Ainda há novidades sobre Eça de Queirós? (II)
No passado
artigo falei dos livros que a Confraria Queirosiana tem publicado desde 2002
sobre a vida e obra de Eça de Queirós. Falemos agora na publicação dos muitos
artigos, sobre idêntica temática, dispersos pela Revista de Portugal, publicada desde 2004. Logo no primeiro número,
e da autoria de Paulo Sá Machado, publicou-se «Eça de Queiroz no
Coleccionismo». No n.º 3, de 2006, Luís Manuel de Araújo iniciava a sua
colaboração com estudos sobre a viagem do escritor com o 5.º conde de Resende
ao Egito e Palestina em 1869, publicando «Egiptomania queirosiana e eçamania
egiptológica», que haveria depois de continuar. Ainda nesse número J. A.
Gonçalves Guimarães publicaria «Um “Vencido da Vida” – Notas biográficas sobre
Luís Pinto de Soveral (marquês de Soveral, 1853-1922), que daria origem à obra
biográfica em livro já referida no artigo anterior. No n.º 6, 2009, de Norberto
Barroca a revista publicaria «Eça de Queirós no Teatro» e de José António
Afonso «A “questão educativa” na Revista
de Portugal (1889-1892). Uma sondagem». No n.º 7, no ano seguinte, Anabela
Mimoso escreveria sobre «A construção do corpo em As Farpas» e para o n.º 8, saído em 2011, Dagoberto Carvalho J.or
mandaria do Brasil o seu artigo «Revolução pela Palavra: a Geração de 70
e a República Portuguesa», enquanto Maria de Fátima Teixeira publicaria
«Referências transmontanas e altodurienses na vida e obra de Eça de Queirós»,
na sequência de uma proposta de investigação sistemática sobre os condiscípulos
de Eça de Queirós na universidade e as suas possíveis relações com o escritor,
anteriormente proposta por J. A. Gonçalves Guimarães numa conferência na Câmara
Municipal de Baião em maio de 2006 e logo dada a conhecer no jornal O Primeiro de Janeiro, republicada
depois no n.º 9 da Revista de Portugal
de 2012 com o título «Os condiscípulos de Eça de Queirós em Coimbra naturais do
distrito do Porto», assunto a que voltará mais tarde para o roteiro queirosiano
do Alentejo. Ainda nesse número Jaime Milheiro publica «Sonhando com Eça (em
Gaia)», sobre o Eça-escritor, o Eça-pessoa e o Eça-sonhador.
No n.º 10, Luís Manuel Araújo regressa
com «Eça de Queirós e o Egito do bakchich»;
J. A. Gonçalves Guimarães com «Roteiros queirosianos: da biografia à ficção
literária» e Anabela Mimoso com «Revisitar a Geração Coimbrã à luz do
integralismo de José Rebelo Bettencourt». No n.º 12 de 2015, Nuno Resende
publica «O lugar de Cinfães na sátira literária oitocentista», destacando tal
em algumas obras de Camilo e de Eça, entre outros. Ainda nesse número, Maria
Alda T. Barata Salgueiro publica «A construção épica do Amor na poesia de
Antero de Quental». No número seguinte, n.º 13 de 2016, Susana Moncóvio faz uma
incidente abordagem biográfica a «D. Luís Manuel Benedito da Natividade de
Castro Pamplona de Sousa Holstein e a escola de Canelas (V. N. Gaia) em 1869:
liberalidade e costumes», e a sua particular ligação ao Solar Condes de Resende
e ao próprio escritor. No n.º 14 do ano seguinte, esta investigadora apresenta
«Luise Ey (1854-1936): aspectos biográficos de uma divulgadora de Eça de
Queirós na Alemanha». Sabendo-se das interrogações suscitadas pela passagem de
Eça pelo Colégio da Lapa no Porto, em grande parte motivadas pelo
desaparecimento da sua documentação, no n.º 15 de 2018, Felicidade Moura
Ferreira procura algumas respostas em documentação da época que publica em «O
Colégio da Lapa e a educação dos filhos da burguesia portuense do século XIX: o
caso da família de Tomás António de Araújo Lobo». Ainda neste número, Jorge
Campos Henriques dá contas de «Eça de Queirós e Aveiro – “O Solar dos
Queiroses”: um triste fim», tema a que voltará numa curta nota no n.º 16 de
2019, intitulada «Aveiro e a Fundação Eça de Queirós». Neste número, César
Veloso publica «Um, para mim, estranho silêncio de Eça de Queirós». ou seja,
porque será que não se conhece nenhum texto do escritor sobre o Football Association, já tão popular na
Inglaterra do seu tempo, enquanto que Susana Moncóvio escreve sobre as suas
curiosidades museográficas em «Eça de Queirós e a colecção de FrédericSptizer
(1815-1890). Perspetivas críticas».
O n.º 17, publicado em novembro do ano
2020, apresenta três artigos de incidência queirosiana: iniciando uma série que
se prolongará, Maria de Fátima Teixeira publica «Hotéis queirosianos: Hotel
Lawrence» de Sintra», apresentando a sua história documentada desde o século
XVIII até à actualidade; de Ricardo Charters d’Azevedo, uma actualizada síntese
em «Notas sobre Eça de Queirós em Leiria» e, de Mara Verónica Sevinatti o
relato de uma recente viagem ao roteiro queirosiano do Próximo Oriente
conduzida pelo Prof. Luís Manuel de Araújo, corolário das muitas que já fez e
voltará certamente a fazer.
Afirmando desde já que o n.º 18 da Revista de Portugal, a publicar no corrente ano de 2021, incluirá também, pelo menos, um artigo sobre temática queirosiana direta, e voltando a sublinhar que esta resenha não abrange os muitos livros e artigos publicados pelos confrades noutras editoras e publicações, podemos então concluir que a associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, através dos seus sócios e confrades, tem dado o seu contributo para novas interpretações, ou pelo menos para novos olhares, sobre Eça e a Geração de 70; os diversos roteiros queirosianos em que se destaca o do Egito; aspectos sobre alguns cenários da sua biografia e dos seus personagens; a família de sua mulher; e aspectos da sua obra e adaptações da mesma. Mesmo no que diz respeito à iconografia queirosiana, também têm sido republicadas algumas imagens raras ou pouco conhecidas: assim, na capa do n.º 9 da Revista de Portugal, e na sua página 28, a fotografia mais antiga de Eça que se conhece, talvez contemporânea da sua ida para a Universidade de Coimbra, proveniente do espólio da sua falecida neta D. Emília Maria de Castro de Eça de Queiroz Cabral, e pela primeira vez divulgada em GUIMARÃES, Gonçalves; CORREIA, Ana Filipa (2000) – Roteiro Queirosiano de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal/ Solar Condes de Resende; página 77; e também o muito pouco conhecido «Eça de Queiroz – (Desenho do natural, por Colaço)» publicado a primeira vez na capa de A Revista. Illustração Luso-Brasileira, anno 1 – número 2, 20 de julho de 1893, que fez a capa do n.º 12 publicado em 2015, comemorativo dos 170 anos do seu nascimento.
Creio bem que não tem sido um contributo despiciendo.
J. A. Gonçalves
Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana
Eça de Queirós no Panteão Nacional
No passado dia
14 de janeiro, por proposta do deputado José Luís Carneiro, ex-presidente da
Câmara Municipal de Baião e ex-secretário de estado das Comunidades
Portuguesas, e de mais outros três deputados, a Assembleia da República
aprovou, por unanimidade, conceder honras de Panteão Nacional a Eça de Queirós,
o que implicará a trasladação dos seus restos mortais do cemitério de Santa
Cruz do Douro para Lisboa. Recorde-se que o escritor, depois de morrer em Paris
a 16 de agosto de 1900, foi trazido de barco para Lisboa, de carro fúnebre para
o Alto de São João na capital, e dai em 1989 para o cemitério de Santa Cruz do
Douro em Baião para um jazigo onde foram igualmente depositados os restos
mortais de seus filhos e de outros parentes. Agora os seus restos mortais
partirão de novo para a capital, onde repousarão entre outros grandes
portugueses.
Congresso sobre Eça de Queirós
Tendo sido adiado devido à pandemia, está previsto para outubro de 2021 a realização de um Congresso Internacional sobre Eça de Queirós evocativo dos 150 anos da inauguração do Canal de Suez, onde o escritor esteve presente na companhia do 5.º conde de Resende, organizado pelo Movimento Internacional Lusófono com a colaboração de outras entidades, entre as quais a Confraria Queirosiana. As sessões decorrerão em Lisboa e o programa previsto será divulgado oportunamente.
Cartas de (e para) Eça
O organizador (e autor das preciosas
notas) da edição de Eça de Queiroz.
Correspondência, 2 volumes, A. Campos Matos, continua a revelar-nos cartas
inéditas do escritor, tendo acrescentado àquela obra já duas Adendas e apresentado recentemente no
jornal As Artes Entre As Letras, n.º 280 de 16 de dezembro de 2020, mais
uma carta inédita, datada de Paris, 13 de março de 1894, atingindo assim o
fantástico número de 914 cartas publicadas, se tivermos em atenção que mais
algumas – nunca saberemos quantas – foram para o fundo do mar com o vapor que
trazia parte dos seus pertences vindos de Paris para Lisboa após a sua morte.
Entretanto também há quem continue a
escrever cartas a Eça de Queirós. Nós próprios já o fizemos e o escritor, em
resposta, soprou-nos do Além que até nos responderia por escrito, mas “lá em
cima” é tudo sem papel, sem fios, sem suportes materiais. É tudo através de
ondas energéticas. Mas aconselhou-nos a pormo-nos no meio do pátio do Solar
Condes de Resende em dia de sol fagueiro que a resposta haveria de chegar. Mas
que não seria novidade e até já estaria escrita numa das suas obras,
recomendando-me paciência para procurar. E ainda segredou: “use o Dicionário de Citações ou então telefone
ao Campos Matos que ele, de certeza, sabe onde já terei respondido às questões
que me põe”.
Quem também lhe escreve com alguma frequência é o escritor J. Rentes de Carvalho através do seu blogue Tempo Contado. No passado dia 15 de dezembro em «Cartas a Eça de Queirós (3)» poderemos ler este trecho: «Bem gostava eu de lhe dar boas notícias da pátria, mas a infeliz não mostra força nem talento para aprender outro papel, continua a representar a velha e estafada tragicomédia, agora com a diferença de que não precisa de empenhar os anéis, e até vive melhor de mão estendida à caridade.». Entretanto a 29 desse mês fomos visitá-lo com toda a segurança a Estevais do Mogadouro, onde se sente confinado e impedido de voltar por estrada a Amsterdam, devido à pandemia que encerrou os hotéis do trajeto onde costuma pernoitar. Mas quem tem 90 anos já se vai habituando a esperar por dias melhores que certamente chegarão, muito mais devagar do que a nossa pressa em querer voltar a viver “normalizados”, pelo menos tanto quanto os habitantes de Diu nos intervalos do Cerco. Outros combates ainda nos esperam.
Curso sobre o Antigo Egito
Prossegue aos sábados, entre as 15 e as 17 horas, por videoconferência, o curso sobre o Antigo Egito organizado pela Academia Eça de Queirós (ASCR-CQ). Em fevereiro decorrerão as 8.ª e 9.ª sessões, a primeira no sábado, dia 6, sobre «As ciências no Antigo Egito», pelo Prof. Doutor Telo Ferreira Canhão; no sábado, dia 20, sobre a «Escrita hieroglífica e outras escritas do Antigo Egito», pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo. O curso continua a despertar um interesse cada vez maior, que se traduz em novas inscrições para cada sessão. Logo que as condições o permitam regressará à modalidade presencial, ou pelo menos a sessões mistas, com assistência e por videoconferência.
______________________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário