segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Eça & Outras

Bicentenário da Revolução de 1820

        
        No mesmo dia 12 de outubro em que o atual governo entregou na Assembleia da República o orçamento para 2022, escassas horas antes, pelas 17 horas, decorreu na sala do senado a abertura solene do Congresso Internacional do Bicentenário da Revolução de 1820, adiado desde agosto do ano passado devido à pandemia. A sessão foi aberta pelo Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, que deu as boas-vindas aos congressistas, seguindo-se no uso da palavra o Presidente das Comemorações do Bicentenário do Constitucionalismo Português, Guilherme de Oliveira Martins, a Presidente da Comissão Organizadora deste congresso, Maria Halpern Pereira, tendo o discurso de encerramento sido proferido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que lembrou que, passados duzentos anos, alguns dos ideais vintistas ainda são objetivos para os dias de hoje.

         Mas os trabalhos já tinham começado pela manhã em duas salas de reuniões do Palácio de S. Bento, abrindo assim um extenso programa, distribuído pelos seguintes temas: as revoluções na América do Sul; as revoluções na Europa do Sul; cortes e constituição; cultura e redes políticas de exílio; economia e finanças públicas; educação, cultura e ciência; estado e poderes periféricos; estado, igreja e religo; ideologias e correntes de pensamento político; indivíduos, grupos e movimentos sociais; linguagens, representações e opinião pública; nação e império; processo político: revolução e contrarrevolução, os quais viriam a ser desenvolvidos por dezenas de investigadores vindos de Portugal, da Europa e da América do Sul de muitas universidades e outras instituições académicas, para além de investigadores a título individual. Estiveram presentes representantes de: Agrupamento de Escolas de Vila Verde; Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Gabinete de História, Arqueologia e Património); Athens School of Fine Arts, (Department of Theory and History of Art); British School at Athens; Centro Universitário de Brasília; École Pratique des Hautes Études; Escola Superior de Educação do Porto; Hemeroteca Municipal de Lisboa; Instituto Politécnico de Bragança; Instituto Politécnico de Leiria; Instituto Politécnico de Viseu; Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE); Ministério das Relações Exteriores do Brasil; Northumbria University; Queen Mary University of London; Universidad Autónoma de Madrid; Universidad Complutense de Madrid; Universidad de la República (Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación); Universidad de La Rioja; Universidad de Sevilla; Universidad del País Vasco/ Euskal Herido Unibersitatea; Universidad Nacional de Educación a Distancia; Universidade Católica de Pernambuco; Universidade Católica Portuguesa; Universidade da Madeira (Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais); Universidade de Aveiro; Universidade de Coimbra (Faculdade de Letras, CEIS20; Centro de História da Sociedade e da Cultura; Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos); Universidade de Évora (CIDEHUS); Universidade de Lisboa (Faculdade de Letras, CLEPUL; Instituto de Ciências Sociais; Centro de História; Centro de Estudos Anglísticos, Instituto de Educação); Universidade de São Paulo (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas); Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Universidade do Minho; Universidade do Porto (Faculdade de Letras, CITCEM); Universidade dos Açores; Universidade Estadual de Londrina; Universidade Estadual do Maranhão; Universidade Federal de Juiz de Fora; Universidade Federal de Ouro Preto; Universidade Federal de São Paulo (Departamento de História); Universidade Federal do Espírito Santo; Universidade Federal Fluminense; Universidade Nova de Lisboa (Centro de Estudos de História Religiosa; Centro de Humanidades; Centro de I&D sobre Direito e Sociedade; Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH; FCSI; Faculdade de Direito; IHC); Universidade Pablo de Olavide; Università di Pisa (Dipartiment di Civiltà e Forme del Sapere); Universitat de Barcelona; Universitat de València; Universitat Rovira i Virgili.

         Destas instituições vieram nomes consagrados da historiografia nacional e internacional, mas também muitos jovens investigadores que revisitaram os temas propostos ou trouxeram novidades esquecidas nos arcanos da História sobre uma realidade por nós ainda hoje vivida, e desejada noutras latitudes geográficas e ideológicas: a responsabilidade individual e coletiva vivida numa liberdade convencionada, consentida e consensualizada. O autor destas linhas, no dia 12 na Fundação Calouste Gulbenkian, numa sessão coordenada pelos professores Jorge Fernandes Alves e Viriato Capela, recordou na comunicação «Os negociantes da praça do Porto e a Revolução de 1820» que a mesma não foi levada a cabo apenas por jurisconsultos e militares, mas também pelos representantes das forças produtivas da região, os armadores-negociantes que se iniciavam então na indústria. No dia 13 o congresso encerrou com uma mesa redonda que teve a participação de Miriam Halpern Pereira, Gabriel Paquette e Guilherme d’ Oliveira Martins, dissertando sobre «O Antigo Regime em questão: continuidades e mudança».

         Eça de Queirós, de certo modo ele próprio imbuído do perdurar dos valores vintistas – seu pai nasceu no Rio de Janeiro, onde seu avô se encontrava ao serviço da Corte de D. João VI, o qual em 1828, já em Portugal, viria a ser o mentor da revolta de Aveiro e depois do Porto contra o absolutismo miguelista, o que levou a que fosse condenado à morte, felizmente não concretizada – ainda muito jovem escreveu: «As revoluções sociais são revoluções de princípios: é a antiga luta da luz com a sombra, e de Deus com Satã; é a liberdade que quer expulsar o privilégio; a razão que quer expulsar o preconceito; a justiça que quer substituir o arbitrário; a lei que pretende excluir a vontade. É uma nobilíssima luta em que vêm para a arena os grandes sentimentos, as fecundas dedicações, as nobres esperanças e os santos heroísmos. Pretende-se então reformar. Pretende-se extinguir o sofrimento social causado pela política deplorável dos herdeiros das tradições: pretende-se que todos tenham a igualdade, a abundância, o bem-estar, o trabalho livre, a propriedade respeitada. Pretende-se enfim aquele decálogo social que é o evangelho da democracia moderna, como foi outrora o código da velha liberdade. Código austero então; doce evangelho hoje!» (Eça de Queirós, Distrito de Évora, 1867).

As atas deste congresso deverão aparecer em tempo breve ficando assim uma memória criativa deste bicentenário que irá continuar a ser recordado em outras das suas consequências: o constitucionalismo, a extinção da Inquisição, a independência do Brasil, a vontade de um constante aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade formando comunidades livres e solidárias.

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção

História – Património - Turismo

No passado dia 16 de outubro, com uma aula sobre «Le Grand Tour e o fenómeno do turismo de massas» pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim, abriu este curso livre no Solar Condes de Resende e também por videoconferência, o qual contou com a presença da vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal, que na ocasião referiu a já longa tradição destes cursos na programação deste equipamento municipal, de que este é o 29.º curso. Seguiu-se no dia 23 a segunda sessão sobre «Roteiros Queirosianos e outros» pelo Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães. Prosseguirá no dia 6 de novembro com uma aula intitulada «Da jornada à viagem: o Turismo e a Literatura» pelo Prof. Doutor Nuno Resende

Entretanto a direção do Solar Condes de Resende e a Academia Eça de Queirós da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana estão já a organizar o curso do próximo ano letivo que será integrado nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil e do centenário da Primeira Travessia Aérea Lisboa-Rio de Janeiro.

Investigadores do GHAP

         Vários historiadores profissionais do Gabinete de História, Arqueologia e Património (GHAP), ainda que convidados ou integrados noutras instituições, prosseguem a sua ação no levantamento, estudo e divulgação de variados temas nas áreas da História, Arqueologia, História da Arte, Património e outras especialidades, apostando também na realização de visitas guiadas a vários locais que as materializam. Assim, no passado dia 2 de outubro, José Manuel Tedim conduziu uma visita à igreja da Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos subordinada ao tema «O porto de Miragaia, organizada pela confraria local. E no passado dia 23 de outubro, o mesmo investigador e professor de História da Arte, para a Associação Cultural Amigos de Gaia conduziu uma visita de estudo à capela de S. Mateus em Arnelas e a sua notável talha joanina.

         Entretanto no Castro da Madalena, Vila Nova de Gaia, terminou no passado dia 5 de outubro a segunda campanha de escavações arqueológicas, que pôs a descoberto duas casas castrejas, deixando assim adivinhar a existência de um povoado que deverá estender-se por toda a evidente colina. O projeto é conduzido pelo arqueólogo António Manuel Silva do Centro de Arqueologia de Arouca, com o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, tendo a colaboração do Solar Condes de Resende. Os trabalhos foram visitados pela vereadora da Cultura da CMVNG, Eng.ª Paula Carvalhal, e pelo diretor do Solar e coordenador do GHAP, J. A. Gonçalves Guimarães.

Livros e Revistas


Atas do Congresso Douro e Porto – Memória com Futuro

            Foram recentemente publicadas pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, IP, no formato e-book, as atas deste congresso que decorreu entre 19 a 22 de julho passado, depois de adiado um ano devido à pandemia. Entre muitas outras comunicações, aí se apresentam os textos das seguintes: «O Vinho do Porto – um trunfo no jogo da diplomacia luso-britânica de Pombal», por Francisco Ribeiro da Silva; «Arte Publicitária dos Vinhos do Douro e do Porto: os artistas estrangeiros», por J. A. Gonçalves Guimarães; «Do Vinho do Douro ao Porto do Vinho», por António Barros Cardoso; «O Anuário da Região Duriense 1940: uma fonte para o estudo sincrónico do Douro», por Nuno Resende; «O Visconde de Beire produtor de Vinhos do Douro no século XIX – novos dados», por Suana Guimarães.

O Padre Luiz Cabral e Jorge Amado


No passado dia 1 de outubro, integrados numa homenagem ao Padre Luís Cabral, SJ (Foz do Douro 1.10.1866; Baía, Brasil 28.1.1939), foi lançado o livro O P.e Luiz Cabral e Jorge Amado. Dos estreitos limites do internato fui salvo pelo mar, da autoria do seu sobrinho-bisneto Manuel Novaes Cabral, edição de O Progresso da Foz, no qual descreve, com aparato documental, como o grande escritor brasileiro quando era menino sujeito ao cinzento programa de ensino num colégio jesuíta da Baía, jamais esqueceu as fascinantes lições deste seu professor de Literatura Portuguesa, um episódio pouco conhecido da sua biografia. Desta celebração do seu 155.º aniversário constou ainda o descerramento de uma placa evocativa na casa onde nasceu na rua que ostenta o seu nome na Foz, seguida de um Porto de Honra no Orfeão da Foz do Douro, ao Passeio Alegre.

Convento de Santa Clara, no Porto


    Numa ocasião em que o Convento de Santa Clara no Porto reabre ao público completamente restaurado, a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) acaba de lançar o primeiro de quatro livros da coleção “Património a Norte”, que lhe são totalmente dedicados, apresentando o resultado de dois anos de investigação histórica e patrimonial dos historiadores da Arte e professores da FLUP Cristina Sousa e Nuno Resende, os quais contribuem assim para um olhar mais íntimo sobre um dos mais belos monumentos da cidade do Porto. 

Colóquio Queirosiano

Nos próximos dias 22 a 27 de novembro vai decorrer em Lisboa o 6.º Colóquio Internacional Luso-Brasileiro e o 26.º Colóquio Eça de Queiroz, organizado pelo Centro Cultural Eça de Queirós de Telheiras, Lisboa, sob o tema «O Mundo novo pós-Pandemia», com sessões que decorrerão na Escola Secundária Eça de Queirós, Escola Secundária António Damásio, Junta de Freguesia de Telheiras e no Palácio da Independência. Entre muitos outros oradores estarão presentes a Prof.ª Doutora Annabela Rita, Arquiteto Campos Matos, Dr. Fernando Andrade Lemos e a Dr.ª M. Alda Salgueiro. 

Capitulo da Confraria Queirosiana 2021

No próximo dia 20 de novembro, sábado, a partir das 11 horas da manhã, vai realizar-se no Solar Condes de Resende o 18º Capítulo anual da Confraria Queirosiana. Não se tendo realizado no ano transato devido à pandemia, sido então simbolicamente substituído por uma videoconferência, este ano os Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana vão comemorar o aniversário de Eça de Queirós pela primeira vez a partir das 11 horas da manhã com a entronização de novos confrades, a que se seguirá o habitual almoço com animação, além de outros contributos queirosianos, no salão nobre, no jardim das Camélias e no pavilhão do Solar. Será também lançado o n.º 18 da nova série da Revista de Portugal, pela primeira vez com colaboração dos membros da Academia Alagoana de Letras do Brasil.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 158, segunda-feira, 25 de outubro de 2021; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

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