Ano do Centenário da 1.ª Travessia Aérea Lisboa – Rio de Janeiro e do Bicentenário da Independência do Brasil
Participantes no 5.º Capítulo Extraordinário da Confraria Queirosiana
A Academia Alagoana de Letras no Solar Condes de Resende
A 12 de maio de 2021 os Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana e a Academia Alagoana de Letras celebraram um acordo
geral que tem como objetivos «promover a cooperação entre as duas instituições
com o fim de realizarem conjuntamente atividades destinadas à promoção das
culturas portuguesa e brasileira em todos os continentes e, notadamente, nos
países lusófonos». Desde então as duas instituições têm mantido contatos para
realizações conjuntas que já se materializaram na colaboração recíproca na Revista de Portugal n.º 18 (2021) e na Revista da Academia Alagoana de Letras
n.º 25 (2021), bem assim como na participação em vários eventos culturais por videoconferência.
Neste ano de 2022 decidiram participar conjuntamente nas Comemorações do
Bicentenário da Independência do Brasil e do Centenário da 1.ª Travessia Aérea
Lisboa – Rio de Janeiro.
A cultura portuguesa e a brasileira
vivem entrelaçadas desde que um tal Pero Vaz de Caminha em 1500 escreveu uma
célebre carta ao rei D. Manuel I, um documento a todos os títulos notável que
ainda hoje sabe bem ler. Se me perguntassem por um documento mais recente onde
tal espírito mútuo prevalecesse, entre muitos outros, por certo, iria ali à
minha estante pegar na Antologia da
Poesia Brasileira de José Valle de Figueiredo, publicada nos anos setenta
do século passado (Lisboa, Editorial Verbo, coleção Biblioteca Básica Verbo/
Livros RTP), e ler aqueles verseiros e alguns poetas que enxertaram na lusa
inquietação a doçura da liana humanista tropical. Dir-me-ão que tanto em
Portugal como no Brasil existem outros textos filosóficos, históricos,
científicos e políticos que terão, em escala mais apurada, esse mesmo espírito.
Certo será, mas agora quero algumas palavras que estejam mais perto da toada do
violão e do pandeiro, que estas coisas devem celebrar-se com alegria.
Logo desde a sua fundação que a
Confraria Queirosiana se abeirou do Brasil, e não podia ser de outro modo, quer
pela sua origem junto à barra do Douro, durante tanto tempo entrada de produtos
tropicais e saída de gentes e mimos do Douro para os portos brasileiros, mas
também pela história da casa onde se alojou, a Quinta da Costa/ Solar Condes de
Resende, casa-mãe inspiradora de arquiteturas e vivências brasileiras logo
desde o século XVII, e depois pela prosa de Eça de Queirós e do seu adiado
projeto de ir ao outro lado do Atlântico, enquanto convivia com os amigos
brasileiros em Paris mandando prosas para os seus periódicos e os seus editores
caixotes de romances ali deveras apreciados. Desde 2008 que um grande obreiro
desta ponte tem sido Dagoberto Carvalho Júnior, médico, historiador de Arte e
cronista eciano, que nos foi trazido pelo casal Calheiros Lobo que numa das
suas viagens o conheceu na Sociedade Eça de Queiroz do Recife e desde então tem
animado, promovido e partilhado com Portugal essa ligação, como o confirma a
fiada de seus livros que têm honras de prateleira nas nossas estantes. Também o
Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, durante a presidência do
Dr. António Gomes da Costa (1934-2017), que connosco partilhou os seus
manuscritos de Eça de Queirós com cópias depositadas à disposição dos estudiosos
no nosso gabinete de estudos queirosianos. Mais recentemente a ponte é feita
pelo Dr. Ricardo Haddad que nas suas regulares viagens entre as suas duas
pátrias sempre nos brinda com preciosidades bibliográficas históricas e
partituras do célebre compositor matrigaiense Artur Napoleão, o mestre de
Chiquinha Gonzaga, que as imprimiu na sua casa editora do Rio de Janeiro.
Em tempos recentes foi estabelecido o contato através
do confrade António Pinto Bernardo e do realizador Francisco Manso, por motivos
diversos promotores encantados do Estado de Alagoas. E assim chegamos à fala e
à prática com a Academia Alagoana de Letras, instituição centenária que nos
dias de hoje se renova, quer na sua sede, quer nos projetos partilhados de
exercícios literários dos seus mais notáveis académicos escritores e pela
participação das novas e muito novas gerações nesses trabalhos de sensibilidade
e sabedoria. E daí nos chega também o entusiasmo de Marcelo Malta que se fez
nosso confrade.
Por todos estes motivos, e os que se adivinham em
futuro, nos passados dias catorze e quinze de março a Confraria Queirosiana acolheu
uma delegação daquela Academia, que começou por visitar o Palácio da Bolsa no
Porto, onde foram recebidos pelo presidente da Associação Comercial, Dr. Nuno
Botelho, tendo no dia seguinte sido recebidos em Vila Nova de Gaia no Museu da
Casa Ramos Pinto, onde entre muitas outras ligações ao Brasil contemplaram a
garrafa de vinho do Porto que acompanhou os célebres aviadores na 1.ª Travessia
Aérea Lisboa-Rio de Janeiro que sobrevoaram Alagoas em 1922. Após o almoço no
restaurante de um dos mais emblemáticos hotéis gaienses, a delegação alagoana
acompanhada por vários membros da direção da entidade anfitriã, visitou a
Casa-Museu Teixeira Lopes, onde igualmente várias obras de Arte lembram abraços
artísticos entre ambos os países. Pelas cinco da tarde, no auditório do Solar Condes
de Resende, a casa de Vila Nova de Gaia onde Eça se enamorou de Emília, Alberto
Rostand Lanverly, presidente daquela instituição, falou sobre «A importância
literária da Casa das Casas de Cultura Alagoanas» e o académico escritor Carlos
Méro sobre «Eça de Queiroz e Graciliano Ramos criativo», a que se seguiu no
salão nobre um capítulo extraordinário para acolher os dois palestrantes como
confrades de honra, tendo na ocasião aquela academia retribuído com a
designação de José Manuel Tedim, António Pinto Bernardo e o autor destas linhas
como seus sócios correspondentes e outorgado à entidade anfitriã a medalha de
honra do seu centenário. O grupo coral Eça Bem Dito brindou os presentes com
algumas canções portuguesas e brasileiras do século XIX e a sessão encerrou com
as palavras da Eng.ª Paula Carvalhal, vereadora da Cultura da Câmara Municipal
de Vila Nova de Gaia, em nome do presidente da edilidade. Os novos confrades,
acompanhados de todos os presentes, depositaram seguidamente uma coroa de
louros na estátua de Eça de Queirós existente no jardim das camélias, a que se
seguiu um Porto de Honra convivial.
Daquela estátua, da sua tez de bronze, ecoaram-me então
as palavras que um dia Eça enviou ao seu amigo brasileiro Eduardo Prado, que
bem poderiam ser agora dirigidas a estes outros nossos confrades: «o que [os] chama
assim a Portugal, seja esse conjunto de crenças e costumes, que em nós persiste
porque condiz com o nosso génio nacional, onde ele[s] encontra[m] os moldes
ancestrais do seu Brasil, e que do seu Brasil receia[m] que desapareçam rápida
e tumultuariamente. Porque a afeição de Prado por Portugal é o complemento
natural do seu amor pelo Brasil.» (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas).
secretário da direção
Curso
de História, Património e Turismo
Aproxima-se do fim o curso sobre História - Património - Turismo, organizado pela Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ), com o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e certificado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente (M.E.) que tem vindo a decorrer aos sábados à tarde no Solar Condes de Resende, presencial e por videoconferência. Assim no próximo dia 26 decorrerá a 13.ª sessão sobre «O roteiro queirosiano do Egito e Terra Santa» pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo, professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, membro da Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ) e da Associação de Amizade Portugal-Egipto, recentemente regressado de mais uma das suas já numerosas visitas guiadas a este roteiro com grande sucesso. Está previsto este curso terminar a 2 de abril, iniciando-se no mês de Outubro o próximo sobre a História de Portugal e do Brasil.
Livros e Revistas
Para além de diversas intervenções sobre a
vida e obra do homenageado, na ocasião foi lançado o livro José
Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas, uma biografia da jornalista Maria João
Alexandre, que resultou
de várias entrevistas e de uma vasta pesquisa sobre este gestor da CUF, cujo
arquivo ajudou a salvar no pós-25 de Abril, e dono de uma vida totalmente
dedicada à indústria nacional.
Recentemente, através do capitão António
Fernandes Fonseca Moreira ofereceu ao Solar Condes de Resende uma monumental
edição de Os Lusíadas de Luís de
Camões, editada pela Livraria Figueirinhas em 1974 e tem colaborado com uma das
investigadoras do Gabinete de História, Arqueologia e Património num estudo
sobre as Fábricas de Sulfureto de Carbono de Vila Nova de Gaia, nas quais em
tempos trabalhou.
Entre os diversos sócios e confrades da ASCR-CQ existem vários interessados na temática dos automóveis clássicos e antigos, quer como historiadores, quer como colecionadores, quer como associados do Automóvel Club de Portugal ou de outros clubes da especialidade. É o caso do arquiteto Carvalho Couto, sócio dinamizador do Club Oval Azul, Automóveis Clássicos e Antigos Ford, que publicou na revista Topos & Clássicos n.º 241 de junho de 2021 o artigo «”Viagens na Minha Terra” por Penafiel», a propósito de uma iniciativa do Clube Penafidelense de Automóveis Antigos, que organiza visitas de clássicos a cada uma das 38 freguesias do município, possibilitando assim um convívio entre os seus detentores e os admiradores dos veículos presentes nestas ações.
Ricardo Charters d’Azevedo, habitual colaborador da Revista de Portugal, tem já publicada uma vasta bibliografia sobre diversos aspetos da sua Leiria natal. Na sequência de Estórias da Nossa História, coletânea de programas radiofónicos difundidos entre 2015 e 2017 sobre os acontecimentos mais importantes da história de Leiria, muitos deles com caráter pícaro ou humorístico, simples curiosidades ou versando a região e o seu património, depois passados a textos publicados sob o referido título, desta feita deu à estampa a obra Mais Estórias da Nossa História. Referências sobre Leiria, também editada pela Hora de Ler, na qual complementa a primeira com muitos outros episódios.
Depois da edição portuguesa que aqui assinalamos, acaba de ser posta à venda a versão inglesa intitulada The War of the Two Brothers. The portuguese civil war 1828-1834, da autoria de Sérgio Veludo Coelho, professor de Património e investigador de História Militar com basta bibliografia nesta temática que recentemente participou no curso sobre História, Património e Turismo no Solar Condes de Resende. Esta edição é da editora Helion & Company Limited, Warwick, e é a obra número 12 da coleção «From Musket to Maxim 1815-1914». De assinalar que este investigador tem recorrido a documentação estrangeira, nomeadamente inglesa, para aclarar muitos aspetos sobre as Lutas Liberais que têm vindo a ser repetidos sem crivo crítico. O ciclo de evocações que se avizinha será com certeza uma excelente oportunidade para uma completa revisão histórica destes acontecimentos à luz das mais recentes investigações.
Conferências e palestras
Retomadas as palestras das últimas quintas-feiras do mês organizadas pelos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana a partir da sua sede, presenciais e por videoconferência, no próximo dia 31 de Março, entre as 18,30 e as 19,30 o Mestre em História da Arte João Fernandes falará sobre «A Coleção de Arte Sacra do Solar Condes de Resende» em grande parte proveniente da antiga Coleção Marciano Azuaga e incorporações posteriores. Como vem sendo habitual, após a sessão alguns dos presentes vão continuar a conversa jantando num restaurante das redondezas.
Exposições
Alguma Comunicação Social impressa e multimédia tem
vindo a dar relevo a algumas iniciativas dos Amigos do Solar Condes de Resende
– Confraria Queirosiana. Destacamos duas delas: a 19 de março o jornal O
Gaiense de Vila Nova de Gaia, Portugal, publicou a notícia «Literatura
uniu Portugal e Brasil» subscrita por Diogo Ferreira com fotografia de João
Fernandes; a 23 de março o jornal Gazeta de Alagoas, de Alagoas,
Brasil, publicou uma página do seu suplemento B. com o título «Construindo Pontes», com chamada à primeira página,
da autoria da estagiária Thauane Rodrigues, ilustrada com três fotografias do
5.º Capítulo Extraordinário da Confraria Queirosiana realizado no Solar Condes
de Resende como acima se noticiou.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 163, sexta-feira, 25 de março de 2022;
propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende -
Confraria Queirosiana; C. te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900 154; email:
queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral.
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