quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Eça & Outras de novembro 2020

Dia do 175º aniversário natalício de Eça de Queirós

Que futuro para as bibliotecas de papel?

        Há um facto com que no dia-a-dia se deparam os profissionais para quem os livros são ferramentas de trabalho, o qual lhes exige alguma reflexão e adaptação, mas que não está a ser fácil nem cómodo lidar com ele, se não do ponto de vista prático, pelo menos da afetividade. Referimo-nos à transição dos livros e periódicos impressos em papel para os e-books. Como ferramentas de trabalho que ambos são, irão continuar a ser utilizados, mas já se constata a presença em crescendo dos segundos. Não é o juízo final que chega, mas apenas uma mudança de paradigma tecnológico e com ele – supõe-se e deseja-se – mais alguma evolução e felicidade para a Humanidade. Os livros e os periódicos tradicionais passarão à categoria de obra artística de ciência, de literatura, de memória, de arte gráfica. De documento histórico. Como tal serão guardados, preservados, lidos, estudados, transmitidos e, agora, digitalizados. Através deste recente processo serão também salvos de destruições e disponibilizados, não só alguns raríssimos textos, cópias únicas, manuscritos, como aqueles que só existem em sistemas de cópia não convencional, reproduzidos através de vários processos químicos, mecânicos ou fotoquímicos para leitura imediata e pouco preocupada com a sua utilidade futura, aqueles a que os bibliotecários chamam “literatura cinzenta”, que a prazo desapareceriam por degradação do suporte ou do pigmento, como no caso de tantos deles produzidos no Maio de 1968 em Paris ou em Portugal no antes e pós 25 de Abril. E tantos deles com surpreendente clarividência para além do seu momento.

Desde 1439 quando Gutenberg redescobriu (ou introduziu) no Ocidente a impressão por carateres móveis, já existente na China desde o final do século VII, que esta tecnologia veio substituir a morosidade da cópia manual sobre base de pergaminho ou papiro pelo papel, que não assistíamos a uma mudança tão profunda na divulgação de textos e imagens. Desde então, e sem se precisarmos de ser um Jacinto, todos aqueles que trabalham com livros já passaram por complicadas situações, com as nossas casas ou apartamentos acossados por uma «…invasão dos livros… solitários, aos pares, em pacotes, dentro de caixas, franzinos, gordos c repletos de autoridade, envoltos em plebeia capa amarela ou revestidos de marroquim e ouro, [que] perpetuamente, torrencialmente, [as] invadiam por todas as largas portas… onde se estiravam sobre o tapete, se repimpavam nas cadeiras macias, se entronizavam em cima das mesas robustas e sobretudo trepavam contra as janelas, em sôfregas pilhas, como se, sufocados pela sua própria multidão, procurassem com ânsia espaço e ar! … Não se abria um armário sem que. de dentro, se despenhasse, desamparada, uma pilha de livros! Não se franzia uma cortina sem que detrás surgisse, hirta, uma rima de livros! E imensa foi a minha indignação quando uma manhã, correndo urgentemente. de mãos nas alças, encontrei, vedada por uma tremenda coleção de Estudos Sociais, a porta do Water-Closet! (Eça de Queirós, A Cidade e as Serras).

Agora que este cenário está em fase de se alterar, não vale a pena ignorá-lo nem carpir saudades escusadas: a atual geração escolar já só ocasionalmente lê livros e revistas em papel e não vai querer ficar com a biblioteca do avô, não só pelo espaço que esta ocupa e o peso que os livros têm (são feitos de madeira!), mas sobretudo pelos títulos e autores ali reunidos esquecendo que, tal como ele, as ciências envelhecem e os gostos literários mudam de geração para geração. Claro que haverá sempre os “clássicos”, a que outros, com o tempo, se irão juntando. Mesmo as bibliotecas públicas já têm sérios problemas de espaço e de funcionamento: as que têm depósito legal – pensado numa época em que havia pouca atividade editora, mas agora muito atrasado devido à explosão editorial das últimas décadas – ao terem de guardar “tudo” o que se publica, encheram as prateleiras de montanhas de textos irrelevantes. Mas também nas bibliotecas que compram os livros se verificam aquisições de autores promovidos por operações de marketing que os vendem como quem promove sabonetes, e que, com certeza, muitos deles não ficarão para a posteridade como obras de referência. Em última análise, só o tempo ditará a utilidade futura destes livros, mas é possível, com alguma atenção e diálogo, ir tendo uma percepção da qualidade dos que se editam. Esperemos, contudo, que tal não volte a ser função de qualquer aparelho de censura ou de comité de iluminados, como já existe no conselho nacional de leitura que tem recomendado aos educadores e aos jovens estudantes alguns livros aborrecidíssimos protegidos por lobbies de bem pensantes. É que, entretanto, outras formas de comunicação se foram desenvolvendo, muito mais gráficas, sonoras e interactivas, que são outras formas de “escrita” tão válidas como as do velho abecedário e das línguas comuns. Já comunicamos pela linguagem do cosmos, só que ainda à procura dos seus cânones e das suas academias.

Posto isto, e quando nos dias de hoje passou a ser vulgar encontrar bibliotecas no lixo, que fazer com os livros em papel que temos em casa e que já não vamos ler ou reler? O mais decente é partilhá-los graciosamente, pois sempre haverá quem os queira ler e guardar. E doemos as edições raras das obras eternas que porventura tenhamos a instituições dirigidas por gente que saiba de que é que estamos a falar. Às outras não vale a pena, pois não distinguem aquilo que tem marcas de perenidade dos fogachos editoriais da moda baseados em falaciosas ideias de igualitarismos tolos.

J. A. Gonçalves Guimarães

Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Aniversário de Eça de Queirós

 

Todos os anos, desde 2003, que  a Confraria Queirosiana realiza o seu capítulo anual no Solar Condes de Resende no sábado anterior ao dia 25 de novembro, dia natalício do escritor. Este ano, devido às restrições sanitárias provocadas pela pandemia, foi o mesmo substituído por uma sessão evocativa por videoconferência evocativa do 175.º aniversário de Eça de Queirós que ocorreu no passado sábado, dia 21 de novembro entre as 15 e as 17 horas. A abertura da sessão foi feita pelo presidente da direção José Manuel Tedim que saudou os sócios e confrades que acederam à plataforma um uso, referindo a adaptação das tarefas realizadas n presente ano à presente conjuntura sanitária. Seguiu-se o presidente da mesa da assembleia geral, César Oliveira, que recordou os confrades falecidos em 2020. A Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas também se fez representar através da sua presidente Olga Cavaleiro que saudou a Confraria queirosiana e as suas acções em prol da Cultura Portuguesa. De seguida foi passado um videofilme do capítulo de 2019 e a apresentação da Revista de Portugal, n.º 17, pelo seu diretor Luís Manuel de Araújo. «A Confraria Queirosiana e a divulgação da vida, obra e época de Eça de Queirós» foi o tema escolhido por J. A. Gonçalves Guimarães para apresentar nesta primeira sessão, dando a conhecer o que a agremiação tem feito nesta área. Após a saudação por parte de alguns outros sócios, a sessão encerrou à hora prevista, após a intervenção da vereadora do pelouro da Cultura e da Programação Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal, também confrade, que salientou o papel da Confraria na promoção da Cultura a nível local, nacional e nas relações luso-brasileiras.

«O Nosso Cônsul Em Havana 

Na passada quinta-feira 19 de novembro estreou em 14 salas de cinemas de todo o pais o filme realizado por Francisco Manso e com Elmano Sancho no papei de Eça de Queirós sobre um dos aspectos menos conhecidos da vida do escritor: o de defensor dos Direitos Humanos enquanto Cônsul Português em Cuba. Em O Nosso Cônsul em Havana, «numa mistura de ação, drama, romance e até um toque de comédia, o filme acompanha a chegada de Eça a Havana e o desfilar de personagens com quem convive, desde as mais altas eminências políticas a fazendeiros e grandes proprietários, às mulheres por quem se apaixonou e aos inimigos que fez no Casino de Havana e noutros palcos de jogo e de posições geopolíticas».

Comemorações também na Póvoa de Varzim

          Para além da Confraria Queirosiana, também outras entidades comemoram os 175 anos do nascimento de Eça de Queirós. Assim hoje, dia 25 de novembro, a autarquia poveira através da Companhia Poveira Nós da Dança, em residência artística na Casa Eça, inicia a temporada 2020/2021, em parceria com o Quorum Ballet, com um programa com palavras, música, teatro e dança, tendo como base a obra literária do escritor, concretamente a peça coreográfica «À Mesa com Eça» apresentada no palco da Casa Eça que será, a partir de agora, o palco para residências artísticas de escritores, bailarinos e coreógrafos, assim como um espaço para pequenos eventos culturais.

Curso sobre o Antigo Egito

          Prossegue entretanto, a partir do Solar Condes de Resende, o curso sobre o Antigo Egito, o qual, devido às restrições de circulação devido à pandemia tem sido ministrado por videoconferência. Assim, no passado dia 31 de outubro decorreu a 2.ª sessão sobre «O mar Mediterrâneo na Antiguidade», pelo Prof. Doutor José Varandas da FLUL; no sábado 3 de novembro, a 3.ª sessão versou sobre «A longa história da civilização egípcia», pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo também da FLUL; no próximo dia 28 decorrerá a 4.ª sessão sobre «Egiptologia e egiptomania», pelo Professor Doutor José das Candeias Sales, da Universidade Aberta. No próximo mês de dezembro a 5.ª sessão decorrerá no dia 12, sobre a «Escrita hieroglífica e outras escritas do Antigo Egito», de novo pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo.

          O curso prosseguirá no próximo mês de janeiro conforme o calendário previsto e com algumas sessões presenciais logo que as condições o permitam.

Louvor público

Professor Dr. Manuel Filipe Dias Tavares

O conselho pedagógico do Agrupamento de Escolas Diogo de Macedo aprovou por unanimidade um voto de louvor ao professor Manuel Filipe Tavares Dias de Sousa, no momento em que cessou funções como docente nesta unidade escolar de Vila Nova de Gaia. Tendo sido presidente da Comissão Instaladora da Escola Secundária de Olival, mais tarde Escola Secundária Diogo de Macedo, hoje sede do agrupamento com o mesmo nome, desempenhou funções de presidente do conselho directivo, assessor da direcção, representante do grupo de História, coordenador do secretariado dos exames nacionais, diretor da Galeria de Arte Diogo de Macedo, coordenador da equipa do jornal Face ao Douro, tendo participado em inúmeros grupos de trabalho, sempre com «enorme rigor, responsabilidade. dedicação, competência profissional e verdadeiro sentido de serviço à escola pública». procurando que a instituição onde leccionou fosse um factor de desenvolvimento da região, tendo conseguido «estabelecer inúmeras parcerias com os agentes locais e municipais, tanto no domínio cultural como social. As qualidades pessoais e profissionais no exercício das suas funções constituem uma referência para toda a comunidade escolar», conforme se pode ler no Louvor da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares publicado no Diário da República, 2.ª série Parte C, n.º 211 de 29 de outubro de 2020, p. 65. O louvado é presidente do conselho fiscal da ASCR – Confraria Queirosiana.

Autores, livros e revistas

Todos os anos, desde 2004, que no capítulo anual da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana que se realiza na Casa Queirosiana Internacional de Vila Nova de Gaia, no sábado anterior ou no dia 25 de novembro, dia natalício de Eça de Queirós, a apresentação publica de um novo número da Revista de Portugal, fundada em 1892 por aquele escritor. Este ano, pelos motivos conhecidos e de acordo com as leis sanitárias em vigor, não se realiza aquela cerimónia, mas apenas uma videoconferência para todos os seus sócios e confrades, durante a qual o seu diretor, o egiptólogo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo fará a apresentação do número 17 desta nova série. A capa apresenta um colorido diploma de medalha de ouro alcançada na Exposition Internacionale du Progres au Caire, de 1895, quando o Egito ainda estava integrado no Império Otomano, curiosamente atribuída a uma empresa portuguesa que produzia e exportava vinho do Porto. O documento encontra-se no Arquivo Histórico Adriano Ramos Pinto, em Vila Nova de Gaia, tendo sido cedido pela empresa para esta capa. A contracapa apresenta o cartaz do curso que decorre no Solar Condes de Resende sobre o Antigo Egito. E, como veremos, não são estas as únicas alusões ao país do Nilo neste número. A revista abre com um editorial de um dos seus directores adjuntos sobre «Nos duzentos anos da Revolução de 1820», a que se segue o In Memoriam dos confrades falecidos no presente ano, Norberto Barroca, Nondina de Castro, António Alberto do Amaral Coutinho Calheiros Lobo e Acácio Edgar Alves Luís, recordados por J. A. Gonçalves Guimarães e Dagoberto Carvalho J.o; segue-se «A legislação sanitária, de Pombal ao Liberalismo» por J. A. Gonçalves Guimarães, um texto sobre o combate às epidemias no período considerado; numa sequência de estudos que hão-de continuar a ser publicados nestas páginas, apresenta-se o primeiro da série «Hotéis Queirosianos. Hotel Lawrence em Sintra» por Maria de Fátima Teixeira, a que se seguem umas «Notas sobre Eça de Queirós em Leiria» por Ricardo Charters-d’Azevedo. Numa entrevista conduzida por José António Afonso ficamos a saber quem foi o poeta «Fernando Morais. As palavras nómadas», colaborador que foi dos primeiros números desta revista, e uma nova réplica  à questão de «O Colmeal da Marofa», motivada pela publicação recente de um livro com inverdades sobre o assunto, por José Pereira da Graça. Relatando uma actividade que se vem fazendo com alguma regularidade com a colaboração da Confraria Queirosiana – as viagens culturais ao Egito e à Palestina na esteira da viagem de Eça de Queirós e do conde de Resende em 1869, aqui se publica uma reportagem da última realizada, «Seguindo os passos de Eça no Egito e Terra Santa» por Mara Verónica Sevinatti . Como habitualmente a revista apresenta a Bibliografia dos sócios e confrades referente ao ano anterior (2019), organizada por Celeste Pinho, e o Relatório de atividades também referente àquele ano, com perspectivas para o mandato dos novos corpos gerentes de 2020 a 2024.

Promovida pelo Grupo Eça da Universidade de São Paulo, acaba de ser editado em ebook de distribuição gratuita (http://ge.fflch.usp.br/livrosa obra A relíquia do mandarim, organizada por Ana Marcia Alves Siqueira e José Carlos Siqueira de Souza e editada no Rio de Janeiro pela Oficina Raquel. Entre os vinte e três autores de outros tantos textos sobre a epígrafe do volume, encontram-se os textos dos portugueses Carlos Reis, «Eça de Queiroz e a epistemologia do olhar», e Isabel Pires de Lima, «A relíquia no pincel de Paula Rego: género e poder».

      Entretanto no site Queirosiana.wordpress.com o Professor Doutor Carlos Reis continua a publicar textos essenciais sobre a vida e obra do escritor, nomeadamente e em tempos recentes «Carlos da Maia: o fracasso de uma geração» (7 de novembro) e «Eça de Queirós e o Direito» (15 de novembro).

 

        Entre os dias 18 e 22 de novembro, com abertura no Museu Arqueológico do Carmo em Lisboa, sessões na Faculdade de Letras da Universidade do Porto entre 19 e 21, e visita ao Castro de Monte Mozinho em Penafiel no dia 22, decorreu o III Congresso de Arqueologia da Associação dos Arqueólogos Portugueses, no qual participaram diversos arqueólogos do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR- Confraria Queirosiana (ainda que também em representação de outras instituições). António Manuel S. P. Silva, em colaboração com outros, apresentou as seguintes comunicações: «São Julião da Branca (Albergaria-a-Velha) – Investigação e valorização de um povoado do Bronze Final»; «O castro de Ovil (Espinho), um quarto de século de investigação – resultados e questões em aberto»; «O Castro de Salreu (Estarreja), um povoado proto-histórico no litoral do Entre Douro e Vouga»; «O Castro do Muro (Vandoma/Baltar, Paredes) – notas para uma biografia de ocupação da Idade do Bronze à Idade Média»: Laura Sousa, também em colaboração, apresentou «A Necrópole Romana do Eirô, Duas Igrejas (Penafiel): intervenção arqueológica de 2016»; Joaquim Filipe Ramos, «Cerâmicas e Vidros da Antiguidade Tardia do Edifício sob a Igreja do Bom Jesus (Vila Nova de Gaia)»

          Entretanto, as respectivas atas, num total de 2138 páginas e sob o título Arqueologia em Portugal 2020 - Estado da Questão, publicadas em colaboração com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» e outras entidades, encontram-se disponíveis em museuarqueologicodocarmo.pt/publicações/III_congresso_actas/ Actas_IIICAAP_completo.pdf

          Contêm as subsecções: 1. Historiografia e Teoria; 2. Gestão, Valorização e Salvaguarda do Património; 3. Didáctica da Arqueologia; 4. Arte Rupestre; 5. Pré-História; 6. Proto-História; 7. Antiguidade Clássica e Tardia; 8. Época Medieval; 9. Época Moderna e Contemporânea.

O Eng.º Manuel Hipólito Almeida dos Santos, presidente da Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos (O.V.A.R.), acaba de publicar um livro sobre as prisões, sob o formato de ebook, disponível no link https;//www. Leyaonline.com/pt/livros/historia-e-politica/política/a-abolicao-das-prisoes-ebook, intitulado A Abolição das Prisões. Contributo para Acabar com uma Crueldade. Militante indefectível da obra de misericórdia que é o visitar os presos, esta sua humana experiência de muitos anos transformou-o num especialista sobre este candente problema da humanização da nossa sociedade. São suas as seguintes palavras: «A vivência dentro das prisões é geradora de sentimentos de frustração, desânimo e revolta, tendo em conta estarmos em presença de situações cruéis, desumanas e degradantes, sem que se vislumbre sentido útil na finalidade da sua existência, quer para os reclusos, quer para quem lá trabalha. As prisões são fonte de conflitos sociais e familiares, envolvendo reclusos e funcionários prisionais. As prisões não ressocializam nem promovem a paz social. Somente alimentam o desejo de vingança das vítimas e dalguma opinião pública, não tendo efeito relevante no ressarcimento dos danos dos crimes. Além de que promovem o sensacionalismo primitivista que alimenta certos órgãos de comunicação social. A convicção de que essa desumanidade, provocadora de penas e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, proibidas por tratados e convenções internacionais, não pode continuar a existir nem é passível de correcção, aliada à ineficácia e fracasso do modelo penitenciário existente no mundo ocidental há pouco mais de 200 anos, não tem outro caminho que não seja a sua abolição. Tal constatação é reforçada pelo contributo retirado das bases filosóficas das maiores religiões professadas no mundo, que assentam nos pilares do perdão e da misericórdia e não na vingança, tendo em conta a imperfeição do ser humano e a sua condição de potencial pecador. A alternativa passa pela assunção da prevenção da prática de atos anti-sociais como a via exclusiva e prioritária a implementar, complementada com o novo modelo de justiça preventiva que tem vindo a ser instaurado em vários países, deixando de se aplicar penas de privação da liberdade».

Entretanto este autor, com 40 anos de experiência de visitas regulares a prisioneiros, concedeu uma entrevista à jornalista Joana Gorjão Henriques do jornal Público no passado dia 16 de novembro sob o título «A luta pelo fim da escravatura foi grande. Temos de fazer igual para as prisões», que em 2021 gastarão 300 milhões do orçamento do estado, em que 80% dos reclusos o são por assuntos relacionados com o tráfico e consumo de drogas, e em que as taxas de ressocialização dos mesmos são incrivelmente baixas, segundo dados que ali apresentou. O autor pretende com a sua acção e o seu livro colocar este assunto na agenda nacional dos cidadãos para que se vão encontrando soluções para a resolução deste grave problema humano. 


No passado dia 19 de novembro o psiquiatra e psicanalista Dr. Jaime Milheiro participou numa mesa redonda na Fundação Fernando Pessoa para lançamento do seu novo outro livro Ensaio Sobre os Humanos..., a qual teve a presença, além de outros académicos, do Professor Doutor Salvato Trigo para quem esta obra «suscita, sem dúvida, uma profunda reflexão cultural e uma interpelação ética essencial sobre a nossa condição de primatas evoluídos, construídas sobre alicerces científicos muito sólidos, aqui bem decantados pela vida profissional e cidadã do seu autor, cuja riqueza lhe permitiu transformar o conhecimento em sabedoria, isto é, em saber com ressonância e com gosto, temperado por uma ciência com consciência, pois aquela sem esta não passa de urna dor de alma, como disse o canónico François Rabelais!» O evento foi transmitido em direto no canal Youtube da UFP.

Prémio Literário

          Francisco José Viegas foi recentemente agraciado com o prémio literário Fernando Namora, no valor de 15.000 euros, promovido pela Porto Editora, e que distinguiu o seu romance A Luz de Pequim publicado em 2019. Como vem sendo constante na sua obra, o protagonista é o ficcional Jaime Ramos, inspector da Polícia Judiciária em fim de carreira, dividido entre o crime internacional e as reflecções sobre o quotidiano para o comum dos mortais. Sem dúvida uma personagem da Literatura portuguesa Contemporânea

 

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 147, quarta-feira, 25 de novembro de 2020; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; c.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.