terça-feira, 25 de março de 2025

 

 

Eça & Outras, terça-feira, 25 de março de 2025

 

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

 

O Porto como centro histórico de migrações

No passado dia 10 de março tive o gosto e o prazer de dar a segunda aula na Biblioteca Municipal Almeida Garrett do Porto no curso breve intitulado «Porto Romântico, lugar de chegada e de partidas: migrantes e viajantes». O desafio era falar de «Viajantes e migrantes do Porto para outras partes. Figuras e factos relacionados com a partida do Porto para portos estrangeiros; os armadores de navios; os negociantes dos dois lados do Atlântico; os que ficaram do outro lado do mar e a marca que ali deixaram». Um mundo de dados a sintetizar em duas horas. Como não conhecia a assistência, o grau de conhecimentos já adquiridos e as apetências para o tema, e partindo do princípio que não me conheciam como historiador ou o que tinha já produzido nestas áreas do saber, achei por bem começar por me apresentar profissionalmente, no que toca a habilitações e experiência docente ou como investigador nestas áreas. Também as minhas ligações familiares à cidade do Porto, não fosse o acharem que eu era um desconhecido, ou pior, um arrabaldino preconceituoso. Uma tentativa de um tu cá tu lá historiófilo com os inscritos. E já agora apelar à clareza de conceitos, nomeadamente o de Romantismo e de romântico, socorrendo-me da historiadora brasileira ROMEIRO, Adriana (2010) – Arte e modernidade nos séculos XIX e XX: herói romântico, apud GUIMARÃES, J. A. Gonçalves; GUIMARÃES, Susana (2012) – Aspectos românticos na vida do 1.º Visconde de Beire. In SOUSA, Gonçalo de Vasconcelos e, coord. (2012) – Actas do I Congresso O Porto Romântico, vol. II. Porto: Universidade Católica, pp. 287-289, que bem lembrou que o romântico é um migrante por convicção «que passa pelo exílio ou é um exilado, ainda que no seu próprio país». Isto já o confirmara em alguns trabalhos que publiquei sobre as migrações ou sobre figuras do Romantismo.

E, entretanto falei também dos viajantes que por aqui passaram ao longo dos tempos e que de tal deixaram registos escritos e até iconográficos, como foi o caso de Cosme de Médicis em 1669, uma descrição da cidade, suas gentes e suas azáfamas e a mais antiga e pormenorizada vista desenhada pelo seu pintor Pier Maria Baldi a partir do alto de Vila Nova. E muitos outros viajantes se lhe seguiram até Madame Ratazzi, que deixou no seu Portugal à vol d’ oiseau (1880), descrições e considerações que Camilo, esse outro irrequieto migrante mas apenas no território português continental, haveria de zurzir com o seu habitual sarcasmo. Mas viajantes, ou mesmo peregrinos e agora turistas, são apenas migrantes temporários, deixam episódios mas não deixam sagas.

Se é certo que para cada tipo de migrantes nos socorremos da excecionalidade dos que deixaram marcas no seu tempo, não podemos ignorar que na sua maioria são massas anónimas que só esporadicamente logram ter lugar na história. Tendo falado em alguns desses grupos de gente que desde tempos remotos demandaram por barco a barra do Douro ou que, desde há dois mil anos, percorrem a estrada Norte/ Sul que aqui atravessa o rio, alguém da assistência me lembrou que estava a esquecer os ciganos, aqui chegados desde o século XVI; não, não esqueci, nem esse nem outros grupos humanos entre nós minoritários, mas nem por isso menos dignos de atenção. Só que, em duas horas, não era possível particulariza-los a todos. E mencionei também os meus projetos falhados ou não desenvolvidos, como o estudo do paleocristianismo no Vale do Douro, imigrantes que trouxeram para aqui essa crença e de onde vieram eles; ou o do estudo das tampas sepulcrais armoriadas de Cabo Verde e, por extensão, as do Império Colonial Português, curiosos monumentos de migrantes espalhados pelo mundo ainda sem um estudo sistemático. E, neste caso, quantos portuenses nelas não se tentaram perpetuar desde, pelo menos, o século XIV, quando aqui a construção naval contribuiu para a Expansão Europeia pelas estradas do mar que levaram tantos emigrantes registados como marinheiros, soldados, colonos, missionários, artesãos, aventureiros, à procura de melhor vida.

Falamos então dos imigrantes que para aqui vieram e se fixaram, como os “ingleses” (mais propriamente, britânicos), negociantes não apenas de vinhos, mas de outras muitas mercadorias, e até militares. De galegos, entre os trabalhos braçais e as padarias, as saboarias e outras ocupações. De “italianos”, de espanhóis, de chineses, de um sueco. E sobretudo dos emigrantes que do Porto partiram para o Oriente, para a Europa, para a Patagónia, e sobretudo para o Brasil, muitos dos quais regressaram, deixando marcas lá e retornando à sua terra ou ao seu país de origem, a concretizarem sonhos de entreajuda. Uma migração muito especial que tem já abundante bibliografia e muitos retratos espalhados pelas galerias de várias instituições. Por fim alguns daqueles que migraram dentro de Portugal, e que com isso marcaram o seu trajeto de vida e as terras onde se acolheram a produzirem conhecimento ou riqueza. E falamos também da migração desse símbolo associado a tudo isto que é o Vinho do Porto, que daqui parte acompanhando os emigrantes, ou aqui se queda aguardando que nele venham diluir amarguras ou brindar êxitos longínquos. Sem esquecer esse notabilíssimo monumento ao migrante, a estátua O Desterrado de Soares dos Reis, esculpida em 1872 quando o autor estava migrado em Roma e que daí ambos se retornaram, estando hoje esse tributo à diáspora portuguesa exposto para todos no Museu Soares dos Reis no Porto.

«Em Portugal quem emigra são os mais enérgicos e os mais rijamente decididos; e um país de fracos e de indolentes padece um prejuízo incalculável, perdendo as raras vontades firmes e os poucos braços viris.» (Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre). Mas tudo o que de melhor o escritor estudou e escreveu sobre este tema está em A Emigração como força civilizadora, relatório escrito em 1874, só publicado em 1979, e hoje geralmente desconhecido. Talvez por não ser muito romântico, mas utilmente necessário e atual nos seus pressupostos humanísticos.

Sei lá que sangues antigos me correm nas veias; mas sei que na mente trago abraços para todos os migrantes com quem me cruzo na vida.


J. A. Gonçalves Guimarães

historiador

 

Acordo de Parceria

No passado dia 5 de fevereiro foi assinado entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, representada pelo seu presidente Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, e a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, EUP, representada pelo seu presidente da mesa da assembleia geral mandatado para o efeito, Prof. Doutor José Manuel Alves Tedim, um acordo de parceria que «… tem por objeto a colaboração financeira entre os outorgantes nos domínios da divulgação do Roteiro Queirosiano de Vila Nova de Gaia, do Solar Condes de Resende, bem como da vida e obra de Eça de Queiroz, e, bem assim, no âmbito da realização de trabalhos de investigação no Centro de Documentação, nomeadamente, no que respeita à coleção Marciano Azuaga, coleção etnográfica e espólio arquitetónico entre outros bens de elevado valor cultural e histórico, que integram o acervo do Solar Condes de Resende, durante o ano de 2025». Estes projetos, que têm como executantes investigadores-tarefeiros profissionais formados em História, Arqueologia, Antropologia Cultural, História da Arte e Património, tiveram início em 2004 e produziram já dezenas de trabalhos sobre este património gaiense com larga difusão em revistas da especialidade ou de divulgação e algumas dissertações de mestrado, teses de doutoramento e bases de dados disponíveis para todos os investigadores que para tal demandam o Solar Condes de Resende ou o Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ.

 

A ASCR-CQ esteve em…

                                        

Gravura 1: sentados: Carlos Méro; António Pinto Bernardo; Alberto Rostand Lanberly. Em pé: Marcelo Silva Malta; Arnaldo Paiva Filho; Francisco Assis e Fernando Maciel

No passado dia 24 de setembro na cidade de Maceió, Brasil, foi criada a Irmandade Queirosiana de Alagoas (IRQUAL) pelos confrades António Pinto Bernardo, seu patrono, e tendo como afilhados Alberto Rostand Lanverly, Arnaldo Paiva Filho, Fernando António Barbosa Maciel, Chico Assis, Marcelo Silva Malta e Carlos Méro, «espelhada nos propósitos institucionais e culturais da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e irmanados com a Academia Alagoana de Letras», depois apresentada no capítulo de 23 de novembro do ano passado. Mais recentemente, no passado dia quinze de janeiro na cidade de Barra de São Miguel, Alagoas, reuniu esta agremiação sob a direção do confrade António Pinto Bernardo, tendo estado presentes os confrades queirosianos Alberto Rostand Lanverly, presidente da Academia Alagoana de Letras, Arnaldo Paiva Filho, Carlos Barros Méro, Chico de Assis, Fernando António Barbosa Maciel e Marcelo Silva Mata, e ainda as senhoras Ana Lanverly, Cleide Tavares Méro e Rose Maciel. Para além de palavras sobre a vida e obra do patrono Eça de Queirós e da sua importância para as novas gerações nas escolas alagoanas, foi ainda comunicado aos presentes que na biblioteca daquela academia passará a haver um espaço reservado para exposição das obras do escritor recentemente trasladado para o Panteão Nacional em Lisboa. Na ocasião o confrade Chico de Assis declamou poemas e prosas de diversos autores portugueses e brasileiros, dando especial enfase aos de Eça de Queirós. Esta irmandade tem como objetivos fazer ações de divulgação da obra do escritor no mundo lusófono.

Prossegue no Solar Condes de Resende o ciclo de conferências, presenciais e por videoconferência, organizadas pela associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, EUP evocativo da concessão de Honras de Panteão Nacional a José Maria Eça de Queiroz pela Assembleia da República. Assim, no passado dia 27 de fevereiro, via zoom, Irene Fialho falou sobre «”Entre a Arcada e S. Bento” – Eça de Queirós vê Lisboa».

Nos passados dias 28 de fevereiro e 1 de março decorreram as sessões do 35.º Fórum Avintense na Junta de Freguesia de Avintes, nas quais participaram diversos associados e confrades queirosianos, tendo as sessões sido encerradas com a comunicação «Um trajo folclórico de Avintes e um outro de São Paio de Oleiros, tudo Terra de Santa Maria» por J. A. Gonçalves Guimarães sobre dois trajos regionais em tempos oferecidos à ASCR-CQ.

Na sexta-feira dia 07, o presidente da direção, a funcionária e outros associados estiveram presentes no Centro Cultural de Paredes no 7.º Aniversário do Café Literário onde decorreu a apresentação da 7.ª edição da Revista Cultural Orpheu Paredes na ocasião apresentada pelo Prof. Dr. Joel Cleto e com textos de, entre muitos outros autores, dos confrades Nassalete Miranda, Levy Guerra e José Valle de Figueiredo.

No dia 8 de março no Solar Condes de Resende e por videoconferência prosseguiu o curso livre «“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril» com a aula «Liberdade, querida liberdade: canções de protesto, de intervenção e outras músicas», pelo Prof. Doutor Jorge Castro Ribeiro da Universidade de Aveiro, tendo prosseguido no sábado 22 de março com a aula sobre «"Quando pertencer ao povo o que o povo produzir": poder popular e socialismo durante a Revolução Portuguesa (1974-75)» pelo Prof. Doutor Ricardo Noronha do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Ainda no dia 8 de março, o presidente da direção e a funcionária estiveram no Cinema Batalha no encerramento do 45.º Festival Internacional de Cinema do Porto organizado pelos confrades Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira

No dia 10 de março, no curso breve «# 32 – Porto Romântico, Lugar de Chegadas e de Partidas: migrantes e viajantes», organizado pelo Prof. Doutor Francisco Queiroz para a Câmara Municipal do Porto, e cujas sessões decorreram na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, J. A. Gonçalves Guimarães falou sobre «Viajantes e migrantes do Porto para outros portos. Figuras e factos relacionados com a partida do Porto para portos estrangeiros; os armadores de navios; os negociantes dos dois lados do Atlântico; os que ficaram do outro lado do mar e a marca que ali deixaram» (ver editorial).

 

No dia 14 o presidente da direção, o secretário da mesa da assembleia geral Dr. Henrique Guedes e a funcionária foram cumprimenta a associada honorária Prof. Doutora Cristina Petrescu que se deslocou a Famalicão para participar no Congresso Internacional «Camilo Castelo Branco, 200 anos depois», como oradora, moderadora e cantora, pois para além da sua própria comunicação sobre o tema, como professora de Língua e Literatura Portuguesa moderou alguns painéis e num concerto interpretou, acompanhando-se à viola, as canções “Stelele-n Cer”. Letra: Mihai Eminescu. Música: Nicolae Bretan; “Sara pe Deal”. Letra: Mihai Eminescu. Música: Vasile Popovici; “Noite Serena (A Barquinha)”. Letra: Camilo Castelo Branco/ José Sanches da Gama (o refrão). Música: José Doria; e "Perdida", Letra de Camilo Castelo Branco e Música de Cristina Petrescu.

 

No dia 15 de março no Centro Recreativo de Mafamude, Vila Nova de Gaia, J. A. Gonçalves Guimarães participou numa das habituais Conversas CRM, desta vez sobre «Camilo Castelo Branco obra poética e literária», em que igualmente participaram Cláudia Rocha ao piano e David Morais Cardoso que leu poemas do escritor.

No dia 18 no jantar-palestra promovido pelo Rotary Club Gaia Sul em que foi palestrante o confrade Dr. Manuel Moreira, na qualidade de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia, sobre o tema «A missão social da Misericórdia de Vila Nova de Gaia». Estiveram presentes o presidente da direção e outros associados, ainda que em representação de outras entidades.

No sábado 22 a direção da ASCR-CQ esteve representada pelo seu vice-presidente, Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo e pelo vogal Dr. Manuel Nogueira na assembleia geral da Federação dos Amigos dos Museus de Portugal, que teve lugar no Museu dos Coches em Lisboa e durante a qual foram eleitos os seguintes órgãos sociais para o quadriénio 2025-2029: mesa da assembleia geral - presidente: Luís Brito Correia (Grupo de Amigos do Museu do Oriente); primeiro secretário: Maria do Sameiro Barroso (Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia); segundo secretário: Fernando Valério (Grupo de Amigos do Museu da Pólvora Negra). Conselho fiscal - presidente: José Rocha de Abreu (Grupo de Amigos do Museu de Marinha); vogal: Sílvia Moreira (Grupo de Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior); vogal: António José Oliveira (Associação dos Amigos do Museu Alberto Sampaio). Direção - presidente: Maria do Rosário Alvellos (Grupo de Amigos do Museu do Oriente); vice-presidente: Luís Cabral de Oliveira (Liga de Amigos do Museu de Machado de Castro); secretária: Maria Leonor Marinho (Grupo de Amigos do Museu Nacional do Traje); tesoureiro: Domingos Rebelo de Andrade (Grupo de Amigos do Museu do Oriente); vogal: Joaquim Gonçalves Guimarães (Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana); vogal: Fernanda Maia (Grupo de Amigos da Casa- Museu Dr. Anastácio Gonçalves); vogal: João Faria (Liga de Amigos do Museu de Machado de Castro); vogal suplente: Luís Dinis Correia (Associação dos Amigos do Museu do Douro). Continuou assim a direção da ASCR-CQ representada nos órgãos sociais da FAMP, havendo ainda outros dos seus dirigentes nos órgãos diretivos de outras associações congéneres.

A sessão decorreu com notável sucesso, tendo sido exitosamente cumprida a ordem de trabalhos, que culminaram com a entrega de vários prémios a alguns museus, financiados pela Fundação Millenium BCP. Quando chegou a vez do Prof. Luís Manuel de Araújo falar como presidente da direção do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia (GAMNA), apresentou aos presentes naquela sessão a ideia-convite para uma visita às vastas instalações internas, agora desnudadas, enquadrada no programa «Aberto para Obras», que permitirá aos visitantes saber em que estado se encontram os projetos das empreitadas e os planos para os futuros espaços. Depois, falando como vice-presidente dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, justificou a ausência do seu presidente da direção, devido a uma realização cultural que decorreu no mesmo dia no Solar, em Canelas, no âmbito das atividades diversificadas que são regularmente aí organizadas, com uma significativa aceitação de muitos interessados. Entretanto, ficou estabelecido pela nova direção da FAMP que um dos projetos a levar a cabo seria uma viagem cultural ao estrangeiro que estivesse de acordo com os interesses dos seus membros, que seria visitar um país que dispusesse de grandes atrativos a nível de museus (Espanha, França, Itália, Grécia, entre outros) tendo colhido algum entusiasmo a hipótese de ser o Egito. Seguiram-se momentos agradáveis com o simpático almoço num restaurante próximo, que foi um animado convívio, após o que foram até ao Palácio da Ajuda para ver o espetacular Museu do Tesouro Real, sendo a visita conduzida pelo seu diretor, e no final combinou-se que no mês de setembro aquele egiptólogo iria lá falar de «Tesouros reais do antigo Egito», um tema bem propositado no contexto.

Ontem, dia 24 de março, decorreu no Solar Condes de Resende, presencial e por videoconferência, a assembleia geral da ASCR-CQ para análise, discussão e aprovação do relatório e contas da direção referente a 2024 e apresentação do respetivo parecer do conselho fiscal, os quais foram aprovados e que serão publicados na Revista de Portugal de novembro próximo.

 

Livros

 

A convite da Editora Bertrand o nosso associado Doutor Joaquim Armindo Pinto de Almeida, publicista sobre temas religiosos, comentou recentemente a Autobiografia de Francisco – Esperança, no qual o papa conta «…as mais variegadas histórias da sua vida, filho de migrantes italianos, bem conheceu desde muito novo as agruras da vida, mas ao mesmo tempo que se tornou um presbítero, não negando a sua condição de criança, mas acentuando-a. Francisco salienta, portanto, que “O verdadeiro amor é inquieto”, dando um contributo essencial para a compreensão do que é ser cristão ou cristã, e fala a todos os homens e mulheres daquilo porque se “inquieta”. (…) Ao longo das suas 350 páginas Francisco o bispo de Roma e papa – como quer ser chamado – escreve um livro que qualquer homem ou mulher de boa vontade deverá ler e saborear».



No passado dia 8 de março a direção do FAPAS (Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade) na sua sede em Pedroso, Vila Nova de Gaia, procedeu ao lançamento do livro Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem – 1974-2024 I 50 anos, apresentado por Eugénio Rietsch Monteiro, primeiro presidente da AG do NPEPVS, José Alberto Rio Fernandes, atual presidente da AG da FAPAS e o confrade Nuno Gomes Oliveira, antigo secretário-geral do NPEPVS e atual presidente da direção da FAPAS.

 

O Grémio Literário em Lisboa, instituição protocolada com a ASCR-CQ, atribuiu recentemente à Professora Doutora Teresa Pinto Coelho, professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, o Prémio Grémio Literário 2024 pelo seu livro Eça de Queirós no Egipto e a Abertura do Canal de Suez, publicado pela Tinta da China em outubro passado, o qual será objeto de uma recensão crítica pelo egiptólogo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo a publicar no próximo número da Revista de Portugal.

 

Exposições

 

Entre 22 de fevereiro e 14 de março esteve patente ao público no Pavilhão Municipal de Fânzeres a exposição de escultura «Pedra com Vida» do confrade António Pinto, organizada pela ARGO – Associação Artística de Gondomar.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 199, terça-feira, 25 março de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: António Manuel S. P. Silva; Cristina Petrescu; Luís Manuel Araújo.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

 

Eça & Outras, terça, 25 de fevereiro de 2025

 

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

 

Celebrar Camilo nos seus duzentos anos

Todos teremos algumas boas razões para celebrar Camilo Castelo Branco nos duzentos anos do seu nascimento em Lisboa. Algumas de incidência nacional: ele é, sem dúvida alguma, um dos grandes escritores nacionais de todos os tempos e um dos expoentes da cultura portuguesa do século XIX. Todos lemos alguns dos seus romances mais célebres; muitos de nós viram o seu retrato nas notas de cem escudos antes do euro; alguns viram um ou outro filme baseado em alguma das suas obras; uma ou outra das suas peças de teatro; uma ou outra série televisiva sobre a sua vida ou parte dela. Mas mesmo não conhecendo muito da sua biografia sabemos que o romancista teve uma vida de romance. E sabemos que pôs fim à vida com um tiro de revolver recusando a condenação da cegueira irreversível. Ainda tenho o primeiro livro que dele li e reli: A Bruxa do Monte Córdova, que alguém me ofereceu andava eu ainda na escola primária. Entre os treze e os quinze anos “decidi” que haveria de ler “todos” os livros de Camilo, imposição que de todo não cumpri por tola e por haver outras leituras à espera. Camilo para mim era (e continua a ser…) o Portugal rural que vem trabalhar para a cidade esperando oportunidades na periferia; o Portugal brasileiro de torna-viagem que regressa às berças; o bacharel desajeitado que fazem deputado na capital; os padres e outros religiosos que não conseguem esconjurar os próprios pecados, quanto mais os dos outros; as meninas que esperam, esperam e depois ficam de esperanças, quando não tuberculosas; o profissional da escrita que a eleva aos píncaros da arte.

Repartido em pedaços vivenciais e ficcionais desde Coimbra a Vila Real, de Braga a Lamego e Viseu, de Famalicão ao Porto, cidade que o adotou porque, além de tudo o mais, Camilo fica-lhe bem: na Foz do Coração, Cabeça e Estômago (o seu melhor romance…); no Rio Douro da partida dos barcos para o Brasil; na cadeia de todos os amores de perdição e de salvação, ele por aqui viveu, vagabundeou, fez que estudou, teve algumas ocupações temporárias, amou, intrigou, interferiu, escreveu e se afirmou. E também por outras terras que este ano o vão recordar no restante dicionário toponímico camiliano.

Certa vez um amigo desafiou-me para participar num colóquio sobre temática camiliana, começando logo por me acautelar: “embora Camilo tenha pouco a ver com Gaia…”; para o esclarecer apresentei então uma comunicação intitulada «O que é que Camilo tem a ver com Vila Nova de Gaia?», a qual vou reeditar, melhorada, no curso que a Confraria Queirosiana está a preparar para evocar os 200 anos.

Efetivamente na sua vida e obra existem variadíssimos aspetos e circunstâncias que o ligam a Gaia e a Vila Nova. Antes de mais um roteiro ou itinerário descrito ou usado como cenário para vários dos seus romances, divagações ou deambulações: o Rio Douro da Companhia do Marquês de Pombal, do Forrester e dos outros “ingleses”; a Vila Nova dos armazéns, das estalagens e das freiras de Corpus Christi; o castelo de Gaia, o Candal, a Rasa; as quintas de Vilar do Paraíso, o solar dos Camelos de Miranda, a casa do coronel Hugo Owen e suas filhas; a estrada para Ovar e a romaria ao Senhor da Pedra; Avintes, padeiras, barqueiras e outras cachopas das freguesias rurais vistas aqui ou nas ruas do Porto; versos que fez a um inventado “visconde de Quebrantões”, um dândi da época. Estas e outras evidências, com a colaboração de Anselmo Freitas, foram incluídas no livro Roteiro Camiliano de Vila Nova de Gaia, e na exposição itinerante paralela, editados pelo Solar Condes de Resende em 1991. Podia já ser suficiente, mas há mais: a Coleção Marciano Azuaga recolheu a correspondência entre o escritor e o seu último editor, Eduardo da Costa Santos, que também foi comandante dos bombeiros municipais de Vila Nova de Gaia. Publicada em 1923 por Júlio Brandão, terá dado origem ao despeitado ensaio Os Azeiteiros de Camilo (1925) da autoria do ex-presidente da câmara Manuel Ferreira de Castro, e mais recentemente de novo estudada e publicada por Alexandre Cabral em 1988. Em 1944, o publicista José de Lima, administrador da Casa Ferreira dos vinhos, utilizando o arquivo da família (o filho de D. António foi concunhado de Camilo o que o levou a deixar o seu nome perpetuado numa inscrição evocativa na Quinta do Vesúvio no Douro…) publicou um livro de correspondência sobre Ana Plácido temporariamente recolhida num convento. Vila Nova de Gaia também tem e teve camilianista devotos, colecionadores de recordações, memorabilia e edições, algumas das quais podem ser vistas em catálogos como A “Camiliana” da Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia, organizado por Alberto Luís Moreira e publicado em 1990, na edição do qual colaborei. Outro ensaio da autoria de um autor gaiense, A cegueira de Camilo e a miopia de um médico, foi escrito pelo médico oftalmologista Rufino Ribeiro, edição de autor, 1970, que também era pintor e autor de um retrato do escritor que foi capa de uma sua biografia.

Podemos ainda recordar as esculturas e bustos feitos por Teixeira Lopes, Diogo de Macedo e Henrique Moreira, nomeadamente o existente à entrada da avenida de seu nome no Porto. Ou as pinturas e desenhos de Joaquim Lopes e Isolino Vaz.

Um outro assunto que merecerá um estudo mais desenvolvido é a origem do título nobiliárquico do escritor, o de visconde de Correia Botelho: os seus ascendentes destes apelidos eram, desde longa data, proprietários no Castelo de Gaia, lugar que, como vimos, Camilo conhecia bem. Tendo recusado outras hipóteses, foi a ligação a este local muito especial de Vila Nova de Gaia que o levou a considerá-los e não quaisquer outros.

Mas Camilo continua hoje, e certamente assim continuará a ser recordado, como o escritor «…cujo verbo é prodigioso, acumulando tudo o que o génio nacional inventou para se exprimir!» (Eça de Queirós, Cartas Inéditas de Fradique Mendes).

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador


Camões 500 Anos

Exposição Universal da Matriz Portuguesa – Camões 500 Anos, organizada por A Matriz Portuguesa – Associação para o Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento, a qual a associação ASCR- Confraria Queirosiana se associou, recebeu o Estatuto de Interesse Cultural, concedido pelo Ministério da Cultura.

Entretanto, em junho de 2025 as Marchas Sanjoaninas de Vila Nova de Gaia terão como tema os 500 anos do nascimento de Camões.

A ASCR-CQ esteve em…

No dia 9 de fevereiro, domingo, a associação representada pelo presidente da direção, correspondeu ao convite e esteve presente num espetáculo popular organizado pela Comissão de Festas da Paróquia de Coimbrões no Auditório do Quartel dos Bombeiros Voluntários desta localidade gaiense, tendo no final sido convidado para ver a biblioteca da corporação e o espólio documental que pertenceu ao Padre Romero Vila, antigo capelão e seu sócio honorário, ficando o Gabinete de História, Arqueologia e Património de propor um plano para a rentabilização cultural dos mesmos.

No dia 14, o presidente esteve no Centro de Estudos Camilianos em Vila Nova de Famalicão para acertar colaboração para o curso evocativo dos 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco a ter início a 4 de outubro próximo no Solar Condes de Resende.

No dia 16, idem na sessão dos 113 anos do Centro Recreativo de Mafamude, Vila Nova de Gaia.

No dia 17, idem na Casa Comum (reitoria da Universidade do Porto) no lançamento do livro do confrade Adrião Pereira da Cunha, Henrique Galvão, o Intelectual, o Político, o Revolucionário

No sábado 22, idem e outros associados na abertura da exposição "Visões Inquietas" do confrade honorário Hélder de Carvalho no Mosteiro de Corpus Christi em Vila Nova de Gaia, apresentada pela confrade Eng. Paula Carvalhal, vereadora do Pelouro da Cultura e da Programação Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

 

No dia 24, no Auditório de Olival, decorreu a XX Gala do jornal Audiência na qual foram distinguidas muitas individualidades e instituições pela sua relevante contribuição para a promoção de diferentes áreas da sociedade, ao longo da sua vida ou com destaque durante o ano 2024, tendo a associação estado representada pelo presidente da direção.

 

Curso e palestra no Solar

                                O Prof. David Rodrigues na sua conferência; fotografia de Maria de Fátima Teixeira

No passado dia 30 de janeiro, e dando início ao ciclo de conferências presenciais e por vídeoconferência organizadas pelos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana integradas no programa da concessão de honras de Panteão Nacional a José Maria Eça de Queiroz pela Assembleia da República, o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo falou sobre «Eça de Queirós no Egito e Terra Santa», também divulgada no blogue Faraó & Companhia.

Prossegue entretanto também no Solar Condes de Resende o curso livre «“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril»: no sábado dia 1 de fevereiro, o Prof. Doutor Nuno Resende, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto deu uma aula sobre «A Fotografia e o 25 de Abril de 1974» e no sábado dia 15, o Professor Doutor David Rodrigues catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, professor emérito da Universidade de Lovaina e Conselheiro Nacional da Educação, falou sobre «Educação: 25 é metade de 50 ou 50 é o dobro de 25?».

 

Atividades de associados e confrades

    O Prof. Luís Manuel de Araújo na sua conferência no Solar Condes de Resende; fotografia de Maria de Fátima Teixeira

Durante o mês de fevereiro diversos associados e confrades da ASCR-CQ desenvolveram diversas atividades profissionais, algumas das quais chegaram ao nosso conhecimento. Assim, a 12 deste mês, o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo fez uma conferência na Biblioteca do Exército no Palácio dos Marqueses de Lavradio em Lisboa sobre «Das Bibliotecas do Antigo Egito à Biblioteca de Alexandria», e a 19 do mesmo mês, na Academia Portuguesa da História, também em Lisboa, uma outra conferência sobre «Sarcófagos Egípcios em Portugal».

No passado dia 11 tomaram posse no Palácio da Bolsa no Porto os órgãos sociais da Delegação Regional do Norte da Ordem dos Economistas para o quadriénio 2025-2028, dos quais faz parte o confrade Prof. Doutor Carlos Brito da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.

 

Livros e Periódicos

 


Com o texto de Nuno Resende «A cidade pelo olhar de Guilherme Camarinha nas tapeçarias dos Paços do Concelho», fotografias de Renato Roque e design de Rui Mendonça, a Câmara Municipal do Porto acaba de publicar um belo livro que apresenta, interpreta e descodifica as tapeçarias do pintor gaiense Guilherme Camarinha existentes nos Paços do Concelho, mas também em outros edifícios emblemáticos da cidade, como a Cooperativa dos Pedreiros, a Faculdade de Medicina ou o Tribunal da Relação. Com prefácio do presidente Rui Moreira, aquele historiador da Arte e professor na Faculdade de Letras leva-nos a descobrir nestas singulares produções um Porto mítico com pessoas, acontecimentos e símbolos esteticizados pela «linguagem caleidoscópica deste mestre».

 


Com prefácio do Prof. Doutor António Barros Cardoso, que também fez a apresentação da obra aquando do seu lançamento, o historiador Adrião Pereira da Cunha nesta sua obra «…socorre-se de notória multiplicidade de documentos…» para nos disponibilizar uma biografia de um dos mais controversos portugueses do século XX, o Capitão Henrique Galvão, militar, inspetor colonial, comissário de exposições e deputado colonial, o qual, desiludido com as incapacidades do regime do Estado Novo para transformar Portugal, foi depois o autor de atos revolucionários que revelaram ao mundo a situação interna de um país subjugado, desde o desvio de um avião comercial em pleno voo para lançar panfletos sobre Lisboa até ao assalto do paquete Santa Maria que rebatizou como Santa Liberdade. E também as suas problemáticas relações com o General Humberto Delgado, que acabaria assassinado pela PIDE junto à fronteira portuguesa.

Por Forjães. Boletim Informativo, Ano 4, nº 19, dezembro de 2024, da Junta de Freguesia de Forjães, município de Esposende, inseriu na p. 49 uma notícia da visita que a ASCR-CQ ali realizou em fevereiro daquele ano para ver os painéis de Jorge Colaço no Centro Cultural Escolas Rodrigues de Faria, bem assim como à Igreja Matriz e a outro património local, por iniciativa do nosso confrade Arq.to José Alberto Couto, com a colaboração do Professor Brochado de Almeida e o dedicado acolhimento da Junta de Freguesia.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 198, terça-feira, 25 fevereiro de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

sábado, 25 de janeiro de 2025

 

Eça & Outras, sábado, 25 de janeiro de 2025

IIº Centenário do Nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Eça de Queirós no Panteão

 

Por resolução da Assembleia da República de 15 de janeiro de 2021 foram concedidas honras de Panteão Nacional ao bacharel em Direito, cônsul de carreira e escritor Eça de Queirós, nascido a 25 de novembro de 1845 na Póvoa de Varzim e falecido em Neuilly-sur-Seine, França, a 16 de agosto de 1900, sepultado no cemitério do Alto de São João em Lisboa a 17 de setembro desse ano, trasladado para jazigo de família no cemitério de Santa Cruz do Douro, Baião, a 15 de setembro de 1989 e daí trasladado de novo para o Panteão Nacional em a 8 de janeiro de 2025.

Por convite à Confraria Queirosiana, associação protocolada com a Fundação Eça de Queiroz desde 2006, por parte do seu presidente Dr. Afonso Reis Cabral, confrade de honra da primeira, esta associou-se no passado dia 5 de janeiro à homenagem ao escritor n presença dos seus restos mortais presentes em câmara ardente no átrio da Casa da Quinta de Vila Nova no, fazendo a respetiva guarda de honra. Para tal a direção mobilizou um significativo número de confrades seniores e juniores, que se revezaram dois a dois junto do féretro. E quem não pode vir também esteve presente neste ato simbólico: uns pediram para que por eles pusessem a mão no ataúde e pronunciassem o seu nome baixinho; outros mais exotéricos opinaram que indo Eça para o Panteão em Lisboa, sempre teremos por aí Fradique Mendes. José Rentes de Carvalho enviou um e-mail de Amsterdam em que confidenciava: «…no próximo domingo, quando se encontrar de turno junto dos restos mortais do Mestre, a quem muito devo, vai sentir perpassar uma aragem. Serei eu, a anunciar desse modo a minha gratidão e o meu respeito. Com o abraço de sempre. José». Na hora da partida quando a urna saía o portal uma aragem fez-se sentir forte na rama das centenárias árvores fronteiras à capela. José tinha chegado para um até sempre, pois ali continuará perpetuado na Casa que visitou, nos seus pertences vindos de Paris e ali recolhidos, nos cursos e evocações regulares da sua vida e obra e até, certamente, no jazigo de seus filhos e outros familiares que ali permanecem no cemitério da terra.

Esta homenagem nacional pode e deve servir para dar de novo a ler e a reler a sua obra e, se tal for possível, a encolher as desnecessárias mitologias em volta da sua vida e a engrandecer as notáveis verdades que a mesma procurou concentrar e transmitir. Não nos acalenta a ideia corrente de que em volta das grandes figuras se constroem sempre barroquismos de fábulas, que apenas indicam preguiças de estudo. Para além de haver muito mau leitor, que lê, não o que o escritor escreveu, mas sim o que acha que ele deveria ter escrito, sendo mais fácil inventar do que ter disciplinas de aprendizagem. Conforme se confirma nestes dias, quer de viva voz, quer em artigos de jornais e revistas, quer em reportagens radiofónicas ou televisíveis, nas redes sociais, vai por aí um mundo de dislexias queirosianas que atingem o paroxismo, normalmente introduzidas pela frase “se Eça fosse vivo diria que… escreveria isto… escreveria aquilo”. Mas não, estejam descansados: do escritor só temos o que realmente nos deixou escrito e tal é imenso. E, por favor, distingam e interpretem as ficções, as metáforas, as «nouvelles phantaisistes» face às realidades do seu tempo que terminou a 16 de agosto de 1900. As primeiras são obras de Arte literária; as suas profecias, essas são vergonhas nossas. E, se querem atualizar-se com o pensamento de Eça, leiam-lhe o livro Emigração como força civilizadora, pois ele não escreveu só romances, crónicas ou correspondência. Também escreveu textos profissionais e de pensamento social.

No dia 8 de janeiro, a convite do presidente da Assembleia da República, a Confraria Queirosiana também se fez representar na cerimónia do Panteão, onde igualmente encontraram muitos outros confrades em representação de variadíssimas instituições, desde deputados até académicos, passando por alguns descendentes do escritor. Ouvido o elogio fúnebre escrito pelo trineto Afonso Reis Cabral, e as intervenções de José Pedro Aguiar-Branco e de Marcelo Rebelo de Sousa, entrecortadas por excertos das suas obras e de algumas músicas da sua vida, ficou-nos a sensação de que finalmente Portugal pagou uma dívida de gratidão para com um dos seus maiores, não sem o habitual regateio das pequenas feiras das vaidades locais. E dei por mim a constatar que a cúpula de Santa Engrácia estava a chorar grossas pingas da chuva que lá fora caíam sobre o vizinho palácio lisboeta dos Condes de Resende, mole imensa que ali recorda a família da mulher de Eça. E a trazer à memória a obra de A. Campos de Matos, a qual, questionadora até ao fim me brindou com a interrogação sobre uma nova interpretação do verdadeiro motivo central de Os Maias, que de modo algum entendia que fosse o fait divers do ignorado incesto, mas qual o papel da mulher na sociedade oitocentista. E por entre o render da guarda republicana lembrei-me de todos aqueles com quem tenho falado sobre a vida e obra do escritor desde que muito jovem o comecei a ler em busca de uma portugalidade que nos escapa porque tão grande, diversificada e fugidia ela é.

Quanto a eternidades, recordemos algumas das palavras do próprio Eça: «Podes-me tu dizer quem eram os ministros do Império em 1856… para o saber precisas desenterrar e esgravatar com repugnância velhos jornais bolorentos… uma dessas figuras de Estado que dormem nos arquivos e que pertencem só à erudição histórica… na longa fila dos papas… uma vaga tiara com um número; mas duzentos anos passarão, e mil – e o nome, a figura, a vida de certo homem que não governou… estará tão fresca e rebrilhante como hoje na memória dos homens. Porquê? Porque um dia… ele escreveu… (Eça de Queirós, prefácio a Azulejos pelo Conde de Arnoso). Creio bem que o mesmo se passará com este escritor que agora Portugal homenageia.

J. A. Gonçalves Guimarães

historiador

 

Homenagem nacional a Eça de Queirós

Nos passados dias 4 e 5 de janeiro na homenagem nacional que começou na Fundação Eça de Queiroz em Santa Cruz do Douro, Baião, estiveram presentes nas cerimónias e na guarda de honra aos restos mortais do escritor os seguintes confrades da Confraria Queirosiana (alguns também em representação de outras instituições): Afonso Reis Cabral presidente da administração da FEQ e confrade honorário; Amélia Maria Gomes Sousa Cabral confrade honorária; António Pinto Bernardo da direção da ASCR-CQ; Carla Alexandra de Jesus Almeida; Carlos Alberto Dias de Sousa da MAG da ASCR-CQ; Dalila Rodrigues ministra da Cultura e confrade honorária; Engrácia da Costa Tavares; Eva Cristina Ventura Baptista; Fernando Rui Morais Soares da direção da ASCR-CQ; Inês Cunha Jorge; João Emílio S. Carvalho de Almeida da MAG da ASCR-CQ; João Fernandez Cardoso de Albuquerque; João Martins Cardoso de Albuquerque; Joaquim António Gonçalves Guimarães da direção da ASCR-CQ; José Luís Carneiro, deputado e confrade honorário; José Manuel Alves Tedim da MAG da ASCR-CQ; Luísa Martins Cardoso de Albuquerque; Manuel Guimarães da Fonseca Nogueira da direção da ASCR-CQ; Manuel Maria Moreira da direção da ASCR-CQ; Maria de Fátima Teixeira secretária da direção da ASCR-CQ; Mário Cláudio confrade honorário e escritor; Paula Carvalhal presidente do conselho de curadores do conselho de administração da FEQ em representação da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e confrade honorária.

No Panteão Nacional no dia 8 de janeiro estiveram pelo menos os seguintes confrades, também muitos dos quais em representação de outras instituições: Afonso Reis Cabral descendente do escritor que leu o elogio fúnebre, presidente da administração da FEQ e confrade honorário; Carlos Reis professor da Universidade de Coimbra e coordenador da Edição Crítica das obras do escritor, que leu diversos trechos das suas obras, e confrade honorário; Dalila Rodrigues ministra da Cultura e confrade honorária; Guilherme de Oliveira Martins, presidente da administração da Fundação Calouste Gulbenkian e confrade honorário; Isabel Pires de Lima professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto que leu diversos trechos das suas obras, e confrade honorária; Joaquim António Gonçalves Guimarães da direção da ASCR-CQ e confrade honorário; José Luís Carneiro, deputado e confrade honorário; José Manuel Alves Tedim da MAG da ASCR-CQ; Maria da Graça Eça de Queiroz Cabral Nicolau de Almeida descendente do escritor; Mário Vieira de Carvalho professor jubilado da Universidade Nova de Lisboa, ex-secretário de estado da Cultura e confrade honorário, e Paula Carvalhal presidente do conselho de curadores do conselho de administração da FEQ em representação da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e confrade honorária.

No âmbito da concessão de Honras de Panteão Nacional Evocação a José Maria Eça de Queiroz, o Grupo de Trabalho da Assembleia da República convidou diversas entidades a desenvolverem iniciativas que analisem, comentem e divulguem a vida e obra do escritor. A associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, EUP (ASCR-CQ), no âmbito deste convite, vai promover as seguintes: janeiro, 30, quinta-feira, 18,30-19,30 horas - «Eça de Queirós no Egito e Terra Santa», conferência no Solar Condes de Resende e por videoconferência de acesso livre pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo, professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vice-presidente da direção da ASCR-CQ; diretor da Revista de Portugal; fevereiro, 27, quinta-feira, 18,30-19,30 horas - «Entre a Arcada e São Bento. Eça de Queirós vê Lisboa», videoconferência de acesso livre pela Mestre Irene Fialho do CLP da Universidade de Coimbra, investigadora do IELT (Instituto de Estudos de Literatura e Tradição) da Universidade Nova de Lisboa; membro do conselho cultural da Fundação Eça de Queiroz e da ASCR-CQ; março, 27, quinta-feira, 18,30-19,30 horas - «Eça de Queirós na Roménia», videoconferência de acesso livre pela Prof.ª Doutora Cristina Petrescu da Universidade Babeș-Bolyai de Cluj-Napoca, Roménia, confrade honorária da Confraria Queirosina; abril, 24, quinta-feira, 18,30-19,30 horas – «Os roteiros queirosianos e o Turismo Cultural», conferência no Solar Condes de Resende e por videoconferência de acesso livre pelo Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães, presidente da direção da ASCR-CQ; em maio em datas a indicar será feito o Roteiro queirosiano de Gaia e Porto, com visita guiada organizada pela ASCR-CQ.

 

Cursos e palestras no Solar



No próximo ano letivo a começar em outubro, a Academia Eça de Queirós, grupo de trabalho para o ensino da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, em colaboração com o Solar Condes de Resende (Câmara Municipal de Vila Novade Gaia) vai realizar mais um curso livre desta vez evocativo do IIº Centenário do Nascimento de Camilo Castelo Branco, com as seguintes aulas temáticas previstas, ministradas por especialistas que já produziram obras de investigação sobre o tema: 1 – Teoria da Literatura: o que é? Para que serve?; 2 – Camilo Castelo Branco e Vila Nova de Gaia, por J. A. Gonçalves Guimarães; 3 – Retratos de Gaia pela objetiva literária; 4 – Domingos Carvalho da Silva, um poeta brasileiro, por António Conde; 5 – Os escritores “esquecidos”: Teixeira de Vasconcelos um escritor “camiliano”, por Maria de Fátima Teixeira; 6 – Camilo e Eça de Queirós, por Irene Fialho; 7 – Um personagem camiliano: o Abade Santana de Mafamude, por João Fernandes; 8 – Itinerários Camilianos; 9 – A Casa Museu em São Miguel de Seide; 10 – J. Rentes de Carvalho e a ficção atual; 11 – Camilo e a Arte; 12 – Camilo e o Teatro; 13 - Camilo e o Cinema. Em breve será divulgado o programa definitivo e a totalidade dos professores contatados.

Entretanto continuam as aulas do presente curso sobre “Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril, prosseguindo como programado: a 6.ª sessão decorrerá a 01 de fevereiro pelo Prof Doutor Nuno Resende sobre «A Fotografia e o 25 de Abril», e a 7.ª sessão no dia 15 de fevereiro pelo Professor Doutor David Rodrigues sobre «Educação: 25 é metade de 50 ou 50 é o dobro de 25?». As próximas palestras das últimas quintas-feiras do mês serão preenchidas pelo programa dedicado à evocação da vida e obra de Eça de Queirós acima referidas.

 

A ASCR-CQ esteve presente...

Para além dos acontecimentos referentes à homenagem nacional a Eça de Queirós acima descritos, a ASR-CQ esteve no dia 7 de janeiro no Museu dos Coches em Lisboa numa reunião da FAMP, representada pelo seu presidente J. A. Gonçalves Guimarães. No dia 18 de janeiro no capítulo da Confraria da Fogaça realizado no Castelo de Santa Maria da Feira a oração de sapiência foi proferida pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim, presidente da mesa da assembleia geral da ASCR-CQ. Na sequência das reuniões que a associação tem vindo a realizar com os representantes dos partidos e coligações com assento na assembleia municipal de Vila Nova de Gaia, reuniu no passado dia 21 com André Araújo e outro representantes da CDU – Vila Nova de Gaia, inteirando-os do trabalho realizado em 2024 e do programa proposto para 2025.

 

Distinções e nomeações

A Prof.ª Doutora Annabela Rita, professora e diretora de licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro daASCR-CQ foi recentemente galardoada com o Prémio Personalidade do Ano 2024 outorgado pela editora e rede internacional de livrarias “Mágico de Oz”, tendo na cerimónia recebido a comenda Luís de Camões instituída pelo Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal, pela Literarte e por aquela editora em homenagem ao poeta no seu V Centenário.

A professora emérita da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ex-ministra da Cultura e confrade honorária, Professora Doutora Isabel Pires de Lima, foi recentemente eleita, por voto secreto e maioria absoluta entre os membros do conselho de administração, presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, tendo anteriormente desempenhado as funções de vice-presidente e integrado a comissão executiva, tendo portanto uma longa ligação à instituição.

 

 

Livros


Do blogue Eça de Queirós © 2024 do Professor Doutor Carlos Reis, 21 de Dezembro de 2024, partilhamos as seguintes edições queirosianas: «A Ilustre Casa de Ramires, edição Penguin. Foi recentemente publicado no Brasil, pela Penguin - Companhia das Letras, o romance A Ilustre Casa de Ramires, com texto estabelecido por Daiane Cristina Pereira e Giuliano Lelis Ito Santos, e introdução por Hélder Garmes. A presente edição adota o texto estabelecido por Elena Losada Soler, para a série Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós, publicado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, em 1999.».


Idem, 29 de Dezembro de 2024, «Carlos Quiroga, A costela galega de Eça de Queirós. Ourense: Dr. Alveiros, 2021, p. 10: O fio condutor deste trabalho é a pesquisa e exposição da ascendência apontada no título. A demonstração do vínculo fundamenta-se nos documentos genealógicos relativos ao próprio escritor, ao remontar a linha ascendente da sua consanguinidade e provar a referência indicada. Foi esse o moroso processo de busca e interpretação dos dados que seguimos, método por outra parte habitual. Também na nossa apresentação vamos observar essa cadeia genealógica que acompanha a linha genealógica em sentido inverso»

Do linguista Fernando Venâncio, autor do best seller Assim Nasceu Uma Língua, agora uma ficção em que o protagonista é Carlos Fradique Mendes, “amigo” de Eça de Queirós, desta feita avô do atual milionário Cristiano Fradique que encomenda ao jovem jornalista Martinho da Telha… Um livro com «uma escrita leve, viva e carregada de humor» editado pela Guerra e Paz Editores a partir de 28 de janeiro próximo.

A Academia Alagoana de Letras vem promovendo um programa de leitura para reclusos que se tornou referência nacional, incentivando a divulgação de textos de escritores alagoanos entre os reclusos e assim promovendo com sucesso a reinserção social dos detidos, pois os resultados demonstram uma evidente queda na reincidência prisional dos destinatários. Uma ação prática da utilização dos benefícios da cultura ao serviço das populações.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 197, sábado, 25 janeiro de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: blogue Carlos Reis; Academia Alagoana de Letras.