Homenagens a Maria Alberta
e Sofia, duas mulheres poetas
A
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia iniciou no mês de junho duas homenagens a
duas mulheres poetas contemporâneas. No primeiro caso, Maria Alberta Rovisco
Garcia Menéres, aqui nascida em 1930, professora, autora e apresentadora de
programas infantis na RTP, mas também tradutora de clássicos de Literatura para
a Infância e Juventude e autora consagrada nessa área, sendo Ulisses o seu livro mais conhecido, com
várias edições e reimpressões. Foi também poeta maior consagrada em antologias
internacionais. Tendo falecido no passado dia 15 de abril, já não esteve
presente no programa “Rosto das Letras” que a autarquia lhe dedicou, com uma
exposição retrospetiva da sua obra exposta na Biblioteca Pública Municipal (a
quem ficaria bem o seu nome) até 29 de junho.
No passado dia 14 de junho o Arquivo
Municipal de Vila Nova de Gaia prestou também uma homenagem a Sophia de Mello
Breyner Andresen, de quem ostenta o nome, com uma sessão pública e a abertura
de uma exposição intitulada “Um Porto a Sophia Andresen”, a que se seguiu uma
noite com a sua poesia acompanhada ao piano, bem assim como e testemunho de
vários dos seus descendentes e familiares, na vizinha Casa Museu Teixeira
Lopes. Tendo nascido no Porto em 1919 e morrido em Lisboa em 2004, a sua vida e
obra estão indissoluvelmente ligadas à Praia da Granja, em S. Félix da Marinha,
Vila Nova de Gaia, onde ainda existe a casa onde habitou, pensou e escreveu.
Independentemente da singularidade da
vida e obra de cada uma destas duas mulheres poetas, existem em ambas algumas
convergências ancestrais que por certo as marcaram. Para além da sua íntima
ligação a Gaia, por variados locais e afetividades, ambas descendiam de
famílias de negociantes da praça do Porto em ascensão no século XIX, com
instalações e negócios no município gaiense, no primeiro caso, de Clemente
Menéres, produtor, industrial e exportador de cortiça, azeite e vinhos de
Trás-os-Montes e Alto Douro, no segundo caso do dinamarquês João Henrique
Andresen, de cuja importância como armador de navios, negociante e industrial
adiante falaremos. Destas atividades familiares, restou a memória de vinho do
Porto com nome de família (Andresen; Menéres), mas tal está muito longe de
representar o universo de negócios a que os seus antepassados se dedicavam.
Para ambas o apego ao Mar e ao seu convite à viagem foi fundamental, bem assim
como a revisitação dos antigos heróis de uma Grécia idealizada. Como é sabido,
em ambas houve a preocupação pela formação das novas gerações, tendo elevado a
Literatura para a Infância e Juventude a um patamar maior.
Regressando a Sofia, na referida sessão
evocativa tive ocasião de recordar o que é que os Andresen têm a ver com Vila
Nova de Gaia, muito para além da tal marca de vinhos que ainda existe. João
Henrique Andresen, seu antepassado chegado a Portugal por volta de 1840, em
1845 já tinha a sua empresa de navegação para diversos destinos, sobretudo
Manaus no Brasil, para onde exportava, primeiro através de veleiros e depois de
vapores, muitos produtos portugueses e estrangeiros, como o cimento Portland, e
de onde importava borracha e outros produtos locais. Comprou entretanto uma
vastíssima propriedade na Afurada, conhecida por Quinta ou Tapada do Andresen,
de onde poderia ver os seus navios entrarem e saírem a barra do Douro, na qual
instalou uma fábrica de Moagem e Destilaria e uma Destilaria de Combustíveis
Fósseis (refinaria de petróleo). No atual Centro Histórico de Gaia, na Praia da
Cruz, possuía tanoaria, caixotaria e oficina de produção de aduelas, com
máquina a vapor e as primeiras a serem iluminadas com eletricidade montada pela
empresa de Emílio Biel em três armazéns onde igualmente acolhia as suas
importações e de onde expedia as exportações de aguardente, azeite, vinhos
licorosos e comuns vindos das suas quintas do Douro, para o que possuía também
uma prancha de embarque exclusiva.
Tendo falecido em Lisboa no seu palácio,
que fora dos Condes de Penafiel, em 1894, J. H. Andresen foi trasladado para o
Porto onde ficou sepultado no Cemitério de Agramonte num imponente e simbólico
jazigo da autoria do escultor António Teixeira Lopes, com cujo pagamento o
escultor mandou construir a Casa-Museu que hoje conhecemos com o seu nome onde
se realizou esta sessão evocativa. Entretanto os seus herdeiros adquirem uma
casa na Granja, que mandam aformosear, tendo passado a frequentar aquela praia
a partir de 1887. Deste convívio resultou o casamento do pai de Sofia (J. H.
Andresen III) com uma das filhas do 4.º conde de Mafra, Tomás de Mello Breyner.
Naquela casa da Granja, entretanto vendida à família Cabral em 1925, viria a
falecer em 1934 D. Emília de Castro Pamplona, mulher de Eça de Queirós e,
talvez por isso, quando em 2007 foi demolida apareceu erradamente designada na
imprensa como “a casa de Eça de Queirós”, que efetivamente também veraneou
nesta praia com seus pais, irmãos, amigos e familiares da futura noiva, mas que
nunca aí (nem em qualquer outro lado) possuiu qualquer propriedade, a não ser
em comunhão de bens.
A Granja de Sofia era também frequentada
por outras figuras literárias, hoje geralmente esquecidas: para além de Pedro
Homem de Mello, ali conviveu com António Miguel da Silva Vasconcelos Porto (o
poeta António-Além, curiosamente da família proprietária do palacete onde hoje
está instalado o arquivo com o seu nome) e sobretudo com António Eugénio Ramos
Pinto Calém (o poeta António Lousada) este último, para além de referir tal
convívio nas suas memórias, escreveu muitos dos versos cantados por Teresa de
Noronha, João Braga e outros fadistas.
À poesia de Sofia, única por certo, mas
também à daqueles seus vizinhos das ondas da Granja e da vida, se poderá
aplicar o que Eça disse sobre outros poetas: «…naquelas almas, todo o século
com as suas dúvidas, as suas lutas, as suas incertezas, as suas tendências, as
suas contradições, se retrata. São grandes almas sonoras onde vibra em resumo
toda a vida que as cerca. Estuda-se ali, como num sumário, a existência de uma
época» (Eça de Queirós, O francesismo).
J.
A. Gonçalves Guimarães
mesário-mor da Confraria Queirosiana
Confrade Queirosiano agraciado
O júri da 15.ª edição do Prémio Eduardo
Lourenço, constituído pelo presidente da Câmara Municipal da Guarda, os
reitores das universidades de Coimbra e Salamanca, como membros da comissão
científica e executiva do Centro de Estudos Ibéricos (CEI) com sede naquele
município, e também pelos membros convidados Emílio Rui Vilar e Rui Vieira
Nery, pela Universidade de Coimbra, e Maria Ángeles Pérez López e Lúcia Rodil,
pela Universidade de Salamanca, distinguiram este ano o Professor Doutor Carlos
Reis com o referido prémio no valor de 7.500 euros. Investigador e professor
universitário especializado em Eça de Queirós e José Saramago, para além de
outros estudos sobre Literatura Portuguesa e de Teoria Literária com ampla
divulgação, não apenas em Portugal e Espanha (proferiu uma conferência sobre
“Dinâmicas da Personagem: o Projeto Figuras de Ficção” no passado dia 19 de
junho na Universidade de Cáceres), mas também na restante Europa, Brasil e
Estados Unidos. Publicou numerosos ensaios e livros sobre estas matérias, sendo
ainda coordenador da História Crítica da Literatura Portuguesa e da Edição
Crítica da Obra de Eça de Queirós.
Eventos
passados
Dia de Itália
Como
habitualmente, decorreu no passado dia 2 de junho na Pousada do Palácio do
Freixo, no Porto, as celebrações do Dia Nacional de Itália, organizadas pelo
Consulado desta cidade, que tem como cônsul Paolo Pozzan, e pela Associazione
Socio-Culturale Italiana del Portogallo Dante Allighieri, de que é presidente o
general Ângelo Arena, tendo presidido o embaixador de Itália em Portugal,
Uberto Vanni d’Archirafi. Também presentes, em nome próprio ou em representação
de diversas instituições vários confrades queirosianos.
O Nosso Cônsul em Havana
No passado dia 7
de Junho estreou na RTP 1 o primeiro episódio de uma série de treze intitulada
“O Nosso Cônsul em Havana”, a qual, aliando a ficção à documentação, relata a
passagem de Eça de Queirós por Cuba, então colónia espanhola, onde chega, como
cônsul português, em dezembro de 1872.
Realizada
por Francisco Manso, com o apoio da Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas, a série mostra como, “exorbitando de funções”, o escritor melhorou
a vida de milhares de escravos chineses ali desembarcados para trabalharem como
escravos nas fazendas de cana-de-açúcar. Desse seu conhecimento e acção
resultou o ensaio que viria a ter o título A
Emigração como Força Civilizadora, apenas publicado em livro em 1979 por
Raúl Rego, e O Mandarim, publicado em
livro logo em 1880. Esta série vem assim divulgar uma faceta pouco conhecida da
vida de Eça de Queirós e da sua humanística ação também plasmada nas obras
atrás referidas.
Cursos, conferências e palestras
A Utopia do
Padre Himalaia
No
próximo dia 27 de junho pelas 21,30 horas, nas habituais palestras das últimas
quintas-feiras do mês no Solar Condes de Resende, o Professor Doutor Jacinto Rodrigues, catedrático
jubilado da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, vai falar sobre
“A Utopia do Padre Himalaya” (1868-1933), a partir da sua obra A
Conspiração Solar do Padre Himalaya, edição Árvore, Porto, 1999, um dos
maiores inventores portugueses, precursor dos movimentos ambientalistas.
Ao Andresen em
Vila Nova de Gaia
A palestra sobre “Os Andresen em Vila
Nova de Gaia” acima referida (ver texto editorial desta página) será de novo
apresentada também no Solar Condes de Resende, na quinta-feira, 29 de agosto
próximo.
Cursos do Solar:
Azulejaria de
Fachada
No próximo dia 21 de setembro vai decorrer no
Solar Condes de Resende uma formação em Azulejaria de Fachada ministrada pelo
Prof. Doutor Francisco Queiroz, conhecido investigador e professor com diversas
obras publicadas sobre esta temática, a qual decorrerá ao longo de sete horas,
aberta a todos os interessados, que pagarão 35€ ou 45 € conforme se trate de
sócios ou não sócios da associação Amigos do Solar Condes de Resende –
Confraria Queirosiana.
Revoluções e
Constituições
Organizado pela Academia Eça de Queirós,
o grupo de trabalho da ASCR-CQ para a investigação e ensino, com início
previsto para 19 de outubro, vai decorrer no Solar Condes de Resende o curso
“Revoluções e Constituições”, comemorativo dos 200 anos da Revolução de 1820.
Do elenco de professores constam docentes das universidades do Minho, Porto,
Coimbra e Nova de Lisboa e de outras instituições académicas, nomeadamente
António Barros Cardoso, Eduardo Vítor Rodrigues, Fernando Rosas, J. A.
Gonçalves Guimarães, Jorge Fernandes Alves, José António Oliveira, Manuel Loff,
Pedro Aires Oliveira, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Nuno Resende e Vital
Moreira.
Este curso será certificado pelo
Ministério da Educação através do Centro de Formação de Associação de Escolas
Gaia Nascente. O calendário do curso e o boletim de inscrição serão divulgados
em breve
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Eça & Outras, III.ª série, n.º 130,
terça-feira, 25 de junho de 2019; propriedade dos Amigos do Solar Condes de
Resende - Confraria Queirosiana; C.te.
n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães
(TE-164 A); redação: Fátima Teixeira e Amélia Cabral; inserção: Licínio Santos.
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