quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Eça & Outras

 Dos tempos de Eça até aos dias de hoje

          Nas duas crónicas anteriores escrevi sobre o que é que a associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (ASCR-CQ) tem publicado sobre Eça de Queirós e o seu universo. Mas a sua ação editorial não se resume aos temas ecianos: como vem expresso nos estatutos compete-lhe também «promover a investigação arqueológica, antropológica, histórica, patrimonial, artística, literária e científica, sobre quaisquer formas de expressão e outras acções que valorizem e divulguem o conhecimento». Por isso tem produzido outros estudos e publicações.

          Quando em 2004 assumiu a integração do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, que a partir daí passou a designar-se Gabinete de História, Arqueologia e Património (GHAP), aceitou igualmente todo o seu legado, incluindo o projeto de escavações arqueológicas e levantamento do Património realizado no vale do Côa entre 1985 e 2004, patrocinado pela Casa Ramos Pinto, o qual deu origem a estudos divulgados em outras tantas revistas e atas de reuniões científicas. Sobre ele publicou a Confraria em 2015 a síntese Quinta da Ervamoira: da Arqueologia ao Museu de Sítio, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães (JAGG) na sua Revista de Portugal, n.º 12. Em publicação desde 2004, esta sua revista, a partir do n.º 4 (2007) publica os relatórios de actividades da associação, bem assim como vários textos relativos a alguns destes projecto.

          A partir de 2005 a equipa do Gabinete iniciou trabalhos em S. João da Pesqueira, através de uma equipa multidisciplinar, como já tinha acontecido na Quinta da Ervamoira, tendo também feito escavações arqueológicas em S. Salvador do Mundo. Deste projecto, que teve o patrocínio da autarquia local, resultou a publicações em 2007 do livro São Salvador do Mundo santuário duriense, coordenado por JAGG e editado por Edições Gailivro. Como esta ação teve também o apoio da Associação dos Amigos de Pereiros, da aldeia onde a equipa ficava alojada, desta permanência saíram, ainda em 2011, o livro Pereiros. S. João da Pesqueira, de A. Silva Fernandes; JAGG e Nuno Resende (NR) e, em 2013, deste último autor, Capela de Santo António. Pereiros, S. João da Pesqueira, ambos planeados pelo GHAP. Foi também durante esta permanência que, para além da produção de outros livros e textos, que a 28 de março de 2005 foi feita uma primeira visita ao escritor José Rentes de Carvalho, então em Estevais de Mogadouro, da qual resultou a doação do seu espólio pessoal à Confraria, o qual tem vindo a ser tratado e divulgado, como se pode ver em O Núcleo Documental J. Rentes de Carvalho – I. «Revista de Portugal», n.º 15, novembro de 2018.

          A partir de 2006 a Confraria vem realizando a sua mostra anual de Arte, aberta aos sócios profissionais e amadores, também como corolário do seu curso de Pintura, cujos catálogos, de 2006 a 2019, têm sido elaborados por Maria de Fátima Teixeira (MFT) sob a designação de Salon d’Automne Queirosiano e editados pela Confraria com patrocínios pontuais.

Também os temas de comemorações nacionais têm sido lembrados através de estudos publicados. Assim, no ano do Centenário da República foi lançado o livro Republicanos, Monárquicos e outros: as vereações gaienses durante a 1ª República, 1910-1926, da autoria de JAGG, edição apoiada pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Gaianima e Junta de Freguesia de Avintes. A evocação do Centenário da 1.ª Grande Guerra mereceu-lhe a publicação de SOARES, José Pereira do Couto (2016) – Memórias de um Expedicionário a Moçambique (1917-1919), tendo a edição sido apoiada pelo seu neto Dr. Fernando Rui Morais Soares, que também ofereceu o manuscrito original à Confraria. Por sua vez, a Revista de Portugal n.º 13 publicaria em 2016, de Susana Guimarães (SG), Francisco da Silva, enfermeiro hípico na 1.ª Guerra Mundial.

Em 2020 foi comemorado o meio século do Ano Internacional da Educação instituído pelas Nações Unidas através da UNESCO, neste ano também como Património Cultural pela Comunidade Europeia. Para tal lembrar, em colaboração com o Arquivo Histórico da Igreja Lusitana, editou o livro Esboço. Boletim dos Jovens do Torne. 50 anos de persistências 1970-2020, edição fac-similada dos três boletins com aquele título então proibidos de circular pela censura, o último dos quais dedicado àquele tema.

            A História Empresarial mereceu-lhe a organização de um dos cursos livres do Solar realizado no inverno de 2013/2014. Nesse primeiro ano foi editado o livro de Graça Nicolau de Almeida e JAGG, Adriano Ramos Pinto Vinhos e Arte, um projecto patrocinado pela Casa Adriano Ramos Pinto (Vinhos) SA. Em 2015 também o GHAP colaborou na organização e produção da obra de Francisco Javier de Olazabal, Quinta do Vale Meão produzida para a empresa Sociedade F. Olazabal & Filhos, L.da que a editou, e cujos trabalhos complementares de JAGG foram publicados na revista Douro. Vinho, História. Património, n.º 3. Por sua vez a empresa Quinta da Boeira, Arte e Cultura teve também a colaboração da Confraria Queirosiana em diversas acções de promoção de produtos portugueses em Madrid, Copenhaga e Manchester, com uma mostra de modelos de embarcações históricas e conferências sobre Portugal e a Expansão Europeia, acompanhadas pela edição de dois livros de JAGG em 2016 e 2017, Modelos de embarcações históricas portuguesas dos séculos XVI a XIX; Modelos de embarcaciones históricas portuguesas de los siglos XVI a XIX, e idem com tradução em francês e inglês.

          Tendo o Gabinete, desde a sua fundação realizado escavações arqueológicas em Vila Nova de Gaia, em vários sítios com horizontes cronológicos diversos, em 2010 foi iniciado o projeto CASTR’UÍMA, programa de investigação e valorização cultural do Complexo Arqueológico do Castelo de Crestuma, patrocinado por Águas e Parque Biológico de Gaia, o qual se prolongou, nesta fase, até 2015, voltando a ter trabalhos complementares nas suas imediações em 2019/2020. Embora a maior parte dos trabalhos já produzidos e apresentados tenha sido publicado em atas de congressos e diversas revistas da especialidade nacionais e estrangeiras, sob a égide da Confraria foram publicados em 2013, de António Manuel S. P. Silva (AMS) e JAGG, Castelo de Crestuma. A Arqueologia em busca da História, editado por Águas e Parque Biológico de Gaia e ASCR - Confraria Queirosiana, e, ainda nesse ano, de AMS, Arqueologia do Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia).Resultados preliminares da campanha de 2013, na «Revista de Portugal», n.º 10. Entretanto o GHAP tem abraçado outros projectos de Arqueologia e Património que, a seu tempo, serão objecto de outras publicações.

          Sempre que consegue patrocínios para tal a ASCR-CQ edita, ou apoia a edição, das provas académicas dos seus membros. Tal já tinha sido o caso em 2006 da dissertação de mestrado de SG, intitulada A Quinta da Costa em Canelas, Vila Nova de Gaia (1766 – 1816). Família, Património e Casa, editada pela Palimage Edições, a ASCR-CQ o Instituto de História Moderna/ FLUP, já referida a propósito das obras queirosianas. Em 2012 foi a vez da dissertação de NR intitulada Vínculos Quebrantáveis. O Morgadio de Boassas e suas relações, séculos XVI-XVIII editada em Coimbra pela Palimage com o apoio da ASCR-CQ. Em 2017 foi publicada a de MFT sobre a Companhia de Fiação de Crestuma. Do fio ao pavio, editada pela ASCR-CQ e Edições Afrontamento, com o patrocínio da Sudantex, e ainda nesse mesmo ano a de Licínio Santos sobre Cultura e Lazer. Operários em Gaia, entre o final da Monarquia e o início da República (1893-1914), os mesmos editores e igualmente patrocinada.

            Em 2015 foi assinado um protocolo entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e a ASCR-CQ para a organização de uma equipa que produzisse dez volumes sobre o Património Cultural de Gaia em todas as suas vertentes, tendo já sido publicado em 2018 o volume coordenado por JAGG e Gonçalo de Vasconcelos e Sousa Património Cultural de Gaia. Património Humano. Personalidades Gaienses. Como esta primeira edição, por força de lei, só pode ser destinada a fins institucionais, em 2019 foi feita uma reimpressão destinada ao mercado em colaboração com as Edições Afrontamento

            Entretanto para dar a conhecer os seus estatutos, sócios, confrades, e principais actividades, a associação publicou em 2004, com o patrocínio do vinho do Porto Romariz, Confraria Queirosiana, coordenado por JAGG, o qual teve uma 2.ª edição revista em 2016 por Amélia Cabral, JAGG, e Susana Moncóvio esta editada com o patrocínio de Urbiface Meios Publicitários.

            A Confraria Queirosiana vai também assim cumprindo os seus desígnios culturais afirmando-se também como uma pequena editora que este ano estará presente na Feira do Livro do Porto no próximo mês de junho. 

J. A. Gonçalves Guimarães

Secretário da direção

Eça de Queirós no Panteão Nacional

Do Brasil recebemos o seguinte texto:

«Dagoberto Carvalho Jr.

Da Confraria Queirosiana de Vila Nova de Gaia, Portugal

e da Academia Piauiense de Letras, Teresina, Piauí, Brasil 

Grande e boa notícia chega-me de Portugal, através do chanceler Gladstone Vieira Belo, de nossa não extinta Sociedade Eça de Queiroz – fundada no Recife (como Clube de Amigos do romancista português), pelo escritor Paulo Cavalcanti e o jornalista Silvino Lopes, em 1945, por ocasião do centenário do pobre (grande homem) da Póvoa de Varzim; por nós, apenas, reorganizado – a boa notícia da ‘elevação’ do grande, incomensuravelmente, grande Eça de Queiroz a honras de ‘Panteão Nacional’ tidas – ali – como ápice, que o é, do público e imorredouro reconhecimento da República Portuguesa. Outra data, esta, que, eu – recuperada a saúde –, haveria de ter aproveitado para possível ressurgimento dos ‘Vencidos do Recife’, que o artista gráfico Mário Paciência eternizou em nanquim, emoldurado na minha sala de leituras eça-oeirenses. Ali apareço com o próprio Eça de Queiroz, Paulo Cavalcanti, Pelópidas Silveira, Gladstone Vieira Belo, Fernando da Cruz Gouvêa, Luiz Arraes, Marly Mota, José Quidute e Marcus Prado. Quadro que – para honra nossa – ilustra a página 587 do Suplemento ao Dicionário de Eça de Queiroz, do arquiteto A. Campos Matos.

Mas, o que esta página se propõe, mesmo, é o público e universal elogio e registro da grande homenagem a Eça, que Portugal – por sua mais representativa escala de poder, a Assembleia da República – como que fechou (por enquanto, visto que ele, eternamente as merecerá) as homenagens mais que sesquicentenárias ao inspirado criador de O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras, A Relíquia, O Mandarim e A Tragédia da Rua das Flores, para ficarmos por aqui, em sua representatividade maior.

O repto lançado pela Fundação Eça de Queiroz, transformou-se em proposta do Deputado José Luís Carneiro (Partido Socialista) e, ato contínuo, motivou a Assembleia – como um todo – “concedendo honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz”; referendado, assim, o reconhecimento em que já os seus leitores, de Portugal e do mundo, sempre o tivemos. Pronunciaram-se, solidários com a iniciativa, os deputados João Cotrim de Figueiredo (Iniciativa Liberal); Ana Rita Bessa (CDS); José Luís Ferreira (PEV); Paulo Rios (PSD); Ana Mesquita (PCP), que citou o presidente da Fundação Eça de Queiroz, bisneto do escritor, para quem, numa “época em que os índices de leitura, em particular, entre os estudantes baixam assustadoramente, tenho a esperança, talvez, ingênua, de que um acontecimento como este alerte para a maravilhosa descoberta da leitura”. A propósito, concluiu a parlamentar: “Também o PCP assim o espera”. Pronunciaram-se, ainda, os deputados André Silva (PAN) e Alexandra Vieira, do Bloco de Esquerda. Para ela, o romancista homenageado “era exemplo do que hoje podemos considerar ativista, enaltecida sua capacidade de levar os leitores a pensar”.

PS – José Maria Eça de Queiroz morreu a 16 de agosto de 1900, sendo sepultado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Em setembro de 1989, os seus restos mortais foram trasladados para jazigo da família, em Santa Cruz do Douro, Baião, onde este ‘devoto’ brasileiro os foi visitar em companhia de ninguém menos que D. Maria da Graça Salema de Castro, então presidente da Fundação Eça de Queiroz (Tormes, Baião) e Beatriz Berrini, da Universidade Católica de São Paulo, expressão maior do ‘ecianismo’ de seu tempo luso-brasileiro.

Recife, 27 de janeiro de 2021»

Monumento a Eça de Queirós em Lisboa, de Teixeira Lopes.


           
Entretanto outras vozes se levantam, não para contestar a homenagem nacional ao escritor, que tem recolhido unanimidades, mas divergindo na maneira de o fazer. Assim, o jornalista António Eça de Queiroz, bisneto do escritor, tem-se oposto no Facebook e através de uma Petição Pública a mais esta trasladação dos restos mortais do bisavô. No seu entender eles deverão permanecer no jazigo de família em Santa Cruz do Douro para onde foram levados em 1989 quando o jazigo onde estavam em Lisboa foi posto à venda. E propõe que, a exemplo de outros portugueses que já estão honrados no Panteão Nacional através de cenotáfios, ou seja, sem a presença dos seus restos mortais, em alguns casos “perdidos para sempre na voragem dos tempos”, como é o caso dos de Camões, que Eça de Queirós ali receba as honras que a Assembleia da República lhe atribuiu através da colocação do original da estátua esculpida por Teixeira Lopes, que em tempos esteve em lugar público no largo do Barão de Quintela em Lisboa, tendo entretanto sido arrecadava por ser sistematicamente vandalizada. Seria assim dignificado o homenageado com um notável cenotáfio e também cumprida a deliberação da Assembleia.

            Na sua reunião mensal de 9 de fevereiro passado, a direcção dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana decidiu por unanimidade congratular-se com a deliberação da Assembleia da República que concedeu honras de Panteão Nacional ao seu patrono, tendo esse voto sido secundado pelo presidente da Assembleia Geral da associação.

Buenas noches señor Soares

            O escritor Mário Cláudio acaba de ver publicada uma sua obra em Espanha, um novo contributo para a internacionalização deste escritor português contemporâneo. Traduzida por Ana Balén Cao Míguez, esta obra e uma novela passada na Lisboa dos anos trinta e que tem como protagonista Bernardo Soares, um semi-heterónimo de Frenando Pessoa muito perto dele próprio, aqui recriado por Mário Cláudio, como aliás já o tem feito com sucesso noutras obras sobre personalidades reais ou ficcionais da Literatura Portuguesa. Entre a rotineira actividade contabilística do Comércio da baixa lisboeta e os sonhos do protagonista, só a imaginação nos pode valer, a ele, ao autor e aos seus leitores, agora também em língua de Cervantes.

31.º Fórum de Avintes

            No próximo dia 27 de fevereiro decorre na Junta de Freguesia de Avintes o 31.º Fórum, com uma sessão transmitida a partir das 15 horas na página do Facebook, durante a qual haverá cinco intervenções de, entre outros, Paulo Costa e J. A. Gonçalves Guimarães, na qual este último falará sobre «Os Vanzeller da Quinta de Fiães em Avintes e a Revolução de 1820». Prefaciando este encontro, no dia anterior a Junta divulgou deste mesmo historiador um videofilme sobre «D. Maia Isabel Vanzeller, a Senhora das vacinas».        

Curso sobre o Antigo Egito

         O curso sobre o Antigo Egito organizado pela Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ) prossegue aos sábados, entre as 15 e as 17 horas, por videoconferência. Assim, em fevereiro decorreram as 8.ª e 9.ª sessões, a primeira no sábado, dia 6, sobre «As ciências no Antigo Egito», pelo Prof. Doutor Telo Ferreira Canhão e no sábado, dia 20, sobre a «A viagem de Eça de Queirós e do Conde de Resende ao Egito», pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, tendo esta sido a primeira sessão internacional com uma inscrição de Maceió, Brasil. O curso seguirá com a 10.ª sessão no próximo dia 6 de março com o tema «Erotismo e sexualidade no Antigo Egito», pelo Prof. Doutor Rogério Sousa e a 11.ª será no dia 27 do mesmo mês sobre a «Escrita hieroglífica e outras escritas do Antigo Egito», pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, prevendo-se que esta sessão possa vir também a ser presencial, para além da habitual videoconferência, se as condições sanitárias o permitirem,

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 150, quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

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