sábado, 25 de setembro de 2021

Eça & Outras

Na Feira do Livro do Porto

          Este ano a associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana esteve presente na Feira do Livro do Porto pela primeira vez. Produzindo e publicando diversos títulos escritos pelos seus associados e confrades, e a Revista de Portugal, quis assim ir ao encontro de um público mais vasto e diversificado. Sendo também herdeira do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, fundado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1982, e da Cooperativa Afons’eiro (1987), que também publicaram diversas edições ainda hoje procuradas, como a revista Gaya e o Al-manak de Gaia, além de outras raridades, a continuação das edições exige a procura de novas oportunidades de divulgação, até porque o mercado livreiro mudou muito. Esta presença, para além da venda das edições referidas, teve também como objetivo a divulgação da associação, das suas atividades e dos seus propósitos a um público mais vasto, entre eles a vida, obra e consequentes reflexões de Eça de Queirós e da sua época, e dar a conhecer o Solar Condes de Resende como casa queirosiana internacional, congregando os interessados nestas problemáticas que ainda hoje nos rodeiam a estabelecerem uma rede institucional que a elas se dedique no mundo lusófono e internacional, contribuindo na medida das suas possibilidades para o apoio aos que as estudam, produzem textos e oportunidades para, compreendendo o passado, querem modernizar a sociedade pondo fim às suas misérias ancestrais.

       Durante a feira a direção organizou a sua presença através de turnos de atendimento com membros dos corpos sociais e investigadores dos seus projetos para atenderem os clientes e estabelecerem contatos, não apenas com o público em geral, mas também com profissionais da História e da escrita em geral, da imagem, das artes cénicas, editores e agentes culturais. Na duração dos seus quinze dias foi assim o que as feiras costumam ser: um local de convívio, de oportunidade de negócios, neste caso de edições raras ou recentes, mas também de acumulação de ideias para o que virá a seguir.

       Os jardins do Palácio de Cristal são um ótimo local para este evento organizado pela Câmara Municipal do Porto, que atraiu milhares de pessoas, tendo a organização sido eficiente. Já o mesmo não poderemos dizer do enquadramento dito cultural, sobretudo por falta de compreensão do que é, ou deve ser, uma feira, um local de festa, de alegria, de divertimento, de perspetivas de futuro. A programação foi entregue a uma empresa que deve ter uma estranha e deprimente ideia do que tal deve ser: começando logo pelo programa distribuído à entrada, impresso a prata sobre fundo vermelhão, o calendário de atividades era ilegível porque alguém deixou os designers à solta a fazerem coisas para a satisfação do seu ego. Depois, na maior parte do tempo, uma música ambiente experimental, mais adequada para uma visita de estudo noturna ao Cemitério da Lapa, mas não para uma ocasião destas. Quando muito apenas nas horas previstas para alguns criadores nos informarem da sua criatividade.

       Livros e suportes de texto e imagem havia-os para todos os gostos e bolsas, desde os livros raros e os clássicos, aos indispensáveis, os que fazem falta, os para ter, para ler e para trabalhar, mas também muito desabafo pessoal, memórias, versos e literatura de supermercado. Alguns autores presentes e apresentações na Capela de Carlos Alberto, excelente cenário para tal pelo seu intimismo, e uma extensa fila de gente com um livro da autoria de uma menina que tem um blogue de banalidades que certo público gosta muito, e que ali perto do lago dava autógrafos.

     No meio de tudo isto a cereja em cima de qualquer coisa que ainda está a ser digerida, a reabertura do Museu Romântico com o desaparecimento de cena dos seus objetos alusivos à denominação e a sua substituição por um conjunto d’“aquilos”. Este museu tem estado amaldiçoado em anos recentes: não vai há muito tempo que lá foi filmada uma sessão de culinária, não na cozinha a ser confecionada, ou numa sala de jantar a ser servida, como seria de esperar, mas numa sala com reposteiros, quadros e bibelots a assistirem ao refogado numa panela sobre um fogão ladeada por um chefe de cozinha e um presidente da Câmara. Não acreditam? Vejam nos arquivos, que deve lá estar. Depois gastaram um dinheirão a refrescar a museografia daquele atordoado cenário. Mas agora chegou a suprema ousadia performativa de quase só lá deixar uma folha de loureiro do herbário de Júlio Dinis, condimento insuficiente para os 150 anos do seu Romantismo tardio. Parece que só quatro tipos de público gostaram da gracinha: os que a encomendaram, os que a conceberam e uns sujeitos que sempre aparecem nestas circunstâncias a engraxar ao promotores para um dia mais tarde também terem a sua oportunidade para exibirem as suas bizarrias de efémero efeito destinadas ao fracasso. Mas o problema maior não é serem “avançados”, mas sim avençados.

   Mas então isto fica assim? Fica, pois já nem sabemos mimoseá-los com uma boa gargalhada. Já Eça o lamentava no seu tempo: «Eu ainda me recordo de ter ouvido, na minha infância e na minha terra, a gargalhada – a antiga gargalhada, genuína, livre, franca, ressoante, cristalina !... Vinha da alma, abalava todas as vidraças duma casa, e só pelo seu toque puro, como o do ouro puro, provava a força, a saúde, a paz, a simplicidade, a liberdade! Nunca mais a tornei a ouvir, esta gargalhada magnífica da minha infância. O que hoje se escuta, às vezes, é uma casquinada ou uma cascalhada (por ter o som do cascalho que rola), seca, dura, áspera, curta, que vem através de uma resistência como arrancada por cócegas e que bruscamente morre, deixando as faces mudas e frias. Eis a risada do nosso século!» (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas). A deste é pior, pois é quase só um esgar e um encolher de ombros.

  Para o ano deveremos voltar à Feira do Livro do Porto, um excelente local e acontecimento que continua com potencialidades para ser um grande fórum cultural.

J. A. Gonçalves Guimarães

Curso livre sobre História – Património - Turismo


    A direção do Solar Condes de Resende e a Academia Eça de Queirós da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana vão realizar o 29.º curso livre (2021/2022) sobre um dos fatores mais importantes da retoma económica, a área do Turismo Cultural, onde a História e o Património são a base indispensável. Com início a 16 de outubro, ao ritmo de duas sessões mensais, presenciais e por videoconferência, serão professores, entre outros, Prof. Doutor José Manuel Tedim sobre «Le Grand Tour e o fenómeno do turismo de massas»; Prof. Doutor Nuno Resende, «Da jornada à viagem: o Turismo e a Literatura»; Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães sobre «Roteiros Queirosianos e outros roteiros literários»; Professor Doutor José Alberto Rio Fernandes, sobre «Turistas na cidade e cidade de turistas»; Prof. Dr. D. Américo de Aguiar, sobre «Turismo religioso»; Prof.ª Mestre Olga Cavaleiro, sobre «Ao Sabor de Portugal – Rotas de Turismo Gastronómico»; Prof. Doutor Barros Cardoso, sobre «Turismo Enófilo»; Prof.ª Doutora Elisa Lessa, sobre «Turismo Musical»; Prof. Doutor Sérgio Veludo Coelho, sobre «Turismo Militar»; Prof.ª Mestre Fátima Teixeira, sobre «Hotéis queirosianos»; Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo sobre «O roteiro queirosiano do Egito e Terra Santa; Professor Doutor Carlos Costa sobre «Turismo como fator económico, social e cultural».

Livros e Revistas

  No passado dia 8 de setembro foi lançado em Lisboa o livro Homo Líder – Histórias de Homens Comuns, da autoria de Luís Filipe Menezes, médico e político, ex-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, editado pela Lisbon Press, depois também apresentado no auditório da Santa Casa da Misericórdia do Porto no passado dia 16. Segundo o autor, «este livro mostra a forma como convivi com homens e mulheres normais, que com mais ou menos merecimento chegaram ao topo.

Se ele servir para que cada vez mais cidadãos aceitem esta verdade como sendo inevitável e até desejável, estaremos sempre mais defendidos das tentações providenciais que procuram reeditar cenários passados, indesejáveis e inconsequentes».


    Também a 15 de setembro foi apresentado na Biblioteca Municipal Tomaz Ribeiro em Tondela o número 7 da revista D. Jaime: Cadernos de Cultura, de que é diretor o Dr. José Valle de Figueiredo.

«Por Ordem na História?»


 No passado dia 9 de setembro, pelas 21,30 horas decorreu por vídeo-conferência um colóquio sobre o tema em epígrafe, o 6.º Encontro com História organizado pela associação Histórias Sábias – Património Cultural, Arqueológico e Artístico, através da respetiva página do Facebook, para «debater a regulação da profissão de historiador e a sua credibilização».
Participaram como convidados André Varela Remígio, conservador-restaurador; Cristina Moscatel, historiadora e arquivista, J. A. Gonçalves Guimarães, arqueólogo e patrimoniólogo; e José Pedro Tenreiro, arquiteto e investigador em História da Arquitetura, tendo o debate sido moderado por Francisco Queiroz, historiador da Arte e genealogista.
Foram referidas as tentativas de organização profissional de historiadores e arqueólogos ao longo do tempo e debatida a pertinência da fundação de uma associação atuante contra os atropelos ao seu exercício profissional quer no setor público quer privado.

Museu Ubuntu Gaia

          No passado dia 11 de setembro, no Auditório do Centro Paroquial de Mafamude, Vila Nova de Gaia, com a presença da vereadora do Pelouro da Cultura, Eng.ª Paula Carvalhal, foi inaugurado o Museu Ubuntu Gaia, numa iniciativa do Instituto Padre António Vieira com o patrocínio da Câmara Municipal local. Dedicado às pessoas, falou na ocasião o historiador J. A. Gonçalves Guimarães sobre os gaienses constantes no livro Património Cultural de Gaia – Património Humano. Personalidades Gaienses, primeiro volume de um projeto em curso realizado pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ com a colaboração do Solar Condes de Resende e patrocinado pela autarquia. Na ocasião foram também apresentados outros gaienses que estão a liderar projetos atuais de cidadania e promoção social da comunidade. Aquele historiador passou a ter uma galeria com o seu nome no referido museu virtual, no qual, entre muitos outros casos de afirmação identitária local, também se podem visualizar doze entrevistas sobre gaienses singulares do passado através do endereço wwwgaia.museuubuntu.org.

Roteiros Queirosianos

            O Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo e vice-presidente da direção da ASCR-CQ, em colaboração com a empresa Novas Fronteiras, continua a dirigir viagens de estudo ao Próximo Oriente ( e também aos países do Mediterrâneo e do leste europeu). Assim, entre 18 e 30 de setembro estará no Cáucaso em viagem pela Geórgia e Arménia; entre 9 e 18 de outubro na Grécia e entre 28 de outubro e 7 de novembro, de novo no Egito, onde regressará entre 26 de dezembro e 3 de janeiro, para nova visita com festa de passagem de ano em cruzeiro no Nilo.

Amigos dos Museus de Portugal

          No passado dia 22 de setembro reuniram por videoconferência os corpos sociais da Federação dos Amigos dos Museus de Portugal, da qual faz parte a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, tendo em vista a organização de um encontro nacional no próximo ano. Entretanto no dia 24, com um jantar de associados, retomou as suas atividades públicas a Associação de Amigos do Museu do Azulejo em Lisboa, tendo estado presentes representantes daquelas duas primeiras entidades. O tema em destaque foi a necessidade de admissão de sócios jovens para renovação das associações aderentes a este ativo movimento cultural.

Homenagem a Carlos Reis

Nos próximos dias 27 de setembro, segunda-feira, ente as 14 e as 18 horas, e dia 28, terça-feira, entre as 9,30 e as 18 horas, decorrerá no Teatro Paulo Quintela, em Coimbra, um Colóquio de Homenagem ao Professor Doutor Carlos Reis, ex-professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e grande estudioso da obra de Eça de Queirós, promovido pelo Centro de Literatura Portuguesa daquela faculdade. A entrada é livre sujeita a inscrição prévia.

Jornadas Europeias de Património 2021

          No próximo sábado, dia 2 de outubro, decorrerá no Solar dos Condes de Resende de forma presencial e por videoconferência a partir das 15 horas uma sessão das Jornadas Europeias de Património 2021, organizadas em Portugal pela Direção Geral do Património Cultural, este ano sob o lema «Património Inclusivo e Diversificado», e localmente organizadas pelo Solar Condes de Resende com a colaboração do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ. Do programa constam as seguintes participações: «As fábricas de Sulfureto de Carbono em Vila Nova de Gaia» por Cristiana Borges; «Transporte humano de cargas como modo de vida» por Tânia Ferreira; «A Coleção de Cerâmica Tradicional Portuguesa do Solar Condes de Resende» por J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães; «A Villa Portela em Leiria», por Ricardo Charters d’ Azevedo; «O Leverense, um jornal republicano» por Maria de Fátima Teixeira; «Algumas escavações arqueológicas recentes em Vila Nova de Gaia» por Joaquim Ramos» e «O movimento associativo centenário», por Licínio Santos. Entre as sessões e no final haverá debate sobre os temas apresentados.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 157, sábado, 25 de setembro de 2021; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

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