Novidades? Novidades… não há!
A 28 de Junho de 1849 (já lá vão mais de 161 anos!) o jovem deputado Fontes Pereira de Melo fazia o seguinte discurso na Câmara dos Deputados (antepassada da actual Assembleia da República):
«Se o Governo entende que não é possível organizar a fazenda pública senão cortando aos empregados e aumentando os tributos, então Sr. Presidente, parece-me que nunca se há-de resolver a questão da fazenda. Estou convencido que Sua Ex.ª o Sr. Ministro da Fazenda, sabe que há fontes de riqueza nacional muitíssimo importantes e de onde se podem retirar muitos recursos. E logo, a que vem dizer-se que estamos à borda de um abismo?
Não estamos à borda de um abismo e não diz que estava à borda de um abismo senão quem não sabe dirigir as coisas; só o diz quem não sabe do País metade; há muitas riquezas nacionais que se podem desenvolver e fazer prosperar e eu não posso admitir que qualquer ministro da Fazenda diga que estamos à borda do abismo.
Não estamos, Sr. Presidente, há salvação para tudo!».
Era então Costa Cabral presidente do governo, um dos muitos «salvadores da pátria» que Portugal já teve, tem e pelos vistos há-de continuar a ter até que uma nova geração de gente limpa de mente se agarre ao trabalho, à inteligência e ao saber fazer. O resto é retórica para entreter a nossa cíclica desgraça.
Alguém por acaso sabe de cor como se chama o presidente da república da Suíça? E o primeiro-ministro da Noruega? Suponho que os suíços e os noruegueses o saibam e também supomos que lhes estão agradecidos por governarem bem aqueles países onde não se cortam os salários a uma parte da função pública, enquanto o Estado gasta dinheiro a encobrir ou a amenizar a péssima ou mesmo miserável gestão da coisa pública. E, como vemos, já assim foi em 1849. Hoje, ainda sabemos quem foi Fontes Pereira de Melo, curiosamente então alcunhado de “cavaquinho”, e o que fez pelo país. Escapou-lhe, não soube, ou não pôde melhorar “a raça”, como então se dizia, falando de burros ou de pessoas, com Vossa licença!
Algumas décadas depois, quando já também o fontismo tinha passado, escrevia Eça de Queirós nas Notas Contemporâneas: «No nosso canto, com a azulada doçura do nosso céu carinhoso, a contente simplicidade da nossa natureza meio árabe (duas máximas condições para a felicidade na ordem social), nós temos, ao que parece, todas as enfermidades da Europa, em proporções várias – desde o deficit até esse novo partido anarquista que cabe todo num banco da Avenida. E desgraçadamente, além destes males, uns nascidos do nosso temperamento, outros traduzidos do francês, morremos a mais de outro mal, todo nosso, e que a Grécia, menos intensamente, partilha connosco: - é que, enquanto contra as tormentas sociais nas outras naus se trabalha, na nossa rota e rasa caravela tagarela-se! Tagarela-se num desabalado fluxo labial, cuja qualidade, desde 1820, não tem deixado de decair, da eloquência degenerando na loquacidade – da verbosidade descambando na verborreia!».
Alguém sabe como se chama o primeiro ministro do Luxemburgo? E o chefe de estado da Nova Zelândia? Mas sabemos que ainda há países felizes no planeta. Não têm é «salvadores da pátria» ao virar de cada esquina, mas apenas gente que trabalha e que não se apropria do trabalho alheio em proveito de si ou do seu grupo de interesses.
Algum dia teremos redenção?
J. A. Gonçalves Guimarães
No passado dia 19 de Janeiro quando se encontrava em Salamanca à hora do jantar faleceu de doença súbita o nosso Confrade e Amigo Nelson Joaquim Sousa Silva Cardoso, sócio fundador dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, sócio de Honra com o grau de Mecenas, presidente do Conselho Fiscal e ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral.
Na última década foi administrador e presidente da Gaianima EEM, a empresa municipal que faz a gestão do Solar Condes de Resende, da Casa-Museu Teixeira Lopes, da Biblioteca Municipal de Gaia, do Auditório Municipal, do Mosteiro de Corpus Christi, e ainda de diversos equipamentos desportivos. Era também vereador da Câmara de Matosinhos desde 2002.
Desde sempre ligado à gestão de projectos na área da Cultura e do Desporto, muitos o recordarão como delegado do FAOJ no Porto e o apoio que então deu, entre muitas outras acções, às escavações arqueológicas na Serra da Aboboreira em Baião através do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto (GEAP) que editou a revista Arqueologia.
Grande Amigo e animador da Confraria Queirosiana, sempre presente nas suas realizações, acarinhava e perspectivava todos os projectos que valerão em termos de futuro.
A Confraria perdeu assim um Amigo e um activista de realizações culturais vivas, sólidas, consistentes e sustentáveis. A melhor homenagem que a associação lhe pode prestar é continuar a desenvolver todos os projectos que mereceram a sua empenhada atenção e concretizá-los com sucesso, como acontecia com tudo aquilo em que era o capitão da barca que navegava, ainda que por entre procelas e baixios, mas que sempre levava a bom porto.
O seu funeral, que decorreu no passado dia 22 de Janeiro da igreja da Sr.ª da Hora para o cemitério de Custóias, constituiu uma enorme manifestação de pesar na qual se incorporaram autarcas de Gaia, Matosinhos, Porto e Marco de Canaveses, deputados europeus, nacionais e locais de vários quadrantes políticos, muitos funcionários autárquicos e dirigentes associativos, e também muitos amigos e confrades da Confraria Queirosiana que acompanharam o féretro até à sepultura.
Há homens e mulheres que não querem morrer sentados ao canto da lareira: Nelson Cardoso era com certeza um desses. Partiu no seu posto de homem activo e interveniente, no trabalho, na cidadania, nos afectos que cumpria com firmeza, e com a elegância de uma ironia algo queirosiana. Deixou-nos um vazio muito grande onde agora a sua memória e o seu exemplo se expandem como a luz do luar pelas praias de Matosinhos e Gaia, nos dias em que sempre assim as veremos.
Carlos Reis entrevistado
No n.º 130 de 3 de Outubro passado o jornal Notícias de Colmeias (Leiria) publicou uma extensa entrevista com o Professor Doutor Carlos Reis, ilustre queirosiano, Reitor da Universidade Aberta e homem da cultura lusófona no Mundo, do qual dá também uma breve biografia. Entre muitos outros pensamentos com pertinente actualidade, afirmou este professor de Coimbra: «Eça foi um dos maiores portugueses de sempre: um homem que amou o seu país sem ter de escrever odes sobre ele; que conheceu Portugal e os portugueses como poucos; que reinventou a língua portuguesa; que teve a coragem de cultivar a ironia e o humor num país cinzento. Tudo isto e ainda um precursor: a nossa modernidade literária (incluindo alguns aspectos do super-modernista Fernando Pessoa) está prenunciada em Eça… Portugal não seria o que é sem Eça. Ou seja: nunca conheceremos suficientemente o país, se não lermos quem tão bem descreveu e caracterizou a gente, a terra e a sociedade portuguesas». E, mais abaixo, pergunta: «Que é feito dos valores da honradez, da seriedade, da lealdade, da justiça e do bom gosto? Talvez por isso algumas grandes empresas (infelizmente não ainda em Portugal) começam a incorporar nos seus quadros pessoas com formação humanista… Mas não há como ignorar: o eterno provincianismo português está rendido à ideologia da tecnologia…».
Confluência queirosiana
Já em 2009 a Confraria Queirosiana tinha proposto a criação de um secretariado permanente das instituições queirosianas portuguesas e brasileiras, o qual englobasse, para além da proponente, o Grémio Literário (Lisboa) a Biblioteca Pública da Póvoa de Varzim, o Círculo Eça de Queirós (Lisboa) a Sociedade Eça de Queirós do Recife (Brasil) a Fundação Eça de Queirós (Baião) e, eventualmente, alguma outra existente e cuja actividade se ignora, pois não faz sentido que as instituições com o mesmo patrono trabalhem cada uma para seu lado.
Recentemente, em Dezembro do ano passado, o Círculo Eça de Queirós, o Grémio Literário, o Centro Nacional de Cultura e a Fundação Eça de Queirós, «decidiram associar-se para promover a divulgação e reflexão sobre a vida e obra de Eça de Queirós, que pelo seu sentido crítico, ironia e poder de análise social continua a ser um escritor da actualidade». Para tal organizaram um debate seguido de jantar a 10 de Janeiro passado com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino, tendo como moderador António Barreto. Neste ciclo haverá ainda mais quatro jantares queirosianos com alguns outros palestrantes.
É, sem divida, um primeiro e importante passo de convergência queirosiana que, para além do seu interesse imediato, pode vir a ter importantes reflexos futuros na difusão da Cultura Portuguesa entre nós e também um pouco por todo o mundo.
Eça e a Imprensa inglesa
No próximo dia 31 de Janeiro, pelas 18.30 horas, Teresa Pinto Coelho, professora da Universidade Nova de Lisboa, fará na biblioteca do Grémio Literário a apresentação do seu livro “Londres em Paris: Eça de Queirós e a Imprensa Inglesa” das Edições Colibri. A obra será apresentada por Teresa Buescu da Universidade de Lisboa e por Tom Earl da Universidade de Oxford, a que se seguirá uma mesa redonda.
Camilo e Eça
No Jornal de Letras de 12 de Janeiro passado a Professora Doutora Beatriz Berrini, a maior especialista brasileira em Eça de Queirós dá conta da sua descoberta em 1986 em S. Paulo (Brasil) de 111 cartas inéditas de Camilo ao visconde de Ouguela, para as quais ainda não encontrou editor! De entre elas publica neste número do JL duas cartas em que Camilo se refere a Eça de Queirós. Na primeira afirma: «Já te disse que gostei do Primo Basílio…. O autor… mediu bem a extensão do espírito português. Dá-lhe o cenário competente, e os personagens indígenas. Pouco importa que Flaubert os tenha análogos».
Na segunda: «Este livro [O Crime do Padre Amaro] seria quase perfeito, se o Eça conhecesse a língua um pouco estofada e gordurosa de Frei Luís de Sousa».
Enfim, sobre os dois grandes escritores estamos ainda muito longe de estar tudo dito.
Eça de Queirós em S. Paulo, Brasil
Está a ser preparada uma exposição internacional sobre Eça de Queirós em S. Paulo, Brasil, comissariada pelo arquitecto A. Campos Matos e com o apoio de diversas instituições portuguesas que para a mesma disponibilizaram documentos, iconografia e objectos que pertenceram ao escritor.
Esta exposição no grande país lusófono que tanto aprecia Eça de Queirós marcará com certeza o ano cultural.
Unidades Termais
No próximo dia 31 de Janeiro decorrerá no Complexo Termal do Luso a sessão de encerramento do projecto-piloto e de lançamento da obra “Uma abordagem Sistémica à Prevenção e Segurança no Trabalho em Unidades Termais” da autoria do confrade queirosiano Prof. Doutor Eng.º Fernando Manuel P. J. Silva. A participação é gratuita mas obriga a inscrição prévia obrigatória em ceties.poat@gmail.com.
Rocha Peixoto no Solar
No próximo dia 5 de Fevereiro, pelas 17.30 horas é inaugurada no Solar Condes de Resende a exposição itinerante organizada pela Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim sobre o centenário de Rocha Peixoto, o etnógrafo poveiro que foi também o último secretário da Revista de Portugal editada por Eça de Queirós.
Na ocasião será ainda apresentado o mais recente número do Boletim Cultural da Póvoa de Varzim pela sua directora Dr.ª Maria da Conceição Nogueira.
Exposição de Pintura
No próximo dia 10 de Fevereiro no Espaço PT Tenente Valadim, na cidade do Porto, pelas 18 horas, abre ao público uma exposição de Paisagens e Retratos do confrade queirosiano Major Simões Duarte, a qual estará aí patente até 28 de Fevereiro entre as 10 e as 18 horas.
Café queirosiano
Sim, gostaria de ir tomar café com:
Domingos A. Moreira, o pároco de Pigeiros especialista em Toponímia, tão humilde quanto sábio, tão ignorado quanto imprescindível e que nos deixou recentemente; Uderzo, co-autor com Gosciny do Asterix e que o fisco francês resolveu, agora, incomodar; Zahi Hawas, o arqueólogo que interrompeu o saque do Egipto pelas universidades estrangeiras.
Não, não gostaria de tomar café com:
Ben Ali, o ex-presidente da Tunísia corrido pelos tunisinos; José Lello, porque a água da torneira é boa para os eleitores que o elegeram.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 26 – Terça-feira, 25 de Janeiro de 2011
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; colaboração: Nuno Resende; inserção: Amélia Cabral.
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