Maria Helena Rocha Pereira:
um prémio literário ao mérito
A sociedade portuguesa vive agudas contradições próprias de um tempo de mudança. Daí não serem de estranhar os diversos sinais contrários que volta e meia nos chegam. Desta vez a Associação Portuguesa de Escritores distinguiu com o Prémio Vida Literária a professora universitária, ensaísta e tradutora Maria Helena da Rocha Pereira, e não sei se em Portugal haveria alguma atribuição tão consensual a premiar a excelência, a dedicação, a produção e a qualidade de profundos e incontornáveis estudos literários no âmbito das línguas grega e latina, da Literatura e da Cultura Portuguesa e Europeia, que é disso que trata uma produção própria de mais de mil títulos onde até encontramos análises sobre a vida e obra de Antero de Quental, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão, entre muitos outros poetas, escritores e pensadores, que deixaram obra digna de apreço pelas gerações que nos unem aos gregos pré-socráticos, que perante a incerteza dos tempos de então nos legaram um poema imorredouro, um vaso pintado com a beleza da figura humana, ou um discurso de Cícero sobre a supremacia dos interesses da pátria face à ambição dos grupos organizados.
Em 2002 tivemos o gosto e o prazer de ter Maria Helena da Rocha Pereira a demonstrar como se ensina grego no curso que organizamos no Solar Condes de Resende intitulado “Introdução ao estudo das línguas antigas”, e aí constatamos mais uma vez que uma grande professora sabe, gosta e disponibiliza-se para, do alto da sua categoria, ensinar com agrado os rudimentos aos curiosos pela cultura de eleição, e repensar os fundamentos básicos do monumento cultural que irá continuar a erguer ao longo de uma vida.
Desta vez a APE premiou justamente uma vida que tem dado à Literatura o estatuto superior que ela sempre carecerá para além das inspirações e produções de desabafos pessoais que não sabemos se os tempos considerarão. Premiou uma obra erudita, sólida, útil e, além de tudo o mais, artística e abridora das portas do templo da sabedoria que cada um pode tirar para si e a grei para todos.
Mas entretanto chegou-nos também a notícia de que a presidente da Associação Portuguesa de Professores de História se deu conta de que se prepara mais uma machadada no ensino da dita nas escolas, com a proposta da redução de horas lectivas e a abertura do seu ensino aos professores de Geografia, como se a História, depois do saber ler, escrever e contar, não fosse o conhecimento básico para qualquer aprendizagem e qualquer curso. Não faz qualquer sentido haver médicos, economistas, engenheiros, advogados ou políticos que não sabem a história das suas profissões e a sua evolução. Aliás todos nós conhecemos patetas alegres encanuados que não sabem nada de nada e, incapazes de perceberem como se chegou até aqui, também são incapazes de potencializar os cursos que tiraram (a quem?) e de nos darem perspectivas de um melhor amanhã. Mas, dirão eles, o que é que isso interessa no corre-corre actual, quando estão a chegar ao mercado de trabalho as massas de Bolonha de cursos fininhos, tipo esparguete?! O nosso ensino oficial irá pois continuar como mais uma aventura e não como coisa séria.
A Porto Editora acaba de anunciar que vai pôr o resumo de Os Maias nos telemóveis, para ouvir com auriculares, ao preço de 4,99 euros. Não tenho nada contra mais esta brincadeira tecnológica. O problema é que chamarão a isto “estudar”.
Mas, no meio disto tudo, se a Associação Portuguesa de Escritores ainda teve discernimento para galardoar Maria Helena Rocha Pereira, é porque ainda se distingue uma obra séria da bichanice pseudo-cultural que a sociedade portuguesa actual promove como ensino e cultura. Às vezes ainda se distinguem os profissionais dos divulgadores das contrafacções ou das irrelevâncias do momento. E isso honra a galardoada, os promotores do prémio e, afinal nós todos. Os que quiserem.
um prémio literário ao mérito
A sociedade portuguesa vive agudas contradições próprias de um tempo de mudança. Daí não serem de estranhar os diversos sinais contrários que volta e meia nos chegam. Desta vez a Associação Portuguesa de Escritores distinguiu com o Prémio Vida Literária a professora universitária, ensaísta e tradutora Maria Helena da Rocha Pereira, e não sei se em Portugal haveria alguma atribuição tão consensual a premiar a excelência, a dedicação, a produção e a qualidade de profundos e incontornáveis estudos literários no âmbito das línguas grega e latina, da Literatura e da Cultura Portuguesa e Europeia, que é disso que trata uma produção própria de mais de mil títulos onde até encontramos análises sobre a vida e obra de Antero de Quental, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão, entre muitos outros poetas, escritores e pensadores, que deixaram obra digna de apreço pelas gerações que nos unem aos gregos pré-socráticos, que perante a incerteza dos tempos de então nos legaram um poema imorredouro, um vaso pintado com a beleza da figura humana, ou um discurso de Cícero sobre a supremacia dos interesses da pátria face à ambição dos grupos organizados.
Em 2002 tivemos o gosto e o prazer de ter Maria Helena da Rocha Pereira a demonstrar como se ensina grego no curso que organizamos no Solar Condes de Resende intitulado “Introdução ao estudo das línguas antigas”, e aí constatamos mais uma vez que uma grande professora sabe, gosta e disponibiliza-se para, do alto da sua categoria, ensinar com agrado os rudimentos aos curiosos pela cultura de eleição, e repensar os fundamentos básicos do monumento cultural que irá continuar a erguer ao longo de uma vida.
Desta vez a APE premiou justamente uma vida que tem dado à Literatura o estatuto superior que ela sempre carecerá para além das inspirações e produções de desabafos pessoais que não sabemos se os tempos considerarão. Premiou uma obra erudita, sólida, útil e, além de tudo o mais, artística e abridora das portas do templo da sabedoria que cada um pode tirar para si e a grei para todos.
Mas entretanto chegou-nos também a notícia de que a presidente da Associação Portuguesa de Professores de História se deu conta de que se prepara mais uma machadada no ensino da dita nas escolas, com a proposta da redução de horas lectivas e a abertura do seu ensino aos professores de Geografia, como se a História, depois do saber ler, escrever e contar, não fosse o conhecimento básico para qualquer aprendizagem e qualquer curso. Não faz qualquer sentido haver médicos, economistas, engenheiros, advogados ou políticos que não sabem a história das suas profissões e a sua evolução. Aliás todos nós conhecemos patetas alegres encanuados que não sabem nada de nada e, incapazes de perceberem como se chegou até aqui, também são incapazes de potencializar os cursos que tiraram (a quem?) e de nos darem perspectivas de um melhor amanhã. Mas, dirão eles, o que é que isso interessa no corre-corre actual, quando estão a chegar ao mercado de trabalho as massas de Bolonha de cursos fininhos, tipo esparguete?! O nosso ensino oficial irá pois continuar como mais uma aventura e não como coisa séria.
A Porto Editora acaba de anunciar que vai pôr o resumo de Os Maias nos telemóveis, para ouvir com auriculares, ao preço de 4,99 euros. Não tenho nada contra mais esta brincadeira tecnológica. O problema é que chamarão a isto “estudar”.
Mas, no meio disto tudo, se a Associação Portuguesa de Escritores ainda teve discernimento para galardoar Maria Helena Rocha Pereira, é porque ainda se distingue uma obra séria da bichanice pseudo-cultural que a sociedade portuguesa actual promove como ensino e cultura. Às vezes ainda se distinguem os profissionais dos divulgadores das contrafacções ou das irrelevâncias do momento. E isso honra a galardoada, os promotores do prémio e, afinal nós todos. Os que quiserem.
J. A. Gonçalves Guimarães
Gilberto Freyre 110 anos!
No 110º aniversário do nascimento de Gilberto Freyre, a fundação que tem o seu nome e o Diário de Pernambuco lançaram o seu livro Crônicas do Cotidiano, organizado por Carolina Leão e Lydia Barros, apresentado no passado dia 15 de Março no Espaço Cultural Gilberto Freyre em Apipucos, Recife.
Nesta sessão o nosso prezado confrade Dagoberto Carvalho Júnior falou da colaboração do ensaísta brasileiro nos Diários Associados. Foi também aí oficialmente lançado o 4º Concurso Nacional de Ensaios do Prémio Gilberto Freyre 2010-2011 para o «melhor ensaio inédito sobre as interpretações freyrianas acerca da alimentação e da gastronomia como elemento diferenciador da arte e da cultura do povo brasileiro».
Nova Confraria Brasileira
No passado dia 27 de Fevereiro foi instalada em Oeiras do Piauí a Confraria Eça-Dagobertiana, de estudos da obra literária do romancista português José Maria Eça de Queiroz e do ensaísta e historiador eciense Dagoberto Carvalho Júnior. O jantar de fundação repetiu a ementa do Abade da Cortegaça de O Crime do Padre Amaro.
A nova confraria brasileira, que pretende manter reuniões trimestrais, é presidida pela professora Cassi Neiva, da Universidade Estadual do Piauí em Oeiras e do Colégio Paulo Freire.
A Confraria Queirosiana saúda esta nova agremiação que junta devotos do nosso patrono e amigos e admiradores do seu grande divulgador na América do Sul.
Romance de António Eça de Queiroz
Desde o passado dia 12 está nas livrarias O Romance Ilegal do Sr. Rodolfo, de António Eça de Queiroz, bisneto do autor de O Conde de Abranhos nascido em 1952 na Granja, Vila Nova de Gaia, ex-jornalista de O Comércio do Porto e do Expresso, com trabalhos também publicados noutros títulos. Depois de Contos Acrónicos, Eça de Queiroz e os seus clones, e Porto versus Lisboa (em colaboração), este confrade queirosiano publica agora um romance que envolve um jovem procurador do Ministério Publico, um antiquário espertalhaço e uma mulher misteriosa, em volta do tráfico de esmeraldas. A editora é a Guerra & Paz.
Curso de História no Solar
No próximo dia 10 de Abril decorrerá no Solar Condes de Resende a ultima sessão do curso livre sobre História de Gaia e da Região do Porto, que nesta sua quarta edição versou sobre Homens e Mulheres ilustres. Organizado pela Academia Eça de Queirós, as aulas foram ministradas por Gonçalves Guimarães, Amândio Barros e Nuno Resende.
A sessão de encerramento terá como tema “Os cavaleiros do ideal: monárquicos, republicanos e outros” e estará a cargo do primeiro daqueles professores.
Para o próximo ano lectivo a Academia está a preparar um curso sobre Património Religioso e Arte Sacra que contará com a colaboração de alguns dos melhores investigadores nestas matérias que interessam ao cidadão comum, crente, agnóstico ou não crente, mas também a professores, estudantes universitários, técnicos de restauro, detectives, antiquários, coleccionadores, museólogos, membros de comissões fabriqueiras, sacerdotes, artistas, artífices, técnicos de turismo, historiadores, teólogos, antropólogos, sociólogos, psicólogos, técnicos de protecção civil e designers, pelo menos.
Viagem a Cuba queirosiana
A Confraria Queirosiana está a organizar uma viagem a Habana no final do ano com passagem obrigatória pelos locais onde Eça de Queirós estanciou durante a sua estadia como consule nesta cidade entre 1872 e 1874.
Os interessados deverão contactar a Confraria para tratarem da sua inscrição, dado que o grupo terá um número limitado de lugares à disposição.
Tomar café ou não com:
Não quero tomar café com: Papa Bento XVI, enquanto não me disser que já leu O Crime do Padre Amaro; Alberto João Jardim por ignorar os estudos sobre as ribeiras da Madeira a que teve acesso pelo menos desde 1993; Recep Tayyp Erdogan o político turco que não aprendeu nada com a História do seu país.
Gostaria de ir tomar café com:
Mário Ferreira, o empresário do Douro turístico porque navegar é preciso; Luís Raposo que luta pela dignificação da Arqueologia em Portugal tentando salvá-la de uma decisão absurda; Ban Ki-Moon por falar claro sobre os colonatos ilegais promovidos por Israel na terra dos palestinianos; Roman Polanski por tentar sobreviver a uma acusação da justiça que a alegada vítima diz não ter existido.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 19 – Quinta-feira, 25 de Março de 2010
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;
coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;
colaboração: Dagoberto Carvalho Júnior; Dias Costa; José Pereira Gonçalves; António Eça de Queiroz; Luís Manuel de Araújo.
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