quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Eça & Outras

Sociedades secretas há muitas

Em 1872 escrevia Eça de Queirós em As Farpas: «Em Portugal, agora, o clero descobre incompatibilidade entre a qualidade de católico e a qualidade de mação. Pelo menos uma questão recente pôs em relevo esta divergência.
Ora como sabem, hoje as associações maçónicas, (que perderam há muito a sua feição carbonária, jacobina, etc.) são em Portugal associações públicas com os seguintes fins: Eleições; Socorros mútuos; Beneficência; Auxílio e protecção recíproca aos irmãos no país e no estrangeiro.
De sorte que, segundo a opinião recente do clero, um católico: Não pode tratar de eleições; Nem socorrer, proteger e auxiliar os seus amigos». (As Farpas, 9 de Janeiro de 1872).
Entretanto daí para cá a questão evoluiu muito e não foram os clérigos que agora levantaram a questão das sociedades secretas e da sua influência junto dos poderes que nos governam. Foram outras sociedades igualmente secretas, ou seja, uma zanga entre secretários de sociedades secretas que era para ter ficado secreta mas não ficou.
Hoje vivemos num mundo muito mais secreto do que no século XIX. Eu próprio vivo num prédio com mais quinze sociedades sobre as quais pouco ou nada sei, com a exceção daquela a que pertenço: eles entram, eles saem, eles reúnem à porta fechada, têm estranhos rituais (a avaliar por alguns ruídos noturnos e diurnos), em determinadas épocas do ano apresentam-se com estranhas indumentarias e já vi aventais! Ah, os aventais! E com símbolos budistas e aztecas. Não afixam atas com as deliberações que tomam nos seus templos, perdão, apartamentos. E sei lá qual é a sua verdadeira inflência na junta de freguesia local ou na associação de socorros mútuos mais próxima. Muitos faltam ao seu dever cívico da reunião pública do condomínio; desviam os seus fundos ao não pagarem a mensalidade; quando falam ninguém os percebe, tal é o seu vício de se expressarem em código ou por sinais. Se isto é assim no prédio onde vivo, imaginem as sociedades secretas que não haverá por esse país fora: clubes de pesca subaquática; associações de peregrinos ao Sameiro; de colecionadores de bilhetes de comboio; os que falam barranquenho; o clube de fãs do Alberto; a associação de descendentes de D. Fuas Roupinho; os do pé chato; os que fazem versos à moda do Minho; os que não querem que se saiba como se chamam entre eles e para disfarçar chamam a todos os outros oh pá!; os de uma religião cujo Messias aparecerá em Marte; os que ganham muito e dizem que estão na miséria; eu sei lá quem mais, mas suspeito que nesta lista (que não tem qualquer fito denunciador ou persecutório) ainda poderia incluir muitos outras sociedades secretas, com exceção das SAD, das associações de comissários e artistas de instalações, da Igreja dos Santos Dizimeiros e de mais algumas outras prestimosas agremiações cuja transparência de propósitos, de interesse público e de práticas fiscais estão ao alcance da curiosidade de qualquer cidadão, mesmo das inocentes criancinhas a quem o tio mação ofereceu o Magellans produzido por uma das muitas sociedades secretas da eletrónica que nos seus tenebrosos propósitos obrigam os cidadãos de todo o mundo a serem computadependentes os quais, além de os enriquecerem, lhes tecem louvores e hossanas, que é para isso que servem os devotos, os fieis, os crentes da Santa, Omnipresente e Bemremunerada Informática.
Quanto a rituais temos falado: para além dos imemoriais e iniciáticos que algumas destas sociedades praticam, como passeios, almoços, jantares e até danças (sem serem para a prática função de pedir chuva), dão-se a outros costumes que têm baralhado os antropólogos e os sociólogos portugueses.
Alguém de vós já assistiu ao cerimonial dos conselhos de administração da EDP, da SONAE, do Banco Europeu, do FMI? Já! Seus felizardos! Isso é tão secreto que eu próprio nem sabia que tinha amigos tão importantes! Temos de falar um dia destes. Eu juro que guardo segredo!
Quanto aos trajos, é certo que recentemente Miguel de Sousa Tavares criticou num programa televisivo os colares e os aventais maçónicos, achando-os infantis, mas logo me ocorreu telefonar a tudo quanto era redação de jornal de adeptos futebólicos a perguntar-lhes se não tinham à mão uma fotografia do dito comentador e literato com um grande cachecol fazendo conjunto com um daqueles chapéus com as mesmas cores ostentando dois arremetentes chifres ditos vikingues, que os adeptos da loja “Até os comemos vivos” costumam usar com cerimónia, circunspeção e garbo. Na realidade não sei se tal foto existe, mas não é difícil imaginar sua excelência em tais preparos. E então? Adjetivos, vá lá, se fazem favor.
Pois é assim, meus caros, sociedades secretas há muitas. O problema não é o seu secretismo, mas o que vamos descobrindo do que os seus membros são capazes. E esse é que é o meu e o vosso problema. O nosso problema. Eu cá por mim juro que não conheço nenhum habitante de Mação.

J. A. Gonçalves Guimarães

NECROLOGIA

Dr. Raul Ferreira da Silva

No passado dia 7 de Janeiro faleceu o Dr. Raul Ferreira da Silva, médico otorrinolaringologista e confrade queirosiano que foi a enterrar no dia 9 de Janeiro no cemitério do Prado de Repouso no Porto. O ilustre finado fez questão de ser sepultado com o trajo da Confraria, tendo o seu féretro sido acompanhado por vários confrades trajados, mas sem insígnias. Antes da descida do ataúde à terra usaram da palavra o mesário-mor e um seu antigo camarada de tropa da companhia onde foi médico militar na Guiné.
O Dr. Raul Ferreira da Silva deixou à Confraria uma boa parte da sua biblioteca que ficará como um núcleo bibliográfico organizado pelos temas do seu agrado, como memória viva da sua dedicação.


CURSOS & CONFERÊNCIAS

5.as de Cultura no Solar

O Solar Condes de Resende, com a colaboração da Confraria Queirosiana, vai retomar as 5.as de Cultura. Assim recomeça em Fevereiro o curso de Pintura, dirigido pela Prof.ª Paula Alves, um Clube de Bridge, um jantar tertúlia, as Danças de Salão e outras atividades de cultura e lazer com diversos profissionais. Em breve terá igualmente início um curso prático sobre Fotografia Digital.

ANTIGO EGITO

No passado dia 19 de Janeiro, pelas 21,30 horas, teve início no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto um ciclo de conferências aberto pelo egiptólogo Luís Manuel de Araújo, da Universidade de Lisboa, que falou sobre “3000 anos de História do Egito faraónico” a que se seguiu uma visita guiada à Coleção Egípcia ali exposta. Seguem-se, como conferencistas, Telo Canhão, sobre “Aspetos da vida quotidiana” a 2 de Fevereiro; de novo Luís Manuel de Araújo sobre “A proteção mágica dos defuntos para o Além” a 1 de Março, encerrando o ciclo Rogério de Sousa sobre “Os sarcófagos” no dia 8 de Março.

LIVROS E TEXTOS

O Padre Amaro em parede pública

O turismo de Leiria e os amantes da literatura de Eça de Queirós têm agora um novo ponto de atração na cidade de Leiria. Um ou vários artistas, têm surgido com pinturas temáticas em paredes públicas desta região e já há alguns meses que não exerciam a actividade. Nas muitas visitas queirosianas que se podem realizar (Farmácia Paiva, Torre da Sé, Administração do Concelho, Praça Rodrigues Lobo), pode acrescentar-se mais um ponto de grande atração que retrata "O Crime do Padre Amaro", escrito por Eça enquanto esteve em Leiria.
Na estrada que sobe para o Castelo, uma parede foi revestida com um belo desenho de autor/es incógnito/s, retratando o amor de Amaro com a linda Amélia. O amor proibido que Eça retratou está a ser alvo da visita de muitos curiosos que aproveitam a ocasião para vivenciar a cidade que serviu para que o administrador e escritor fizesse um dos romances mais marcantes da literatura portuguesa.

Joaquim Santos

 
História Episcopal do Piauí

Foi recentemente publicada a 2.ª edição da História Episcopal do Piauí, de Dagoberto Carvalho Jr., Recife, Editorial Tormes, 2011, 233 pp, ilustrada. Publicada pela primeira vez em 1980, esta nova edição apresenta-se revista e atualizada, com grande poder de síntese sobre a administração episcopal de Pernambuco de 1696 a 1728, do Maranhão de 1728 a 1902, de Piauí desde 1905 e ainda das Prelazias de Bom Jesus de Gurguéia e de São Raimundo Nonato e das novas dioceses de Oeiras, Parnaíba, Picos, Campo Maior e Floriano.
O autor analisa a ação catequética e de administração eclesiástica de jesuítas, franciscanos, carmelitas e mercedários, apresentando a biografia de cada prelado ou administrador apostólico e seus diretos colaboradores, quase sempre acompanhada pela heráldica e ainda por outras ilustrações que muito enriquecem a obra, a qual interessa igualmente à história eclesiástica de Portugal, pois muitos dos prelados são daqui naturais, ou fizeram carreira nos dois lados do Atlântico. E tudo isto muito bem enquadrado pelo estudo da História Eclesiástica do Brasil desde os seus primeiros tempos coloniais até à atualidade nesta região do «Meio Norte brasileiro».

Revista! Bô

Em Julho de 2011 iniciou a sua publicação a Revista!Bô «assumidamente transmontana», trimestral, o n.º 2 saído em Outubro/Dezembro, com Adriano Moreira na capa.
O primeiro número, para além de temas regionais e locais, apresentou um estudo biográfico sobre o Almirante Manoel Maria Sarmento Rodrigues, a estação arqueológica da Fonte do Milho na Régua, Clemente Menéres e o habitual Miguel Torga; o segundo número, apresenta artigos sobre os cogumelos silvestres, que todos os anos matam gente em Portugal, José António Junqueiro Júnior, pai do poeta Guerra Junqueiro, Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, no Aquém Douro, e um texto sobre o potencial gastronómico e económico da castanha pelo grã-mestre da Confraria Ibérica da Castanha, e ainda Camilo Castelo Branco e João de Araújo Correia, além de outros assuntos locais! Bô.

A César o que é de César

Impõe-se-nos fazer uma retificação!
No sítio da Internet da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, desde há muito tempo e confirmado hoje (2012.01.23, 17.30 horas), que na rubrica “Edições apoiadas pela CNCCR” consta o nosso livro “Republicanos, monárquicos e outros. As vereações gaienses durante a 1.ª República (1910-1926)” editado pela Confraria Queirosiana em 2010.
Ora em nome da verdade informamos que o dito livro não teve qualquer apoio da referida Comissão, tendo a sua impressão sido inteiramente custeada pela entidade editora e alguns exemplares sido adquiridos pela Biblioteca Pública Municipal de Gaia; pelas Juntas de Freguesia de Avintes e Canidelo, pela Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia e por vários sócios e confrades queirosianos. E não por mais alguma ou qualquer outra entidade. E não pela CNCCR que não adquiriu ou custeou qualquer exemplar.

GASTRONOMIA

Dom Duarte Pio, confrades da Queirosiana
e do Pastel de Tentúgal



Jantar dos Reis

No passado dia 7 de Janeiro decorreu na colunata do Bom Jesus de Monte em Braga um Jantar dos Reis para divulgação e defesa da excelência dos produtos tradicionais portugueses e da necessidade do incremento da sua comercialização e internacionalização. A convite da Comissão Organizadora, estiveram presentes várias associações de desenvolvimento do Norte de Portugal e muitas confrarias, entre as quais a Queirosiana, que apresentaram os seus produtos aos numerosos participantes tendo sido Confraria anfitriã a do Vinho Verde.
A nossa delegação foi composta pelo mesário-mor J. A. Gonçalves Guimarães, Ilda Castro, Fátima Teixeira, Maria Carolina e António Alberto Calheiros Lobo, que desenvolveram contatos com várias entidades presentes, nomeadamente o Real Gabinete de Leitura e a Sociedade Eça de Queirós do Rio de Janeiro.
Presidiram ao evento D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e primaz das Hispânias e D. Duarte de Bragança, chefe da Casa Real Portuguesa.

150 anos do Tavares

Foi em 1861 que um velho botequim lisboeta, que já existia em 1784 na rua da Misericórdia, 35, passou a denominar-se “Café-Restaurant Tavares”, o qual ainda hoje existe.
Imortalizado n’Os Maias em 1888, era frequentado por Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Luís de Soveral e outros Vencidos da Vida. Eça de Queirós destaca-lhe o “bife excelente”, a “perdiz fria” e o “doce de ananás”.
É o primeiro restaurante lisboeta a ser referido no guia Portugal Een gids voor vrienden, de J. Rentes de Carvalho, editado pela Uitgeverij De Arbeiderspers, Amsterdam e que conta com sucessivas edições desde 1989.
Conserva o ambiente queirosiano, modernizado no que é aceitável, este que se considera «o restaurante mais antigo de Portugal».

Brindar com Porto a:

Luís Raposo, o diretor do Museu Nacional de Arqueologia que levou ao mundo a arqueologia em Portugal;

Não, não quero brindar com:

Francesco Schettino, o capitão que abandonou o navio que naufragava.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 41 – Quarta, 25 de Janeiro de 2012
Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154
IBAN:PT50001800005536505900154;Email :queirosiana@gmail.com; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638);
redacção: Fátima Teixeira; Colaboração: Joaquim Santos; inserção: Amélia Cabral.


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