sexta-feira, 25 de julho de 2025

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 203, sexta-feira, 25 de julho de 2025

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

A Confraria Queirosiana editora de obras escolhidas


Logo desde a sua criação que a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana (ASCR-CQ) se foi lentamente tornando uma pequena editora de obras escolhidas: a primeira edição, coincidente com a sua fundação e feita em colaboração com outras entidades (e assim continuou a ser até por falta de capitais próprios) foi o álbum de Luís Manuel de Araújo, Imagens do Egipto Queirosiano. Recordações da jornada oriental de Eça de Queirós e o Conde de Resende em 1869, editado em 2002. Este autor, egiptólogo e professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, viria a ser convidado para diretor da nova série da Revista de Portugal, editada anualmente pela associação desde 2004, estando já no seu 22.º número neste ano de 2025. Naturalmente que o vamos também aí encontrar como autor de vários artigos sobre Egiptologia, viagens e recensões de obras diversas. Naquele mesmo ano de 2004 é publicada a primeira brochura informativa sobre a Confraria Queirosiana compilada por J. A. Gonçalves Guimarães, diretor-adjunto da Revista de Portugal e aí publicando artigos de fundo e de investigação sobre temas queirosianos, História, Arqueologia e Património. Seguir-se-ão em 2016 e 2023 outras edições desta brochura com outros colaboradores e diversas atualizações,

Em 2006, também com a colaboração de diversas entidades, é publicada a dissertação de mestrado de Susana Cristina Gomes Gonçalves Guimarães, sobre a Casa onde a associação tem a sua sede por protocolo com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, intitulada A Quinta da Costa em Canelas. Vila Nova de Gaia (1766 1816). Família, Património e Casa. Nesse mesmo ano a associação inicia a publicação de edições conjuntas com a Gailivro (que já colaborava na edição da Revista de Portugal) e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a que se seguirão edições conjuntas com câmaras municipais de São João da Pesqueira e de Vila Nova de Gaia, Associação dos Amigos de Pereiros, Palimage, Casa Ramos Pinto, Quinta da Boeira e várias outras instituições.

No ano seguinte Maria de Fátima Teixeira coordenará a edição do primeiro catálogo do Salon d’ Automne Queirosiano, que terá novas edições até 2019, apresentando obras de artistas plásticos profissionais e amadores associados.

O centenário da República foi evocado em 2010 com a publicação de Republicanos, Monárquicos e Outros. As Vereações Gaienses durante a 1.ª República (1910-1926), da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães, e em 2012, a publicação, em edição conjunta com a editora Palimage, da dissertação de mestrado de Nuno Resende intitulada Vínculos Quebrantáveis. O Morgadio de Boassas e as suas Relações, séculos XVI-XVIII.

Desde a fundação do Gabinete de História a Arqueologia de Vila Nova de Gaia em 1982 que este grupo de trabalho profissional foi publicando estudos nessas áreas. Integrado em 2004 na associação e prosseguindo as intervenções arqueológicas em outras localidades e desde 2010 no Castelo de Crestuma, com a colabora das Águas e Parque Biológico de Gaia e para apoio de uma exposição itinerante, a associação publicou em 2013 a brochura Castelo de Crestuma. A Arqueologia em busca da História, da autoria de António Manuel S. P. Silva e J. A. Gonçalves Guimarães, corolário de um grande número de estudos e posters sobre esta intervenção dispersos por revistas e atas de congressos nacionais e estrangeiros que deverão vir a ser reunidos em monografia.

Em 2016, no âmbito das evocações do centenário da I.ª Grande Guerra publicou o relato, inédito por mais de um século, Memórias de um Expedicionário a Moçambique (1917-1919), de José Pereira do Couto Soares, com prefácio do jornalista e historiador Manuel Carvalho.

Do projeto dos investigadores-tarefeiros que desde 2006 a associação organiza no Solar Condes de Resende com o patrocínio da Câmara de Gaia, têm saído muitos textos de investigação, dissertações de mestrado e teses de doutoramento já publicados, alguns dos quais pela associação, como foi o caso de Cultura e Lazer. Operários em Gaia, entre o final da Monarquia e o início da República (1893-1914), de Licínio Santos; e Companhia de Fiação de Crestuma. Do Fio ao Pavio, de Maria de Fátima Teixeira, ambos em 2017.

Ainda em 2016, e por proposta da Câmara Municipal de Gaia, a associação organizou uma vasta equipa de investigadores para darem corpo ao projeto PACUG, do qual em 2019 foi publicado o primeiro de dez volumes intitulado Património Cultural de Gaia. Património Humano. Personalidades Gaienses, organizado por J. A. Gonçalves Guimarães e Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, com mais 23 autores, a que se seguiu em 2022 o volume Património Cultural de Gaia. Património de Gaia no Mundo, dirigido por J. A. Gonçalves e Francisco Queiroz com mais 26 autores. Ainda em 2019 foi publicado um outro novo estudo de uma investigadora-tarefeira, Eça de Queirós e o Caminho de Ferro, da autoria de Joana Almeida Ribeiro.

Em 2021, em colaboração com o Arquivo da Igreja Lusitana, a associação publicou uma edição fac-similada do Esboço – Boletim dos Jovens do Torne. 50 anos de persistências (1970-2020), publicação ecuménica que à época foi mandada suspender pelas autoridades por ser ilegal e “inconveniente” e em cuja elaboração então participaram diversos atuais dirigentes da associação. E nesse mesmo ano é lançado o livro Eça & Outras. Crónicas Queirosianas, de J. A. Gonçalves Guimarães, que em 2022 terá aqui publicada a sua tese de doutoramento, A Frota Mercantil do Porto e o Comércio com o Brasil entre 1818 e 1825.

Em 2023 a associação publica uma obra de José Marques, antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que lha deixara para esse fim, o Património Régio nos Julgados de Gaia e de Vila Nova em 1346 e a antiga revista anual do Gabinete de História e Arqueologia volta a ressurgir, agora com a nova designação Gaya. Estudos de História, Arqueologia e Património, coordenada por António Manuel S. P. Silva, cujo n.º 2 se publicou em 2024.

Em 2025, para além da espectável publicação do n.º 3 da revista acima referida, do n.º 22 da Revista de Portugal e do PACUG 3, Património Cultural de Gaia. Gaia no Século XX, dirigido por J. A. Gonçalves Guimarães e José Alberto Rio Fernandes, tendo sido entretanto publicado pela associação um seu capítulo em edição autónoma intitulada O Museu Azuaga na génese dos museus gaienses, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães.

Como vemos pelo quase-catálogo acima descrito, a ASCR-CQ tem-se esforçado por levar ao mundo dos leitores um novo universo de temas queirosianos mas também da galáxia das Diversidades universais.

Não, já não acreditamos que «…fora de França apenas cinco mil pessoas talvez terão lido Victor Hugo – e que não passará decerto de dez mil o número de criaturas que lhe saiba o nome, incluindo mesmo a vasta massa democrática de que ele é o épico oficial. E já isto constitui um famoso progresso – desde o tempo em que Voltaire ambicionava ter cem leitores!» (Eça de Queirós, Cartas de Inglaterra). Todos estes livros e revistas estão à vossa disposição on line ou na próxima Feira do Livro do Porto.

 

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador

 

J. Rentes de Carvalho Prémio D. Diniz

 

No passado dia 23 a Fundação Casa de Mateus divulgou os vencedores do prémio D. Diniz 2024. O júri, composto por Fernando Pinto do Amaral (presidente) e Pedro Mexia e Mário Cláudio, atribuiu este galardão, que já existe desde 1980, a Carlos Ascenso André, pela sua tradução de A Arte de Amar de Ovídio, e ao escritor natural de Vila Nova de Gaia, J. Rentes de Carvalho, pela sua obra Cravos e Ferraduras, coletânea de textos referente aos 50 anos posteriores ao 25 de Abril. Neste momento com 95 anos de idade e em Amsterdam, este nosso confrade honorário, que doou todo o seu espólio à Confraria Queirosiana, para além dos prémios que tem vindo a receber e do enorme reconhecimento dos leitores Portugueses e Holandeses pela sua obra, vai também ser homenageado pela associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, EUP, através do lançamento de um livro da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães que será lançado na próxima Feira do Livro do Porto. Entretanto a entrega do Prémio D. Diniz será feita na Fundação Casa de Mateus, em Vila Real, em data a anunciar.

 

Realizações da ASCR-CQ

 

No passado dia 26 de junho a palestra da última 5.ª feira do mês organizada pela ASCR-CQ no Solar Condes de Resende, presencial e por videoconferência, foi proferida pela jornalista Filipa Júlio, licenciada em Comunicação Social e atualmente mestranda na Universidade de Coimbra, sobre o tema «Raízes: património cultural e afetivo de Grijó e Sermonde, Vila Nova de Gaia, através das memórias de vida dos seus habitantes mais velhos», baseada no seu livro recentemente publicado Raízes. Memória a fazer cultura, premiado num concurso promovido pela Junta de Freguesia de Grijó e Sermonde que o editou. No prefácio do mesmo, J. A. Gonçalves Guimarães escreveu:

«Tendo [Filipa júlio] ido ouvir os grijoenses que nasceram durante a 2.ª Grande Guerra ou poucos anos depois, indagando as suas vivências desde a infância, foi dar voz e para sempre fixar as memórias que o tempo apagaria se não fora este trabalho ora editado. Contrapontando o discurso direto de pessoas analfabetas ou de poucas letras, mas de incontornáveis experiências de vida, a uma só voz ou em coros de opiniões convergentes ou divergentes, que diversos são os pontos de vista nesta comunidade assumidamente interdependente, a autora arrumou as conversas pelo calendário da vida, desde os gritados nascimentos em casa e os esporádicos recursos ao sistema hospitalar… passando pelas parlengas e cantigas infantis “para enganar a fome”, as escola do engano nas miragens de vida justa, as ansiedades das festas populares a quebrarem a modorra dos dias, os bailes e os namoros, as que casavam de branco para terem filhos e serem viúvas e as outras que nunca o seriam, as associações e coletividades, a economia local de subsistência e as promessas de indústrias, as crenças, as terapêuticas empíricas com o recurso a espécies botânicas apanhadas na paisagem circundante que a dispendiosa botica ignorava, as rezas e imprecações aos entes do panteão tradicional, a relação de cada um e de todos com os representantes dos poderes distantes, o estado, a igreja e o destino, materializados nos seus representantes municipais e locais, pastores então atentos aos tresmalhos do rebanho».

 

A ASCR-CQ esteve em…

 

No dia 05 de junho passado teve lugar a tomada de posse dos corpos sociais da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, de cujos corpos sociais passou a fazer parte o nosso confrade Dr. António Pinto Bernardo, vogal da direção da ASCR-CQ.

No dia 4 de julho presentes no concerto realizado no salão nobre do Solar Condes de Resende «Da renascença a Oitocentos: a Música na vida social e privada do século XIX», apresentado pelo Dr. João Fernandes e com a atuação do Ensemble de Guitarras do Conservatório Regional de Gaia.

No dia 5 de julho a ASCR-CQ colaborou com a Casa da Arquitetura, Matosinhos, na realização do seu programa anual Open House, tendo J. A. Gonçalves Guimarães guiado uma série de visitas ao Mosteiro da Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia, monumento que desde há anos vem a estudar, agora integrado numa equipa que está a escrever um livro a editar no final do ano pelo Exército Português.

Nesse mesmo dia e a convite da coligação Bloco de Esquerda+Livre+ Outros, o mesmo profissional da Cultura participou na Escola Secundária António Sérgio num debate sobre as eleições autárquicas e em especial a Cultura em Vila Nova de Gaia. Por força dos Estatutos ASCR-CQ, esta associação tem como objetivos, entre outros, «promover a investigação arqueológica, antropológica, histórica, patrimonial, artística, literária e científica, sobre quaisquer formas de expressão e outras ações que valorizem e divulguem o conhecimento» (Art.º 4.º c) e deve «manter boas relações com todas as instituições que tenham objetivos culturais semelhantes» (Idem, f), como deverá ser o caso das associações cívicas conhecidas como partidos políticos. Na sequência das últimas eleições para os seus corpos gerentes a associação contatou todos as organizações partidárias com assento na assembleia municipal de Vila Nova de Gaia para lhes apresentar o seu programa de atividades para os próximos quatro anos, bem assim como para debater com elas aspetos da Cultura a nível local, nomeadamente aqueles que tocam diretamente os seus objetivos estatutários, como é o caso do Solar Condes de Resende. Refira-se, a propósito, que apenas aceitaram a proposta e reuniram com a direção da ASCR-CQ, o Bloco de Esquerda, o PCP/CDU e o PSD, não tendo recebido qualquer contacto dos restantes partidos ou coligações. Naquele propósito e nas reuniões havidas foi reafirmada a nossa disponibilidade para, como associação cultural com estatuto de utilidade pública, continuar a debater aquelas questões sempre que tal seja julgado oportuno, como é o caso das próximas eleições autárquicas e da consequente renovação do executivo municipal. Por esse motivo o presidente da direção aceitou o convite da coligação Bloco+Livre+Independentes de Vila Nova de Gaia para estar presente naquela sua realização, assim como aceitará participar, nas mesmíssimas condições, em iniciativas semelhantes de todas as forças partidárias que o queiram, para debate de conceitos, equipamentos, agentes e programas que convinha serem repensados e renovados nos próximos anos a nível local, regional, nacional e internacional.

No dia 9, o presidente da direção da ASCR-CQ participou numa tertúlia no antigo Quartel General no Porto, intitulada «Quartel de Santo Ovídio, Passado e Presente», a qual foi organizada pelo coronel Homero Abrunhosa com o mesmo propósito da anteriormente realizada no Mosteiro da Serra do Pilar, a publicação de um livro sobre deste monumento pelo Exército Português. Nela participaram os autores indigitados para a sua concretização, tendo na ocasião J. A. Gonçalves Guimarães recordado que foi ali vizinho e proprietário da Quinta de Santo Ovídio, o comandante do Regimento de Infantaria 18 do Porto e herói da luta contra as Invasões Francesas, Manuel Pamplona Carneiro Rangel Barreto de Figueiroa, visconde de Beire, marechal de campo, governador de Armas do Porto, morgado da Quinta da Costa (em Canelas, hoje Solar Condes de Resende) e bisavô dos filhos de Eça de Queirós.

No dia 14 de julho, Dia Nacional da França, por convite do Dr. Manuel de Novaes Cabral, cônsul honorário de França no Porto e confrade queirosiano, muitos Franceses e Portugueses encontraram-se para celebrar o evento no Lycée Français Internationale de Porto, entre os quais diversos confrades em representação de várias entidades da cidade, da região e do país. A sessão abriu com a audição do hino da União Europeia, seguido do hino nacional Português, e por fim do hino nacional da França, a que se seguiram momentos de convívio nos jardins. A ASCR-CQ esteve representada pelo presidente da direção.

No sábado 19 decorreu no auditório da Associação Empresarial do Porto em Matosinhos um ciclo de conferências evocativo dos 50 anos do STSS - Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica, onde esteve presente como convidado um dos seus fundadores em 1975, o atual presidente da direção da ASCR-CQ. Seguiu-se um almoço de confraternização numa quinta das imediações.

 

A ASCR-CQ vai estar em…

 

Amanhã dia 26 de julho, sábado, a partir das 14 horas no Mosteiro de Grijó, em Vila Nova de Gaia, J. A. Gonçalves Guimarães vai participar como historiador profissional do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ na V Conferência Pelos Caminhos de Santiago organizada pela Confraria de Santiago da Paróquia de São Salvador de Grijó, com uma comunicação intitulada «Pelos Caminhos de Santiago: uma abordagem histórica». Esta mesma comunicação será apresentada na “Palestra da última quinta-feira do mês” no próximo dia 31 de julho no Solar Condes de Resende, presencial e via Zoom.

Encontro FAMP

Nos dias 26 a 28 de setembro vai decorrer no Museu do Douro, na Régua e na região envolvente, o Encontro Nacional FAMP 2025, organizado com a colaboração da direção do museu e da Associação de Amigos do Museu do Douro. Destina-se à partilha de experiências entre a federação e os diversos grupos de amigos nela filiados, devendo ser fomentada a presença dos Jovens FAMP neste seu encontro anual que vai realçar a importância da comemoração do Dia Europeu dos Amigos dos Museus, a 12 de outubro.

____________________________________________________________Eça & Outras, III.ª série, n.º 203, sexta-feira, 25 de julho de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: António Pinto Bernardo.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 202, quarta-feira, 25 de junho de 2025

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Dois exércitos de paz invadem-nos todos os dias

Deambulando pela Beira-rio de Gaia deparei-me com uma pacífica invasão de Portugueses e estrangeiros que ocupavam as ruas as esplanadas as vielas os hotéis os alojamentos locais os cantos e esquinas os monumentos os cais as embarcações no Rio Douro. Não pareciam uma força organizada, pois eram de todas as idades, desde jovens desembaraçados a idosos trôpegos, e mesmo crianças, tinham colorações de pele e aspetos visuais muito variados, exibindo trajos e adereços diversos, uns como se tivessem acabado de chegar da travessia do deserto de Atakama, outros como que do último desfile de moda da Côte d’ Azur, a maioria dos apertos de Bebe-e-dorme, das Ramblas de Barcelona ou do Comedepressaevai-tembora de qualquer aeroporto. Falavam diversíssimas línguas, mas geralmente trauteavam um travel english universalizante, alguns ensaiavam um “obligado” no final da breve abordagem e quase todos demandavam por portwines, ali disponibilizados em todos os antigos armazéns agora transformados em lojas de “souvenires”, onde se pode degustar um vinhote barato, comprar um boné da equipa de baseball dos garbagemen de Nova Iorque, um leque andaluz, peças de bugigangada europeia ou aficana, um lenço “à vianesa” made in China. Deambulando quase sempre entre nadas e coisas nenhumas, ou por entre monumentos entretanto submetidos a tratamentos de tecnicolor, estes exércitos quase sempre pacíficos, «trotam pelo gosto corporal de trotar… e no seu trote contínuo através dos continentes vão assobiando, porque não vão pensando. Na realidade são vagabundos» (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas «Eduardo Prado»).

Muito menos benevolente, e conhecendo-os de Paris ou de Amesterdam, há quem os defina como umA Praga: «Eu sei que nada exterminará o turista: ele procria, associa-se, faz prosélitos… Os próprios governos aliciam-no para que viage mais e mais. Porque viajando deixa lucro (Os danos causados? Quem viver que cuide). A indústria e o comércio enfeitiçam-no com folhetos sobre paragens exóticas, onde o sol brilha em permanência e todos os dias são de festa. Onde o mar é sempre calmo, o bosque sempre verde, o amor e a amizade sempre à mão. E ele, crente, só sonha em partir… caminhando em massa para os museus de réplicas num mundo de pacotilha» (J. Rentes de Carvalho, Mazagran. Recordações & outras fantasias, Quetzal, 2012, pp. 223/224). Um pouco por todo o lado encontramos estes devotos da ilusão atentos ao rancho folclórico de empregados de escritório travestidos de camponeses de postal ilustrado a cantarem e a saracotearem o «Apit’ó comboio», a visitarem os ossos de um santo que nunca existiu, à procura de desconhecidos celtas e a divertirem-se com uma versão soft da Lenda do Rei Ramiro. Por fim, um pouco cansados, sentam-se no Jardim do Morro a admirar gratuitamente o pôr-do-sol que se avermelha nos longes do mar por sobre o arco da Ponte da Arrábida, talvez nostalgias endócrinas de antigas partidas e chegadas pela barra do Douro.

Por causa deste exército invasor se tem macaqueado muita coisa, se inventa, se disponibilizam banalidades, romeus e julietas em Itália, pedros e inêses em Portugal, glórias pintadas em azulejos ou estampadas ao arrepio de toda a História, Arqueologia, Antropologia e Património, que as literatices dos turismos têm verbas para manter criadores de conteúdos digitais, guias nepaleses de tuque-tuque e outros que tais, além de artistas de inexistentes referências, de homenagens ao efémero, esculturas de esferovite. Mas também sei que, geralmente, e tirando os grunhos das claques futeboleiras, este exército é pacífico e para trás apenas deixa lixo, latas de refrigerantes vazias e de sensações momentâneas que não iriam perdurar se, amanhã, não viesse nova vaga deles. Mas por eles não haverá nem bombas, nem genocídios, pois será tudo low coast, que a guerra verdadeira custa milhões e exige arreganhos de estado.

Mas também no nosso tempo, e paralelamente a este exército dos turistas, encontrei há dias um outro exército numa rua da cidade do Porto, alinhado numa extensa fila que ia desembocar numa repartição pública, formado por muitos homens e mulheres com papéis na mão ou em precárias pastas, também com aspetos humanos diferentes nos trajos nas poses. Alguns deles envergavam umas vestes ou uma cobertura de cabeça mais inusitada nestas bandas. Muitos com um ar exausto e ansioso em relação ao lentíssimo despacho da fila. De vez em quando um saía sorridente da repartição estatal exibindo uns carimbos na papelada, como se tivera já vencido uma dura batalha de uma guerra sem fim à vista. São migrantes, gente pacífica que deixou a sua terra de origem, às vezes no outro lado do mundo, para vir até aqui trabalhar, ganhar uns dinheiros que lá longe eram mais avaros, ou simplesmente não estavam disponíveis. Outros fugindo de guerras, de mortandades, de desastres ecológicos, de conflitos locais e regionais irresolúveis ou sem fim à vista nas previsões engravatadas das Nações Unidas. Contrapondo a tudo isto, já no século XIX se sabia que «as emigrações, quando são bem compostas, criam na sua pátria fortes apoios morais e são a melhor garantia da harmonia internacional… Ela [a emigração] estabelece a fusão das raças, cria novos tipos de humanidade e novas originalidades de temperamento. Ela dá ao homem civilizado uma posse mais completa do globo… É uma criadora de ciência e, pelos seus movimentos grandiosos e fecundos, uma força civilizadora na humanidade. (Eça de Queirós, A Emigração como Força Civilizadora, 3.ª edição, Lisboa: Edições D. Quixote, 2001, p. 124, 125 e 126).

Dir-me-ão que nem tudo são rosas ou cravos em torno destes dois pacíficos exércitos que ora nos invadem. E para tal aquilatarmos basta lembrarmo-nos que nós, Portugueses, também no passado e com batalhões algo semelhantes, ainda que às vezes armados em guerra, invadimos outros povos e territórios um pouco por todo o mundo sem pedir licença ou propor acordo prévio. Também conhecemos os desastrosos resultados de quando estes exércitos, o dos turistas e o dos emigrantes, não chegam previamente anunciados e portadores de um sorriso da esperança estampado no rosto. E também sabemos dos bandos de hienas e de chacais que quantas vezes os acompanham para deles obterem o mais rentável das inércias locais ou da confusão que o excesso da sua presença origina. E conhecemos os argumentos dos profetas da desgraça que querem a todo o custo fazer-nos crer nas excelências do seu ridículo e exclusivo quintal que nem dá couves que cheguem para a sopa costumeira.

Mas sobre estes dois pacíficos exércitos invasores das nossas cidades não é esta última a nossa esperança, ou a da Humanidade. Herdámos estas cidades de outros esperançados migrantes do passado, que também aqui chegaram vindos de longes terras, e deve ser em nosso nome e no nome deles que hoje estamos aqui a receber os participantes nestes dois pacíficos movimentos que chegam quotidianamente até nós, o dos turistas e o dos migrantes, sobre os quais, parafraseando Eça de Queirós no final da obra acima citada, direi que são a afirmação, e mesmo a apologia, de forças civilizadoras.

 

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador

 

                                         José Rentes de Carvalho, maio de 2025; fotografia de António Manuel S. P. Silva


J. Rentes de Carvalho gaiense honorário

No passado dia 20 de junho na sessão comemorativa do Dia do Município de Vila Nova de Gaia que teve lugar no recentemente inaugurado Pavilhão Multiusos Nelson Mandela, a Câmara Municipal atribuiu a Medalha de Honra que confere o título de Cidadão Honorário por ter «prestado serviços de excecional relevância contribuindo desse modo para o bem social geral, para o bom nome e prestígio do Município e para a sua projeção nacional e internacional» ao Prof. Dr. José Rentes de Carvalho, aqui nascido a 15 de maio de 1930, escritor; antigo professor da Universidades de Amsterdam; comendador da Ordem do Infante D. Henrique; medalha de Mérito Municipal de Vila Nova de Gaia – classe ouro (2001); confrade honorário da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, EUP; Personalidade do Ano 2023 pela CCDR-Norte, I. P., entre outras distinções. Na impossibilidade de estar presente o agraciado delegou no presidente da direção da ASCR-CQ, J. A. Gonçalves Guimarães, que recebesse a distinção das mãos do presidente da Câmara, Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues na referida cerimónia. Seguiu-se o concerto Os Sons e as Vozes de Gaia em que atuaram conjuntamente as quatro filarmónicas de Gaia, com diversos maestros e vários solistas que no final interpretaram a versão integral do Hino Nacional de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça.

A ASCR-CQ esteve em…

No dia 31 de maio no Pavilhão Multiusos Nelson Mandela na gala “Melhor Escola”, promovida pelo jornal O Gaiense e destinada a premiar os jornais apresentados a concurso pelos professores e alunos das escolas secundárias, públicas, privadas e confessionais, de Vila Nova de Gaia. Para além de vários dirigentes e confrades em representação de várias escolas e outras instituições, estiveram presentes o presidente da direção e a Dr.ª Maria de Fátima Teixeira de Gabinete de História, Arqueologia e Património. A associação colaborou com professores e alunos de várias das escolas concorrentes na concretização de conteúdos.

No dia 7 de junho estivemos presentes em Matosinhos no capítulo da Confraria Gastronómica do Mar representados pela Prof. Doutora Ana Paula Ferreira Brito.

No dia 8 de junho, e também como habitualmente por gentileza do Cônsul Honorário de Itália no Porto, Dr. Paolo Pozzan, e do presidente honorário da associação Dante Alighieri, General Ângelo Arena, o presidente da direção J. A. Gonçalves Guimarães; o Prof. Doutor José Manuel Tedim, professor de História da Arte, e senhora, e o Dr. António Pinto Bernardo, dos corpos sociais da ASCR-CQ; o Dr. Manuel de Novaes Cabral, diretor do Museu Nacional Ferroviário; a Doutora Maria da Glória Gonçalves, também confrade; a Dr.ª Maria de Fátima Teixeira do Gabinete de História, Arqueologia e Património; e outros associados e confrades em representação de diversas entidades, estiveram presentes nas comemorações do Dia de Itália que teve lugar na Pousada do Freixo no Porto, obra do grande arquiteto italiano Nicolau Nasoni.

No dia 20 de junho, nas celebrações do dia do Município de Gaia que decorreram no Pavilhão Multiusos Nelson Mandela (ver acima homenagem a J. Rentes de Carvalho), para além da presença de J. A. Gonçalves Guimarães e de Maria de Fátima Teixeira como curadores do espólio daquele escritor oferecido à confraria e a seu pedido para receberem a medalha outorgada pela autarquia, estiveram presentes vários confrades por inerência dos cargos autárquicos que desempenham na Câmara Municipal e em algumas Juntas de Freguesia.

Curso no Solar

Encontra-se em fase de certificação o próximo curso promovido pela Academia Eça de Queirós no Solar Condes de Resende sobre os «200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025)» que terá o seguinte calendário, programa e professores: 1 – 4 de outubro - Teoria da Literatura: o que é? Para que serve? por Sérgio Sousa, Centro de Estudos Camilianos;  2 – 11 de outubro - Camilo Castelo Branco e Vila Nova de Gaia, por J. A. Gonçalves Guimarães, ASCR – Confraria Queirosiana; 3 – 25 de outubro - A Gastronomia em Camilo, por Elzira Queiroga, Centro de Estudos Camilianos; 4 – 8 de novembro – Reler Camilo hoje, por Sérgio Sousa, Centro de Estudos Camilianos; 5 – 29 de novembro - Retratos de Gaia pela objetiva literária, por Cármen Matos Abreu; 6 – 13 de dezembro - Camilo e Eça de Queirós, por Irene Fialho; 7 – 10 de janeiro - Abade Santana de Mafamude, personagem camiliano, por João Fernandes, Solar Condes de Resende; 8 – 24 de janeiro - Camilo e a Arte por José Manuel Tedim, ASCR – Confraria Queirosiana; 9 – 7 de fevereiro – Camilo e o Teatro, por Júlio Gago, ex-administrador do TEP; 10 – 21 de fevereiro - Camilo e o Cinema, por Mário Augusto, jornalista da RTP; 11 – 8 de março - Teixeira de Vasconcelos, escritor “camiliano”, por Maria de Fátima Teixeira, ASCR – Confraria Queirosiana; 12 – 29 de março - Domingos Carvalho da Silva, um poeta brasileiro, por António Conde; 13 – 4 de abril - J. Rentes de Carvalho e a ficção atual, por Arie Pos; 14 – 12 de abril – visita de estudo à Casa Museu de São Miguel de Seide e sarau camiliano com a atuação do grupo musical Eça Bem Dito.

As aulas, presenciais e por videoconferência, decorrem no Solar Condes de Resende, ao sábado à tarde, normalmente de quinze em quinze dias, entre as 15 e as 17 horas, entre outubro e abril do ano seguinte. A visita de estudo terá condições específicas.

Coordenados desde 1991 por J. A. Gonçalves Guimarães, este curso tem o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia através do Solar Condes de Resende, com a certificação de Gaia Nascente - Centro de Formação de Associação de Escolas e o apoio do programa “Camilo a Norte 200” da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N)

Outras conferências

No passado dia 4 de junho, no Auditório Adriano Moreira da Sociedade de Geografia de Lisboa, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo realizou uma conferência sobre «Vasos de vísceras egípcios em Portugal».

Amante Holandesa agora em filme

No passado dia 28 de maio o escritor José Rentes de Carvalho em Estevais do Mogadouro assinou um contrato com o diretor da empresa de filmes e séries para televisão Hoptelevisao, sediada em Vila Nova  de Gaia, para a produção de A Amante Holandesa, um dos seus mais conhecidos romances editado pela primeira vez na Holanda no ano 2000.

 

Livros & Periódicos

 

Escrito durante a pandemia do Covid por J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães, este estudo passou logo a estar disponível em print, com o título «A universalidade da Coleção Marciano Azuaga», tendo assim sido citado por diversos autores. Foi depois revisto e adaptado para figurar como o capítulo final da obra Património Cultural de Gaia. Gaia, Século XX, organizada por J. A. Gonçalves Guimarães e José Alberto Rio Fernandes onde recebeu o título «O Museu Azuaga na génese dos museus gaienses», sendo agora publicado em separata pela Confraria Queirosiana. Com cerca de sessenta páginas e uma exaustiva bibliografia este estudo aborda em pormenor todos os núcleos de objetos vindos um pouco de todo o mundo colecionados por um antigo chefe da estação ferroviária das Devesas que em 1904 legou à autarquia que manteve o Museu Azuaga aberto até 1930 quando o mesmo deixou de estar patente ao público. Só a partir dos finais dos anos oitenta no Solar Condes de Resende algumas das suas peças ou núcleos começaram então a ser estudadas e voltaram a ser exibidas e publicados os respetivos catálogos.

 


No final de maio passado foi lançado no stand de Portugal na Bookfest 2025 em Bucareste esta Antologia de poemas galaico-portugueses dos séculos XII a XIV, organizada pela Prof. Doutora Cristina Petrescu, que teve a seu lado o tradutor Dan Caragea e outros colaboradores na obra e editada pela Eikon.

Neste lançamento, esta professora da Universidade Babes Bolyai de Cluj-Napoca, nossa confrade honorária e também cantora lírica, interpretou duas das canções medievais traduzidas, acompanhada ao violão por seu irmão Bogdan Moraru. Entretanto a obra teve ainda outros lançamentos, como aquele que teve lugar no dia 13 de junho no Museu de Arte Cluj, também com a presença do tradutor Dan Caragea e do professor José Bettencourt Gonçalves. Também aí voltaram a ser interpretados alguns poemas acompanhados ao violão por Doru Cailean.

 

Distinções

A 29 de maio passado e por despacho da Ministra da Cultura, professora Doutora Dalila Rodrigues, o projeto Edição da Revista de Portugal – Anos 2025/2028, uma iniciativa da responsabilidade dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, foi declarado de interesse cultural para efeitos de Mecenato Cultural.

A 31 de maio em Almada, na sessão comemorativa do Dia Nacional do Movimento Associativo e do encerramento do Centenário da CPCCRD - Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura Recreio e Desporto, a cuja mesa do congresso preside o nosso confrade Dr. Manuel Moreira, foi outorgado ao nosso confrade César Fernando Couto Oliveira o “Galardão de Reconhecimento e Mérito”, materializado nos respetivos diplomas e medalha atribuídos por aquela instituição em reconhecimento do seu trabalho em prol do movimento associativo, quer na nossa associação, de que foi presidente da assembleia geral, quer na FCVNG - Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia onde vem desempenhando o mesmo cargo.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 202, quarta-feira, 25 de junho de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: António Manuel S. P. Silva; César Oliveira:

 

segunda-feira, 26 de maio de 2025

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 201, domingo, 25 de maio de 2025

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

O que tenho andado para aí a escrever sobre José Rentes de Carvalho

No passado dia 15 de maio o escritor José Rentes de Carvalho completou 95 anos de vida lúcidos, atentos e irónicos na sua casa de Estevais de Mogadouro, onde voltou recentemente vindo de Amsterdam na companhia da sua esposa Loeckie. Sem querer perturbar o seu habitual recato e relações familiares, um grupo de amigos e admiradores foi de Vila Nova de Gaia a Trás-os-Montes saudá-lo e com ele conviver um pouco nas vésperas desta data jubilosa: o autor destas linhas; Maria de Fátima Teixeira, curadora do seu espólio; António Manuel Silva, arqueólogo e membro dos corpos sociais dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana; Paula Carvalhal, vereadora da Cultura da Câmara de Gaia; a que se juntaram os votos de felicitações de outros amigos, como Eva Batista, que mandou o jornal «Melhor Escola» com a entrevista que os seus alunos fizeram ao escritor publicada no passado dia 25 de abril nas páginas de O Gaiense; Nelson Campos de Moncorvo que, na impossibilidade de também estar presente, mandou vinhos e abraços. Por estes caminhos, e ainda com os amigos Carlos de Abreu, poeta e historiador da Revista Memória Rural e das relações transfronteiriças; seu colaborador Carlos Seixas, advogado de Felgar; Ana Proença  Filipe, vereadora da Cultura da Câmara de Vila Nova de Foz Côa, também minha ex-aluna de Património na Universidade Portucalense Infante D. Henrique. Com todos eles fomo-nos inteirando do desenvolvimento cultural e social da região e falando da nossa associação e do seu projeto para a concretização do roteiro cultural rentesiano entre Vila Nova de Gaia, Porto, linha do Douro, Pocinho (Vila Nova de Foz Côa), Moncorvo, Estevais e Mogadouro, obviamente sem esquecer Amsterdam e a sua universidade, e o mundo que o escritor liofilizou nas páginas dos seus muitos livros, libertando a sua literatura da água lustral dos localismos e dos contextos temporários, musculando-a com eternidades.

Visitando o escritor em Estevais do Mogadouro desde 2005, fomos dando conta que a aldeia se vai renovando e espairecendo, com casa renovadas e o empreendimento da Casa Grande de Estevais transformada em unidade hoteleira pelo Dr. Jorge Noronha que perpetua a memória do seu antigo proprietário, o Dr. Armando Pimentel, amigo que foi de José Rentes de Carvalho recordado em textos, na lavra do azeite e de outros mimos locais destes montes virgilianos e na fachada da Biblioteca que ali ostenta o seu nome.

Mas para além das prendas de cortesia que lhe trouxemos, que retribuiu com novas peças para acrescentar ao seu espólio, algumas muito pessoais, como o livro Montyn, de Dirk Ayelt Kooiman, oferecido a sua mulher Loeckie num almoço no Palácio Real Huis Tem Bosch em Haia pelo príncipe consorte Claus, com dedicatória autografada num cartão pessoal datada de 13 de novembro de 1995, entendi que estes noventa e cinco anos mereciam da minha parte uma prenda mais ampla que pudesse partilhar com todos os outros amigos e os atuais e futuros leitores do escritor e usufruidores do seu legado cultural. E para tal concretizar decidi reunir num livro a totalidade de todos os textos que sobre ele publiquei desde que o conheci pessoalmente em 2005, apresentados pela ordem cronológica com que foram divulgados, o que dá origem a inevitáveis repetições de alguns pormenores, desde simples notícias sobre novas edições das suas obras em Portugal e na Holanda até às ligações biográficas a Vila Nova de Gaia refletidas na sua obra, uma abordagem á história e ao urbanismo do lugar do Monte dos Judeus onde nasceu, a escola primária do Estado Novo que frequentou, até peripécias do seu retorno a Vila Nova de Gaia nos últimos anos e a homenagem que a autarquia lhe fez, bem assim como a sua insigniação na Confraria Queirosiana e um capítulo extraordinário que lhe foi dedicado e a doação de todo o seu espólio pessoal que se encontra depositado e a ser inventariado no Solar Condes de Resende. Em duas entrevistas procurei chegar à génese da sua prosa e ao seu significado na Literatura Portuguesa e europeia, e tentar perceber o enorme sucesso dos seus livros entre os leitores portugueses e holandeses e do início da sua difusão noutros países. Não sendo a análise literária a minha profissão, como historiador de História Contemporânea procuro enquadrar as suas tremendas incursões no Portugal de hoje num tempo já longo que a sua longevidade lhe permite e nos apraz.

Inicialmente publicados em eca-e-outras.blospot.com, a news letter mensal da Confraria Queirosiana, alguns destes textos foram também publicados no jornal O Primeiro de Janeiro, no As Artes Entre As Letras (de portas sempre escancaradas para o escritor pela sua diretora Nassalete Miranda), na Revista de Portugal e em mais algumas publicações periódicas, tendo outros permanecido praticamente inéditos porque apenas divulgados em âmbitos muito específicos ou como e-mails.

Aqui os reuni como homenagem ao maior escritor português vivo, a que acrescentei o programa do curso livre «“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril», o 32.º curso organizado pelo autor desta compilação no Solar Condes de Resende desde 1991, por motivos óbvios de que convém ficar registo. Estará disponível na Feira do Livro do Porto deste ano.

Por último recordemos aqui a afetiva e intelectual ligação de J. Rentes de Carvalho, desde juvenil idade, à prosa, ao saber, à ironia e à figura de Eça de Queirós, o que o levou a promover a edição das suas principais obras em Neerlandês pela Uitgeverij De Arbeiderspers, Amsterdam/ Antwerpen – A Relíquia, 1989; O Crime do Padre Amaro, 1990; A Cidade e as Serras, 1992; O Primo Basílio, 1994; Os Maias, 2001 – acompanhados de estudos complementares, que fizeram com que este escritor oitocentista passasse a ser tão conhecido nos Países Baixos como Fernando Pessoa ou Saramago. Como o escritor poveiro, também Rentes de Carvalho poderia hoje escrever: «Na minha terra, onde nem vivo, eu sou apenas um cansado e velho fazedor de livros que passa… a presença angustiosa das misérias humanas, tanto velho sem lar, tanta criancinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de monarquias ou repúblicas para realizar a única obra urgente do mundo, a “casa para todos, o pão para todos”, lentamente me tem tornado um vago anarquista entristecido, idealizador, humilde, inofensivo… Anarquismo, mesmo vago; tristeza, mesmo filosófica; idealização, mesmo escondida não compõem um bom cortesão» (Eça de Queirós, A Rainha, 1898). Mas esta seria apenas uma das facetas queirosianas do autor de Ernestina, pois é bem possível que uma outra mais prazenteira se revelasse em expressões como estas na sua perene atitude: «Em resumo adoro a Vida – de que são igualmente expressões uma rosa e uma chaga, uma constelação e (com horror o confesso) o concelheiro Acácio… Creio na Vida todo-poderosa, criadora do Céu e da Terra…» (Idem, A Correspondência de Fradique Mendes).

O que eu gostaria de ter andado para aí a escrever sobre José Rentes de Carvalho se tivesse arte para tal e não apenas esta canhestra admiração infinita pela sua pessoa e pela sua obra.

 

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador

 

A ASCR-CQ esteve em…

 

                                                                 Fotografia António Manuel S.P. Silva

No passado dia 9 de maio uma delegação da associação composta por J. A. Gonçalves Guimarães. António Manuel S. P. Silva e Maria de Fátima Teixeira, que teve também a presença da confrade Paula Carvalhal, vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, deslocou-se a Estevais do Mogadouro para cumprimentar o confrade de honra José Rentes de Carvalho, que no dia 15 completou noventa e cinco anos de vida, tendo sido recebidos pelo escritor e sua mulher Loeckie, tendo na ocasião lhe sido comunicado que na próxima Feira do Livro do Porto será lançado uma antologia de crónicas e outros textos em sua homenagem. Para além de ter oferecido mais algum espólio documental à associação, foram ainda abordadas diversas outras ações relacionadas com a promoção da sua obra a partir do mesmo. A delegação contatou ainda com o Dr. Nelson Campos, do Museu do Ferro de Moncorvo, o Doutor Carlos de Abreu da Revista Memória Rural e a Dr. Ana Proença Filipe, vereadora da Cultura de Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, e o Dr. Jorge Noronha da Casa Grande de Estevais (Biblioteca Armando Pimentel), sobre a nossa proposta da organização de um roteiro rentesiano.

 


                                                                Fotografia Micael Fernandez (QSP)

No dia 22 de maio J. A. Gonçalves Guimarães participou na Tertúlia Quartel da Serra do Pilar Passado e Presente, em Vila Nova de Gaia, em que foi palestrante sobre «O Mosteiro da Serra do Pilar, a moldura paisagística e a sua transformação em Praça Militar» conjuntamente com o Prof. Doutor Sérgio Veludo sobre «O Quartel da Serra do Pilar, a sua importância ao longo da História desde o início do Séc. XIX até meados do Séc. XX» e os Tenentes Coroneis José Batista e Alexandra Nascimento sobre «O Quartel da Artilharia, sua importância na Guerra do Ultramar e no 25 de abril de 1974. A transferência do RA5 para Vendas Novas e o Comando do Pessoal no Quartel da Serra do Pilar» tendo o painel sido coordenado e moderado pelo Coronel de Artilharia Homero Abrunhosa, Homero Abrunhosa, comandante da unidade, tendo estado presentes o Tenente General João Pedro Boga Ribeiro e outras autoridades militares e civis, e vários associados e confrades entre o público interessado. Esta ação foi também a apresentação pública de um projeto de realização de um livro bilingue sobre este complexo monumental que deverá ser lançado no final do ano.

                                                            Fotografia Paula Carvalhal (CMVNG)

No dia 23, J. A. Gonçalves Guimarães participou na igreja do Mosteiro de Corpus Christi na zona histórica de Vila Nova de Gaia, no debate de abertura do XVII Festival Internacional da Máscara Ibérica, subordinado ao tema «A regeneração das Tradições», conjuntamente com Carlos Magno, jornalista e professor universitário, Alexandra Pereira, coordenadora da área de Turismo do ISLA e a moderação do sociólogo Hélder Ferreira, da organização, apresentando diferentes perspetivas sobre as festividades dos rituais com máscara.

No próximo dia 29 de maio pelas 18,30 horas, na habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, presenciais e via zoom, o Dr. João Fernandes historiador da Arte e responsável pelo Solar Condes de Resende, falará sobre «A Procissão das Cinzas da Ordem Terceira de São Francisco do Porto».

        

Curso no Solar

No Solar Condes de Resende decorreu ontem dia 24 de maio a sessão de encerramento do curso livre «“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril», com a presença de vários dos seus professores e membros dos corpos socais da associação e do Dr. João Fernandes, responsável pelo Solar. Logo no início, J. A. Gonçalves Guimarães começou por fazer um balanço desta ação educativa analisando cada uma das aulas ministradas pelos diversos professores de várias universidades, passando de seguida à apresentação do programa do próximo curso a iniciar a 4 de outubro, evocativo dos 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025). Contando esta sessão com a presença de diversos membros do conselho editorial da revista Gaya. Estudos de História, Arqueologia e Património, do Gabinete de História, Arqueologia e Património da associação, o seu coordenador, Prof. Doutor António Manuel S. P. Silva, fez a apresentação de cada um dos artigos deste n.º 2 desta nova série, convidando cada um dos autores presentes a comentar o seu trabalho, após o que se seguiu um convívio entre todos os presentes no bar do Solar.

 

Outras conferências por diversos associados

Vários associados e confrades têm também realizado outras conferências e palestras ao serviço de outras entidades. Assim recentemente o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo lecionou no El Corte Inglês – Gaia um curso em três sessões sobre o «Antigo Egito. Uma civilização com três mil anos». No mesmo espaço o Prof. Doutor José Manuel Tedim lecionou um curso breve sobre «Pintura Portuguesado séculos XV e XVI, de Nuno Gonçalves a António Campelo», tendo ainda proferido para os alunos do Colégio de Nossa Senhora da Bonança, Vila Nova de Gaia no dia 30 de Abril uma palestra sobre «O 25 de Abril e a Arte», que também repetiu nas suas aulas no Instituto D. António Ferreira Gomes no Porto.

No passado dia 12 de maio no I Colóquio Internacional da Universidade Lusófona e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o Professor Doutor David Rodrigues do Conselho Nacional da Educação e da Universidade de Lisboa falou na conferência de abertura sobre «Educação inclusiva. Viver juntos e justos».



No próximo dia 27 de maio, numa realização da Associação de Solidariedade Social dos Professores de Évora na Biblioteca Pública local, o Professor Doutor Carlos Reis da Universidade de Coimbra fará uma conferência sobre «Eça de Queirós – do Jornalismo à Ficção».


Livros & Periódicos

 


Como acima já referimos, no passado dia 24 no Solar Condes de Resende foi lançado o número 2 da nova série da revista Gaya. Estudos de História, Arqueologia e Património, editada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ, que apresenta os seguintes artigos: «Trabalhos arqueológicos no Castro da Madalena, Vila Nova de Gaia (2020-2023) – revelar um passado ou inventar um futuro?», por António Manuel S. P. Silva; «Anéis e alianças de vidro no contexto do espólio das escavações arqueológicas da Igreja do Bom Jesus de Gaia» por J. A. Gonçalves Guimarães; «A numária antiga em Vila Nova de Gaia» por Henrique Pereira Ferreira; «A estrutura fundiária e senhorial no vale inferior do rio Febros no século XVII» por Paulo Jorge Cardoso de Sousa e Costa; «José Maria Santana e Silva, pároco de Mafamude» por João Luís Fernandes; «A 1.ª República e a Lei da Separação do Estado das Igrejas: o caso de António Pinto de Paiva Freixo em Crestuma, Vila Nova de Gaia» por Maria de Fátima Teixeira; «Património escolar edificado gaiense: proposta de enquadramento para a sua salvaguarda» por Ana Vaz, Eva Baptista e José António Afonso. O preço de capa (incluindo portes e embalagem) é de 15 €, podendo ser comprado por via postal.

 


Em edição da Câmara Municipal de Alfândega da Fé e de Lema d’ Origem Editora foi recentemente apresentado o livro O Lagar d’ El Rei em Alfândega da Fé. Um património sempre presente, da autoria do Dr. Paulo Sousa e Costa, que nesta edição aborda desde os conceitos de Património, passando pelo estabelecimento do morgadio dos Távora e seus descendentes, a história deste equipamento rural e da sua importância na olivicultura da região e do país, incluindo ainda um trabalho inédito do agrónomo alfandeguense José António Ochoa, apresentado como dissertação final no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa em 1885 e intitulado «Cultura da Oliveira no Distrito de Bragança».



David Rodrigues vai lançar um novo livro de poemas sobre o qual escreveu o seguinte no texto de apresentação: «A etimologia esclarece que “astrolábio” é um buscador de estrelas, um meio criado para, através delas, encontrar uma orientação. Uma orientação que sendo etimologicamente o ato de mostrar o oriente, se modificou de forma a indicar a posição, o sentido, a direção, um rumo para um caminho ou uma ideia. (…) Aproveitei a simbologia dos pontos cardeais para organizar os poemas deste livro. No Norte reuni os poemas menos vibrantes, mais introspetivos e até mais desanimados, poemas mais sombrios. Ao Sul destinei poemas de gratidão e de alegria, aceitando o convite da luz e do calor. Nestes poemas não falta o toque de humor que tão boa companhia me tem feito na vida. No Leste juntei os poemas de amor e de amizade. Amor pela vida, pelas pessoas e amor romântico que, tal como a poesia, é sempre uma ponte entre o real e o imaginário. No Oeste agrupei os poemas mais reflexivos, com uma vertente mais introspetiva sobre os valores da vida e o mundo». O autor fará uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa pelas 17 horas no dia 7 de junho; uma apresentação na Reitoria da Universidade do Porto no dia 9 de julho; uma outra sessão de autógrafos na Feira do livro do Porto no dia 30 de agosto e uma outra sessão de lançamento em data posterior em Lisboa.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 201, domingo, 25 de maio de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Micael Fernandez (QSP); Paula Carvalhal (CMVNG)