quarta-feira, 25 de março de 2020

Eça & Outras, quarta-feira, 25 de março de 2020


 Os Comentários de A. Campos Matos
            Enquanto esperamos pelas suas Fotobiografia de António Sérgioe pela Bibliografia de António Sérgio, que estão no prelo, A. Campos Matos vai-nos enchendo a mesa de leitura com alguns volumes de preciosidades adquiridas no seu longo e frutuoso trajeto de vida que tem recusado o cansaço de uma longa e jubilosa estrada da vida, seguindo a lição de Goethe: «transforma a tua dor num poema». Desta feita um livro de Comentários, publicado por Edições Colibri, título inspirado nos Comentarii de BelloGallico de Júlio César, neste caso um livro de crónicas, diz o autor que despretensiosas, mas que, como tudo que lhe vem da mente, da sensibilidade e da escrita, aspiram sempre à correção dos humanos aleijões, mormente os do campo da Cultura, onde era suposto a civilização cesariana se encontrar com o melhor da espontaneidade e respeito pela espécie por parte dos indígenas de todas as tribos de todas as latitudes. Mas adiante.
            Nestas crónicas, como não podia deixar de ser vindo deste autor, encontramos referências múltiplas a aspectos vários da vida e obra de António Sérgio e da sua incontornável importância na História do Pensamento em Portugal e, naturalmente, sobre Eça de Queirós onde, para além da referência a mais uma carta inédita de Eça no conjunto das 913 que já publicou, não será de menor importância o desfazer do mito (mais um!) do nascimento do escritor na casa da Praça do Almada na Póvoa de Varzim que ostenta placa alusiva à efeméride, facto recordado na carta, até então sem resposta, sobre o para quando da abertura ao público do Centro de Estudos Queirosianos onde será disponibilizado aos interessados o espólio que A. Campos Matos reuniu desde os catorze anos e que continua a enriquecer com novos contributos de valia.
            Noutras crónicas, na salutar, mas talvez vã, tentativa de que não se continuem a erguer estátuas com pés de barro, o autor apela à revisitação crítica da obra de Saramago, Agustina e Eduardo Lourenço, mas também de Luiz Pacheco, Alçada Baptista, Agualusa, Miguel Sousa Tavares, José Rodrigues dos Santos, Filomena Mónica, Eduardo Prado Coelho, Manuel Alegre e Costa Pinto, alguns dos quais deram origem a estranhos clubes de devotos, muitos dos quais os leram apressadamente, outros já “naquele engano da alma ledo e cego. Que a fortuna não deixa(rá) durar muito”. Não se trata de demolir estátuas já existentes, mas procurar que elas, e as que por aí se programam, apenas estejam adequadas às sensatas dimensões dos “cultos”. Que “atrás de tempo, tempo vem”. Entretanto outros textos falam dos seus diálogos e encontros com Carlos Reis, Eugénio Lisboa, Vasco Graça Moura e Wilson Martins. E ainda recordações de viagens na juventude à Bretanha e a Paris e seus environs, que muitas vezes depois percorreu à procura das sombras dos dias em que Eça aí viveu e morreu. A indelével memória da visita ao impressionante Monumento das Crianças de Lídice, Checoslováquia, massacradas pelos nazis.
            Não adivinhando por certo as quarentenas destes nossos dias fatídicos, mas com a experiência de quem já viveu outros incertos e ansiosos tempos, A. Campos Matos diz-nos qual seria o seu conteúdo para «Duas malas de livros numa emergência», uma interrogação a que cada um pode responder antes de o ler e depois comparar. Cada um de nós tem a sua biblioteca da ilha perdida, mas será espantoso descobrirmos preferências e coincidências.
             Este livro não foi por certo arrumado segundo os critérios de Diderot e D’Alembert, mas antes destinado a quem como que passeie num jardim botânico à procura de espécies raras, como são algumas das suas crónicas, às vezes muito ilustradas para melhor se entenderem, como é o caso daquela sobre a variedade e diversidade das dedicatórias dos autores a amigos, conhecidos e eventuais admiradores dos seus livros, neste caso ao autor destas crónicas, preâmbulo de uma verdadeira Dedication. Segue-se o que diz serem várias trivialidades sobre pessoas conhecidas, resistentes e desistentes e também os animais de companhia mais ou menos fieis. O suicídio do pacifista Stefan Zweig. A “Santinha” de Balazar, a da Arrifana e outras.
            Lá pelo meio «alguns poemas excepcionais», enquanto não sai o seu estudo sobre Eça Poeta, que em tempos me confidenciou ter muito adiantado e que já deve jazer numa das suas gavetas à espera da luz da imprensa. Mas por enquanto antologia aqui Leonor Almeida, Fernando Pessoa, Natália Correia, Vasco Graça Moura, Camões, Camilo Pessanha e António Feijó. E aí, a Ricardo Reis, vou buscar as palavras que este delicioso livro me inspira sobre o seu autor: «Segue o teu destino/ Rega as tuas plantas/ Ama as tuas rosas. O resto é a sombra/ De árvores alheias».
            Comentários sobre o que é efémero. Comentários sobre o que perdurará no tempo. Quererá o autor entendê-los?

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Eventos alterados e adiados
            No passado dia 7 de março, no curso sobre Revoluções & Constituições, a aula sobre o «25 de Abril de 1974», que estava previsto ser apresentada pelo Prof. Manuel Loff da FLUP, foi dada por J. A. Gonçalves Guimarães. Entretanto devido à pandemia em curso e à implementação das medidas profiláticas recomendadas pelas autoridades sanitárias, as duas aulas que faltavam para terminar o curso, respetivamente ministradas pelos professores Pedro Bacelar de Vasconcelos e Vital Moreira foram adiadas para data oportuna a anunciar. Também pelo mesmo motivo não se concretizaram alguns dos eventos culturais anunciados na página anterior, nomeadamente a palestra do dia 12 de março sobre «Mafamudenses Ilustres».
          Devido ao encerramento temporário ao público do Solar Condes de Resende, onde a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana tem a sua sede por protocolo com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, e a sequência daquelas recomendações, a direção decidiu suspender temporariamente as seguintes actividades por si organizadas ou com a sua colaboração: curso de Pintura e outras expressões plásticas; ensaios do grupo musical Eça Bem Dito; curso livre sobre Revoluções & Constituições; palestras das últimas quintas-feiras do mês; assembleias geral para apresentação do Relatório e Contas de 2019 e Programa e Orçamento para 2020 e assembleia eleitoral para eleição dos corpos gerentes para o quadriénio 2020-2024, as quais serão reconvocadas para data oportuna.
            Com os cuidados convenientes e as recomendações adequadas mantêm-se em funções os corpos gerentes atuais e os grupos de trabalho que realizam projetos nas diversas áreas, nomeadamente os cometidos aos investigadores tarefeiros no Solar; ao Gabinete de História, Arqueologia e Património (PACUG; Castelo de Gaia; Capela do Sr. d’ Além; acompanhamentos arqueológicos; transcrições paleográficas e vários projetos de investigação em curso); à Academia Eça de Queirós (finalização do curso Revoluções & Constituições; curso compacto sobre Azulejaria de fachada; curso livre sobre o Antigo Egito; curso livre sobre Arte Sacra); à Comissão Editorial (Revista de Portugal, blogue Eça & Outras, revista Gaya e outras edições); à Comissão de Arte (Salon d’ Automne 2020) e à Comissão de Itinerários (organização de roteiros queirosianos para quando for possível a sua realização).

AINDA O FÓRUM AVINTENSE
            No 30º Fórum Avintense que decorreu na Casa da Cultura de Avintes nos passados dias 28 e 29 de fevereiro, apresentaram comunicações, entre outros, Abel Ernesto Barbosa Barros, «Os temas tratados durante estes 30 anos de Trabalhos»; J. A. Gonçalves Guimarães, «Análise dos contributos de 30 anos de Fórum Avintense. Para um novo paradigma da História Local»; José Augusto Maia Marques, «Avintes e o “Porto Liberal”. Notas para uma Exposição»; José Vaz «30 anos de Fórum Avintense. Valeu a pena?»; Nuno Gomes Oliveira, «Xylello, a bactéria que entrou em Portugal por Avintes – Uma história mal contada?»; Paulo Jorge Cardoso de Sousa e Costa, «A origem dos nossos avós».

Autores, Livros e Revistas


            No passado dia 7 de março, no Auditório D. Pedro IV no Palacete Araújo Porto foi lançado o volume intitulado Pessoa(s). Arte. Benemerência. IV Congresso de História da Santa Casa da Misericórdia do Porto, correspondente às Atas daquele acontecimento cultural. Apresentado na ocasião por Nassalete Miranda, diretora do jornal As Artes Entre As Letras, além dos habituais textos de abertura do provedor António Tavares e do mesário do Culto e da Cultura, Francisco Ribeiro da Silva, de entre as trinta e nove comunicações publicadas destacamos: «A Santa Casa e o Vinho do Porto – a Quinta da Romaneira», de António Barros Cardoso; «Os cartorários e o Arquivo Histórico da Misericórdia do Porto. O caso de Querubino Henriques Lagoa» de Francisco Ribeiro da Silva; «O Castelo de Gaia, um sítio arqueológico excecional e um valor cultural a potenciar» de António Manuel S. P. Silva; e «Política e Misericórdia – algumas incidências dos mandatos do provedor da SCMP António Luís Gomes relativas ao Hospital do Conde de Ferreira» de Jorge Fernandes Alves.


            No mesmo dia, mas no Celeiro da Casa do Terreiro em Leiria, foi apresentado o livro Estórias da nossa história de Ricardo Charters d’ Azevedo, editado pela Hora de Ler, o qual reúne uma coletânea de textos publicados em tempos recentes no Jornal de Leiria sobre aspetos curiosos da história e património locais.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 139, quarta-feira, 25 de março de 2020; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Licínio Santos.

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