Trigo, reitor da Universidade Fernando Pessoa. O autor nasceu na Póvoa de Varzim em 1930 e tem vasta obra publicada sobre Literatura portuguesa.
A 8 de Fevereiro, nas instalações do Serviço de Turismo, foi inaugurada a exposição “Eça é que é essa – Eça de Queirós, mostra colecionística propriedade do nosso confrade Paulo Sá Machado (ver artigo publicado na Revista de Portugal, nova série, n.º 1, Novembro de 2004, pp. 60-72, “Eça de Queiroz no coleccionismo”).

César Oliveira distinguido

No passado dia 4 de fevereiro decorreu no Teatro Sá da Bandeira no Porto a gala anual do jornal Audiência, na qual estiveram presentes diversos confrades queirosianos como convidados e como galardoados com os troféus atribuídos por esta empresa de comunicação social com interesses na imprensa, rádio, televisão e informedia regionais. Entre os que receberam os troféus “Audiência” foi galardoado César Oliveira, presidente da assembleia geral dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia que recebeu o troféu “Dedicação”.

Helder de Carvalho

No passado dia 9 de fevereiro o escultor Helder de Carvalho inaugurou na igreja matriz de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães) a exposição “Tua, do Ser ao Sentir”, com as suas mais recentes produções artísticas, um conjunto de desenhos a carvão sobre aquela paisagem que vai desaparecer, acompanhadas pela utilização artística de godos daquele rio que irá deixar de correr. Esta exposição contou com um programa paralelo de Turismo e Gastronomia que incluiu provas de vinhos e de produtos da terra, visita a monumentos e participação no entrudo de Podence.

Prémio APOM

O catálogo da Colecção Egípcia da Universidade do Porto da autoria do egiptólogo Luís Manuel de Araújo, vice-presidente dos ASCR-CQ e comissário científico da sua exposição na reitoria na Praça dos Leões no Porto, foi distinguido com o premio “Melhor Catálogo” de 2012 pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM). A referida exposição foi também uma das nomeadas para o prémio “Melhor Exposição do Ano”. Aquele prémio, que distinguiu o saber e o trabalho do nosso confrade, foi atribuído em sessão pública realizada no passado dia 14 de fevereiro no Museu da Farmácia em Lisboa.

Jornada Queirosiana de Sintra

No passado dia 16 de Fevereiro decorreu em Sintra a Jornada Queirosiana, com o tema “O ensino de Eça e o gosto pela Literatura”, organizada pela Câmara Municipal através do Gabinete de Apoio à Vereação da Cultura. A sessão de abertura e a apresentação das comunicações decorreram no Palácio Valenças. Na primeira falaram João Gabriel Rocha, da equipa dos Roteiros, Paula Simões, vereadora da Cultura e o presidente da autarquia Fernando Seara, estando presentes a comissão de honra formada pelo Centro Cultural Eça de Queirós dos Olivais, representado pelo nosso confrade Fernando Andrade Lemos; Centro de Estudos Literários e Literacia; Círculo Eça de Queiroz; Confraria Queirosiana, representada pelo confrade Pereira Gonçalves; Fundação Eça de Queirós; Grémio Literário e Prof. José Rodrigues dos Santos.
Após a abertura, a centena de visitantes inscritos dividiu-se em três grupos que percorreram outros tantos percursos do Roteiro Queirosiano de Sintra.
Pela tarde, de novo no Palácio Valenças, apresentaram comunicações Gonçalves Guimarães, mesário-mor da Confraria Queirosiana, sobre “Roteiros queirosianos, da biografia à ficção literária”, a que se seguiu Maria João Simões, docente da Universidade de Coimbra, “Aprender com os estereótipos espaciais da ficção realista de Eça de Queiroz”; A. Campos Matos, também confrade da Confraria Queirosiana, sobre “Eça de Queiroz no Ensino Secundário”; e Edviges Ferreira, da Associação de Professores de Português, e Isabel Alçada, ex-ministra da Educação e comissária do Plano Nacional de Leitura, sobre “Despertar o gosto por Eça de Queirós”. As comunicações foram seguidas com interesse pela assistência onde se encontravam, entre outros, os confrades Luís Manuel de Araújo, Manuel Nogueira, Alda Barata Salgueiro, para além dos já referidos.
No intervalo dos trabalhos foi servido um Colares de honra, o vinho mais referido por Eça de Queirós na sua obra. Todos os participantes foram unânimes na oportunidade e excelência desta Jornada dinamizada pela vereadora Paula Simões e pela equipa dos Roteiros da autarquia, tendo sido sugerido que, para além de outras ações de valorização do Roteiro , se realize uma jornada anual idêntica a esta. As comunicações apresentadas serão divulgadas na revista on-line Tritão, disponível em Julho próximo.


Os Maias, de novo no TEP



No passado dia 18 de fevereiro o Teatro Experimental do Porto apresentou em «ensaio aberto» à Comunicação Social no Auditório Municipal de Gaia a adaptação teatral de “Os Maias” de Eça de Queirós, com encenação de Gonçalo Amorim, destinado primordialmente ao público escolar. A peça está em cena até 27 de Março. Na ocasião foi distribuída uma brochura sobre as adaptações deste romance ao palco, com textos de Júlio Gago, Gonçalo Amorim, Luiz Francisco Rebello e outros.





Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 54 – Segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
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