sexta-feira, 24 de maio de 2013

Eça & Outras



Genealogias informáticas

Graças ao Google, ou a empresas parecidas, o cidadão comum tem acesso a uma quantidade imensa de informação em parte paga com o atual desemprego e desgraça social. Como quantidade não é qualidade, tal granelagem presta-se a incríveis confusões, até porque tal excesso informativo na Internet não convida à reflexão, à triagem, à escolha, à seleção. E há quem pense que “alguém” decide bem por cada um de nós, erro tremendo que pagamos caro, enquanto o Bil Gaitas & Partners lucram triliões por ano, dos quais distribuem umas migalhas pelos pobrezinhos e compram a opinião pública com outras migalhas para aquilo que chamam cultura mas que não passa de entretenimento. Permitam-me que desta vez recorra a aspetos pessoais para ilustrar esta crónica: se digitarem no Google J. A. Gonçalves Guimarães, terão a indicação de cerca de 5.730.000 consultas com esta entrada (2013.05.24). Mas tal tem pouco a ver comigo. É certo que eu estou lá, as minhas fotografias (e outras que promovi, mas que não são minhas), os meus livros, as minhas palestras, o Solar Condes de Resende, a Confraria Queirosiana, grande parte da minha vida, mas também muitos outros Gonçalves Guimarães que não são meus parentes, a não ser por remota hipótese de recomposição social dos sobrenomes. Sou Gonçalves Guimarães porque a família de minha mãe se chama Gonçalves Rua, de Lamego, e a de meu pai Peixoto Guimarães, de Guimarães e, desde o século XVIII, do Porto. E eu nasci em Vila Nova de Gaia, bem assim como meus irmãos e nossos descendentes. Na realidade devia chamar-me J. A. Rua Guimarães, mas tal não aconteceu por uma historieta hilariante que contarei noutra ocasião.
Acontece que, sobretudo no Brasil, há muitos outros Gonçalves Guimarães, alguns dos quais até talvez sejam meus primos: meu tio Alfredo Peixoto Guimarães foi para o Rio de Janeiro e depois para S. Paulo. E aí teve descendência. Mas nesta coisa do Google há o Vitória de Guimarães com jogadores chamados Gonçalves e outras recomposições absurdas dos dois nome e, obviamente, muitos outros cidadãos filhos de uma senhora Gonçalves e de um senhor Guimarães. Coincidências. Assim, gostaria de dizer a quem interesse que não sou coronel da Guarda Nacional, nunca fui prefeito de nenhuma cidade do Brasil e o professor Gonçalves Guimarães da Universidade de Coimbra de finais do século XIX, que eu saiba, não é meu parente e a única coisa que nos une, além dos apelidos, é o facto de ele ter sido professor de História Natural e eu de Património Natural, mas noutra universidade e em tempos mais recentes. Tenho um irmão José e duas irmãs, Amália e Laura, todos Gonçalves Guimarães e portugueses, a despeito de vários homónimos brasileiros.
Tenho obviamente a maior simpatia pela Alexandra, Ana, Ana Maria, Bárbara Sofia, Bianca Taina, Beatriz, Camila, Cíntia, Dayse, Edna, Fávia, Inocência, Janaína, Laura, Luana, Maria Valtiana, Mirce, Patricia, Raquel, Rosalina, Ruth, Maria, Stela, Wilma, todas elas, e muitas mais, também Gonçalves Guimarães, mas não sei quem são; do mesmo modo não conheço Adir, Alex, Alvaro, Anderson, António, Brian, Camões, Carlos, Cosme, Delbão, Fabiano, Fábio, Felipe, Fernando, Frederico, Godofredo, José, Manuel, Marcelo, Melo, Nilton, Otoni, Pedrenrique, Pedro, Rafael, Rodrigo, Sebastião, Tiago, Vanderson, Vinícius, Willer, Yasmin, também todos Gonçalves Guimarães. Com Fábio Luiz posso partilhar o gosto por cavalos; Jorge estuda S. Gonçalo de Lagos e eu o de Amarante, sendo os meus trabalhos citados no Brasil a propósito do tema. Mas nunca lá fui, não tenho lá propriedades nem problemas com a Justiça, mas já recebi um email de um tribunal para ir a uma acareação que, obviamente, não era para mim. Milagres da informática. Assim, graças a estas “genealogias informáticas”, eu e a minha família passamos a fazer parte deste universo de Gonçalves Guimarães, portugueses, açorianos e brasileiros, em todo o caso muito menor do que os Silva, os Sousa ou os Costas. Isso dá-me um certo conforto palopiano, parecido com o daquele homem prático que recusou ao genealogista que lhe fizesse a árvore de onde tinha descido dizendo: “se você encontra um santo como meu antepassado fico contente. Mas se me encontra um pulha ou uma p… fico furioso. Deixe pois minha árvore assim perdida e anónima na humana floresta da vida. Sabemos que existiu e que deu rebentos, frutos, barcos, abrigo e proteção, mas pode também ter dado cacetes, forcas, ataúdes…. Deixe pois minha árvore em paz e os seus galhos. Eu valho pelo que sou e não pelos que me precederam ou pelos que me hão-de seguir. Gostaria que todos fossem santos, mas sobre os que passaram já nada posso fazer; sobre os que hão-de ser, oxalá o meu esforço valha a pena”.
Sobre a nossa relação com os outros escreveu o grande Eça de Queirós: «Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente, como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação» (Eça de Queirós, Correspondência).
Não há pois Google, Facebook e quejandos que nos valham, se não falarmos uns com os outros, parentes ou não.

J. A. Gonçalves Guimarães

Inéditos d´ Eça

Depois de A. Campos Matos nos ter confidenciado que tem mais uma carta inédita de Eça de Queirós para publicar (têm a certeza de que Eça não tem continuado a copiar os seus inéditos que foram para o fundo do mar? Não haverá por aí falsários geniais? Será que Eça não tem agora um blog a partir do céu?), no próximo dia 4 de Junho será publicada pela Editorial Caminho a opereta cómica inacabada “A Morte do Diabo”, de Eça de Queirós com Jaime Batalha Reis e Augusto Machado, composta em 1896, recentemente descoberta por Irene Fialho entre o espólio daquele compositor na Biblioteca Nacional em Lisboa. A presente publicação tem ainda a colaboração do nosso confrade Mário Vieira de Carvalho e de José Brandão.
Como já lembramos neste blog, o diabolismo de Eça de Queirós corre a par com o de vários autores da sua época, nomeadamente o de Oskar Panizza em “O Concílio do Amor” de 1894, editado em Portugal em 1974 pela Editorial Estampa, e com o de Guerra Junqueiro em várias das suas composições poéticas onde o Diabo se mostra perplexo com a inabilidade do Criador da espécie humana.
Depois de Eça no Teatro e no Cinema vamos agora tê-lo na Ópera.

Academias

Fundada em 1917 para «difundir o gosto das boas letras e dos estudos de história e de geografia do Piauí», a Academia Piauiense de Letras logo em 1918 lançou a sua Revista de que acaba de ser publicado o n.º 68 referente ao ano de 2010.
Nas suas 250 páginas apresenta discursos de vários académicos e conferências, entre elas «Joaquim Nabuco e o Pioneirismo da “Inclusão Social”» aí proferida pelo nosso confrade Dagoberto Carvalho J.or que ocupa a cadeira n.º 25 desta quase centenária instituição. Apresenta ainda recensões e vária colaboração, terminando com o quadro das quarenta cadeiras, seus patronos e ocupantes ao longo destes anos e ainda os agraciados com a comenda de mérito cultural Lucídio Freitas (1894-1921), advogado e poeta teresinense em cuja casa a Academia tem a sua sede.
Presentemente é seu presidente Reginaldo Miranda da Silva, advogado e escritor que nesta mesma revista publicou um artigo sobre “Vultos da História do Piauí – Ouvidor Moraes Durão”.
Entretanto a Academia Eça de Queirós, criada pela Confraria Queirosiana para suporte académico dos cursos que ministra no Solar Condes de Resende e em outros espaços, já tem o seu blogue com o respectivo Regulamento, passando em breve a divulgar o curriculum essencial dos seus membros, a sua bibliografia, e textos produzidos no seu contexto (ver colofon desta página)

Conferências e cursos

No passado dia 14 de Maio, no 1.º Congresso Internacional sobre o Cavalo e o Touro na Pré-História e na História que decorreu na Golegã e na Chamusca, Fernando Coimbra e Giorgos Iliadis falaram sobre “A possible horse hunting scene in the rock art from Philippi (Greece)” e o primeiro sobre “O cavalo como animal psicopompo na Europa do I milénio a. C.”; Luís Manuel de Araújo sobre “O cavalo no Egito faraónico: uma avalizadora semiótica do poder” e “KA NAKHT, “Touro Poderoso”: um expressivo título da realeza egípcia”; J. A. Gonçalves Guimarães (com Susana Guimarães) sobre “Aprestos e representações equestres da Coleção Marciano Azuaga (Solar Condes de Resende)”.
No dia 18 de Maio o nosso consócio arqueólogo António Manuel Silva proferiu na Casa – Museu Regional de Oliveira de Azeméis uma palestra sobre “Proto-História e Romanização no Entre Douro e Vouga”, onde abordou os trabalhos no Castro de Salreu realizados em 2011, integrada num colóquio sobre o Dia Internacional dos Museus.
No próximo dia 24 de Maio o mesário-mor da Confraria Queirosiana J. A. Gonçalves Guimarães fará na Junta de Freguesia de Crestuma uma palestra sobre “Navegações no Rio Douro” para o curso de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e no dia 30 de Maio na Universidade Lusófona do Porto sobre “Marquês de Soveral homem do Douro e do Mundo” no II Encontro Científico sobre Cidades, Espaços e Identidades.
Nos próximos dias 28 e 29 de Junho decorrerá no Parque Biológico de Gaia e no Parque do Castelo de Crestuma a I Jornada Arqueológica do Castelo de Crestuma, onde serão oradores Álvaro Brito Moreira, André Nascimento, António C. Lima, António Manuel Silva, Carlos Fabião, Filipe Pinto, J. A. Gonçalves Guimarães, Laura Peixoto, Lino Tavares Dias, Luís Carlos Amaral, Luís O. Fontes, Paulo Lima, Pedro Pereira, Sanchez Pardo e Teresa Pires de Carvalho, com comunicações inéditas sobre a Arqueologia da Alta Idade Média em Vila Nova de Gaia, em Portugal e na Galiza.
A participação obriga a inscrição no Parque Biológico ou na Confraria Queirosiana.
Entre 15 e 19 de Julho decorrerá na fundação Eça de Queiroz em Baião o habitual Curso Internacional de Verão, este ano subordinado ao tema “Eça de Queiroz no contexto da História dos media”.


Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 57 – Sábado, 25 de Maio de 2013
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
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