segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Eça & Outras


Sebastiões e Sebastianas

            Quando este texto for lido por vocelências já teremos o consumatum est da eleição do presidente da República para os próximos cinco anos, pelo que não corro o risco e a responsabilidade de estar a tentar influenciar as vossas decisões. Assim, durante um quinquénio, com possibilidade de renovação por outro tempo igual, vamos ter à frente do país um homem muito mais a prazo do que o foi o Mestre de Avis após a sua eleição como rei nas Cortes de Coimbra de 1385. Logo ser-lhe-á difícil propor idas a ceutas e outras aventuras, pois o eleito já vai herdar um país metido na aventura dos encobrimentos europeus, onde aliás nos meteram começando logo com a destruição das nossas precárias frotas de pesca e mercante, sobrando algumas fragatas de guerra ao serviço das novas armadas invencíveis, e obrigando-nos a comprar uns submarinos enquanto se espera que cheguemos a acordo sobre o que poderá vir a ser o nosso desígnio marítimo, hoje difícil num país que enjoou o mar no século XIX.
            Em democracia é assim: qualquer cidadão com o cartão válido e sem a justiça à perna a tentar cobrar-lhe nos dias que correm algum incumprimento não prescrito, acompanhado de mais sete mil e quinhentos distraídos que o achem medianamente simpático, ou mesmo iluminado, pode candidatar-se sem grandes custos do seu bolso ou pagos sabe-se lá por quem, e assim passar a expor as suas ideias para salvar a pátria de si própria, pois dos “outros” já se sabe quais são as regras, da geopolítica às finanças, do clima ao concerto global. Tivemos assim o convívio mediático com dez magníficos dez cidadãos despojados de todo o seu interesse pessoal, mas apostados em guindarem-se em nosso nome até ao assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, da UNESCO e da OTAN-NATO, quiçá do Vaticano ou da Associação dos Amigos do Pacífico, obviamente para além da sua assentadela na cadeira presidencial, a qual, ainda que republicana e temporária, tem algumas parecenças com um trono. Não pondo em causa a auto-sinceridade induzida destes D. Sebastiões e D. Sebastianas, o que além do mais seria manifestação de pouca consideração humana pelos seus mais íntimos sonhos ou pesadelos, continuamos a verificar que os portugueses são generosos em dar essa possibilidade a qualquer desconhecido, a de ele se alcandorar ao cargo cimeiro da pátria, mesmo a figuras que fizeram um percurso político tipo slalom gigante na montanha de neve das conveniências da política, escapando a várias avalanches ou mantendo-se congelados na persistência de um mundo que já só existe nos anais da História. Mas não nos podemos queixar de falta de diversidade, pluralidade e individualidade, em alguns casos de personalidades muito momentâneas, pois certamente nunca mais delas ouviremos falar. Se tal não for verdade, quererá dizer que além de generosos somos masoquistas e isso creio que continua a ser considerado desvio comportamental. Iremos então, durante um ou dois mandatos, ouvir o eleito falar da Constituição que temos, tetraneta da de 1822, mas muito mais gorda e miudinha na sua pose de texto fundamental, qual tia velhota e decrépita a que já falta o bom senso e o equilíbrio, pois cada vez que faz uma plástica, quando dois terços dos deputados estão acordados, fica pior. Reproduz-se depois em acórdãos do Tribunal Constitucional que, no essencial, dizem que quando chove é bom, mas que de vez em quando também convém um pouco de sol, ainda que só para alguns, como foi o caso das pensões vitalícias, leia-se bónus, prendas, “mais qualquer coisinha” para a viagem de fim de ano à Madeira, dos políticos e outros prebendados.
            Quanto à campanha, lá vimos a “senhora aparecida”, que aparece sempre que lhe pagam, os habituais gaiteiros e tamborileiros “celtas” do Porto, e uma ou outra velha raposa a farejar uvas maduras, os quais me criaram um problema: em alguns casos até poderia estar de acordo com o candidato, mas nunca, jamais, com alguns dos seus apoiantes mais mediáticos. Ora os primeiros, ou os seus diretores de campanha, deviam perceber que para os menos distraídos não vale tudo. Tivessem lido “A Procissão” de J. Rentes de Carvalho e veriam que nem sempre vamos nela. E, desculpando-me outra boutade cultural, dei por mim a lembrar-me de O Eleito de Thomas Mann, e de como as desgraças às vezes se transformam em glórias da nossa terra.
            Quanto à cruzada anti-corrupção, com a qual obviamente estamos todos de acordo, até porque os corruptos são os atuais “turcos” que ameaçam o império do ocidente, lembrei-me que convém não meter tudo no mesmo saco: em 1886, numa carta a Oliveira Martins, que cismou ser ministro e honesto, Eça de Queirós alertava para que o empenho, hoje a cunha, funcionava às vezes como «...o corretivo do bom senso público aplicado ao disparate oficial. Sempre que um Regulamento, saído dum antro burocrático, impõe ao público uma prática tola - o público coliga-se por meio do empenho, para lhe anular os efeitos funestos» (MATOS, Eça de Queiroz Correspondência, 2008-I:480). Ora eu não ouvi nenhum candidato ou candidata a insurgir-se, pelo menos de forma que se percebesse, contra os «disparates oficiais» saídos dos «antros burocráticos» que todos os dias nos pilham a conta bancária e a paciência, dando origem ao banho de corrosão do Estado sobre o cidadão, que acaba por ter a mesma origem, e não apenas linguística, que a tal corrupção que nos envolve.
Enfim, como escreveria o Eça, tivemos uma “Campanha Alegre”. Vamos ver qual será o IVA desta fatura.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor

Tomada de posse nos corpos Gerentes da FPCG
(fotog. FPCG)
Federação da Gastronomia Portuguesa

            No passado dia 15 de janeiro na cidade do Porto, no Salão Nobre do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, repleto de representantes das confrarias gastronómicas, enófilas e culturais, recebidas pelo seu diretor Manuel de Novaes Cabral, pelas 19 horas tomaram posse os corpos gerentes da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, a que se seguiu um jantar de confraternização no Hotel Porto Palácio. Na presidência permanece a Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal, liderada por Olga Cavaleiro, que na ocasião salientou a importância da comemoração do Dia Nacional da Gastronomia aprovado por unanimidade pela Assembleia da República, no anterior mandato, o qual terá lugar no domingo 29 de maio próximo.

Cursos

            Prossegue no Solar Condes de Resende o curso “13 monumentos e sítios carismáticos do Douro Atlântico (Gaia/Porto/Matosinhos)”: no próximo sábado, dia 30 de janeiro com o tema “O Estádio do Dragão como nova centralidade urbana do Porto” por Hélder Pacheco, a que se seguirá no dia 13 de fevereiro “A Torre e complexo dos Clérigos” por José Manuel Tedim e a 27 “A Ponte Maria Pia” por José Manuel Lopes Cordeiro. O curso encerrará no dia 5 de março com “A Avenida dos Aliados no Porto” por José Manuel Rio Fernandes.
            Em outubro terá início o 23º curso sobre “História Naval do Noroeste de Portugal”.

Palestras

            Prosseguem no dia 28 de janeiro as habituais palestras das noites de quinta-feira no Solar Condes de Resende, com o tema “O Património Cultural de Vila Nova de Gaia”, por J. A. Gonçalves Guimarães e no dia 25 de fevereiro sobre “Património Arqueológico de Gaia e sua gestão” por António Manuel S. P. Silva. Ambas estas palestras se inserem na problemática do Projeto de levantamento do Património Cultural de Gaia em realização pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ).
            Entretanto, nos próximos dias 28 de janeiro no Porto, no Auditorium Tryvel às 18 horas, e no dia 11 de fevereiro em Lisboa, no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, à mesma hora, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo orientará colóquios sobre “O Antigo Egito: uma viagem de 3000 anos”.

Revistas

           
Em várias revistas nacionais e estrangeiras são vários os confrades queirosianos que publicam artigos de investigação ou de divulgação de temas culturais ou científicos. Assim, enquanto que no jornal As Artes entre as Letras n.º 161, de 30 de dezembro passado, para além da edição em papel da página Eça & Outras, Guilherme d’Oliveira Martins escreveu sobre «A atualidade da obra de Eça», a propósito de edição do Dicionário de A. Campos Matos, e nesse mesmo número, Dominique Sire escreveu sobre «O Diário Íntimo de Carlos da Maia» deste mesmo autor, no número 162, de 13 de janeiro, Guilherme de Oliveira Martins escreve sobre «Viagens de Mandeville». Entretanto na revista Glosas n.º 13, de novembro passado, dedicada a Gilberto Mendes, J. A. Gonçalves Guimarães escreveu sobre «Os quatro músicos Napoleão» e no Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, n.º 81, referente a dezembro passado, de que é diretor Salvador Almeida e membro do corpo redatorial Virgília Braga da Costa, entre outros, publicaram artigos Maria de Fátima Teixeira «A indústria têxtil em Mafamude entre 1850 e 1950» e Salvador de Pinho Ferreira de Almeida «Vulnerabilidade a sismos e incêndios no município de Vila Nova de Gaia (1ª parte)».
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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 87 – segunda-feira, 25 de janeiro de 2016; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.



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