Ano
do Centenário do “Vencido da Vida” e diplomata Luís Maria Pinto de Soveral,
Marquês de Soveral (1851-1922)
Os
normais
Talvez o verão seja a época do ano mais
propícia à reflexão sobre o comportamento desta imensa multidão a que todos
pertencemos e a que se chama humanidade, sendo ela tão igual enquanto
agrupamento de gente e tão diferente se considerados como grupos étnicos,
regionais, locais ou seres individualizados. Nem valeria a pena escrever aqui
mais nada sobre estas evidências, pois sobre elas não me saem da cabeça os
textos de J. Rentes de Carvalho intitulados «A Praga» - sobre os deambuladores
a que alguns chamam turistas, mas que raramente fazem qualquer tour -, e «A Procissão» onde vamos todos
nós, quer queiramos ou não. Há dias, ao deixar em Moncorvo a este autor um
abraço de boa viagem na partida para a também sua Amsterdam, olhando à volta,
lá estavam eles um pouco por todo o lado o que me fez ficar algo macambúzio e
perdido em reflexões, de que logo fui afastado pelo abraço amigo do Nelson
Campos, ele próprio um mestre em lidar com “normalidades”. Essas reflexões só
se esfumaram na visita à adega da Quinta do Vale Meão e às galerias antigas
recentemente ali descobertas, onde em tempos distantes uns desgraçados de que
se sabe pouco ou nada garimpavam pepitas de ouro ou nódulos de estanho de
aluvião, para ganho e felicidade dos normais da época. E isto por gentileza do
proprietário, e também indefetível admirador daquele escritor, Francisco Xavier
de Olazabal, com quem fizemos “procissão” com a historiadora Maria de Fátima
Teixeira e a engenheira Paula Carvalhal a dizer-lhe que deixa por cá amigos que
sempre o aguardam na volta a Estevais do Mogadouro, aquela aldeia com dois
cemitérios, o dos normais e o dos outros.
Não valem aqui a pena os habituais lugares-comuns
como aquele de que «o que nos une é muito mais importante do que o que nos
distingue» e outros que tais. Tenho vindo a encontrar que o mundo se divide
numa imensíssima multidão de “normais” e naqueles outros, em muito menor
quantidade, que têm um estranho comportamento, não sei se até patológico, o de
resistirem a essa confortável inclusão com a qual só ganham inquietação…
inquietação, como muito bem avisou José Mário Branco. Como entre as formigas,
existe para os milhões de humanos um grande padrão de normalização de
comportamentos, de necessidades, de atitudes. É com isso que contam os
planeamentos gestionários da ONU, os grupos económicos, as seguradoras, os
serviços de saúde, as agências de viagens, as funerárias, as bolsas, os bancos.
Mas também as religiões, as ideologias, os governos, os partidos políticos, as
organizações governamentais ou não, os clubes de futebol, mesmo as famílias,
que, obviamente, não querem “tolinhos” em casa, a não ser que rendam status ou dinheiro.
Nesta época do ano aí vemos multidões
ininterruptas de normais deambulando pelo mundo, do avião para o hotel, da
praia para a montanha, da cidade que já foi cosmopolita para a aldeia
“recuperada”, da distraída paisagem que a natureza e os tempos moldaram para a
“arquitetura paisagística” de encomenda que nos trás um naco de Veneza ou do
Vaticano para o centro comercial mais próximo, onde o ar entra forçado e uma
indústria de venda de toxinas nos diz que cheira a flores. Esta indústria da
terapêutica ocupacional de verão é das mais poderosas, pois equilibra o PIB de
muitos países, diminui o desemprego ainda que sazonal, mantém as populações
distraídas, incentiva o consumo de roupas, cremes, óculos de sol, sacos de
praia e créditos, faz esquecer temporariamente as desigualdades sociais e as
indústrias da guerra e da poluição e lá nos encontramos, não certamente os
“todos”, “todos”, mas quase, em festivais mais ou menos folclóricos, roques,
pimbas, sinfónicos, mais ou menos internacionais.
Pois aqui estou eu a tentar, mais ma
vez, passar incólume às festinhas do nosso “centro histórico” com desfiles
encomendados a empresas de diversão que, se pagarmos, nos trazem índios da
Amazónia ou esquimós inscritos no centro de emprego; ao dia do “nosso santo
padroeiro” onde berram atroadores altifalantes não vá a gente esquecer-se do
divino; ao casamento da sobrinha “que seja muito feliz”; ao batizado da netinha
que veio premiar a insistência progenitora e que está a contribuir para “não
virmos a falar brasileiro a breve prazo”;
à conversa sobre a obtenção do diploma universitário tão importante
quanto inútil; às alegrias do papo para o ar horas a fio na praia onde uma
lagoa artificial de água aquecida tenta corrigir as distrações da natureza e em
cujo acesso tropeço em bizarrias que dizem ser obras de arte e alguns acreditam
que o sejam. Não lhes admiro a crença, pois para mim e mais dois ou três
“desajustados” são só inutilidades caras que pagam a boa vida dos
intermediários que as impingem a quem nunca estudou Arte em curso credível.
E não, não quero encher a minha
residência de tralha a que chamam artesanato dos andes ou da finlândia, ou de
onde nunca fui, e muito menos de galos de barcelos que cantam o avante, de
senhoras de fátima que mudam de cor e adivinham tempestades, de isqueiros do
fêquêpê que acendem com luz azul. Como não sou antissocial lá comprarei, ao
menos, a garrafa de vinho verde de Vale de Cambra ou a bola com chouriço de uma
fábrica do Montijo dita folar de Trás-os-Montes ou a amêndoa da Califórnia
recoberta com açúcar dos judeus de Nenhures de baixo.
Enfim, o normal é ser-se normal, o admitir-se como tal e aceitar a ditadura da maioria normalizadora em que todos nos andamos a enganar uns aos outros. Com ar sério e profissional. «Todos nós que vivemos neste globo formamos uma imensa caravana que marcha confusamente para o Nada. Cerca-nos uma Natureza inconsciente, impassível, mortal como nós, que não nos entende, nem sequer nos vê, e donde não podemos esperar nem socorro, nem consolação. Só nos resta para nos dirigir, na rajada que nos leva, esse secular preceito, suma divina de toda a experiência humana – Ajudai-vos uns aos outros!» (Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes).
J.
A. Gonçalves Guimarães
Historiador
Falecimento
No
passado dia 15 de agosto faleceu o Dr. Alberto Júlio da Silva Fernandes
(1938-2023), antigo estudante da Universidade de Coimbra; administrador de
empresas e da Fundação Salvador Caetano; vice-cônsul honorário do México e
antigo professor da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto; presidente da
Associação Portuguesa de Management; da assembleia geral da Cooperativa
Agrícola de São João da Pesqueira, município de que foi deputado municipal;
fundador e presidente da Associação de Amigos de Pereiros (SJP), e confrade de
honra da associação cultural de utilidade pública Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana (ASCR-CQ), além de membro e associado de muitas
outras instituições empresariais e de solidariedade social. Desde 2005 que
entre aquela associação, a ASCR-CQ e o município pesqueirense estabeleceu
pontes que proporcionaram a realização de vários projetos que tiveram como
cenários São Salvador do Mundo, a aldeia de Pereiros e a sede do município,
desde escavações arqueológicas, edição de livros e cursos de verão protagonizados
por equipas organizadas pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património
(ASCR-CQ) e o CITCEM / FLUP. Era também membro da comissão do Centenário do
Marquês de Soveral instituída pelo município pesqueirense que pretende levantar
uma estátua ao ilustre diplomata al nascido, da autoria do escultor Hélder de
Carvalho.
O seu velório teve lugar na Igreja do Bonfim no Porto daí indo a sepultar no cemitério local no dia 17. Entre os inúmeros amigos e representantes de instituições presentes a direção da ASCR-CQ fez-se representar nas cerimónias fúnebres por alguns dos seus dirigentes que apresentaram condolências à Família.
Presenças
da Confraria
A Confraria do Anho Assado com Arroz do
Forno realizou no sábado dia 8 de julho o seu XVI Capítulo no centro da cidade
de Marco de Canaveses, com concentração dos confrades e convidados no Museu
Carmen Miranda tendo a entronização dos novos confrades decorrido no Centro
Cultural Emergente, após o que se seguiu um momento cultural pelo grupo de
teatro da Artâmega. A ASCR-CQ esteve presente representada por vários
dirigentes.
No
dia 15 de julho passado a ASCR-CQ esteve presente através de vários dos seus
dirigentes no 25.º Capítulo da Confraria da Broa de Avintes realizado nesta
freguesia gaiense.
No
sábado, dia 19 de agosto, a associação Abientes – Centro de Documentação e
Investigação em História Local, sediada em Avintes, Vila Nova de Gaia, promoveu
na Ribeira da cidade do Porto nas Escadas das Padeiras o descerramento da placa
toponímica que ali recorda o local onde habitualmente desembarcavam as mulheres
daquela freguesia que se dedicavam a venda do pão naquela cidade. À hora
marcada um grupo de mulheres avintenses trajadas desembarcaram dos saveiros que
ali abicaram e, exibindo a famosa broa, foram recebidas pela entidade
organizadora, os presidentes das juntas de freguesias de Avintes e de São
Nicolau, a Confraria da Broa de Avintes, o representante da Confraria
Queirosiana, o representante da Federação das Coletividades de Vila Nova de
Gaia, avintenses, arnelenses e outros gaienses, turistas vários que nem a chuva
demoveu, enquanto a Tuna Pitagórica da União Académica de Avintes se exibia com
as canções do seu repertório. Após várias saudações o historiador Dr. José Vaz
fez o enquadramento histórico do evento.
No passado dia 24 de agosto vários sócios, confrades e dirigentes da ASCR-CQ estiveram presentes na reabertura ao público da Torre da antiga Casa da Câmara do Porto situada no terreiro da Sé, com uma exposição alusiva à recuperação histórica e arqueológica daquele local e a sua transformação arquitetónica pelo arquiteto Fernando Távora de quem ali também se comemora o centenário do nascimento.
Palestras
e entrevistas
No domingo dia 30 de julho o historiador
Paulo Costa do Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) guiou
uma visita a uma parte do trilho do Febros contando a história de Avintes
ligada a este rio, desde a produção de cereais até aos moinhos, moleiros,
levadas, senhorios e rendeiros. A organização foi do Parque Biológico de Gaia.
Integrada no ciclo de visitas que a
Torre dos Clérigos vem promovendo ao longo deste ano a obras de Nicolau Nasoni,
cuja morte ocorreu há 250 anos, no sábado, dia 12 de agosto, Joel Cleto e Nuno
Resende guiaram uma visita à Casa da Prelada no Porto para cerca de meia
centena de pessoas. Esta sessão contou com o apoio da Santa Casa da
Misericórdia do Porto que tutela o espaço e, além do interior do imóvel, os
participantes percorreram antigas áreas da propriedade dos Noronha e Meneses
intervencionada por Nasoni em meados do século XVIII, incluindo os jardins
envolventes à Casa.
No dia 16 de agosto no programa “A
Grande Entrevista” da RTP 3 o jornalista Vitor Gonçalves entrevistou o Doutor João
Nicolau de Almeida, um dos primeiros enólogos portugueses com formação
universitária que durante décadas dirigiu a Casa Ramos Pinto e recentemente
recuperou a firma da família, a Nicolau de Almeida fundada em 1870, abrindo os
seus armazéns na Rua Rei Ramiro ao Castelo de Gaia. Tendo sido convidado pelo
presidente da República para presidir ao 10 de Junho deste ano que decorreu no
Peso da Régua o discurso que então proferiu será publicado na íntegra no
próximo número da Revista de Portugal,
lançada a 25 de novembro no próximo capítulo da Confraria Queirosiana.
Presentemente é um adepto da viticultura biológica e da continuidade da
supremacia dos vinhos Douro DOC.
No dia 24 de agosto, na Praia da Aguda, J. A. Gonçalves Guimarães do Gabinete de História, Arqueologia e Património concedeu uma entrevista à TVI sobre a evolução histórica das praias de Gaia como estações balneares.
Distinção
Alberto Rostand Lanverly em 2022 no Solar Condes de Resende |
No passado dia 21 de agosto a Assembleia Legislativa Estadual do Estado de Alagoas, Brasil, por unanimidade de votos, concedeu ao Dr. Alberto Rostand Lanverly, engenheiro civil, ex-professor universitário da UFAL, escritor, imortal da Academia Alagoana de Letras, e confrade de honra da Confraria Queirosiana, a comenda Divaldo Suruagy, em memória do maior estadista de Alagoas. Na ocasião foi também recordada a mãe do agraciado, Dr.ª Marlene Lanverly, antiga secretária do Gabinete Civil e chamada de mãe da pobreza, que terá legado a seu filho muitas das qualidades que os seus concidadãos lhe reconhecem, como na ocasião referiu o arquiteto e jornalista Dr. Enio Lins, na sua saudação ao homenageado.
Feiras
Portugal
WOWtêntico
Entre os dias 10 e 15 de agosto o World Of Wine (WOW), Vila Nova de Gaia, com a colaboração da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, várias confrarias filiadas estiveram presentes no “Portugal WOWtêntico”, uma mostra de produtos tradicionais e de Cultura Portuguesa que decorreu nas suas instalações no Centro Histórico de Gaia. Entre as várias confrarias, produtores e municípios presentes a Confraria Queirosiana divulgou as suas atividades, edições de livros e o Vinho do Porto 20 anos Boeira/ lote da Confraria Queirosiana.
Gastronomia
em Vila do Conde
Como
habitualmente, os corpos diretivos da Confraria Queirosiana, representados por
César Oliveira, presidente da assembleia geral, J. A. Gonçalves Guimarães e
António Pinto Bernardo, da direção, e o confrade António Pinto, estiveram presentes
na abertura da 23.ª Feira de Gastronomia de Vila do Conde que teve lugar pelas
18 horas do passado dia 19 de agosto nos jardins da Avenida Júlio Graça. Este
ano o evento foi dedicado aos 40 anos da geminação entre Vila do Conde e
Olinda, pelo que, para além de toda a gama de produtos nacionais portugueses,
havia também por ali alguns dos sabores de Pernambuco.
A autarquia local brindou os delegados presentes das diversas confrarias com um jantar de “Cozinha Portuguesa”.
Feira
do Livro on line
Como no presente ano não foi possível a ASCR-CQ estar presente na Feira do
Livro do Porto, durante o mês de setembro realizará uma venda de livros on line
com desconto de 50% + IVA sobre o preço de capa dos livros por si editados
constantes no sítio wwwqueirosiana.pt. Para os obter basta contatar a Confraria
para queirosiana@gmail.com para reservar os exemplares pretendidos e, depois de confirmada a reserva,
proceder ao pagamento por transferência bancária, seguindo os livros de
imediato por via postal sem custos adicionais. Este desconto não abrange as
edições de outras entidades comissionadas pela ASCR-CQ.
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Eça & Outras, III.ª
série, n.º 180, quinta-feira, 25 de agosto de 2023; propriedade da associação
cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição
de Utilidade Pública); C.te
n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
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confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A.
Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral.
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