quinta-feira, 25 de maio de 2023

Eça & Outras

Ano do Centenário do “Vencido da Vida” e diplomata Luís Maria Pinto de Soveral, Marquês de Soveral (1851-1922)

 

Memórias de vida

         Nos últimos tempos tenho acompanhado a edição, ou mesmo sido convidado para fazer a prefaciação ou participar no lançamento de memórias escritas e publicadas por alguns amigos e compagnons de route. Como percorremos juntos alguns breves trechos ou alguns mais longos quilómetros da estrada larga da vida, nuns casos mais, noutros menos, também ali me encontro neste ou naquele episódio, numas ou noutras páginas, frases, imagens, circunstâncias.

         Em 2017 o meu amigo Ricardo Nicolau de Almeida publicou o livro Setenta à Hora, que abre com várias frases lapidares sobre «a ilusão da vida» e termina com um verso da famosa canção criada por Violeta Parra, depois gravada por Mercedes Sosa, Joan Baez e Elis Regina «…gracias à la vida que me ha dado tanto». Um livro saboroso, mas apesar dessa qualidade, não tanto como as mesmas estórias contadas na primeira pessoa, que muitas vezes ouvi e recordo. E mesmo algumas delas com enredo e desfecho muito mais interessantes do que a sua versão escrita. Será isto verdade ou terei sido eu que, ao lê-las, saltei da cadeira de ouvinte para a de narrador de estórias alheias? Lembrando que ambos pertencíamos à Afons’eiros, cooperativa cultural que nas décadas de oitenta/ noventa editou alguns livros, apareço na sua narrativa em duas circunstâncias para mim excecionais: na vontade que Ricardo tinha de voltar a ligar a Casa Ramos Pinto, onde era executivo, à vida cultural de Gaia, da região e do Douro, o que deu origem às escavações arqueológicas em Ervamoira, Vale do Côa, por onde passei com a minha equipa durante vinte anos da minha vida, tendo lá deixado um pequeno museu de sítio ainda em funcionamento, além de variada bibliografia publicada. Noutras páginas recorda-me na preparação do programa que seu pai Fernando Nicolau de Almeida, então chanceler da Confraria do Vinho do Porto, concebera para a cidade do Porto receber um congresso mundial de confrarias báquicas, em que iríamos recriar o casamento de D. João I com D. Filipa de Lancastre e para o qual eu, então praticante hípico e proprietário de uma égua e de um cavalo com minha filha Susana, tinha já apalavrados sessenta cavalos e cavaleiros que iriam começar a treinar no campo de manobras da Serra do Pilar. Mas entretanto, e por motivo diferente do que conta o autor do livro, não foi tanto a efetiva falta de colaboração do bispo do Porto que impediu a concretização do evento, mas sim o facto de ter começado a Guerra do Golfo e as restrições que tal implicou nas viagens aéreas, fazendo adiar o congresso.

Dos vários episódios que não constam no seu livro, notei a ausência da sua versão da viagem que realizamos em 1986 pelo Rio Douro acima, até à Régua e regresso, durante três dias, a bordo do iate Runa, propriedade do nosso confrade Major Simões Duarte, numa época em que os barcos de cruzeiro ainda só iam até Alpendurada. Durante a viagem confirmei a existência de uma estação arqueológica romana na “Ilha dos Amores”, em Castelo de Paiva, e na volta, sem querer, estragamos um comício partidário na margem do rio na albufeira do Carrapatelo, pois os participantes, quando viram o barco a dirigir-se para a barragem para a descida, coisa então raramente ou nunca vista, deixaram os candidatos a falar sozinhos e vieram todos a correr ver a embarcação e os seus oito tripulantes fazerem a transposição do desnível das cotas do rio.

Ainda nesse mesmo ano de 2017 a Casa Ramos Pinto publica um e-book intitulado Impressões de João Nicolau de Almeida, irmão do autor anterior e, até esse ano, também ele executivo nesta empresa. Essa edição reuniu mais de noventa depoimentos de familiares, amigos e personalidades do mundo duriense e dos vinhos, entre portugueses e estrangeiros, entremeados com muito boas fotografias e diversas obras gráficas, que testemunham a sua perceção sobre o homenageado que chegou a ser «the man of the year» pela revista Wines & Spírits. Sobre o seu apoio ao projeto cultural de Ervamoira e o seu museu de sítio, bem assim como sobre a continuidade do seu saber vinícola nas novas gerações de vitivinicultores, aí deixei a minha prosa que certamente não deslustrou no conjunto das memórias aí recolhidas.

Um outro amigo, Joaquim Vaz, antigo despachante no Porto e ex-provedor da Misericórdia de Gaia, escreveu e publicou os seus Momentos de uma vida, 2022, para o que me pediu um posfácio, tendo recordado no livro a minha apresentação em 2014 de um outro livro sobre o industrial António Almeida da Costa, fundador da Fábrica de Cerâmica e Fundição das Devesas e benfeitor dos primórdios da instituição, da autoria de Fernando Silva Correia, que decorreu no salão nobre na mesma sessão em que o bispo D. Manuel Martins foi feito irmão honorário da instituição.

Mais um outro amigo, Joaquim Armindo Pinto de Almeida, pediu-me um prefácio para o seu livro Um Barco nas Ondas do Mar – a Poesia, recentemente editado, o qual, para além de composições poéticas, tem uma série de relatos sobre a sua infância que escreveu para os netos, onde eu obviamente não apareço, mas estou lá. É que não só nos conhecemos desde a escola primária do Torne, como com ele, desde a infância, partilhei muitos dos cenários, pessoas e acontecimentos que ali descreve.

Mas o mais recente é o livro de um outro amigo de longa data, o escritor e historiador José Vaz, intitulado Enquanto o Sol não se põe. Memórias. Aí regista a nossa ação na fundação da Associação de Escritores de Gaia; a consecutiva presença nas sessões anuais do Fórum de Avintes, que ajudou a concretizar; a clarificação histórica da data do documento mais antigo conhecido sobre Avintes; e a minha solidariedade profissional como historiador na sua criação da cooperativa Audientis – Centro de Documentação e Investigação em História Local.

Estou assim também feito personagem destas narrativas pessoais de alguns amigos, com mais ou menos pormenor, com mais ou menos benevolência. Mas estes livros de memórias não podem trazer “tudo”, nem são geralmente escritos para satisfazer a curiosidade de quem depois os lê. São escritos para que o autor se dispa, ou vista, de modo diferente do habitual, perante os seus leitores. E neles a verdade, essa desconhecida e difícil estrangeira, é sempre caleidoscópica e cada um tem dela uma diferente perceção, colhida a partir do promontório de onde vê as ações alheias ou, quando nelas participa, é certo que com a verdade dança, mas por isso mesmo não consegue ver a totalidade do baile que o rodeia.

Isto de memórias tem pois muito que se lhe diga: «Queixou-se logo amargamente da sua falta de memória. Uma coisa tão indispensável em quem segue a vida pública, a memória! e ele desgraçadamente, não possuía nem um átomo» (Eça de Queirós, Os Maias). Não é o caso destes amigos.

J. A. Gonçalves Guimarães

Secretário da direção

Distinções

Dr.ª Manuela Garrido, Coração de Ouro 2022

No passado dia 5 de maio a delegação norte da Fundação Portuguesa de Cardiologia agraciou com o prémio Coração de Ouro 2022 a Dr.ª Manuela Garrido, conselheira desta fundação há cerca de 20 anos e responsável pelo projeto «Gaia no Coração» desenvolvido para a prevenção da doença cardiovascular e da morte súbita, o qual já dotou muitas instalações com equipamentos de desfibrilação, bem assim como promoveu a formação de técnicos de DAE para acorrerem a eventuais necessitados de pronta intervenção neste domínio. 

18 de maio de 2023 - Dia dos Museus

    A associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, com sede no Solar Condes de Resende, Vila Nova de Gaia, membro da FAMP - Federação dos Amigos de Museus de Portugal e representada nos seus corpos diretivos, por sua vez federados na WFFM - World Fedetation of Friends of Museums, e também a Academia Alagoana de Letras, Maceió, Brasil, protocolada com a primeira, vêm lembrar que existem em Portugal e no Brasil os seguintes Museus, Arquivos e outras instituições com espólio queirosiano (os interessados em consultar ou visitar devem inteirar-se previamente das condições em cada instituição):

- Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa: Arquivo Conde de Resende (BNDP); bibliografia queirosiana; documentos queirosianos em espólios diversos.

- Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim: espólio queirosiano de A. Campos Matos e outra bibliografia queirosiana.

- Casa-Museu Teixeira Lopes, Vila Nova de Gaia: original em gesso da estátua “A Verdade” (Eça de Queirós); correspondência com a viúva e amigos do escritor.

- Cemitério de Santa Cruz do Douro, Baião: jazigo recente (1989) dos restos mortais de Eça de Queirós e seus filhos (os restos mortais do escritor vão ser trasladados para o Panteão Nacional).

- Cemitério do Outeirinho, Aradas, Aveiro: jazigo do avô, do pai e de outros familiares de Eça de Queirós.

- Circulo Eça de Queiroz, Lisboa: espólio queirosiano que pertenceu ao Dr. Baltazar Rebelo de Sousa.

- Fundação Eça de Queiroz, Quinta de Vila Nova, Santa Cruz do Douro, Baião: propriedade que pertenceu, por herança, à mulher do escritor; espólio da casa que habitou em Paris; parte do arquivo da família da mulher; outras aquisições.

- Grémio Literário, Lisboa: roteiro queirosiano de Lisboa; memorabilia e iconografia queirosianas.

- Hotel Lawrence, Sintra: roteiro queirosiano de Sintra; bibliografia queirosiana.

- Museu da Cidade, Lisboa: original em mármore da estátua “A Verdade” (Eça de Queirós), da autoria de Teixeira Lopes.

- Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro: documentação e bibliografia queirosianas.

- Solar Condes de Resende, Canelas, Vila Nova de Gaia: propriedade que pertenceu ao 6.º Conde de Resende, cunhado do escritor; Arquivo Condes de Resende, adquirido pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia à Marquesa de Ficalho, neta do escritor e a outros descendentes; estátua em bronze de Eça de Queirós por Hélder de Carvalho; espólio da Confraria Queirosiana: biblioteca queirosiana Ricardo Charters d’ Azevedo; espólio J. Rentes de Carvalho (Centro de Estudos Eça de Queirós).

Palestras e  Conferências

    O Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo e vice-presidente da Confraria Queirosiana, para além das viagens ao Egito na senda da jornada de Eça de Queirós e do Conde de Resende em 1869, continua também a sua missão de investigador e de conferencista nos mais diversos espaços e para os mais diversificados públicos. Disso mesmo dá conta o n.º 16, referente a março/abril de 2023, do Magazine Cultural – Âmbito Cultural El Corte Inglês na sua página 3 onde noticia a conferência que realizou em Lisboa a 3 de março passado na sala desta empresa com o nome da publicação, sobre o tema «Os grandes faraós do Antigo Egipto», ali noticiada através duma elucidativa sinopse e duma resenha biográfica do conferencista.

         No passado dia 13 de maio no Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto decorreu uma homenagem ao poeta António Nobre com uma conversa entre Mário Cláudio e Jaime Milheiro moderada por Arnaldo Trindade, seguida de leitura de poemas por vários declamadores.

ÚLTIMAS 5.as FEIRAS DO MÊS

        Hoje, quinta-feira dia 25 de maio, na habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, o Dr. João Fernandes, atual responsável pelo Solar Condes de Resende, falará sobre «António Soares dos Reis: um positivista? A obra de António Soares dos Reis constitui um dos expoentes máximos da escultura nacional, não obstante as dificuldades da História da Arte para a definir ou categorizar. Reveladora de um ecletismo que espelha não apenas as particularidades pessoais do escultor, mas todo o seu percurso formativo e o contexto socio-cultural do território em que viveu, a produção artística de Soares dos Reis torna evidentes as limitações das categorizações artísticas que têm condicionado o seu estudo. Iremos contextualizar o escultor e a sua obra no tempo e espaço, demonstrando o importante papel desempenhado pela sua formação académica, mas também o do próprio território em que viveu e dos seus círculos de amizade». 

Entrar na reunião Zoom

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Amanhã, dia 26, no Wine & Blues Fórum que decorrerá entre as 14,30 e as 19,30 horas no Auditório do Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo, entre vários oradores, falarão o Prof. Doutor António Barros Cardoso, presidente da APHVIN/ GEHVID, sobre «O Vinho Verde em Viana do Lima; o Prof. Doutor José António Oliveira, do Instituto Politécnico do Porto, sobre «A surpreendente projeção dos vinhos do Vale do Lima nas grandes exposições internacionais: uma revelação histórica»; e o Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães, do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ, sobre «Iconografia minhota na publicidade dos vinhos portugueses». 

DIA NACINAL DA GASTRONOMIA PORTUGUESA 2023

            Promovido pela Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, com a colaboração da Confraria Gastronómica O Galo de Barcelos e da Confraria da Vitela Assada à Moda de Fafe, decorrerão nos dias 26, 27 e 28 próximos as celebrações do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa com sessões no Auditório Municipal e Casa do Rio em Barcelos e no Pavilhão Multiusos de Fafe. Do programa consta uma tertúlia gastronómica, atuação de grupos de teatro, coros, jogo do pau, banda de música, ranchos folclóricos, concertinas e cantares ao desafio, para além da confeção de culinária tradicional e desfiles de confrarias.

            Nos próximos dias 27 de maio a 3 de junho decorre em Portugal o 52ND International Congresso of Wine Brotherhoods F.I.C.B. 2023, da Federação Internacional das Confrarias Báquicas organizada em Portugal pela Federação das Confrarias Báquicas de Portugal com sede em Vila Nova de Gaia. Com a cerimónia de abertura marcada para as 18,30 do dia 27 no hotel Hilton Porto-Gaia, no dia 28 os congressistas deslocam-se à região do Vinho Verde, no dia 29 à região dos Vinhos do Douro, no dia 30 haverá um fórum às 9,30 no Hilton Porto-Gaia e à tarde um desfile das confrarias com início no Centro Histórico de Gaia, travessia de barco para a ribeira do Porto e desfile atá a Centro de Congressos da Alfândega, onde decorrerá a cerimónia de entronização de novos confrades pela Confraria do Vinho do Porto, seguida de jantar de gala. No dia 31 o congresso partirá para Lisboa, no dia 1 estará no Alentejo, no dia 2 em Oeiras, terminando no dia 3 de junho. Na Fórum do dia 30 falarão: Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto sobre «Port and Douro Wines Institute in the track of One Health Quadripartite Collaboration»; Carlos Brito, presidente do Observatório do Vinho do Porto, sobre «Marketing and the Wine Brotherhoods»; J. A. Gonçalves Guimarães, da Confraria Queirosiana e da International Heritage Summer School 2023 CITCEM/ FLUP, sobre «Wine and Culture in Portugal»; Carlos de Jesus, diretor de Marketing & Comunicação da Corticeira Amorim, sobre «Cork, Wine and Sustainability»; e Bianchi de Aguiar, ex-presidente da OIV e do IVDP, sobre «The wine-growing landscapes recognized by UNESCO. The case of Alto Douro Wine Region».

Artes

        No passado dia 18 de abril o escultor Hélder de Carvalho inaugurou na Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da Universidade do Porto uma instalação de esculturas intitulada «Sombras que não quero ver» baseada em textos poéticos de Gonçalo M. Tavares.

António Pinto é um dos artistas que expõem no núcleo da V Bienal Internacional de Arte de Gaia na Faculdade de Medicina Dentaria da Universidade do Porto que estará em exibição até 8 de julho próximo. Aí poderá ser vista a sua versão em granito da Santa Apolónia.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 177, quinta-feira, 25 de maio de 2023; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública); C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.