Ateu da religião do
Futebol
Meus
amigos, tenho sempre tanto pudor, tanto arrependimento, tanto desgosto em
desiludi-los. Eu bem gostaria de ser um cidadão normalíssimo, sossegado, filiado
num bom clube de futebol e num bom partido político, que cumprisse os preceitos
cívicos e religiosos regulamentados, que tivesse uma consorte (com sorte?!) que
não lesse muito os escritores premiados e que soubesse que há searas mais
férteis do pensamento, enfim, apenas mais um entre iguais. E na realidade assim
sou: um banalíssimo cidadão assalariado do seu trabalho, cumprindo os preceitos
sociais e democráticos quanto baste, procurando ser útil aos seus concidadãos e
aos seus semelhantes segundo aquele preceito universal comum a todos os humanos
que não passam fome e que na solidão, ou na sua tribo, vivem um aparentemente
sossegado quotidiano, como se fossem pastores do rebanho da normalidade.
Não,
não quero ajudar a criar nenhum império, nem militar nem filosófico, nem
religioso, nem económico, nem futebolístico, consciente das tiranias e
efemeridades dos que nos precederam, próprios ou alheios, e daqueles em que
ainda vivemos mergulhados (FMI; BCE; multinacionais conhecidas e secretas;
congregações religiosas internacionais de vários credos; FIFA; G7 ou G8 ou G6
ou G9, conforme as cimeiras, OTAN ou Pacto de Varsóvia, ou o que quer que lhes
tenha sucedido e tutti quanti). Não
votei jamais para que haja nações polícias do mundo e não reconheço qualquer
“raça eleita” a não ser a do banalíssimo homo
sapiens sapiens, e, mesmo assim,
com interrogações.
Não
quero destruir nenhuma civilização, por mais perversa que ela me pareça, pois
tenho a certeza, dada pelo conhecimento da História, que também aí existem os
que querem partilhar o seu copo de água fresca à sombra de uma boa árvore de
fraterno convívio humano, se os deixarem.
Mas
todo este arrazoado, oh leitores, para quê? E porquê? Para além do desafiar o
enfado de vossa paciência? É que eu tenho direito a defender-me, mesmo na minha
insignificância e para tal, socorro-me do nosso Eça, a ver se ganho alguma
autoridade no que a seguir escrevo. Nestes tempos de Mundial de Futebol, uma
das maiores religiões, atualmente quase universal, tenho sido olhado de soslaio
e vítima de reprimendas sérias em público e em privado que têm como alvo o meu
ateísmo futebolístico, que nem sequer é militante, mas que, pelos vistos,
ofende os crentes, os devotos de S. Ronaldo, os bispos da FPF, os cardeais da
FIFA, os agentes de viagem, os vendedores de cachecóis com frases idiotas, os
fabricantes de imagens de jogadores de futebol, os vendedores de couratos e
cervejas à porta dos templos, perdão, dos estádios, os canais de televisão e,
obviamente, a tremendíssima máquina económica que está por detrás de tudo isso,
sempre mergulhada em trapaças, quando não mesmo em crimes económicos e sociais.
Choca-me que os indigentes e assalariados do meu país alimentem esta máquina e
sobretudo que achem que assim é que está certo, para seres normais. O pária
aqui serei eu.
Antes
de mais deixem que lhes diga que não tenho nada contra o Futebol em si mesmo,
como divertimento de multidões, espetáculo, e até, talvez, desporto, pelo menos
para os meninos que, como eu fiz, jogam a bola na rua, ou de preferência num
campo a tal destinado.
Mas
eu sou daqueles estúpidos que ainda acreditam que isso poderia ser um bom
motivo para festas da humanidade, uma oportunidade para o fair play, aquele abraço ao adversário que lealmente nos superou.
Mas não, a coisa é posta pelos governantes e pelos eleitores como se a seleção
nacional (?!) fosse o atual exército de Aljubarrota e dele dependesse a
independência de Portugal, o que é, no mínimo, ridículo.
Cidadão
terráqueo, o mais universal possível, que gostaria de ter um cartão das Nações
Unidas, embora seja afetivamente palopiano (dos PALOP,s) e europeu, de matriz
greco-latina matizada com valores nórdicos e mediterrânicos, português e
duriense, não sou obviamente indiferente à afirmação no palco mundial da
casa-mãe que habito com os meus concidadãos mais chegados, mas tudo isso dentro
de algum bom gosto, bom senso e fraternidade universais. A festa, a partilha,
percebem?!
Aos
devotos da religião do futebol, aqueles que creem porque sim, indiferentes a qualquer
interrogação sobre os fundamentos da sua “fé”, direi apenas que a minha
consideração vai antes para todos os que «amam a pátria, não dedicando-lhe
estrofes, mas com a serenidade grave e profunda dos corações fortes. Respeitam
a tradição, mas o seu esforço vai todo para a nação viva, a que em torno deles trabalha,
produz, pensa e sofre e, deixando para trás as glórias que ganhamos nas
Molucas, ocupam-se da pátria contemporânea, cujo coração bate ao mesmo tempo
que o seu, procurando perceber-lhe as aspirações, dirigindo-lhe as forças,
torná-la mais livre, mais forte, mais culta, mais sábia, mais próspera, e por
todas estas novas qualidades elevá-la entre as nações» (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas). Ora, me
desculpem, até à data e no meu modestíssimo entender, o mundo do futebol,
local, nacional e internacional ainda não se encaixou nestas «formas superiores
de pensamento» (Idem, idem) e por isso,
repito, lamentando desapontá-los, continuarei quase indiferente ao concílio
futebolístico que se desenrola lá para o Brasil e as telenovelas a que dará
origem.
E
aquele “quase”, podem crer, é uma tremenda tentativa de algum “espírito de tribo”
da minha parte para com todos vocês, oh crentes da religião do futebol.
E
ademais, como muito bem clarificou um tal treinador de futebol, homem
riquíssimo graças aos pontapés na bola, «eu não sou o Eça de Queirós!». Isso já
se sabia, mas talvez o dito ainda venha a lê-lo, para proveito seu e de todos
nós. No próximo ano de 2015 Eça “jogará” em S. Paulo e, reparem bem nesta minha
infinita serenidade de crente noutra “religião”: tenho a certeza absoluta que o
escritor, eu próprio, todos vocês, Portugal, a Língua Portuguesa, a
fraternidade universal, vamos ganhar esse “campeonato”. Vai um cachecol com o
Eça?
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana
Eça em S. Paulo
Criado
em 2006, o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo é caso único no panorama
museológico mundial, ao dedicar-se exclusivamente à universalidade de um dos
idiomas mais falados no planeta.
Em
recente visita a Portugal o seu diretor, Carlos Augusto Santini, concedeu a
Andreia Azevedo Soares uma entrevista, publicada no “Público” a 13 de junho
passado em que concretiza mais um pouco a programação da projetada exposição
sobre a vida e obra de Eça de Queirós que ali decorrerá em 2015 e que visa
tornar o escritor mais familiar ao público ledor brasileiro, tendo em conta que
ele é um património comum a brasileiros e portugueses, mas ao mesmo tempo
universal.
Sendo
um dos museus mais visitados do Brasil e da América Latina, esta exposição será
certamente um marco importante na afirmação da lusofonia e servirá ainda para
reduzir à sua verdadeira dimensão aspetos teóricos e técnicas como o Acordo
Ortográfico, com que se têm entretido os escarafunchadores de banalidades a
haver.
A
falar, a ler e a escrever é que a gente se entende, com mais ou menos sotaque,
mais ou menos ortografia acordada.
Eça de Queirós em
Engenharia
No
passado dia 30 de maio na Sala de Atos da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, o Club de Leitura da sua biblioteca organizou uma sessão
sobre Eça de Queirós em que foram palestrantes, Isabel Margarida Duarte, da
FLUP e Augusto Santos Silva da FEP, tendo sido moderador Sebastião Feyo de
Azevedo, professor de Química, diretor daquela faculdade e Reitor eleito da
Universidade do Porto. O mote foi: «Será que a leitura da obra deste autor nos
ajuda a perceber melhor a realidade sócio cultural portuguesa?».
A. Campos Matos
Em
entrevista concedida em abril passado a José Roberto de Andrade, e publicada no
jornal As Artes entre as Letras de 11
de junho passado e que no próximo dia 28 festejará o seu quarto aniversário com
uma sessão às 15 horas na Casa das Artes no Porto, A. Campos Matos, para além
das suas contínuas reflexões pessoais sobre a vida e obra de Eça de Queirós,
que vai revivificando e publicando indiferente à sornice de alguns meios
literários, anunciou para breve algumas reedições dos seus trabalhos e uma nova
obra sobre o escritor com mais de quatrocentas páginas, para além da saída,
talvez ainda este ano, da 3.ª edição do seu Dicionário
de Eça de Queirós em dois volumes,
pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda: «Sou de facto um trabalhador persistente da
obra queirosiana», afirmou na referida entrevista.
Livros
A Relíquia ilustrada
Chega-nos
a notícia pela pena de Adelto Gonçalves, também no jornal As Artes entre as Letras, de que em 2013 foi editada pela Fundação
Waldemar Alcântara, de Fortaleza, Brasil, a obra de Eça de Queirós A Relíquia. Uma Antologia Ilustrada, pelo
traço do arquiteto Rui Campos Matos, que ao rigor iconográfico épocal alia uma
linguagem plástica atual de grande qualidade.
Filho
de A. Campos Matos, ilustrou Clepsidra
de Camilo Pessanha em 2006 e uma antologia de Os Maias, em 2009, além de outras colaborações na Fotobiografia de Eça de Queiroz: vida e obra,
da autoria de A. Campos Matos, publicada pela Leya em S. Paulo, em 2010. Fica
assim esta edição como um marco incontornável de um dos romances portugueses
que mais contribuíram para a maturidade da cultura portuguesa, reconhecida
internacionalmente como uma obra-prima, mas olhada de soslaio entre nós.
Retrato de Rapaz
No
passado dia 5 de junho, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto,
foi apresentado pelo Professor Alexandre Quintanilha o mais recente livro de
Mário Cláudio intitulado Retrato de Rapaz,
editado por Publicações D. Quixote, uma novela sobre um endiabrado aprendiz no
atelier de Leonardo Da Vinci.
Eventos
A maior garrafa do
Mundo
A
31 de maio passado, na Quinta da Boeira, Vila Nova de Gaia, foi inaugurada a
maior garrafa do Mundo em fibra de vidro, uma estrutura com 32 metros de comprimento
e 9,5 metros
de largura, podendo acolher 150 visitantes para provarem os vinhos das
diferentes regiões vinícolas portuguesas. Volta assim Vila Nova de Gaia a ser a
«taberna que dá vinho para todo o mundo» como um dia escreveu Camilo Castelo
Branco, até porque ali decorreu a Portugal Wine Trophy, uma prova mundial de
1000 vinhos integrada neste evento, que teve o seu ponto alto na insigniação de
confrades honorárias da Federação Portuguesas das Confrarias Báquicas, entre
eles Eduardo Vitor Rodrigues, presidente de Câmara Municipal de Gaia e
indigitado confrade queirosiano.
Situada
na periferia do Centro Histórico de Gaia, a Quinta da Boeira acolheu uma feira
de produtos tradicionais portugueses que passou a ser ponto de passagem
obrigatório do circuito habitual dos turistas nacionais e estrangeiros da
região do Porto e Norte.
Ao
evento, dinamizado pelo nosso confrade Albino Jorge, estiveram presentes, entre
outros confrades queirosianos, Manuel de Novais Cabral, presidente do IVDP, J.
A. Gonçalves Guimarães, mesário-mor; César Oliveira, presidente da MAG;
Guilherme Aguiar, vereador do Turismo da câmara de Gaia e Olga Cavaleiro,
presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas.
Feira das Novidades
Eduardo Vitor Rodrigues no Solar Condes de Resende |
No
passado dia 1 de Junho, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal
de Vila Nova de Gaia visitou a Feira das Novidades no Solar Condes de Resende,
iniciativa da Confraria Queirosiana para apoio a pequenos comerciantes e
vendedores que fazem pela vida. Acolhido pelo presidente da direção, José
Manuel Tedim, pelo mesário-mor J. A. Gonçalves Guimarães e por Ilda Castro,
comissária do evento, tendo cumprimentado todos os feirantes comprou produtos
em todas as bancas. No próximo dia 6 de julho, domingo, haverá nova edição.
Dia de Itália
Susana Moncóvio, José Manuel Tedim, Ilda Tedim e J. A. Gonçalves Guimarães no Palácio do Freixo |
«A
Itália será o eterno amor da Humanidade sensível», deixou escrito Eça de
Queirós em O Mandarim. Por este
motivo, e também como reconhecimento pela ação cultural de há anos a esta parte
desenvolvida pelo presidente da Associazione Sócio-Cultural Italiana del
Portogallo-Dante Alighieri, ten. General Ângelo Arena, a convite do cônsul
honorário de Itália no Porto, Dr. Paolo Pozzan, estiveram presentes no Dia de
Itália, presidido pelo embaixador Renato Varriale, que se celebrou no passado
dia 8 de junho no Palácio do Freixo, José Manuel Tedim, J. A. Gonçalves
Guimarães e Susana Moncóvio dos corpos gerentes da Confraria Queirosiana. Na
exposição então inaugurada «Il Mondo in Italiano» evidenciavam-se os tributos
daquele «eterno amor» que lhe têm devotado muitos artistas e intelectuais
portugueses, muitos dos quais presentes nesta festa.
Cursos e palestras
Diversos
membros dos corpos gerentes da Confraria Queirosiana e das suas comissões de
trabalho têm realizado conferências e palestras para os mais diversos públicos
e entidades. Assim, no Solar Condes de Resende, a 22 de maio, J. A. Gonçalves
Guimarães dissertou sobre “Vila Nova de Gaia e 1.ª Grande Guerra” e a 13 de
junho em Ponte de Lima sobre “Iconografia do Vinho Verde na comercialização do
Vinho do Porto” no âmbito das 1.ªs Jornadas sobre o Vinho Verde. A
23 de junho participou num programa na Rádio Placard sobre as festividades populares
de S. João. A 9 de julho na FLUP, lecionará no I Curso de Verão sobre O Vinho
do Porto: Memória, Identidade & Recurso, organizado pelo CITCEM, o tema “ Vinho
do Porto, vinho com Arte”.
Por
sua vez, José Manuel Tedim, falará a 26 de junho no Solar Condes de Resende
sobre “André Soares e Frei José de Santo António Ferreira Vilaça, artistas de
Rococó em Portugal”, nas habituais conferências das últimas quintas-feiras do
mês.
A
28 de julho, no Parque do Castelo de Crestuma, será a vez de António Manuel
Silva, sobre aquela estação arqueológica, e Maria de Fátima Teixeira sobre a
Fábrica de Fiação de Crestuma, numa caminhada cultural a realizar naquela
localidade gaiense. A 24 de julho Susana Moncóvio falará, de novo no Solar
Condes de Resende, sobre Picasso e a sua influência na Arte Contemporânea.
Entretanto,
no próximo mês de julho, entre 14 e 18, vai realizar-se na Fundação Eça de
Queirós em Baião, a 16ª edição do seu Curso Internacional de Verão – Seminário
Queirosiano, desta vez sobre o tema “De Eça de Queiroz a Teixeira de Pascoais”,
o qual se destina a professores, estudantes universitários portugueses e
estrangeiros e outros interessados na obra queirosiana.
A
partir de Setembro próximo decorrerá no Solar Condes de Resende o seu 21º curso
livre, organizado pela Academia Eça de Queirós e certificado pelo Centro de
Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente do Ministério da Educação, sob
o tema “História e Carisma do Douro Atlântico (Gaia, Porto, Matosinhos, 5.ª
edição), o qual terá como professores Amândio Barros, António Barros Cardoso, António
Manuel Silva, Fantina Tedim, J. A. Gonçalves Guimarães, José Manuel Tedim,
Jorge Alves e outros. O curso desenvolver-se-á ao longo de treze sessões, aos
sábados à tarde, entre outubro de 2014 e março de 2015 e apresentará as mais
recentes investigações sobre a história da região.
In Memoriam
_______________________
Eça
& Outras, IIIª. Série, n.º 70 – quarta-feira, 25 de junho de 2014
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:
PT50001800005536505900154; email:queirosiana@gmail.com;
www .queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.pt;
eca-e-outras .blogspot .pt; vinhosdeeca.blogspot.pt; academiaecadequeiros.blogspot.pt;
coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira;
inserção: Amélia Cabral; colaboração: Ilda Castro; Susana Moncóvio.
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