sexta-feira, 25 de março de 2022

Eça & Outras

Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil

Participantes no 5.º Capítulo Extraordinário da Confraria Queirosiana

A Academia Alagoana de Letras no Solar Condes de Resende

A 12 de maio de 2021 os Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e a Academia Alagoana de Letras celebraram um acordo geral que tem como objetivos «promover a cooperação entre as duas instituições com o fim de realizarem conjuntamente atividades destinadas à promoção das culturas portuguesa e brasileira em todos os continentes e, notadamente, nos países lusófonos». Desde então as duas instituições têm mantido contatos para realizações conjuntas que já se materializaram na colaboração recíproca na Revista de Portugal n.º 18 (2021) e na Revista da Academia Alagoana de Letras n.º 25 (2021), bem assim como na participação em vários eventos culturais por videoconferência. Neste ano de 2022 decidiram participar conjuntamente nas Comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil e do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro.

         A cultura portuguesa e a brasileira vivem entrelaçadas desde que um tal Pero Vaz de Caminha em 1500 escreveu uma célebre carta ao rei D. Manuel I, um documento a todos os títulos notável que ainda hoje sabe bem ler. Se me perguntassem por um documento mais recente onde tal espírito mútuo prevalecesse, entre muitos outros, por certo, iria ali à minha estante pegar na Antologia da Poesia Brasileira de José Valle de Figueiredo, publicada nos anos setenta do século passado (Lisboa, Editorial Verbo, coleção Biblioteca Básica Verbo/ Livros RTP), e ler aqueles verseiros e alguns poetas que enxertaram na lusa inquietação a doçura da liana humanista tropical. Dir-me-ão que tanto em Portugal como no Brasil existem outros textos filosóficos, históricos, científicos e políticos que terão, em escala mais apurada, esse mesmo espírito. Certo será, mas agora quero algumas palavras que estejam mais perto da toada do violão e do pandeiro, que estas coisas devem celebrar-se com alegria.

         Logo desde a sua fundação que a Confraria Queirosiana se abeirou do Brasil, e não podia ser de outro modo, quer pela sua origem junto à barra do Douro, durante tanto tempo entrada de produtos tropicais e saída de gentes e mimos do Douro para os portos brasileiros, mas também pela história da casa onde se alojou, a Quinta da Costa/ Solar Condes de Resende, casa-mãe inspiradora de arquiteturas e vivências brasileiras logo desde o século XVII, e depois pela prosa de Eça de Queirós e do seu adiado projeto de ir ao outro lado do Atlântico, enquanto convivia com os amigos brasileiros em Paris mandando prosas para os seus periódicos e os seus editores caixotes de romances ali deveras apreciados. Desde 2008 que um grande obreiro desta ponte tem sido Dagoberto Carvalho Júnior, médico, historiador de Arte e cronista eciano, que nos foi trazido pelo casal Calheiros Lobo que numa das suas viagens o conheceu na Sociedade Eça de Queiroz do Recife e desde então tem animado, promovido e partilhado com Portugal essa ligação, como o confirma a fiada de seus livros que têm honras de prateleira nas nossas estantes. Também o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, durante a presidência do Dr. António Gomes da Costa (1934-2017), que connosco partilhou os seus manuscritos de Eça de Queirós com cópias depositadas à disposição dos estudiosos no nosso gabinete de estudos queirosianos. Mais recentemente a ponte é feita pelo Dr. Ricardo Haddad que nas suas regulares viagens entre as suas duas pátrias sempre nos brinda com preciosidades bibliográficas históricas e partituras do célebre compositor matrigaiense Artur Napoleão, o mestre de Chiquinha Gonzaga, que as imprimiu na sua casa editora do Rio de Janeiro.

Em tempos recentes foi estabelecido o contato através do confrade António Pinto Bernardo e do realizador Francisco Manso, por motivos diversos promotores encantados do Estado de Alagoas. E assim chegamos à fala e à prática com a Academia Alagoana de Letras, instituição centenária que nos dias de hoje se renova, quer na sua sede, quer nos projetos partilhados de exercícios literários dos seus mais notáveis académicos escritores e pela participação das novas e muito novas gerações nesses trabalhos de sensibilidade e sabedoria. E daí nos chega também o entusiasmo de Marcelo Malta que se fez nosso confrade.

Por todos estes motivos, e os que se adivinham em futuro, nos passados dias catorze e quinze de março a Confraria Queirosiana acolheu uma delegação daquela Academia, que começou por visitar o Palácio da Bolsa no Porto, onde foram recebidos pelo presidente da Associação Comercial, Dr. Nuno Botelho, tendo no dia seguinte sido recebidos em Vila Nova de Gaia no Museu da Casa Ramos Pinto, onde entre muitas outras ligações ao Brasil contemplaram a garrafa de vinho do Porto que acompanhou os célebres aviadores na 1.ª Travessia Aérea Lisboa-Rio de Janeiro que sobrevoaram Alagoas em 1922. Após o almoço no restaurante de um dos mais emblemáticos hotéis gaienses, a delegação alagoana acompanhada por vários membros da direção da entidade anfitriã, visitou a Casa-Museu Teixeira Lopes, onde igualmente várias obras de Arte lembram abraços artísticos entre ambos os países. Pelas cinco da tarde, no auditório do Solar Condes de Resende, a casa de Vila Nova de Gaia onde Eça se enamorou de Emília, Alberto Rostand Lanverly, presidente daquela instituição, falou sobre «A importância literária da Casa das Casas de Cultura Alagoanas» e o académico escritor Carlos Méro sobre «Eça de Queiroz e Graciliano Ramos criativo», a que se seguiu no salão nobre um capítulo extraordinário para acolher os dois palestrantes como confrades de honra, tendo na ocasião aquela academia retribuído com a designação de José Manuel Tedim, António Pinto Bernardo e o autor destas linhas como seus sócios correspondentes e outorgado à entidade anfitriã a medalha de honra do seu centenário. O grupo coral Eça Bem Dito brindou os presentes com algumas canções portuguesas e brasileiras do século XIX e a sessão encerrou com as palavras da Eng.ª Paula Carvalhal, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, em nome do presidente da edilidade. Os novos confrades, acompanhados de todos os presentes, depositaram seguidamente uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós existente no jardim das camélias, a que se seguiu um Porto de Honra convivial.

Daquela estátua, da sua tez de bronze, ecoaram-me então as palavras que um dia Eça enviou ao seu amigo brasileiro Eduardo Prado, que bem poderiam ser agora dirigidas a estes outros nossos confrades: «o que [os] chama assim a Portugal, seja esse conjunto de crenças e costumes, que em nós persiste porque condiz com o nosso génio nacional, onde ele[s] encontra[m] os moldes ancestrais do seu Brasil, e que do seu Brasil receia[m] que desapareçam rápida e tumultuariamente. Porque a afeição de Prado por Portugal é o complemento natural do seu amor pelo Brasil.» (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas).


J. A. Gonçalves Guimarães
secretário da direção

Curso de História, Património e Turismo

Aproxima-se do fim o curso sobre História - Património - Turismo, organizado pela Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ), com o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente (M.E.) que tem vindo a decorrer aos sábados à tarde no Solar Condes de Resende, presencial e por videoconferência. Assim no próximo dia 26 decorrerá a 13.ª sessão sobre «O roteiro queirosiano do Egito e Terra Santa» pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo, professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, membro da Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ) e da Associação de Amizade Portugal-Egipto, recentemente regressado de mais uma das suas já numerosas visitas guiadas a este roteiro com grande sucesso. Está previsto este curso terminar a 2 de abril, iniciando-se no mês de Outubro o próximo sobre a História de Portugal e do Brasil.

Livros e Revistas

       No passado dia 10 de março na Biblioteca Municipal do Barreiro, a Fundação Amélia de Mello homenageou o cidadão gaiense José Miguel Leal da Silva, engenheiro formado em Química Industrial na Universidade do Porto, professor e gestor, que revolucionou as técnicas de produção da Companhia União Fabril (CUF) do Barreiro, da qual foi diretor, deixando o seu legado nas indústrias química, mineira e metalúrgica. É também licenciado em Direito e tem um Mestrado em Antropologia. 

Para além de diversas intervenções sobre a vida e obra do homenageado, na ocasião foi lançado o livro José Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas, uma biografia da jornalista Maria João Alexandre, que resultou de várias entrevistas e de uma vasta pesquisa sobre este gestor da CUF, cujo arquivo ajudou a salvar no pós-25 de Abril, e dono de uma vida totalmente dedicada à indústria nacional.

Recentemente, através do capitão António Fernandes Fonseca Moreira ofereceu ao Solar Condes de Resende uma monumental edição de Os Lusíadas de Luís de Camões, editada pela Livraria Figueirinhas em 1974 e tem colaborado com uma das investigadoras do Gabinete de História, Arqueologia e Património num estudo sobre as Fábricas de Sulfureto de Carbono de Vila Nova de Gaia, nas quais em tempos trabalhou.


Entre os diversos sócios e confrades da ASCR-CQ existem vários interessados na temática dos automóveis clássicos e antigos, quer como historiadores, quer como colecionadores, quer como associados do Automóvel Club de Portugal ou de outros clubes da especialidade. É o caso do arquiteto Carvalho Couto, sócio dinamizador do Club Oval Azul, Automóveis Clássicos e Antigos Ford, que publicou na revista Topos & Clássicos n.º 241 de junho de 2021 o artigo «”Viagens na Minha Terra” por Penafiel», a propósito de uma iniciativa do Clube Penafidelense de Automóveis Antigos, que organiza visitas de clássicos a cada uma das 38 freguesias do município, possibilitando assim um convívio entre os seus detentores e os admiradores dos veículos presentes nestas ações.



Ricardo Charters d’Azevedo, habitual colaborador da
Revista de Portugal, tem já publicada uma vasta bibliografia sobre diversos aspetos da sua Leiria natal. Na sequência de Estórias da Nossa História, coletânea de programas radiofónicos difundidos entre 2015 e 2017 sobre os acontecimentos mais importantes da história de Leiria, muitos deles com caráter pícaro ou humorístico, simples curiosidades ou versando a região e o seu património, depois passados a textos publicados sob o referido título, desta feita deu à estampa a obra Mais Estórias da Nossa História. Referências sobre Leiria, também editada pela Hora de Ler, na qual complementa a primeira com muitos outros episódios.

        
Depois da edição portuguesa que aqui assinalamos, acaba de ser posta à venda a versão inglesa intitulada The War of the Two Brothers. The portuguese civil war 1828-1834, da autoria de Sérgio Veludo Coelho, professor de Património e investigador de História Militar com basta bibliografia nesta temática que recentemente participou no curso sobre História, Património e Turismo no Solar Condes de Resende. Esta edição é da editora Helion & Company Limited, Warwick, e é a obra número 12 da coleção «From Musket to Maxim 1815-1914». De assinalar que este investigador tem recorrido a documentação estrangeira, nomeadamente inglesa, para aclarar muitos aspetos sobre as Lutas Liberais que têm vindo a ser repetidos sem crivo crítico. O ciclo de evocações que se avizinha será com certeza uma excelente oportunidade para uma completa revisão histórica destes acontecimentos à luz das mais recentes investigações.

Conferências e palestras

       Retomadas as palestras das últimas quintas-feiras do mês organizadas pelos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana a partir da sua sede, presenciais e por videoconferência, no próximo dia 31 de Março, entre as 18,30 e as 19,30 o Mestre em História da Arte João Fernandes falará sobre «A Coleção de Arte Sacra do Solar Condes de Resende» em grande parte proveniente da antiga Coleção Marciano Azuaga e incorporações posteriores. Como vem sendo habitual, após a sessão alguns dos presentes vão continuar a conversa jantando num restaurante das redondezas.

Exposições

No passado dia 19 de Março, pelas 17,30 horas, após a aula do curso a decorrer no Solar Condes de Resende, abriu ao público nas suas salas de mostras temporárias, a exposição Toucados e Cerimónias organizada pelo Museu da Chapelaria de S. João da Madeira e montada com a colaboração do Pelouro da Cultura e da Programação Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Trata-se de uma notável coleção de adereços e acessórios para usar na cabeça, maioritariamente femininos (65 exemplares contra 3 masculinos) confecionados em diversos tecidos, entretelas e entrançados (crochets, bordados, entrançados, feltros, fitas, palhas, redes, seda, tules, veludo…) a alguns dos quais foram adicionados elementos decorativos noutros materiais (aljôfar, flores e folhas artificiais, joias, missanga, peles, penas, pérolas, plumas…), um mundo de encanto e sedução das primeiras décadas do século XX que, em certas cerimónias, se prolongou até aos nossos dias. Uma mostra de complementos icónicos de estatuto pessoal e social.

Alguma Comunicação Social impressa e multimédia tem vindo a dar relevo a algumas iniciativas dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana. Destacamos duas delas: a 19 de março o jornal O Gaiense de Vila Nova de Gaia, Portugal, publicou a notícia «Literatura uniu Portugal e Brasil» subscrita por Diogo Ferreira com fotografia de João Fernandes; a 23 de março o jornal Gazeta de Alagoas, de Alagoas, Brasil, publicou uma página do seu suplemento B. com o título «Construindo Pontes», com chamada à primeira página, da autoria da estagiária Thauane Rodrigues, ilustrada com três fotografias do 5.º Capítulo Extraordinário da Confraria Queirosiana realizado no Solar Condes de Resende como acima se noticiou.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 163, sexta-feira, 25 de março de 2022; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C. te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900 154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

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