quarta-feira, 25 de julho de 2012

Eça & Outras


Bom nome na praça

Como qualquer cidadão acho que posso escolher duas formas extremas de vida social: uma delas é refugiar-me numa gruta qualquer, num fojo, numa furna, num monte da raia, e viver por ali a falar com as árvores, as pedras, as nuvens e os gafanhotos, comendo bolotas, roubando nas redondezas a fruta que ninguém colhe, acertando com o cacete numa lebre, conseguindo um isqueiro de turistas à procura de emoções fortes, acamaradando de vez em quando com os pastores que ainda por ali guardam rebanhos sonhando um dia virem a ser reis de povos e não apenas de cabras.
Ninguém se importará muito com isso, os amigos acabarão por me apagar do facebook, o SNS das listas de utentes, as Finanças remeter-me-ão para os insolventes, a Servilusa insistirá com a PJ para procurar o meu adiado cadáver e, se tiver a circunstância de encontrar algum jornalista desesperado à procura de uma “matéria”, poderei conseguir uns cobertores novos e limpos, a troco de dar uma entrevista televisiva, ou participar, tosco e fedorento, num daqueles talk shows para velhinhos gagás internados em lares, ou, oh lá lá! num programa mais erudito, com senhores muito finos engravatados ou demoiselles com um sorriso deslumbrante qual teclado de cravo mozartiano sem teclas pretas. Nessa solidão poderei cometer, em imaginação, crimes nefandos: assassinar um profeta, matar mais 100.000 iraquianos do que os que foram mortos na segunda guerra do Golfo, fornicar com rainhas ou princesas à escolha, assaltar o BIC, desviar um dos novos submarinos da base do Alfeite, conseguir um contrato para fazer campos de golfe no Gerês ao lado do casarão do Senhor Comendador Ronaldo, eu sei lá que mais. Só sei – porque a História o ensina – que a solidão e a falta de convívio humano se prestam às mais torpes, mas também às mais angélicas, fantasias da mente humana. E uma louca imaginação pode bombardear o Pentágono, arrombar a barragem de Assuão, meter políticos em Guantánamo, permitir o Alberto João duplicar a divida, eu sei lá que mais, chega, chega, senão fico agoniado ao imaginar sequer tanta maldade, como o Diabo da peça “O Concílio do Amor” de Oskar Panizza. Mas por este delírio, desde que resolvido nos limites da imaginação, ainda que verbalizado, ninguém pedirá contas, dirão que são coisas de louco, e, no máximo, condená-lo-ão, não pelas hipotéticas ações imaginadas, mas, por acharem que pode ter prazer em imaginá-las. Será condenado por “pecar em pensamento”, o que, segundo creio, por cá ainda não está previsto no Código Penal. Mas, afinal, não é isto que fazem os literatos? Inventam histórias e depois matam as personagens a seu bel-prazer. Continuemos.
Outra forma de vida mais vulgar é a de viver em sociedade organizada, com multidões de gentes controladas por instituições, desde as internacionais, ONU, OMS, Vaticano, Troika, empresas petrolíferas, Macintosh, EDP – passando pelas nacionais – governos, partidos, ligas, meias e colants do futebol, bancos, PPP – até às locais – governos, partidos, ligas, meias e colants do futebol, bancos, PPP, liga anti-tourada, hipermercados, repartição das finanças, etc, etc.
Neste caso o cidadão, em vez de se dar a delírios e fantasias, tem de estar ao corrente das ideologias, e propostas dominantes, esquiar pelo meio delas como um atleta de ski no slalon gigante, para contornar os obstáculos e escolher três vias: a do jogo limpo, a do deixa andar – alguém me dirá o que devo fazer – ou a do “chico esperto”, o vale tudo para passar à frente dos outros ou de qualquer coisa. O problema será o de ter e manter “bom nome na praça”. E isso só se consegue de três maneiras: ou arranjando uma seita de adeptos e encobridores que, faça o iluminado o que fizer de mal que eles rasgarão as vestes e arrepelarão os cabelos em defesa da sua inocência; ou tendo muito dinheiro para pagar a uma agência de rating, ou sei lá mais de quê, que se encarregará de promover a imagem do dito para além de todas as ficções; ou simplesmente trabalhando, e fazendo pela vida com mais ou menos sucesso, embora correndo o risco de ser apelidado de idiota pelos seus concidadãos.
No primeiro caso estou a lembrar-me dos pedófilos encobertos pelas instituições, no segundo de gente muito conhecida nos media vá-se lá saber porquê, ou que até será melhor nem sabermos, e no terceiro de você e eu, duas pessoas que eles acham que não contam. Mas não é verdade. Eles que esperem quando o nosso “deixa andar” nos enfastiar de vez e passe a desandar a nosso favor, a favor daqueles que se esforçam pela vida.
Eça de Queirós escreveu há muito tempo que «…entre nós, a mentira é um hábito público. Mente o homem, a política, a ciência, o orçamento, a imprensa, os versos, os sermões, a arte, e o País é todo ele uma grande consciência falsa. Vem tudo da educação» (Uma Campanha Alegre, 1890). Talvez por isso haja tão pouca gente com “bom-nome na praça”, educados que temos sido através de mentiras oficiais e particulares, públicas e privadas.
Por isso meu caro leitor, pense nessa questão do “bom-nome na praça” e procure saber o que é isso na realidade, o que é que isso quer dizer. Talvez valha a pena. Depois decida-se: ou vai viver solitário para os montes e desliga de tudo o resto, ou aguenta e vai a lendo o Eça. Está lá tudo.

J. A. Gonçalves Guimarães

Livros e textos

Fernando Peixoto

No passado dia 9 de Julho no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, com o seu auditório repleto de gente ligada aos setores vinícola e académico, além de muitos amigos e familiares, foi lançada a tese de doutoramento de Fernando Peixoto, nosso falecido confrade, intitulada “Do corporativismo ao modelo interprofissional. O Instituto do Vinho do Porto e a evolução do setor do Vinho do Porto (1933-1995)”, na ocasião apresentada pelo seu co-orientador Gaspar Martins Pereira, que na mesma sessão apresentou também uma outra tese de doutoramento de Carla Sequeira intitulada “O Alto Douro entre o livre-cambismo e o proteccionismo”, defendida na mesma faculdade.



Contra a Obesidade




A Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas (FPCG), na qual está filiada a Confraria Queirosiana, acaba de lançar o simples, útil, agradável, benemérito e mais não sei quanto de bons adjetivos, o livro “Gastronomia Portuguesa contra a Obesidade”, com direção da presidente Madalena Carrito e uma equipa cientifica composta por Ana Rito, Carlos Ramos, Maria Ana Carvalho, Ana Lúcia Marcelino e Luís Lavrador. A obra teve o apoio da Universidade Atlântica e da Direção Geral de Saúde.


Notícias

Concerto na Fundação

Hoje 25 de Julho há concerto na Fundação Eça de Queirós na Quinta de Vila Nova, Santa Cruz do Douro, Baião, atuando a Orquestra do Norte sob a direção de Fernando Marinho e tendo como solista o oboé Russell Tyler.
A Fundação teve como co-fundadores, além de empresas privadas, os municípios de Amarante, Baião, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Sintra e Vila Nova de Gaia, sendo esta iniciativa patrocinada pela Câmara de Baião e pelo Secretário de Estado da Cultura.

Confraria Eça-Dagobertiana

No passado dia 21 de Julho a Confraria Eça-Dagobertiana de Oeiras de Piauí (Brasil) realizou o seu XI Encontro Lítero-gastronómico onde foram apresentas as obras “A Cidade e as Serras” de Eça de Queirós, pela Prof.ª Cassi Neiva e “A Boa Mesa de Eça de Queiroz” de Dagoberto Carvalho J.or, por Ana Maria Maranhão Helaias.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 47 – Quarta-feira, 25 de Julho de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email:queirosiana@gmail.com; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638);
redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

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