Na Feira do Livro do Porto
Este ano a associação Amigos do
Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana esteve presente na Feira do
Livro do Porto pela primeira vez. Produzindo e publicando diversos títulos
escritos pelos seus associados e confrades, e a Revista de Portugal, quis assim ir ao encontro de um público mais
vasto e diversificado. Sendo também herdeira do Gabinete de História e
Arqueologia de Vila Nova de Gaia, fundado na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto em 1982, e da Cooperativa Afons’eiro (1987), que também
publicaram diversas edições ainda hoje procuradas, como a revista Gaya e o Al-manak de Gaia, além de outras raridades, a continuação das
edições exige a procura de novas oportunidades de divulgação, até porque o
mercado livreiro mudou muito. Esta presença, para além da venda das edições
referidas, teve também como objetivo a divulgação da associação, das suas
atividades e dos seus propósitos a um público mais vasto, entre eles a vida,
obra e consequentes reflexões de Eça de Queirós e da sua época, e dar a
conhecer o Solar Condes de Resende como casa queirosiana internacional, congregando
os interessados nestas problemáticas que ainda hoje nos rodeiam a estabelecerem
uma rede institucional que a elas se dedique no mundo lusófono e internacional,
contribuindo na medida das suas possibilidades para o apoio aos que as estudam,
produzem textos e oportunidades para, compreendendo o passado, querem
modernizar a sociedade pondo fim às suas misérias ancestrais.
Durante a feira a direção organizou a
sua presença através de turnos de atendimento com membros dos corpos sociais e
investigadores dos seus projetos para atenderem os clientes e estabelecerem
contatos, não apenas com o público em geral, mas também com profissionais da
História e da escrita em geral, da imagem, das artes cénicas, editores e
agentes culturais. Na duração dos seus quinze dias foi assim o que as feiras
costumam ser: um local de convívio, de oportunidade de negócios, neste caso de
edições raras ou recentes, mas também de acumulação de ideias para o que virá a
seguir.
Os jardins do Palácio de Cristal são
um ótimo local para este evento organizado pela Câmara Municipal do Porto, que
atraiu milhares de pessoas, tendo a organização sido eficiente. Já o mesmo não
poderemos dizer do enquadramento dito cultural, sobretudo por falta de
compreensão do que é, ou deve ser, uma feira, um local de festa, de alegria, de
divertimento, de perspetivas de futuro. A programação foi entregue a uma
empresa que deve ter uma estranha e deprimente ideia do que tal deve ser:
começando logo pelo programa distribuído à entrada, impresso a prata sobre
fundo vermelhão, o calendário de atividades era ilegível porque alguém deixou
os designers à solta a fazerem coisas
para a satisfação do seu ego. Depois, na maior parte do tempo, uma música
ambiente experimental, mais adequada para uma visita de estudo noturna ao
Cemitério da Lapa, mas não para uma ocasião destas. Quando muito apenas nas
horas previstas para alguns criadores nos informarem da sua criatividade.
Livros e suportes de texto e imagem
havia-os para todos os gostos e bolsas, desde os livros raros e os clássicos, aos
indispensáveis, os que fazem falta, os para ter, para ler e para trabalhar, mas
também muito desabafo pessoal, memórias, versos e literatura de supermercado.
Alguns autores presentes e apresentações na Capela de Carlos Alberto, excelente
cenário para tal pelo seu intimismo, e uma extensa fila de gente com um livro
da autoria de uma menina que tem um blogue de banalidades que certo público
gosta muito, e que ali perto do lago dava autógrafos.
No meio de tudo isto a cereja em cima
de qualquer coisa que ainda está a ser digerida, a reabertura do Museu
Romântico com o desaparecimento de cena dos seus objetos alusivos à denominação
e a sua substituição por um conjunto d’“aquilos”. Este museu tem estado
amaldiçoado em anos recentes: não vai há muito tempo que lá foi filmada uma
sessão de culinária, não na cozinha a ser confecionada, ou numa sala de jantar
a ser servida, como seria de esperar, mas numa sala com reposteiros, quadros e bibelots a assistirem ao refogado numa
panela sobre um fogão ladeada por um chefe de cozinha e um presidente da
Câmara. Não acreditam? Vejam nos arquivos, que deve lá estar. Depois gastaram
um dinheirão a refrescar a museografia daquele atordoado cenário. Mas agora
chegou a suprema ousadia performativa de quase só lá deixar uma folha de
loureiro do herbário de Júlio Dinis, condimento insuficiente para os 150 anos
do seu Romantismo tardio. Parece que só quatro tipos de público gostaram da
gracinha: os que a encomendaram, os que a conceberam e uns sujeitos que sempre
aparecem nestas circunstâncias a engraxar ao promotores para um dia mais tarde
também terem a sua oportunidade para exibirem as suas bizarrias de efémero efeito
destinadas ao fracasso. Mas o problema maior não é serem “avançados”, mas sim
avençados.
Mas então isto fica assim? Fica, pois
já nem sabemos mimoseá-los com uma boa gargalhada. Já Eça o lamentava no seu
tempo: «Eu ainda me recordo de ter ouvido, na minha infância e na minha terra,
a gargalhada – a antiga gargalhada,
genuína, livre, franca, ressoante, cristalina !... Vinha da alma, abalava todas
as vidraças duma casa, e só pelo seu toque
puro, como o do ouro puro, provava a força, a saúde, a paz, a simplicidade, a
liberdade! Nunca mais a tornei a ouvir, esta gargalhada magnífica da minha
infância. O que hoje se escuta, às vezes, é uma casquinada ou uma cascalhada
(por ter o som do cascalho que rola), seca, dura, áspera, curta, que vem
através de uma resistência como arrancada por cócegas e que bruscamente morre,
deixando as faces mudas e frias. Eis a risada do nosso século!» (Eça de
Queirós, Notas Contemporâneas). A
deste é pior, pois é quase só um esgar e um encolher de ombros.
Para o ano deveremos voltar à Feira do Livro do Porto, um excelente local e acontecimento que continua com potencialidades para ser um grande fórum cultural.
J. A. Gonçalves Guimarães
Curso livre sobre História – Património - Turismo
Livros e Revistas
No passado dia 8 de setembro foi lançado em Lisboa o livro Homo Líder – Histórias de Homens Comuns, da autoria de Luís Filipe Menezes, médico e político, ex-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, editado pela Lisbon Press, depois também apresentado no auditório da Santa Casa da Misericórdia do Porto no passado dia 16. Segundo o autor, «este livro mostra a forma como convivi com homens e mulheres normais, que com mais ou menos merecimento chegaram ao topo.
Se ele servir para que cada vez mais cidadãos aceitem esta verdade como sendo inevitável
e até desejável, estaremos sempre mais defendidos das tentações providenciais
que procuram reeditar cenários passados, indesejáveis e inconsequentes».
Museu Ubuntu Gaia
No passado dia 11 de setembro, no Auditório do Centro Paroquial de Mafamude, Vila Nova de Gaia, com a presença da vereadora do Pelouro da Cultura, Eng.ª Paula Carvalhal, foi inaugurado o Museu Ubuntu Gaia, numa iniciativa do Instituto Padre António Vieira com o patrocínio da Câmara Municipal local. Dedicado às pessoas, falou na ocasião o historiador J. A. Gonçalves Guimarães sobre os gaienses constantes no livro Património Cultural de Gaia – Património Humano. Personalidades Gaienses, primeiro volume de um projeto em curso realizado pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ com a colaboração do Solar Condes de Resende e patrocinado pela autarquia. Na ocasião foram também apresentados outros gaienses que estão a liderar projetos atuais de cidadania e promoção social da comunidade. Aquele historiador passou a ter uma galeria com o seu nome no referido museu virtual, no qual, entre muitos outros casos de afirmação identitária local, também se podem visualizar doze entrevistas sobre gaienses singulares do passado através do endereço wwwgaia.museuubuntu.org.
Roteiros Queirosianos
O Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo e vice-presidente da direção da ASCR-CQ, em colaboração com a empresa Novas Fronteiras, continua a dirigir viagens de estudo ao Próximo Oriente ( e também aos países do Mediterrâneo e do leste europeu). Assim, entre 18 e 30 de setembro estará no Cáucaso em viagem pela Geórgia e Arménia; entre 9 e 18 de outubro na Grécia e entre 28 de outubro e 7 de novembro, de novo no Egito, onde regressará entre 26 de dezembro e 3 de janeiro, para nova visita com festa de passagem de ano em cruzeiro no Nilo.
Amigos
dos Museus de Portugal
No passado dia 22 de setembro reuniram
por videoconferência os corpos sociais da Federação dos Amigos dos Museus de
Portugal, da qual faz parte a associação Amigos do Solar Condes de Resende –
Confraria Queirosiana, tendo em vista a organização de um encontro nacional no
próximo ano. Entretanto no dia 24, com um jantar de associados, retomou as suas
atividades públicas a Associação de Amigos do Museu do Azulejo em Lisboa, tendo
estado presentes representantes daquelas duas primeiras entidades. O tema em
destaque foi a necessidade de admissão de sócios jovens para renovação das
associações aderentes a este ativo movimento cultural.
Homenagem a Carlos Reis
Jornadas Europeias de Património 2021
No próximo sábado, dia 2 de outubro,
decorrerá no Solar dos Condes de Resende de forma presencial e por
videoconferência a partir das 15 horas uma sessão das Jornadas Europeias de
Património 2021, organizadas em Portugal pela Direção Geral do Património
Cultural, este ano sob o lema «Património Inclusivo e Diversificado», e
localmente organizadas pelo Solar Condes de Resende com a colaboração do
Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ. Do programa
constam as seguintes participações: «As fábricas de Sulfureto de Carbono em
Vila Nova de Gaia» por Cristiana Borges; «Transporte humano de cargas como modo
de vida» por Tânia Ferreira; «A Coleção de Cerâmica Tradicional Portuguesa do
Solar Condes de Resende» por J. A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães; «A
Villa Portela em Leiria», por Ricardo Charters d’ Azevedo; «O Leverense, um jornal republicano» por Maria
de Fátima Teixeira; «Algumas escavações arqueológicas recentes em Vila Nova de Gaia»
por Joaquim Ramos» e «O movimento associativo centenário», por Licínio Santos.
Entre as sessões e no final haverá debate sobre os temas apresentados.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 157, sábado, 25 de setembro de 2021; propriedade
da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria
Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB:
0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral.
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