Eça & Outras, III.ª série, n.º 201, domingo, 25 de maio de 2025
IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)
O que tenho andado para aí a escrever
sobre José Rentes de Carvalho
No
passado dia 15 de maio o escritor José Rentes de Carvalho completou 95 anos de
vida lúcidos, atentos e irónicos na sua casa de Estevais de Mogadouro, onde
voltou recentemente vindo de Amsterdam na companhia da sua esposa Loeckie. Sem
querer perturbar o seu habitual recato e relações familiares, um grupo de
amigos e admiradores foi de Vila Nova de Gaia a Trás-os-Montes saudá-lo e com
ele conviver um pouco nas vésperas desta data jubilosa: o autor destas linhas;
Maria de Fátima Teixeira, curadora do seu espólio; António Manuel Silva,
arqueólogo e membro dos corpos sociais dos Amigos do Solar Condes de Resende –
Confraria Queirosiana; Paula Carvalhal, vereadora da Cultura da Câmara de Gaia;
a que se juntaram os votos de felicitações de outros amigos, como Eva Batista,
que mandou o jornal «Melhor Escola» com a entrevista que os seus alunos fizeram
ao escritor publicada no passado dia 25 de abril nas páginas de O Gaiense;
Nelson Campos de Moncorvo que, na impossibilidade de também estar presente,
mandou vinhos e abraços. Por estes caminhos, e ainda com os amigos Carlos de
Abreu, poeta e historiador da Revista Memória Rural e das relações
transfronteiriças; seu colaborador Carlos Seixas, advogado de Felgar; Ana
Proença Filipe, vereadora da Cultura da
Câmara de Vila Nova de Foz Côa, também minha ex-aluna de Património na
Universidade Portucalense Infante D. Henrique. Com todos eles fomo-nos
inteirando do desenvolvimento cultural e social da região e falando da nossa
associação e do seu projeto para a concretização do roteiro cultural rentesiano
entre Vila Nova de Gaia, Porto, linha do Douro, Pocinho (Vila Nova de Foz Côa),
Moncorvo, Estevais e Mogadouro, obviamente sem esquecer Amsterdam e a sua
universidade, e o mundo que o escritor liofilizou nas páginas dos seus muitos
livros, libertando a sua literatura da água lustral dos localismos e dos
contextos temporários, musculando-a com eternidades.
Visitando
o escritor em Estevais do Mogadouro desde 2005, fomos dando conta que a aldeia
se vai renovando e espairecendo, com casa renovadas e o empreendimento da Casa
Grande de Estevais transformada em unidade hoteleira pelo Dr. Jorge Noronha que
perpetua a memória do seu antigo proprietário, o Dr. Armando Pimentel, amigo
que foi de José Rentes de Carvalho recordado em textos, na lavra do azeite e de
outros mimos locais destes montes virgilianos e na fachada da Biblioteca que
ali ostenta o seu nome.
Mas
para além das prendas de cortesia que lhe trouxemos, que retribuiu com novas
peças para acrescentar ao seu espólio, algumas muito pessoais, como o livro Montyn, de Dirk Ayelt Kooiman, oferecido
a sua mulher Loeckie num almoço no Palácio Real Huis Tem Bosch em Haia pelo
príncipe consorte Claus, com dedicatória autografada num cartão pessoal datada
de 13 de novembro de 1995, entendi que estes noventa e cinco anos mereciam da
minha parte uma prenda mais ampla que pudesse partilhar com todos os outros
amigos e os atuais e futuros leitores do escritor e usufruidores do seu legado
cultural. E para tal concretizar decidi reunir num livro a totalidade de todos
os textos que sobre ele publiquei desde que o conheci pessoalmente em 2005,
apresentados pela ordem cronológica com que foram divulgados, o que dá origem a
inevitáveis repetições de alguns pormenores, desde simples notícias sobre novas
edições das suas obras em Portugal e na Holanda até às ligações biográficas a
Vila Nova de Gaia refletidas na sua obra, uma abordagem á história e ao
urbanismo do lugar do Monte dos Judeus onde nasceu, a escola primária do Estado
Novo que frequentou, até peripécias do seu retorno a Vila Nova de Gaia nos
últimos anos e a homenagem que a autarquia lhe fez, bem assim como a sua
insigniação na Confraria Queirosiana e um capítulo extraordinário que lhe foi
dedicado e a doação de todo o seu espólio pessoal que se encontra depositado e
a ser inventariado no Solar Condes de Resende. Em duas entrevistas procurei
chegar à génese da sua prosa e ao seu significado na Literatura Portuguesa e
europeia, e tentar perceber o enorme sucesso dos seus livros entre os leitores
portugueses e holandeses e do início da sua difusão noutros países. Não sendo a
análise literária a minha profissão, como historiador de História Contemporânea
procuro enquadrar as suas tremendas incursões no Portugal de hoje num tempo já
longo que a sua longevidade lhe permite e nos apraz.
Inicialmente
publicados em eca-e-outras.blospot.com, a news letter mensal da
Confraria Queirosiana, alguns destes textos foram também publicados no jornal O
Primeiro de Janeiro, no As Artes Entre As Letras (de portas sempre
escancaradas para o escritor pela sua diretora Nassalete Miranda), na Revista
de Portugal e em mais algumas publicações periódicas, tendo outros
permanecido praticamente inéditos porque apenas divulgados em âmbitos muito
específicos ou como e-mails.
Aqui
os reuni como homenagem ao maior escritor português vivo, a que acrescentei o
programa do curso livre «“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho),
comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril», o 32.º curso organizado
pelo autor desta compilação no Solar Condes de Resende desde 1991, por motivos
óbvios de que convém ficar registo. Estará disponível na Feira do Livro do
Porto deste ano.
Por
último recordemos aqui a afetiva e intelectual ligação de J. Rentes de
Carvalho, desde juvenil idade, à prosa, ao saber, à ironia e à figura de Eça de
Queirós, o que o levou a promover a edição das suas principais obras em
Neerlandês pela Uitgeverij De Arbeiderspers, Amsterdam/ Antwerpen – A Relíquia, 1989; O Crime do Padre Amaro, 1990; A
Cidade e as Serras, 1992; O Primo
Basílio, 1994; Os Maias, 2001 –
acompanhados de estudos complementares, que fizeram com que este escritor
oitocentista passasse a ser tão conhecido nos Países Baixos como Fernando
Pessoa ou Saramago. Como o escritor poveiro, também Rentes de Carvalho poderia
hoje escrever: «Na minha terra, onde nem vivo, eu sou apenas um cansado e velho
fazedor de livros que passa… a presença angustiosa das misérias humanas, tanto
velho sem lar, tanta criancinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de
monarquias ou repúblicas para realizar a única obra urgente do mundo, a “casa
para todos, o pão para todos”, lentamente me tem tornado um vago anarquista
entristecido, idealizador, humilde, inofensivo… Anarquismo, mesmo vago;
tristeza, mesmo filosófica; idealização, mesmo escondida não compõem um bom
cortesão» (Eça de Queirós, A Rainha, 1898). Mas esta seria apenas uma
das facetas queirosianas do autor de Ernestina, pois é bem possível que
uma outra mais prazenteira se revelasse em expressões como estas na sua perene
atitude: «Em resumo adoro a Vida – de que são igualmente expressões uma rosa e
uma chaga, uma constelação e (com horror o confesso) o concelheiro Acácio…
Creio na Vida todo-poderosa, criadora do Céu e da Terra…» (Idem, A
Correspondência de Fradique Mendes).
O
que eu gostaria de ter andado para aí a escrever sobre José Rentes de Carvalho
se tivesse arte para tal e não apenas esta canhestra admiração infinita pela
sua pessoa e pela sua obra.
J. A. Gonçalves
Guimarães
Historiador
A ASCR-CQ esteve em…
Fotografia
António Manuel S.P. Silva
No
passado dia 9 de maio uma delegação da associação composta por J. A. Gonçalves
Guimarães. António Manuel S. P. Silva e Maria de Fátima Teixeira, que teve
também a presença da confrade Paula Carvalhal, vereadora do pelouro da Cultura
da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, deslocou-se a Estevais do Mogadouro
para cumprimentar o confrade de honra José Rentes de Carvalho, que no dia 15
completou noventa e cinco anos de vida, tendo sido recebidos pelo escritor e
sua mulher Loeckie, tendo na ocasião lhe sido comunicado que na próxima Feira
do Livro do Porto será lançado uma antologia de crónicas e outros textos em sua
homenagem. Para além de ter oferecido mais algum espólio documental à
associação, foram ainda abordadas diversas outras ações relacionadas com a
promoção da sua obra a partir do mesmo. A delegação contatou ainda com o Dr.
Nelson Campos, do Museu do Ferro de Moncorvo, o Doutor Carlos de Abreu da
Revista Memória Rural e a Dr. Ana Proença Filipe, vereadora da Cultura de
Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, e o Dr. Jorge Noronha da Casa Grande
de Estevais (Biblioteca Armando Pimentel), sobre a nossa proposta da organização
de um roteiro rentesiano.
No dia 22 de maio J. A. Gonçalves
Guimarães participou na Tertúlia Quartel da Serra do Pilar Passado e Presente,
em Vila Nova de Gaia, em que foi palestrante sobre «O Mosteiro da Serra do Pilar,
a moldura paisagística e a sua transformação em Praça Militar» conjuntamente com o Prof. Doutor Sérgio
Veludo sobre «O
Quartel da Serra do Pilar, a sua importância ao longo da História desde o
início do Séc. XIX até meados do Séc. XX» e os Tenentes Coroneis José Batista e Alexandra
Nascimento sobre «O Quartel da Artilharia, sua importância
na Guerra do Ultramar e no 25 de abril de 1974. A transferência do RA5 para
Vendas Novas e o Comando do Pessoal no Quartel da Serra do Pilar» tendo o
painel sido coordenado e moderado pelo Coronel de Artilharia Homero Abrunhosa, Homero
Abrunhosa, comandante da unidade, tendo estado presentes o Tenente General João
Pedro Boga Ribeiro e outras autoridades militares e civis, e vários associados
e confrades entre o público interessado. Esta ação foi também a apresentação
pública de um projeto de realização de um livro bilingue sobre este complexo
monumental que deverá ser lançado no final do ano.
Fotografia Paula Carvalhal (CMVNG)
No dia 23, J. A. Gonçalves Guimarães participou na
igreja do Mosteiro de Corpus Christi na zona histórica de Vila Nova de Gaia, no
debate de abertura do XVII Festival Internacional da Máscara Ibérica, subordinado
ao tema «A regeneração das Tradições», conjuntamente com Carlos Magno, jornalista
e professor universitário, Alexandra Pereira, coordenadora da área de Turismo
do ISLA e a moderação do sociólogo Hélder Ferreira, da organização,
apresentando diferentes perspetivas sobre as festividades dos rituais com máscara.
No próximo dia 29 de maio pelas 18,30 horas, na habitual palestra das
últimas quintas-feiras do mês, presenciais e via zoom, o Dr. João Fernandes
historiador da Arte e responsável pelo Solar Condes de Resende, falará sobre «A Procissão das Cinzas
da Ordem Terceira de São Francisco do Porto».
Curso no Solar
No Solar Condes de Resende
decorreu ontem dia 24 de maio a sessão de encerramento do curso livre
«“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos
da Revolução do 25 de Abril», com a presença de vários dos seus professores e
membros dos corpos socais da associação e do Dr. João Fernandes, responsável
pelo Solar. Logo no início, J. A. Gonçalves Guimarães começou por fazer um
balanço desta ação educativa analisando cada uma das aulas ministradas pelos
diversos professores de várias universidades, passando de seguida à
apresentação do programa do próximo curso a iniciar a 4 de outubro, evocativo dos 200 anos
do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025). Contando esta sessão com a
presença de diversos membros do conselho editorial da revista Gaya. Estudos de História, Arqueologia e
Património, do Gabinete de História, Arqueologia e Património da
associação, o seu coordenador, Prof. Doutor António Manuel S. P. Silva, fez a
apresentação de cada um dos artigos deste n.º 2 desta nova série, convidando
cada um dos autores presentes a comentar o seu trabalho, após o que se seguiu
um convívio entre todos os presentes no bar do Solar.
Outras conferências por diversos
associados
Vários
associados e confrades têm também realizado outras conferências e palestras ao
serviço de outras entidades. Assim recentemente o Prof. Doutor Luís Manuel de
Araújo lecionou no El Corte Inglês – Gaia um curso em três sessões sobre o
«Antigo Egito. Uma civilização com três mil anos». No mesmo espaço o Prof.
Doutor José Manuel Tedim lecionou um curso breve sobre «Pintura Portuguesado
séculos XV e XVI, de Nuno Gonçalves a António Campelo», tendo ainda proferido
para os alunos do Colégio de Nossa Senhora da Bonança, Vila Nova de Gaia no dia
30 de Abril uma palestra sobre «O 25 de Abril e a Arte», que também repetiu nas
suas aulas no Instituto D. António Ferreira Gomes no Porto.
No passado dia 12 de maio
no I Colóquio Internacional da Universidade Lusófona e da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, o Professor Doutor David Rodrigues do Conselho
Nacional da Educação e da Universidade de Lisboa falou na conferência de
abertura sobre «Educação inclusiva. Viver juntos e justos».
No próximo
dia 27 de maio, numa realização da Associação de Solidariedade Social dos
Professores de Évora na Biblioteca Pública local, o Professor Doutor Carlos
Reis da Universidade de Coimbra fará uma conferência sobre «Eça de Queirós – do
Jornalismo à Ficção».
Livros
& Periódicos
Como
acima já referimos, no passado dia 24 no Solar Condes de Resende foi lançado o número
2 da nova série da revista Gaya. Estudos
de História, Arqueologia e Património, editada pelo Gabinete de História,
Arqueologia e Património da ASCR-CQ, que apresenta os seguintes artigos:
«Trabalhos arqueológicos no Castro da Madalena, Vila Nova de Gaia (2020-2023) –
revelar um passado ou inventar um futuro?», por António Manuel S. P. Silva;
«Anéis e alianças de vidro no contexto do espólio das escavações arqueológicas
da Igreja do Bom Jesus de Gaia» por J. A. Gonçalves Guimarães; «A numária
antiga em Vila Nova de Gaia» por Henrique Pereira Ferreira; «A estrutura
fundiária e senhorial no vale inferior do rio Febros no século XVII» por Paulo
Jorge Cardoso de Sousa e Costa; «José Maria Santana e Silva, pároco de
Mafamude» por João Luís Fernandes; «A 1.ª República e a Lei da Separação do
Estado das Igrejas: o caso de António Pinto de Paiva Freixo em Crestuma, Vila
Nova de Gaia» por Maria de Fátima Teixeira; «Património escolar edificado gaiense:
proposta de enquadramento para a sua salvaguarda» por Ana Vaz, Eva Baptista e
José António Afonso. O preço de capa (incluindo portes e embalagem) é de 15 €,
podendo ser comprado por via postal.
Em edição da Câmara Municipal de Alfândega da Fé e de Lema d’
Origem Editora foi recentemente apresentado o livro O Lagar d’ El Rei em Alfândega da Fé. Um património sempre presente,
da autoria do Dr. Paulo Sousa e Costa, que nesta edição aborda desde os
conceitos de Património, passando pelo estabelecimento do morgadio dos Távora e
seus descendentes, a história deste equipamento rural e da sua importância na
olivicultura da região e do país, incluindo ainda um trabalho inédito do
agrónomo alfandeguense José António Ochoa, apresentado como dissertação final
no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa em 1885 e intitulado «Cultura da
Oliveira no Distrito de Bragança».
David Rodrigues vai lançar um novo livro de poemas sobre o qual
escreveu o seguinte no texto de apresentação: «A etimologia esclarece que
“astrolábio” é um buscador de estrelas, um meio criado para, através delas,
encontrar uma orientação. Uma orientação que sendo etimologicamente o ato de
mostrar o oriente, se modificou de forma a indicar a posição, o sentido, a
direção, um rumo para um caminho ou uma ideia. (…) Aproveitei a simbologia dos
pontos cardeais para organizar os poemas deste livro. No Norte reuni os poemas
menos vibrantes, mais introspetivos e até mais desanimados, poemas mais
sombrios. Ao Sul destinei poemas de gratidão e de alegria, aceitando o convite
da luz e do calor. Nestes poemas não falta o toque de humor que tão boa
companhia me tem feito na vida. No Leste juntei os poemas de amor e de amizade.
Amor pela vida, pelas pessoas e amor romântico que, tal como a poesia, é sempre
uma ponte entre o real e o imaginário. No Oeste agrupei os poemas mais
reflexivos, com uma vertente mais introspetiva sobre os valores da vida e o
mundo». O autor fará uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa pelas
17 horas no dia 7 de junho; uma apresentação na Reitoria da Universidade do
Porto no dia 9 de julho; uma outra sessão de autógrafos na Feira do livro do
Porto no dia 30 de agosto e uma outra sessão de lançamento em data posterior em
Lisboa.
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Eça
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(Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de
Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
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publicação no jornal As Artes Entre As
Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção:
Amélia Cabral; colaboração: Micael Fernandez (QSP); Paula Carvalhal (CMVNG)