segunda-feira, 25 de março de 2019

Eça & Outras


Eça & Outras, segunda-feira, 25 de março de 2019

No centenário de César Morais
         Quando no início de 2018 propus na Confraria Queirosiana o tema para a realização do habitual curso livre a iniciar em outubro, desta feita sobre o Património musical, fi-lo com alguns pressupostos: um deles a consciência de que esta é uma das áreas do saber menos conhecidas, pois a História da Música tem entre nós poucos cultores e a interpretação dos seus significantes ainda menos, dado que a existência de musicólogos é relativamente recente. Um outro era que, de um modo geral, mesmo quando os melómanos conhecem as obras musicais às vezes sabem pouco sobre os seus autores e as circunstâncias da sua produção. Depois, embora sabendo que a prática musical é vasta e multimodal, da música popular até à erudita, importava não ignorar ou menosprezar as suas diversas manifestações. Por fim, se é certo que não há nada mais universal do que a música, o ter vindo a constatar que, desde pelo menos a década de vinte do século passado que Vila Nova de Gaia se tem vindo a afirmar como um potencial alfobre de estudiosos, intérpretes, mestres, compositores, professores, maestros e divulgadores em todas as áreas musicais, nem sempre conhecidos como daqui naturais ou ligados por diversas razões a este município: Artur e Alfredo Napoleão; Armando Leça; Dina Teresa; Loubet Bravo; Adriano Correia de Oliveira; Günther Arglebe; Oliveira Lopes; Jorge Fontes; Maria José Morais; Mário Mateus; António Pinho Vargas; Simões da Hora; Cesário Costa; Rui Massena, ou as escolas e suas orquestras, como as da Academia de Vilar do Paraíso, do Conservatório Regional de Gaia, da Escola de Música de Perosinho e da ACMA, as bandas filarmónicas e certamente outros agrupamentos musicais, os bombos dos Mareantes do Rio Douro, um ou outro rancho folclórico, orfeão ou tuna, acontecimentos como o Festival Internacional de Canto Francisco de Andrade e o atual Festival Internacional de Música de Gaia, são apenas alguns exemplos da afirmação dessa pujança musical, que, quantas vezes, se manifesta com sucesso em palcos distantes. Mas neste programa queríamos também lembrar o compositor César Morais, cujo centenário do nascimento passou em 2018. Se é certo que o seu espólio pessoal e musical está hoje guardado e arquivado na Casa Museu Teixeira Lopes, a figura e a obra estão esquecidas. Quando procurávamos elaborar a aula que sobre tal apresentamos neste curso, deparamos com o seguinte testemunho de Álvaro Silva Teixeira, que não conheço pessoalmente, que diz tudo o que eu  poderia dizer, ainda que por outras palavras, e que aqui reproduzo com a devida vénia ao autor:
«HOMENAGEM PÓSTUMA A UM PROFESSOR. CÉSAR MORAIS foi o meu primeiro professor de harmonia e contraponto. Um bonacheirão. Vivia a vida com alegria. Dispersava tolerância e optimismo. Não aspirava à história! Acho que naqueles tempos de contemporaneidade forçada, estava mesmo convencido que o seu nome seria esquecido mal desaparecesse o último dos seus alunos.
Anos depois eu era compositor. Da contemporaneidade! As minhas obras passavam regularmente em todos, ou quase todos, os programas musicais da TV2. As obras de César Morais não passavam. Na realidade nem eram tocadas. A sua estética era clássica e conservadora. Quando falávamos nele era com um misto de ironia e desconsideração. Os nossos "mestres" nem sequer o consideravam um compositor. Nunca coloquei o nome dele no meu curriculum.
Hoje (16 de Agosto de 2004), por puro acaso do destino, veio-me parar às mãos um cd. No topo em letras grandes e brancas lia-se "César Morais" Não relacionei. Pensei ser um novo "compositor contemporâneo" e decidi escutá-lo. Estranhei. Era lindo mas neoclássico. O tal revivalismo, pensei.
Era uma interpretação belíssima da Orquestra Clássica do Porto sob direção de Werner Stiefel com Martin Ostertag no violoncelo. Continuei a escutar, sempre convencido ser algo conservador mas atual e gostei, apesar da estética "caduca"... Olhei para a contracapa e vi a foto de um busto familiar. Continuei sem relacionar. Talvez seja o maestro, pensei. Comecei a ler a biografia do compositor e ia tendo um "baque"- Mas este foi meu professor! O meu primeiro professor de harmonia, exclamei muito alto espantando todos os que se encontravam na sala.
A história é interessante e implacável: alguns dos "mestres" que desprezavam César Morais estão mais ou menos esquecidos. Espero que alguns venham a ser devidamente "recuperados" e valorizados, pois foram compositores de talento. Eu, por contextos vários, abandonei desde há muitos anos o trabalho de criação e desfiz o grupo de música que fundei e dirigi. Alguns de nós (os "contemporâneos") que mantiveram a produção e se "encostaram" a "mestres" influentes, estão no "top" mas talvez a história lhes venha a passar uma rasteira. E também a alguns dos "mestres" que acreditam já ter o seu nome gravado na eternidade...
César Morais faleceu em Agosto de 1992 e eu não soube de nada. É o único compositor português que figura no Dicionário de Biografias Internacionais publicado em Cambridge. Álvaro Silva Teixeira»
No século XIX, ainda sem a possibilidade de ouvir e degustar a música a qualquer momento reproduzida com incrível fidelidade, Eça de Queirós escreveu: «A nossa época é que devia produzir a música como a Grécia produziu a escultura, como a Europa gótica a arquitetura e a era das monarquias e das academias a tragédia raciniana. Com efeito, nunca, como neste tempo, as profundidades da alma, cavadas e alargadas pelas revoluções, estiveram tão fundas e tão ilimitadas. Durante a lei católica e os embrutecimentos monárquicos, a alma movia-se lenta como o mar, unida, calma, pesada, opaca e coberta de brumas. De repente as revoluções passaram pela noite sacudindo os seus fachos severos, donde saltavam constelações. A alma alumiou-se entre repelões brutais» (Prosas Bárbaras).
E para tal, desde então, também muito tem contribuído todo o Património musical, desde os mais modestos sons campestres até aos sinfónicos e gloriosos hinos à alegria universal.

J. A. Gonçalves Guimarães
mesário-mor da Confraria Queirosiana




150 anos da viagem ao Egito
     Para assinalar os 150 anos da viagem de Eça de Queirós ao Egito na companhia do 5.º Conde de Resende, a Confraria Queirosiana e a empresa de viagens Novas Fronteiras vão estabelecer um protocolo para a realização de Roteiros Queirosianos, o primeiro dos quais a concretizar em dezembro de 2019 com uma viagem ao Egito e Palestina conduzida pelo egiptólogo Professor Luís Manuel de Araújo, decalcada, tanto quanto possível, daquela outra que teve lugar em 1869 e da qual resultou, entre outros textos, o romance A Relíquia. Com partida de Lisboa a 26 de dezembro, os participantes seguirão para o Cairo e Alexandria e daí para a Terra Santa, passando o fim-de-ano em Jerusalém, regressando a 2 de janeiro.
         Entretanto aquele egiptólogo, diretor da Revista de Portugal e autor, entre muitos outros estudos, dos livros Imagens do Egipto Queirosiano e do Dicionário do Antigo Egipto, conduzirá igualmente, em datas mais recentes, nos próximos meses de abril e agosto, outras viagens ao Antigo Egito com a participação dos seus alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membros de várias outras instituições.

Património Cultural de Gaia
Prosseguem os trabalhos de levantamento, estudo e redação de textos para publicação dos diversos volumes do Património Cultural de Gaia (PACUG) em execução por diversas equipas organizadas e coordenadas pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, sendo este projeto financiado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Tendo já sido publicado o primeiro volume intitulado Património Humano. Personalidades Gaienses, coordenado por J. A. Gonçalves Guimarães e Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, encontra-se em trabalhos finais o segundo volume sobre Património de Gaia no Mundo/ Património do Mundo em Gaia, coordenado por J. A. Gonçalves Guimarães e Francisco Queiroz, a publicar em Junho próximo, a que se seguirá o volume sobre Património de Gaia no século XX, coordenado por José Alberto Rio Fernandes.
Como aquela primeira edição se destinou a distribuição institucional a autarquia gaiense celebrou recentemente um outro protocolo com a ASCR-Confraria Queirosiana e as Edições Afrontamento para uma nova edição para distribuição no circuito comercial.

Eventos passados


José Valle de Figueiredo
            No passado dia 8 de março decorreu na Fundação Cupertino de Miranda no Porto, a homenagem «José Valle de Figueiredo: o Homem e a Obra», promovida pela União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde «como reconhecimento do incansável labor que, em termos culturais, tem prestado a esta comunidade». O encontro teve início pelas 18 horas com a participação de vários oradores, a que se seguiu um momento poético-musical. Poeta e crítico literário nascido em Tondela em 1942, o homenageado tem uma vasta obra publicadaem livro e artigos dispersos porjornais e revistas. Tem também organizado colóquios, exposições e conferências, e ter produzido uma variada obra literária e ensaística, além de programas para a Rádio Televisão Portuguesa.
         O jornal As Artes entre as Letrasn.º 237 de 27 de fevereiro passado dedicou-lhe a capa sob o título «Um certo Porto grato a Zé Valle de Figueiredo».
        
Antigo Egito
No passado dia 15 de março o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, esteve no Colégio da Bonança em Vila Nova de Gaia onde proferiu uma conferência sobre a civilização do Antigo Egito, a qual prendeu durante largo tempo a atenção dos muitos alunos e docentes daquele estabelecimento de ensino presentes na mesma.

Cursos, conferências e palestras
        
Fernão de Magalhães
         A propósito do início das comemorações dos 500 anos da 1.ª viagem de circum-navegação, no próximo dia 28 de março, pelas 21,30 horas, na habitual palestra das últimas quintas-feiras do Solar Condes de Resende, o historiador J. A. Gonçalves Guimarães falará sob o tema «Fernão de Magalhães e Vila Nova de Gaia» apresentando as investigações históricas mais recentes que ligam os primeiros anos do futuro navegador a esta povoação ribeirinha da margem esquerda do Rio Douro.

Roteiros queirosianos
         No próximo dia 29 de março o presidente da direção da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana vai fazer uma conferência no Colégio S. Gonçalo em Amarante sobre «A Confraria Queirosiana e os Roteiros queirosianos».

Caminhos de Santiago
        Nos próximos dias 12 e 13 de abril vai decorrer no Forte de S. João Baptista da Foz do Douro um I Congresso Caminhos de Santiago, no qual serão oradores, entre outros, José Augusto Maia Marques, sobre «A Capela Farol de São Miguel-o-Anjo – início simbólico para o Caminho de Santiago»; Paulo Jorge Sousa Costa sobre «Hagiotoponímia medieval do Norte de Portugal, segundo as inquirições de 1258»; e José Valle de Figueiredo sobre «A poesia no Caminho de Santiago».
         Como vai sendo habitual nas iniciativas sobre este tema, não há comunicações sobre as origens deste mito criado no século IX, nem sobre a sua existência desde então para cá, nomeadamente sobre a sua real incidência nas populações e no território.

Ilustres de Canidelo e 25 de Abril
        No dia 23 de abril, ainda o historiador J. A. Gonçalves Guimarães participará na Associação de Solidariedade Social dos Idosos de Canidelo nas comemorações dos seus 20 anos de existência, proferindo uma palestra sobre «Figuras Ilustres de Canidelo», e no dia 25 de abril, pelas 21,30 horas, no Solar Condes de Resende, falará sobre «25 de Abril: documentos para uma quase História»

Música & Músicos
        Aproxima-se do fim o curso livre do Solar Condes de Resende organizado pela Academia Eça de Queirós, com alguns ajustes em termos de datas e professores, mas cumprindo rigorosamente o programa estabelecido. Assim, no sábado 16 de março, J. A. Gonçalves Guimarães falou sobre «O compositor César Morais» e no dia 23, Rosário Pestana, da Universidade de Aveiro, sobre «O compositor e folclorista Armando Leça: resgate, criação e disseminação da música portuguesa». Em Abril, no sábado dia 6, J. A. Gonçalves Guimarães falará sobre «Música e Músicos em Gaia», terminando o curso nosábado dia 13, com a lição por Elisa Lessa, da Universidade do Minho, sobre «A música nos conventos femininos em Portugal (séculos XVII a XIX): o caso do Mosteiro de Corpus Christi em Vila Nova de Gaia».
         No próximo ano letivo o novo curso terá como tema «Revoluções e Constituições» com a intenção da Confraria Queirosiana dar assim o seu contributo para as comemorações do 2.º Centenário da Revolução de 1820.

Concurso de Poesia
         Até ao dia 31 de maio decorre o prazo para entrega dos trabalhos concorrentes à 20.ª edição do Concurso de Poesia Agostinho Gomes, promovido por uma parceria entre a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, a Junta de Freguesia de Cucujães e o Núcleo de Atletismo de Cucujães, em homenagem a este homem de Letras daí natural. O regulamento e ficha de inscrição podem ser vistos em https://bit.ly/2UNhPU7.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 127,segunda-feira, 25 de março de 2019; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Licínio Santos.

1 comentário:

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Ola
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