Genealogias
informáticas
Graças
ao Google, ou a empresas parecidas, o cidadão comum tem acesso a uma quantidade
imensa de informação em parte paga com o atual desemprego e desgraça social.
Como quantidade não é qualidade, tal granelagem presta-se a incríveis
confusões, até porque tal excesso informativo na Internet não convida à reflexão,
à triagem, à escolha, à seleção. E há quem pense que “alguém” decide bem por
cada um de nós, erro tremendo que pagamos caro, enquanto o Bil Gaitas &
Partners lucram triliões por ano, dos quais distribuem umas migalhas pelos
pobrezinhos e compram a opinião pública com outras migalhas para aquilo que
chamam cultura mas que não passa de entretenimento. Permitam-me que desta vez
recorra a aspetos pessoais para ilustrar esta crónica: se digitarem no Google
J. A. Gonçalves Guimarães, terão a indicação de cerca de 5.730.000 consultas
com esta entrada (2013.05.24). Mas tal tem pouco a ver comigo. É certo que eu
estou lá, as minhas fotografias (e outras que promovi, mas que não são minhas),
os meus livros, as minhas palestras, o Solar Condes de Resende, a Confraria Queirosiana,
grande parte da minha vida, mas também muitos outros Gonçalves Guimarães que
não são meus parentes, a não ser por remota hipótese de recomposição social dos
sobrenomes. Sou Gonçalves Guimarães porque a família de minha mãe se chama
Gonçalves Rua, de Lamego, e a de meu pai Peixoto Guimarães, de Guimarães e,
desde o século XVIII, do Porto. E eu nasci em Vila Nova de Gaia, bem assim como
meus irmãos e nossos descendentes. Na realidade devia chamar-me J. A. Rua
Guimarães, mas tal não aconteceu por uma historieta hilariante que contarei
noutra ocasião.
Acontece
que, sobretudo no Brasil, há muitos outros Gonçalves Guimarães, alguns dos
quais até talvez sejam meus primos: meu tio Alfredo Peixoto Guimarães foi para
o Rio de Janeiro e depois para S. Paulo. E aí teve descendência. Mas nesta
coisa do Google há o Vitória de Guimarães com jogadores chamados Gonçalves e
outras recomposições absurdas dos dois nome e, obviamente, muitos outros
cidadãos filhos de uma senhora Gonçalves e de um senhor Guimarães.
Coincidências. Assim, gostaria de dizer a quem interesse que não sou coronel da
Guarda Nacional, nunca fui prefeito de nenhuma cidade do Brasil e o professor
Gonçalves Guimarães da Universidade de Coimbra de finais do século XIX, que eu
saiba, não é meu parente e a única coisa que nos une, além dos apelidos, é o
facto de ele ter sido professor de História Natural e eu de Património Natural,
mas noutra universidade e em tempos mais recentes. Tenho um irmão José e duas
irmãs, Amália e Laura, todos Gonçalves Guimarães e portugueses, a despeito de
vários homónimos brasileiros.
Tenho
obviamente a maior simpatia pela Alexandra, Ana, Ana Maria, Bárbara Sofia,
Bianca Taina, Beatriz, Camila, Cíntia, Dayse, Edna, Fávia, Inocência, Janaína,
Laura, Luana, Maria Valtiana, Mirce, Patricia, Raquel, Rosalina, Ruth, Maria,
Stela, Wilma, todas elas, e muitas mais, também Gonçalves Guimarães, mas não
sei quem são; do mesmo modo não conheço Adir, Alex, Alvaro, Anderson, António,
Brian, Camões, Carlos, Cosme, Delbão, Fabiano, Fábio, Felipe, Fernando,
Frederico, Godofredo, José, Manuel, Marcelo, Melo, Nilton, Otoni, Pedrenrique,
Pedro, Rafael, Rodrigo, Sebastião, Tiago, Vanderson, Vinícius, Willer, Yasmin,
também todos Gonçalves Guimarães. Com Fábio Luiz posso partilhar o gosto por
cavalos; Jorge estuda S. Gonçalo de Lagos e eu o de Amarante, sendo os meus
trabalhos citados no Brasil a propósito do tema. Mas nunca lá fui, não tenho lá
propriedades nem problemas com a Justiça, mas já recebi um email de um tribunal
para ir a uma acareação que, obviamente, não era para mim. Milagres da
informática. Assim, graças a estas “genealogias informáticas”, eu e a minha
família passamos a fazer parte deste universo de Gonçalves Guimarães,
portugueses, açorianos e brasileiros, em todo o caso muito menor do que os
Silva, os Sousa ou os Costas. Isso dá-me um certo conforto palopiano, parecido
com o daquele homem prático que recusou ao genealogista que lhe fizesse a
árvore de onde tinha descido dizendo: “se você encontra um santo como meu
antepassado fico contente. Mas se me encontra um pulha ou uma p… fico furioso.
Deixe pois minha árvore assim perdida e anónima na humana floresta da vida.
Sabemos que existiu e que deu rebentos, frutos, barcos, abrigo e proteção, mas
pode também ter dado cacetes, forcas, ataúdes…. Deixe pois minha árvore em paz
e os seus galhos. Eu valho pelo que sou e não pelos que me precederam ou pelos
que me hão-de seguir. Gostaria que todos fossem santos, mas sobre os que passaram
já nada posso fazer; sobre os que hão-de ser, oxalá o meu esforço valha a pena”.
Sobre
a nossa relação com os outros escreveu o grande Eça de Queirós: «Há, é verdade,
em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas que é isso? As
pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma
outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São,
verdadeiramente, como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem
diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a
nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma
mais especial recordação» (Eça de Queirós, Correspondência).
Não
há pois Google, Facebook e quejandos que nos valham, se não falarmos uns com os
outros, parentes ou não.
J. A. Gonçalves
Guimarães
Inéditos
d´ Eça
Depois
de A. Campos Matos nos ter confidenciado que tem mais uma carta inédita de Eça
de Queirós para publicar (têm a certeza de que Eça não tem continuado a copiar
os seus inéditos que foram para o fundo do mar? Não haverá por aí falsários
geniais? Será que Eça não tem agora um blog a partir do céu?), no próximo dia 4
de Junho será publicada pela Editorial Caminho a opereta cómica inacabada “A
Morte do Diabo”, de Eça de Queirós com Jaime Batalha Reis e Augusto Machado,
composta em 1896, recentemente descoberta por Irene Fialho entre o espólio
daquele compositor na Biblioteca Nacional em Lisboa. A presente publicação tem
ainda a colaboração do nosso confrade Mário Vieira de Carvalho e de José
Brandão.
Como
já lembramos neste blog, o diabolismo de Eça de Queirós corre a par com o de
vários autores da sua época, nomeadamente o de Oskar Panizza em “O Concílio do
Amor” de 1894, editado em Portugal em 1974 pela Editorial Estampa, e com o de
Guerra Junqueiro em várias das suas composições poéticas onde o Diabo se mostra
perplexo com a inabilidade do Criador da espécie humana.
Depois
de Eça no Teatro e no Cinema vamos agora tê-lo na Ópera.
Academias
Fundada
em 1917 para «difundir o gosto das boas letras e dos estudos de história e de
geografia do Piauí», a Academia Piauiense de Letras logo em 1918 lançou a sua
Revista de que acaba de ser publicado o n.º 68 referente ao ano de 2010.
Nas
suas 250 páginas apresenta discursos de vários académicos e conferências, entre
elas «Joaquim Nabuco e o Pioneirismo da “Inclusão Social”» aí proferida pelo
nosso confrade Dagoberto Carvalho J.or que ocupa a cadeira n.º 25
desta quase centenária instituição. Apresenta ainda recensões e vária
colaboração, terminando com o quadro das quarenta cadeiras, seus patronos e
ocupantes ao longo destes anos e ainda os agraciados com a comenda de mérito
cultural Lucídio Freitas (1894-1921), advogado e poeta teresinense em cuja casa
a Academia tem a sua sede.
Presentemente
é seu presidente Reginaldo Miranda da Silva, advogado e escritor que nesta
mesma revista publicou um artigo sobre “Vultos da História do Piauí – Ouvidor Moraes
Durão”.
Entretanto
a Academia Eça de Queirós, criada pela Confraria Queirosiana para suporte
académico dos cursos que ministra no Solar Condes de Resende e em outros
espaços, já tem o seu blogue com o respectivo Regulamento, passando em breve a
divulgar o curriculum essencial dos seus membros, a sua bibliografia, e textos
produzidos no seu contexto (ver colofon desta página)
Conferências e cursos
No
passado dia 14 de Maio, no 1.º Congresso Internacional sobre o Cavalo e o Touro
na Pré-História e na História que decorreu na Golegã e na Chamusca, Fernando
Coimbra e Giorgos Iliadis falaram sobre “A possible horse hunting scene in the
rock art from Philippi (Greece)” e o primeiro sobre “O cavalo como animal
psicopompo na Europa do I milénio a. C.”; Luís Manuel de Araújo sobre “O cavalo
no Egito faraónico: uma avalizadora semiótica do poder” e “KA NAKHT, “Touro
Poderoso”: um expressivo título da realeza egípcia”; J. A. Gonçalves Guimarães
(com Susana Guimarães) sobre “Aprestos e representações equestres da Coleção
Marciano Azuaga (Solar Condes de Resende)”.
No
dia 18 de Maio o nosso consócio arqueólogo António Manuel Silva proferiu na
Casa – Museu Regional de Oliveira de Azeméis uma palestra sobre “Proto-História
e Romanização no Entre Douro e Vouga”, onde abordou os trabalhos no Castro de
Salreu realizados em 2011, integrada num colóquio sobre o Dia Internacional dos
Museus.
No
próximo dia 24 de Maio o mesário-mor da Confraria Queirosiana J. A. Gonçalves
Guimarães fará na Junta de Freguesia de Crestuma uma palestra sobre “Navegações
no Rio Douro” para o curso de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto e no dia 30 de Maio na Universidade Lusófona do Porto sobre “Marquês
de Soveral homem do Douro e do Mundo” no II Encontro Científico sobre Cidades,
Espaços e Identidades.
Nos
próximos dias 28 e 29 de Junho decorrerá no Parque Biológico de Gaia e no Parque
do Castelo de Crestuma a I Jornada Arqueológica do Castelo de Crestuma, onde
serão oradores Álvaro Brito Moreira, André Nascimento, António C. Lima, António
Manuel Silva, Carlos Fabião, Filipe Pinto, J. A. Gonçalves Guimarães, Laura
Peixoto, Lino Tavares Dias, Luís Carlos Amaral, Luís O. Fontes, Paulo Lima,
Pedro Pereira, Sanchez Pardo e Teresa Pires de Carvalho, com comunicações
inéditas sobre a Arqueologia da Alta Idade Média em Vila Nova de Gaia, em
Portugal e na Galiza.
A
participação obriga a inscrição no Parque Biológico ou na Confraria
Queirosiana.
Entre
15 e 19 de Julho decorrerá na fundação Eça de Queiroz em Baião o habitual Curso
Internacional de Verão, este ano subordinado ao tema “Eça de Queiroz no
contexto da História dos media”.
Eça & Outras, IIIª.
Série, n.º 57 – Sábado, 25 de Maio de 2013
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN: PT50001800005536505900154;
Email:queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt;
confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
vinhosdeeca.blogspot.com; academiaecadequeiros.blogspot.com; coordenação da
página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção:
Amélia Cabral; colaboração: Dagoberto Carvalho J.or.
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